Wes - O garfoman.



Duas semanas depois.


              
O episodio na sala comunal deixara Gabrielle perturbada, não entendia, o que aquele cara queria afinal? Já deixara bem claro: Nada de joguinhos irritantes. Contara tudo para Emily, a fim de que a amiga pudesse lhe dar algum conselho.


               - Acho que o melhor a fazer é se afastar. Mas foi super legal você ter encarado ele daquele jeito, queria ser uma mosquinha pra poder ter visto a cara dele! – Emily ria, fazendo seus cabelos loiros roçarem no cobertor sobre o gramado.


               As duas amigas observavam nuvens, deitadas sobre um grande cobertor no gramado. Chuck Black não dera as caras pra fora do dormitório masculino nem por um instante quando não estava nas aulas, Wes ainda não tinha aparecido, aparentemente ainda dormia preguiçosamente em sua confortável cama de dossel. Felix não parava de pentelhar os professores, tirando suas dúvidas, então só restara as duas, que resolveram aproveitar a folguinha.


                 - Ah, eu estou tão irritada. – suspirou.

                 - Por que está irritada, minha florzinha?

                
Florzinha?


                 Gabrielle abriu os olhos pra dar de cama com um Jimmy todo sorridente acima de suas cabeças.

               
  - Oi Jimmy... – sorriu – quer se juntar a nós?

                 - É... Deita aí, estamos observando nuvens.

  
              Jimmy se deitou ao lado de Gabrielle e também passou a fitar o céu. Gabrielle sentiu os dedos de Jimmy comprimindo os seus carinhosamente.


                 - E então... O que está te deixando irritada?

                - Wes e Felix – respondeu rapidamente – Wes está dormindo feito um bicho preguiça, e Felix não anda mais com a gente porque está ocupado demais grudado nas barbas do Flitwick com suas perguntas... – balançou a cabeça negativamente, risonha.

                 - Você tem a mim... Não precisa se preocupar.

                 Sentiu o rosto de Jimmy olhando-a, seu rosto esquentou de vergonha. Emily pigarreou.
                 - E então Jimmy, já sabe o que vai fazer da vida quando se formar?

                - Hm – resmungou por ter sido interrompido – meu pai possui uma loja de equipamentos para quadribol, quero trazê-la para uma cidade maior e expandi-la, vou administrar junto com ele.

                 - Nossa... Muito interessante. Quero ser curandeira – e franziu os olhos pra uma nuvem num formato muito peculiar – gosto de cuidar das pessoas.

                - Não sei o que vou ser. – Gabrielle mordeu o lábio inferior.
                - Você vai cuidar dos nossos filhos, amor.


                Ok, agora Jimmy estava começando a assustar.


                - Hm, não conte muito com isso, não sou muito caseira. Quero ter filhos sim, mas também quero trabalhar.

                - Por mim tudo bem – e apertou sua mão novamente. – Emmy, você vai se dar bem no último ano, tem muito o que estudar, acho que vocês têm uma certa facilidade com isso.


                Emily riu, satisfeita.


               - Sabe que eu deveria estar estudando agora mesmo... Mas não resisti, estava voltando do treino de quadribol e vi vocês duas aqui... Sinto falta de folgar um pouquinho, o sétimo ano quase deixa a gente louco.

                - Aaah Jimmy, nem me fale. Só de pensar no sétimo ano começo a ter tremores.
                - Que nada Elle, o sétimo ano é nosso. E você sabe disso.

                As duas ficaram rindo alegremente. Cutucando uma a outra.


                - Juro que não sei onde ele está, já perguntei pros amigos dele, encontrei Patrick e Tyler na sala comunal, mas não sabem de nada. Já perguntou pros amigos dele na Grifinória? – uma voz feminina claramente afobada indagou.

               - Não falo com os amigos dele, alô-ou, aqueles meninos me secam totalmeeeenteee, não quero que briguem por minha causa, se toca!

               - Ai, com certeza, não tinha pensado nisso...

               - É, você nunca pensa em nada, Louise.


              Emily e Gabrielle trocaram olhares furtivos, Felicia e Louise Kannion estavam obviamente
falando de Chuck. Mas Gabrielle não se importava com ele, tinha plena certeza de que estava bem.


               - Por que não pergunta a Gabrielle?

               - É, eu deveria, afinal, ela tem tendência a saber o paradeiro do namorado de outras garotas, ainda mais do Chuck.


               Gabrielle cerrou os punhos, Jimmy segurou seu braço.


               - Fica tranqüila amor, não deixe essa boba te incomodar.


              Após ouvirem os passos apresador de Felicia se afastarem, os três tiveram os ouvidos inundados pela voz rouca e sonolenta de Wes:


               - E aí galera, o que estão fazendo?

