Jimmy, o monitor.



Já era bem cedo quando Gabrielle vestiu um robe por cima do pijama e desceu as escadas do dormitório feminino abraçando um pequeno caderno, uma pena e um tinteiro. Acomodou-se como de costume em frente à lareira e pôs-se a escrever, sua pena arranhando o pergaminho, de um lado para o outro. Ouviu Kathleen Hill sair da sala comunal após cumprimentá-la.


               Deitou-se em um sofá por ali, não conseguia dormir junto com as colegas, Claire andara falando muito durante o sono ultimamente. Logo sentiu suas pálpebras pesadas e se deixou envolver pelo sono.

               
- Shh, não faça nenhum movimento brusco, Wes. Ela anda dormindo muito tarde...

                - Desculpe Emmy... – Wes sussurrou

                - Alguém sabe o número de X cuja acromântula possui, na classificação oficial do ministério da Magia? – sussurrou Felix

                - Seis – Ouviu uma familiar voz feminina responder.    
                
Abriu os olhos lentamente, visualizando seus amigos sentados numa rodinha perto dela. Sentou-se, bocejou.

               
- Bom dia bela adormecida!

                - Hm, estou longe de ser bela quando acordo... – Passou a mão pelo cabelo repicado bagunçado pelo sono – Ei... Vocês já tomaram café?

               - Já. – Emily assentiu por trás de seus óculos fundo de garrafa. – trouxemos um lanche pra você – indicou com um dedo ossudo um copo com suco de abóbora e uma fatia de bolo de chocolate.

                - Eba...

              
Gabrielle comia tranquilamente ouvindo os colegas conversando, sonolenta demais para participar. Observava o movimento no salão comunal. Dois colegas jogavam xadrez bruxo, observados por duas meninas ansiosas enquanto a rainha golpeava uma peça violentamente, dando risadinhas estridentes em seguida. Alunos mais novos praticavam feitiços encolhedores, preparavam poções perto da lareira, xingavam baixo enquanto amassavam pergaminhos rabiscados em falhas tentativas de descrever as características de um lobisomem na forma humana.

               Muitos alunos deixavam seus deveres acumulados para o fim de semana, e Gabrielle gostava de se sentar ali e observá-los. Pensou em como foi feliz em toda sua estadia em Hogwarts, em como sofreria quando tivesse que deixar o lugar, e em como faltava pouco tempo para que isso acontecesse. Já estava no sexto ano, tinha menos de dois anos para aproveitar.

               Felicia Springsun desceu toda saltitante do dormitório feminino, balançando seus lindos cabelos loiros, e pôs-se a cochichar intensamente com um grupinho de quintanistas muito admiradas com ela. As meninas olhavam para ela com adoração, imitavam suas roupas, seus gestos, sua forma de falar, e quando não estava olhando, davam em cima de Chuck.

               Gabrielle achava tudo aquilo muito engraçado, e desatou a rir quando uma garota loira parecidíssima com Felicia jogava seu cabelo loiro para o lado, imitando perfeitamente o gesto que era a marca oficial de Felicia.

             
   - Que foi, Elle?

                - Nada não... Só olhando o pessoal...

               
Havia um certo tumulto no mural de avisos, mas Gabrielle nem precisou se levantar para checar, sabia que os alunos mais novos olhavam para o horário de saída de amanhã, quando iriam à Hogsmeade.

               
- Ei... Todos vocês vão para Hogsmeade amanhã, né? – perguntou

               
Seus amigos assentiram. - Estou louco para passar na Dedosmel... Meu estoque de sapos de chocolate está acabando...

                Almoçaram e foram passar um tempo à beira do Lago Negro, observando a Lula Gigante assustar alguns calouros distraídos. Gabrielle e Wes conversavam animadamente perto de uma árvore, enquanto Emily olhava abismada para dois rapazes que duelavam cruelmente ali por perto, chamando muita atenção das pessoas. Houve um estampido e um grito.

               
  - MEU BRAÇO! – gritou alguém

                 - Isso pra você aprender a não se meter comigo!

                 - AGORA VOCÊ VAI VER! QUERO VER O QUE FAZ SEM A VARINHA!

               
  E dois rapazes se atracaram no meio do gramado, onde já começava a se formar um tumulto de alunos curiosos para ver o que estava acontecendo.

                
  - EU APOSTO CINCO GALEÕES NO LOIRO! – Lino Jordan gritou animadamente. – FAÇAM SUAS APOSTAS COMIGO!

