Eu leio muito, sabe como é...



- Você fez muito bem em se afastar de Felicia.


               - É... eu também acho...

               - Wes se virou contra mim também.

               - Não ligue pra isso, vai passar...

               - Que saco Felix.

               - Imagino como deve ser, você só estava tentando poupar a menina de um fora terrivelmente doloroso, e ela acha que você quer roubar seu namorado. – Ele balançou a cabeça negativamente – E o pior de tudo é que ela não deve entender que esse tal de Black, por mais que eu não goste dele, por até ser um bom amigo pra alguém. – deu de ombros – o que a leva a pensar que você está roubando-o de fato. Mas o que ela não percebe é que esse Black é cheio de jogos e que não quer nada com ninguém.

               
Gabrielle encarou Felix, que folheava um livro furiosamente, aturdida.  

               
  - Nossa, você falou tudo. Não pensei que tinha esse entendimento sobre relações.

                 - Eu leio muito sabe como é.

                
Ao ouvir o comentário, a menina reprimiu uma gargalhada.

               
  - Obrigada pelo apoio Felix. Significa muito pra mim. – E sentindo-se bem pela primeira vez em uma semana, Gabrielle sorriu levemente, olhando para o amigo.

                  - Estarei sempre ao lado da justiça. – Ele piscou os olhinhos miúdos por trás das grossas lentes fundo de garrafa.

               
   Gabrielle riu, e continuou a fazer sua poção.

                  Wes parecia estar tendo dificuldades para preparar sua poção, mas recebia ajuda de Emily, Gabrielle sentiu-se mais alegre ao ver que os dois haviam se reconciliado, mas não demorou muito pra voltar sua atenção pro caldeirão.

                  Snape parecia particularmente irritado naquele dia, Gabrielle achava que o motivo era o desenho obsceno de Drake Newlmann, que era constantemente perfurado pelos olhos astutos de Snape. O professor não parava de lançar ameaças aos alunos da Grifinória por qualquer motivo.

                   Wes juntou-se a Felix e Gabrielle na saída da masmorra quando o sinal declarando o final da aula de poções bateu.

                 
  - Oi gente... – cumprimentou timidamente.

                   - Olá... – responderam os dois.

                   - Estudo dos trouxas agora, não é? Esqueci de checar meu horário...

                   - Isso mesmo. – suspirou Gabrielle – o professor vai nos falar a nota do café hoje, estou nervosa.

                 
  Os olhos de Wes iluminaram-se subitamente ao ouvir a palavra café.

                  
  - Você só pode estar brincando, aquilo estava uma delícia!

                    - Eu também gostei... Espero que o professor sinta o mesmo.

                    Os garotos rumaram para a aula de Estudo dos trouxas, e se acomodaram em suas devidas cadeiras.

                    - Bom dia a todos. – saldou o professor, equilibrando uma enorme pilha de papéis com anotações e desenhos.

                     - Bom dia... – a sala respondeu em uníssono.

                  
   A sala de Estudo dos trouxas era fascinante para os alunos. Os objetos mais derivados encontravam-se por todas as partes. De tacos de Baseball pendurados de ponta cabeça no teto até rádios velhos dentro de grandes bolhas coloridas que flutuavam pela sala. Havia também uma lâmpada acesa numa mesa mais para o fundo da sala. Um antigo forno elétrico, um videogame, uma televisão.

                   
  - É uma pena não poder mostrar a vocês o que essas belezinhas eletrônicas fazem. Como sabem, coisas trouxas não funcionam dentro de Hogwarts, o que é muito ruim, porque tenho certeza de que adorariam ver um pouco de TV.

                   
   Os alunos olhavam para os objetos, deslumbrados, nunca se cansavam daquela sala, onde as aulas eram sempre divertidas. Naquele dia, os alunos tiveram aula sobre esportes dos trouxas, jogaram basquete. Wes se machucara feio ao ter sua bola roubada por um brutamontes da Sonserina. Fazendo a alegria da casa verde e prata.

                       No final da tarde, Gabrielle e Felix saíam da enfermaria, onde haviam levado sapos de chocolate para Wes e tinham lhe feito companhia, antes de serem expulsos por uma impaciente Madame Pomfrey: O garoto precisa descansar! Andem, fora daqui!