               - ÊÊ até que enfim hein. – Emily sentou-se e puxou Gabrielle.

              E passaram a tarde enchendo o saco de Wes, como é que ele podia dormir tanto? Gabrielle gostara de ver como o amigo estava sendo educado com Emily, anotou mentalmente lembrar-se de perguntar a ele se estava levando em consideração a possibilidade de pedir Emily em namoro.




___________





              
Uma da manhã, Sala comunal da Grifinória.

              
A Sala estava completamente vazia, o último estudante havia se retirado havia meia hora. Chuck Black estava esparramado confortavelmente no tapete em frente à lareira, tinha um livro em suas mãos, que dizia algo parecido com... Bom, não dava pra ler, porque a luz era turva, a chama da lareira era quase extinta. O garoto remexeu as cinzas, suspirou, olhou pras faíscas, que subiam em espirais.

              
- É bom você ter uma ótima explicação pro seu sumiço. – guinchou uma vozinha feminina – como é que você some desse jeito? Mal apareceu pras aulas, me ignorou completamente, nem deu sinal de vida.

            
   Ele nem se virou.

           
    - O que você quer que eu faça? Estou tendo problemas pessoais, tenho meus motivos.

               - Que tipo de problema?

           
    Seu tom de voz havia se suavizado, e sentou-se ao lado dele sem esperar convite.

           
    - Problemas, Felicia. 

           
    E o garoto tirou do bolso um frasco prata, entornando o conteúdo de uma vez só.

           
    - Isso é álcool?

               - E se for?

           
    Ela não disse nada, ficou olhando pra ele.

           
    - Meu amor... Você sabe que me tem quando precisar conversar com alguém, só não quero que suma e me deixe completamente fora da situação. É ho-rrí-vel, sabe?

           
    Meu amor? Pensou ele Ela realmente acha que eu quero algo, pobre garota. Chuck sentia uma dor de cabeça incrível, e estava prestes a vomitar a qualquer instante, nunca havia se sentido assim na vida, só quando aquilo acontecia, e aquilo o corroia, doendo cada vez mais, pedindo pra que ele abrisse o próprio peito e acabasse com aquilo de uma vez. Talvez fosse melhor morrer. Era bem mais fácil do que agüentar esse tipo de coisa. Tomou mais um gole, seus olhos faiscaram, encarando as cinzas, e desejou ser pó. É claro que nada disso se manifestava exteriormente. Era uma batalha interna, íntima, e incrivelmente intensa. Sentiu seu coração apertar no peito, o pequeno coração já enferrujado, desprovido de muitas coisas boas. Tomou outro gole.

               Felicia ainda discursava, mas ele não estava ouvindo absolutamente nada. Deixou o frasco de lado e puxou-a pra si, beijou seus lábios, apertou seu corpo, sentiu seu cheiro, ouviu sussurros, mas não os entendeu. Não tinha nada ali, só carne, cabelo e perfume. Era exatamente esse o tipo de coisa que ele precisava pra se distrair. Me deixe em paz Josephine, só mais essa noite.

            
   - Chuck você está ok?

            
   Felicia percebera sua intensidade, seus olhos cansados e mal-dormidos, o rapaz limitou-se a tomar outro gole do frasco.

          
     - Eu? Estou ótimo – e sorriu, um sorriso sombrio. – Pare de encher o saco e vá cuidar da sua vida.

          
     Ela franziu o cenho, indignada. Mas não protestou, estava assustada, e lançou-lhe um olhar, indagando o que estava acontecendo, mas não houve retorno, então resolveu fazer as coisas do jeito tradicional.

             
  - O que está acontecendo com você?

               - Já disse que estou bem Felicia.

               - Não está não, olha só pra você... – tocou seu rosto com os dedos delicados, olhando para o cabelo desgrenhado dele.
           
    Chuck suspirou. Felicia o ignorou.

           
    - Vou dormir. – e se afastou até a porta do dormitório masculino.

              - Chuck - chamou-lhe enquanto se punha em pé – se você continuar me tratando assim, vai ficar sozinho! O que você acha que está fazendo?

               - Sempre estive sozinho – sorriu após outro gole – você é quem precisa de mim.

               
E desapareceu dormitório adentro, deixando uma Felicia perplexa falando sozinha.



___________


              
- E então... Como foi seu dia até agora?

               - Dormi feito uma princesa – riu.

               - Você é uma princesa.

            
   Wes enfiou o dedo na garganta e fingiu vomitar, e recebeu um beliscão de Emily por tal ação.

            
   - Você vem com a gente até a porta da sala? – perguntou.