                  - Eu aposto dez no Mike.

                  - Mais cinco no Louis!

                  
Lino Jordan se empenhava em recolher o dinheiro e anotar os nomes, enquanto os garotos gritavam, incentivando o alvo de suas apostas.

                 
- ENTORTA O BRAÇO DELE!

                  - QUE RIDÍCULO HENRY, VOCÊ BATE FEITO UMA GAROTINHA!

                
 Gabrielle ficou na ponta dos pés, mas não adiantou muito, pois só tinha um e sessenta de altura.

                
  - Gente, o que está acontecendo? – perguntou

                  - Alguns brutamontes se matando...

                  - PRA TRÁS, SEUS CURIOSOS... ANDEM!

                 
Um rapaz alto com vestes da corvinal corria em direção ao tumulto, empunhando a varinha na altura da cabeça, exasperado. Vinha acompanhado do professor Flitwick.

                 
- O que está acontecendo aqui? Parem já de brigar!

                 
Os meninos continuavam a rolar no chão, lutando feito loucos, todos ralados, sujos, cheios de grama pelo rosto e cabelo, gritando e arfando.

                  
- VOCÊ... SEU... FILHO DE UMA...

                  - JÁ CHEGA! – berrou Flitwick – meninos, me ajudem a separá-los.

                  - Sim, professor.
                
Os dois monitores chefe da Corvinal apartaram a briga. Arrastando os meninos separadamente até o castelo.

                 
 - O que é isso? Não se pode mais deixá-los sozinhos por um dia e já começam a se matar? Nos meus tempos não eram assim... Que absurdo! – Flitwick arrastou seu meio metro até o castelo, atrás do monitor que ia à frente.

                 
Gabrielle sentiu um impacto forte no ombro.

                 
- AI! – apalpou o ombro pra verificar se tudo continuava no lugar, olhou para a direção do encontrão, identificando o outro monitor chefe da Corvinal, aquele que chegara primeiro, gritando. Arrastava o outro garoto ferido até o castelo ao passar por eles.

                  - Desculpe... – sussurrou numa desculpa, tentando sorrir, como se estivesse envergonhado pelo colega da Corvinal.
                  
Gabrielle nada disse, chocada com a briga que acabara de acontecer. O tumulto ainda continuava, e os mais atrevidos seguiam os briguentos até o castelo. Perceberam que uma linda jovem também da corvinal chorava desesperadamente, balançando sua cortina de cabelos longos e extremamente lisos enquanto seguia o professor Flitwick.

                   
- Eu disse à eles que não havia necessidade de briga... Os meninos podem ser tão estúpidos... – e cobriu o rosto com as mãos delicadas.

                   
Até a hora do jantar, o assunto era o mesmo: a briga no jardim. Todos falavam sobre Mike e Louis, respectivamente da Sonserina e Corvinal, que haviam tentado se matar por Mary, a garota chorosa. Como os meninos podem ser bestas... – Gabrielle concordara com Mary em mente – se matando por causa de uma garota...

                    
- Você viu aquela chave de braço?

                     - E aquela gravata?

                     - Lino, quanto você arrecadou?

                   
As mesas fervilharam quando os dois garotos voltaram da enfermaria acompanhados pelos monitores chefes de suas respectivas casas. Snape dispensara o segundo monitor da corvinal.

                     Dumbledore teve que chamar a atenção dos alunos, pedindo que se acalmassem e comessem em paz, que o problema havia sido resolvido. E acalentou o clima com uma piada muito ruim sobre duas corujas pernetas.

                    Após terminarem suas refeições, os garotos se retiravam do Salão principal. Quando Gabrielle sentiu um toque sutil no ombro, e parou, dando de cara com o monitor chefe da Corvinal que havia trombado com ela mais cedo.

                    
- Ah... Oi.

                     - Oi... – ela estava surpresa, e assumiu uma expressão curiosa.

                     - Meu nome é James, mas me chamam de Jimmy... Queria pedir desculpas por ter batido no seu ombro hoje mais cedo... – ele sorria jovialmente.

                     - Ah... Tudo bem, não foi nada... – e sorriu. Era simplesmente impossível não sorrir, o rapaz emanava uma energia muito positiva. – sou Gabrielle.

