Willy-Verruga-De-Fogo.



                                               Capítulo dezessete.


 


 


Gabrielle parou à curta distância da porta da sala, esperando que o amontoado de alunos se diluísse, Emily fofocava com Felix sobre um garoto da mesma turma, que possuía uma enorme verruga no pescoço, grande mesmo, gigantesca, descomunal. O garoto consultava os horários da próxima aula timidamente, apertando os olhos para entender as escritas.


 


- Você não tinha visto? – Felix arqueou uma sobrancelha – O nome dele é Willy-verruga-de-fogo.


- Verruga de fogo? – Emily franziu o cenho enquanto dava uma boa encarada no monumento peludo.


 


Naquele instante, Kaisha vinha atravessando a multidão de uniformes pretos agarrada à mão de Alice. Driblou os alunos com determinação e logo que passou perto de Willy-verruga-de-fogo, como se estivesse se oferecendo pra responder a pergunta, deu uma encarada no garoto, fazendo com que sua grande verruga se tornasse escarlate.


 


- O-oi Kaisha... – Sua boca fina balbuciou enquanto a cascatas de cabelos sedosos e negros de Kaisha desapareciam.


 


Emily soltou um guincho agudo, rindo alegremente, Felix apenas sorriu contra a vontade e arrastou Emily para procurar Wes. Os alunos sempre saíam sonolentos das aulas de História da Magia, e gostavam de se amontoar no corredor em frente à sala, o que atrapalhava seriamente a próxima turma a ter aulas, e causava um grande mal-estar nas alunas mais novas, pois Felicia sempre fazia comentários maldosos sobre qualquer garota que passasse por lá. "O que é aquele bolo de feno flutuando no ar? Ah, é só o cabelo da Granger, não consigo enxergar mais nada..."


Chuck Black estava encostado na parede fria de pedra, cercado por seus quatro colegas: Randall, o bonitão de cabelos loiro-queimado e olhos castanhos, Ben, o brutamontes de cabelos negros e olhos igualmente escuros, Steve, um garoto magro, loiro de olhos verdes (muito persuasivos por sinal...) e Luther, o rapaz bem-humorado e educado de cabelos castanhos, ondulados até os ombros. Seus amigos prestavam atenção numa pequena discursiva de Steve:


 


- Estou falando sério, é claro... Sabem que achei que seria difícil, afinal, ela é da Lufa-Lufa e eu da Sonserina, dizem que esse pessoal é muito desconfiado, mas meio burrinhos, então ela já estava na minha... Não porque fosse burra, mas porque eu sou muito bom, sejamos sinceros...


 


Chuck vasculhava com os frios olhos a multidão recém-saída da aula à procura de um par de olhos castanho-escuros. Não ouvia uma só palavra do que era dito por Steve, ou do que os outros falavam à sua volta, sentia apenas o frio do pequeno cantil de prata comprimindo o peito das vestes, e imediatamente sua garganta ardeu, pedindo pelo líquido, seus lábios se comprimiram na necessidade pelo contato com a prata, seguida da bebida, e enfim o esquecimento e o devaneio.


Já fazia dois dias que não bebia, mas a cada minuto que se passava ficava mais difícil ignorar o próprio corpo, mas não valia a pena arriscar, tentaria até não suportar mais. Olhou para Steve: Ainda se gabava de alguma de suas idiotices, ouvido atenciosamente por Luther e Ben. Randall havia percebido o estado de melancolia de Chuck, e se aproximando sutilmente, resolveu perguntar:


 


- Você está bem Chuck?


 


Seus olhos cinzentos foram da massa de alunos para Randall por um instante. "Bem?" a voz em sua cabeça ria debochadamente. -"Nunca estive melhor, se contar essa abstinência infernal, e também a vontade de mandar todo mundo pro inferno. Incluindo esses parasita idiota do Steve, que acha que sabe de alguma coisa."


Esses pensamentos não se verbalizaram, ele apenas sorriu e afirmou com a cabeça elegantemente. Foi quando viu os cabelos repicados a poucos metros de distância, e se retirou da roda sem dizer uma só palavra.


 


- Ei cara, aonde você vai? – Perguntou Ben.


 


Chuck tentou pensar numa forma de falar com ela a sós, sabia que teria dificuldades, que ela provavelmente não iria querer falar com ele depois do que acontecera no dormitório, só precisava achar a maneira correta de fazer isso...  Não admitia pra si mesmo que se arrependia de ter falado com ela daquele jeito, mesmo bêbado como estava na ocasião, queria se desculpar, mas não tinha certeza se seria capaz.


"O que será que eles diriam se me vissem assim, querendo me desculpar por alguma coisa?" ele pensou, não conseguindo contar um sorriso melancólico "O mesmo de sempre, que sou um fraco, desmerecedor do sobrenome... Eles que se ferrem."


Sentiu algo impelindo seu corpo pra trás num baque silencioso. Retrocedeu dois passos antes de perceber que Jimmy estava postado em sua frente. Uns bons centímetros faziam Jimmy bem mais alto do que Chuck, fazendo com que ele alcançasse seu ombro, mas isso não o intimidava nem um pouco.


 


- Indo a algum lugar?