               - Desculpe amor... Eu sei que esse tempo é vago, não tenho aula, mas a reunião dos monitores chefes é daqui a pouco.

               - Tudo bem então - sorriu-lhe – a gente se vê à tarde.

              - Prometo te recompensar – beijou seu rosto carinhosamente – sua última aula é História da Magia?

               - Uhun – Afirmou a menina enquanto mastigava a sobremesa.

               - Boa sorte, o Binns está um saco hoje, metade da sala teve que tomar café antes de entrar na sala pra não dormir. Até mais pessoal...

               - Até! – Disseram em uníssono.


               Beijou Gabrielle na bochecha e saiu correndo, ela suspirou, observando o cabelo negro desaparecendo no meio da confusão do almoço.


               - Como vocês se agüentam? É simplesmente nojento o jeito como ele te olha!


               Wes cutucava a torta de morango em seu prato com o garfo, balançando a cabeça negativamente.


                - Pára com isso Wes, eu gosto dele. Hoje em dia é difícil encontrar um menino romântico, que realmente se importe com você.

                - Se importar é diferente de não te deixar respirar, fala sério! O cara não te deixa nem comer sozinha!

                 - Você está com inveja, queria um assim pra você também!

                 - Tá louca? Meu negócio é mulher!

                 - Aham!

                 - Ei, vamos parar com a homossexualidade aí? – Felix grunhiu, olhando feio pra Wes enquanto Emily se contorcia de rir.

                 - Ei Felix... Onde você estava? Você perdeu o melhor almoço da semana. – Gabrielle beliscou um grande pedaço de pudim de chocolate à sua frente.

                 - Adivinha só. – Emily revirou os olhos.

                 - Não tenho culpa se aquele professor não cumpre com suas obrigações!

                 - Felix, bater na porta do Flitwick às três da madrugada querendo que ele responda suas perguntas não é bem obrigação dele, afinal, estávamos completamente fora do horário de aula, meu deus!

                 - Não importa, eu estava estudando, ele tem como obrigação esclarecer minhas dúvidas, o que você quer que eu faça? Apesar de minha inteligência, também faço perguntas.

                 - É... Dá pra ver, afinal, Flitwick está fugindo de você completamente! Olha só pra carinha do homem!


                  Wes acenara com a cabeça, os três se viraram para a mesa dos professores, onde um aflito Flitwick olhava nervosamente pros lados e fazia trancinhas na barba, resmungando baixo por cima dos ombros, vendo se alguém se aproximava. Começaram a gargalhar.


                  Dois vultos alaranjados.


                  - Olá minha princesa. – Fred Weasley acabara de brotar no banco ao lado de Emily, e segurava sua mão polidamente. – estaria interessada em comprar um kit Mata Aula das Gemialidades Weasley? Sabe como é, meninas bonitas como você não deveriam ficar enfiadas numa sala de aula entediante.

                 - Como assim comprar, seu idiota? – Jorge Weasley aparecera ao lado de Gabrielle, fazendo a menina levar um baita susto com direito a pulinho. – Por que não damos um à linda dama, como cortesia? Assim ela pode deixar o marasmo e ir se juntar a dois lindos, jovens e inteligentes gêmeos dispostos a diverti-la no próximo tempo.

                  - Mas se a linda dama for mesmo inteligente, é claro que não vai querer ficar com você – e olhou pro irmão com desdém – seu nariz é torto.

                  - Sim, idêntico ao seu.


                  Fred e Jorge se encaravam furiosamente por cima do ombro de Gabrielle.


                  - Calma aí rapazes. – Gabrielle estava chocada, como assim? Os caras simplesmente brotavam e começavam a se matar pela Emily? Do nada?

                  - Ela não vai a lugar algum. Sumam já daqui.


                  Todos se viraram para Wes, que estava vermelho, e apertava o garfo na mão com cara de quem ia ter um derrame de raiva.


                  - E o que você vai fazer se não sumirmos...?

                  - ...Vai nos arranhar com esse seu garfo super assustador?

                  - Meu deus Jorge! Você viu isso? Ele tem um garfo!

                  - E o pior de tudo você não viu, Fred...?

                  - ...ele tem quatro dentes! Estamos mortos! – Entoaram juntos, trocando olhares apavorados, e se abraçaram, deixando Gabrielle sufocar no meio de um monte de cabelos ruivos.


                  Soltaram Gabrielle e voltaram à expressão anterior.


                  - Já sabe onde nos achar se mudar de idéia, gracinha. – piscou um deles, mas nenhum dos três sabia exatamente qual, afinal, eram idênticos.


                  Wes ainda espumava, olhando pros quatro dentes
de seu garfo.




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