                        Felix se despedira de Gabrielle à noite, depois de ficarem estudando por um bom tempo na sala comunal. Quando já estava tarde, ainda havia muitos alunos aglomerados em volta de Fred e Jorge, assistindo uma de suas apresentações cotidianas de magia marota.

                        Chuck Black estava sentado em sua poltrona favorita, e observava Gabrielle furtivamente, perfurando-a fixamente com seus olhos cinzentos. Mantinha seu rosto sério, impassível, exalando ao mesmo tempo aquele ar de mistério, de superioridade.

                        Gabrielle sentou-se ao seu lado depois que os calcanhares de Felix haviam desaparecido pela entrada do dormitório masculino. Sorriu pra Chuck.

                       
   - Tendo progressos? – cruzou as pernas, se ajeitando ali com um longo suspiro.

                           - Que tipo de progressos? – Indagou, ainda olhando-a.

                           - Com ela. 
                           - Marcamos de nos encontrar daqui a dez minutos, fique e observe.

                           - Uuh, o que o senhor Black vai fazer? – Ela mordeu o lábio inferior, segurando um grande sorriso.

                           - Fazer o que faço de melhor: Ser eu mesmo e conseguir o que quero.

                           - Hm, e o que você quer?

                           - Colocar um sorriso nesse seu rostinho. - Virou-se para ela, sussurrando roucamente.

                        
    Gabrielle reprimiu um arrepio, se sentiu idiota, e quis socar Chuck.

                        
    - Chuck, por que está me ajudando?

                           - Te ajudando? – ele riu – Não estou te ajudando. Quero sair com sua amiga, só isso.

                            - Só isso? Mesmo depois do que aconteceu?

                            - Ela é... Muito extrovertida. Gosto de garotas de atitude.

                            - Você quis dizer fáceis.

                           
Chuck soltou uma risadinha cínica.

                          
  - Interprete como quiser, Felicia é maravilhosa.

                            - Ah é? Como assim maravilhosa?

                            - Nada demais. – ele se inclinou pra mais perto, agora sussurrando para não ser ouvido pelos colegas próximos – é uma troca meu amor. Eu não quero nada sério com sua amiguinha, e acho que ela até pode ficar chateada quando isso acabar, mas meus interesses são outros. Ambos vamos ter o que queremos, não faça tantas perguntas.

                           - Não tem problema, querido. Não quero saber como você vai quebrar o coração dela, só quero que o faça da melhor forma. – sorriu – isso é problema seu.

                           
 Gabrielle levantou-se, calculando o tempo que Felicia demoraria a aparecer, a amiga era sempre muito pontual, dentro de dois minutos estaria ali. Chuck a acompanhou com os olhos conforme a garota se acomodava no meio da multidão em volta de Fred e Jorge, aplaudindo um truque que nem sequer havia visto, com seu rosto abrigando uma expressão de desafio, encarando Chuck.

                            Felicia havia acabado de entrar na sala comunal, estava absolutamente linda. Usava um suéter azul bebê, acompanhada por uma saia pregueada branca. Seus cabelos loiros caíam pelo busto, e seus lábios brilhavam num gloss rosa claro.

                           
- Oi Chuck...

                            - Olá.

                          
Os dois conversaram por um curto tempo, até Felicia levantar a questão:

                        
   - Você diz que quer sair comigo, depois de tudo aquilo que aconteceu, quer dizer, você levou um soco...

                            - Você não quer? – ele parecia fazer esforço pra não parecer entediado.

                         
   Felicia corou. Sorriu.

                         
   - Não é isso... Claro que quero. É que aquela idiota da Gabrielle estragou tudo, pensei que não queria mais nada comigo, estou até surpresa por você ter me procurado.

                           - E por que não procuraria? Não ia desistir tão fácil de você. – Chuck sorriu, fazendo Felicia estremecer internamente. Ele era extremamente sexy.

                           - Bom saber disso... Hm, preciso te perguntar uma coisa.

                           - O que é? – Ele arqueou as sobrancelhas.

                          - Hm. – Felicia parecia embaraçada. – No dia que aquilo tudo aconteceu...  

                        
 Gabrielle disse algo sobre você ter dito que eu era fácil, acho. E até me mandou falar com a mulher gorda, porque ela tinha ouvido, mas eu quis ouvir de você se era verdade, porque eu claro que não acreditei... Sabe como podem ser essas amigas invejosas. Fazem de tudo pra tirar de você algo bom que elas não conseguiram ter.