 


Ergueu os olhos, não estava com paciência para aturar James no momento, suspirou fundo, encarando os olhos azuis com desprezo.


 


- James.


- Black.


 


Jimmy permanecia ali, não emitindo sinal algum de que pretendia se mover, então Chuck decidiu-se por simplesmente contorná-lo, mas foi barrado novamente.


 


- Ela não quer falar com você.


 


Os olhos de James eram severos e tensos, e sua voz forte e intimidadora provavelmente assustaria qualquer um, se o garoto em questão não fosse Chuck Black.


 


- Por que não deixamos que ela mesma me diga isso?


- Não vou te deixar chegar perto dela.


- Ah, e o que você vai fazer? Me anotar no seu bloquinho superpoderoso de monitor? – Ele sorriu de lado, sem se incomodar em ter que estar olhando pra cima.


 


Jimmy trincou os dentes, seus lábios trêmulos de raiva, como se estivesse se segurando ao máximo para não partir para cima de Chuck. Chegou mais perto do garoto, absolutamente colado no peito dele, rígido, mas como se fosse começar a gritar a qualquer momento: Não iria deixar que Black fizesse com Gabrielle o mesmo que fizera com Hannah.


 


- Você... – Ele parecia se esforçar ainda mais, cerrando o punho ao lado do corpo, reduzindo a voz antes composta a um sussurro perigoso - ...Vai se arrepender.


- Sai da frente James, você está tapando a luz.


 


Chuck revirou os olhos, tentando passar por ele novamente, mas bateu contra seu peito. Não se abalou, apenas sorriu.


 


- Já está ficando chato, de verdade. Então se você sabe o que é melhor pra você, é melhor sair do meu caminho.


- Do que você está falando? O que você pode fazer?


- Você não gostaria de descobrir.


 


A voz de Chuck era suave, porém mais perigosa do que a voz de Jimmy poderia um dia soar: havia um aviso sério em cada sílaba, como um eufemismo educado. Por uma fração de segundo, Chuck pensou ter visto os olhos de Jimmy se escurecerem completamente de ódio, apagando em seu harmonioso rosto, as linhas antes belas, substituindo-as por uma máscara de fúria contida, guardada.


A próxima sensação que Chuck teve foi a pedra fria da parede comprimida contra suas costas, viu o rosto do rapaz a centímetros do seu, suas mãos trêmulas apertando com força a gola de seu sobretudo com suas veias saltadas. Sentiu a respiração quente em seu rosto, mas não reagiu quando percebeu o que estava acontecendo, simplesmente arqueou uma sobrancelha e riu baixo.


 


- O monitorzinho está mostrando seu outro lado? Meu deus, como você é assustador, estou mijado.


- Se você ousar... Se você... Sequer pensar... – Suas mãos tremiam mais, e ele não conseguia se concentrar em mais nada. – Fique longe dela, está ouvindo?


 - Eu te aconselharia a tirar as patas de mim agora; essas roupas custam mais do que seu pai jamais sonharia em ganhar em dois anos. – Chuck não sorria mais; empurrou o peito de Jimmy, demonstrando mais força do que aparentava pelo seu tamanho.


 


Jimmy foi obrigado a soltá-lo, impelido para trás, esbarrou num grupinho de garotas amontoadas que estavam ali para observar Chuck. As garotas não eram as únicas a olhá-los: uma boa quantidade de pessoas observavam em silêncio, assustadas com o que estava acontecendo. Repentinamente Jimmy se viu cercado pelos amigos de Chuck, que o olhavam de forma ameaçadora. Haviam se colocado entre os dois, insinuando abertamente, pela forma como estralavam os dedos, o que pretendiam se caso Jimmy não se afastasse.


Não foi o bastante para intimidar, pois ainda olhava Chuck de forma intensa, mas depois de alguns minutos de avaliação, decidiu que tumulto não seria bom para a sua reputação de monitor, e decidiu ir embora.


Gabrielle olhava tudo aquilo parada a um metro da confusão, mas não havia sido notada por nenhum dos dois. Estava séria, apertava os livros contra o peito, e olhava feio para Chuck, até que resolveu se precipitar até Jimmy e apertar os pequenos dedos de sua mão no pulso forte do garoto, arrastando-o para fora da multidão.


Chuck ainda desamarrotava suas roupas quando foi cercado por uma onda de menininhas saltitantes ansiosas para serem as primeiras a consolá-lo, dentre elas Felicia, que se prontificou em expulsar todas as  garotinhas com empenho.


 


- Amooooor o que foi aquilooo? Quem esse cara acha que é? – ela estreitou os olhos na direção por onde Jimmy desaparecera com Gabrielle – E por que ele achou que você queria falar com aquela ridícula? Chuck, você está escondendo alguma coisa de mim? Por que você simplesmente não ia querer me enganar!


 


Chuck olhou para Felicia com desprezo carregado, como se ouvir o que ela tinha pra dizer fosse uma grande perda de tempo da qual ele não precisava, e saiu bruscamente do corredor com os olhares de todos na nuca, sem vestígio algum da recente ironia. Felicia chamou por ele, mas Chuck nem sequer ouvia, seus amigos o seguiram e pouco a pouco, os alunos foram liberando o corredor, comentando o acontecido.

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