                       
   - Eu sou algo bom, Felicia? – Ele se inclinou pra frente, ficando a centímetros do rosto da menina, encarando-a diretamente nos olhos sem qualquer receio.

                          
Felicia sentiu um calor subindo pela espinha.

                          
- Antes de eu me decidir, preciso saber se você disse aquilo. Porque eu não acho que tenha sido... Fácil. Isso não é coisa que se diga, só pedi uma aula de feitiços porque estou tendo problemas.

                            - É claro que está... – Ele sorriu de lado, não se afastando um milímetro.

                          
  Felicia parecia estar tendo dificuldades pra pensar com Chuck tão próximo, ficou quieta, olhando pra ele.

                          
  - Você acha que eu diria algo assim? Você não confia em mim? – ele sussurrou, enquanto tomava seu queixo na ponta dos dedos, fitando os lábios rosados da garota, e em seguida seus olhos. Era impossível desviar os olhos dos dele, eram um par de armadilhas acinzentadas.

                           - C...Claro que não. Não acreditei em uma só palavra. – balbuciou nervosamente.

                             - Ótimo, porque a melhor coisa que alguém pode fazer é confiar em mim. – Ele deixou seus dedos acariciarem uma mecha de fios loiros perto dos olhos de Felicia, aproximando seus lábios dos dela.

                           
  Felicia se aproximou mais, Chuck recuou com um sorrisinho nos lábios, e um olhar insinuante. A menina tentou se recompor, fingindo que não estava louca por ele.

                           
  - Outra coisa que eu gosto, é poder deixar sua amiguinha com raiva. – indicou Gabrielle com a cabeça – Ninguém me diz com quem devo sair.

                              - Eu concordo completamente – assentiu rapidamente, fuzilando a ex-amiga com o olhar. – Mas Chuck, por que ainda fala com ela? Ela te socou sabe...

                             - Não se preocupe com isso. Falo com ela para não criar caso, quero esquecer essa história. Agora estamos aqui sem nada pra atrapalhar. – sorriu novamente, desviando os olhos de Gabrielle enquanto passava o braço em volta da cintura de Felicia.

                              - Ótimo.
                             
Chuck e Felicia ficaram naquele sofá, se beijando e deixando as meninas da grifinória morrendo de inveja de Felicia, até as pessoas começarem a ir se deitar. Quando já era bem tarde, Felicia decidiu ir dormir, pois tinha que acordar bem mais cedo antes das aulas pra fazer a maquiagem, mas é claro que omitiu isso de Chuck, deu a desculpa de que ainda tinha que estudar. Há, até parece.

                             
- Já tomei conta da sua amiga.

                            
  Gabrielle deu um pulinho de susto ao ouvir a voz masculina atrás de si, e sua mão forte agarrar seu pulso.

                            
   - Muito bem, faça o que faz de melhor.

                             - Isso não é meu melhor, você ainda não viu nada... – ele sorriu descaradamente.

                            
   Filho da puta charmoso. Pensou Gabrielle.

                            
   - Vai terminar com ela quando a coisa ficar séria? – desafiou – Cuidado, ou vai se apaixonar...

                               - Eu não me apaixono.

                            
  Gabrielle deu de ombros.

                             
  - Vai saber... Nunca se sabe o que vai acontecer. – piscou.

                              
A garota não olhara sequer uma vez para o sofá, simplesmente não queria ver a cena. Talvez porque ainda tinha consideração por Felicia, talvez porque os truques de Fred estavam extremamente divertidos. Quem sabe?

                              
 - O amor não existe, é uma desculpa pra ser fraco e depender de outra pessoa.

                              - Também não acredito em amor. Mas acredito em adolescentes pervertidos.

                              
Chuck arqueou as sobrancelhas, fingindo estar ofendido.

                              
- Não sou pervertido, eu sou bom.

                               - Boa noite Chuck. – sorriu Gabrielle, ignorando-o, enquanto tentava não rir.

                              - Sonhe comigo. – Chuck encarou-a nos olhos pela última vez antes da garota se encaminhar para o dormitório feminino.

                                - Tenho coisas mais importantes pra sonhar.


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