                      - Então... Gabrielle... Queria saber se eu podia compensar aquilo te levando pra comer alguma coisa em Hogsmeade amanhã... – ele não parecia nada nervoso, e isso surpreendeu Gabrielle. Nunca haviam chamado-a para sair antes, com exceção de um garoto do quarto ano que se apavorara e saíra correndo.

                      
Ela olhou bem pra ele. Era alto, seus cabelos negros eram bagunçados e caíam levemente sobre os olhos. Possuía lindos olhos azuis. Era forte, jovial, e muito alegre, um ótimo tipo de companhia.

                      
- Não sei... Eu... Já estou bem...

                       - Eu insisto. Sério, por favor, fiquei pensando numa desculpa pra te chamar pra sair faz semanas, e só agora consegui esbarrar em você em paz! – Ele riu – Seus amigos não saem de perto...

                      
Gabrielle soltou uma risada gostosa. Além de tudo é engraçado. Pensou.

                     
  - Bom, eu não imaginava o quanto está difícil esbarrar em alguém ultimamente... – ainda ria – acho que vou ter que aceitar, pelo seu esforço.

                       
Meu deus como é linda, não me lembro de ter visto uma garota assim em toda a minha vida. É simplesmente ela mesma, sem máscaras de futilidade. Pensou Jimmy. E sentiu-se orgulhoso por parar de espioná-la nos corredores, finalmente tendo coragem para chamá-la para sair.

                       Seu rosto abrigava um grande sorriso, revelando seus dentes perfeitamente brancos.
                      
 - Te encontro aqui amanhã?

                       - Tudo bem... Virei.

                       - Gosta de chocolate?

                       - Amo...

                      
 Gabrielle simplesmente não conseguia tirar o sorriso dos lábios, não sabia por que. Se despediu de Jimmy e ia saindo do Salão Principal.

                    
    - Namoradinho novo?

                     
   Chuck Black estava encostado na parede do corredor que levava para a Torre da Grifinória. Encarava a menina com um olhar frio, intenso. Tinha as duas mãos nos bolsos da calça, casualmente entediado. Estava particularmente bonito hoje, se é que era possível. Se desencostou e parou bem em frente à Gabrielle, olhando-a nos olhos como se tentasse entender alguma coisa.

                      
    - Vai sair com aquilo? – riu debochadamente, colocando as mãos nos bolsos.

                          - Não é problema seu ok?

                          - Está irritada, meu amor? Eu te deixo irritadinha?

                          - Chuck, não enche.

                          - Por que está fazendo isso consigo mesma?

                          - Gostei dele. Qual é o seu problema?

                          - Sabe Elle... Eu me preocupo com você... – fez cara de quem avisa algo importante casualmente, parando na frente dela, barrando a entrada do Salão Comunal.

                         
Gabrielle bufou, quem ele acha que é? E quis continuar seu caminho sem ser perturbada de sua felicidade.

                          
- Quem você pensa que é? – verbalizou seu pensamento – Não seja ridículo. – e fez menção de continuar seu caminho.

                            - Eu sou Chuck Black. – segurou seu braço, puxando-a pra perto - Ridículo é aquele trapo que você chama de namorado.

                           
Fitou seus olhos frios demoradamente, não acreditando na cara de pau que ele podia ter. Chuck roubara sua melhor amiga, e ainda gostava de encher sua paciência só pra ver qual seria sua reação, sentindo mais prazer a cada vez que a deixava brava.

                           
- Ele não é meu namorado. E me solta. – rangeu os dentes – Por que não cuida da sua vida?

                             - Estou te deixando irritadinha meu amor? – sorriu sem soltá-la

                             - Qual é o seu problema com Jimmy? Ele é decente, totalmente diferente de você. E o que você tem a ver com isso?

                             - O que você tinha a ver entre eu e Felicia?

                             - Ela era minha melhor amiga, queria poupá-la de sofrer, e você sabe disso.

                             - Gosta tanto dela que está torcendo pra que eu dê um chute bem dado naquele lindo traseiro. Jimmy é um péssimo jogador de quadribol. – Chuck alegou do nada, como se a crítica sustentasse sua opinião sobre o garoto              
                           
Chuck apertou mais seu braço, Gabrielle começou a entender.

                            
- Ela merece um belo chute. Não é a amiga que pensei que fosse. Vocês se merecem. Solta meu braço, seu estúpido, tá machucando. – rosnou após tentar se desvencilhar sem sucesso. – vai ficar me perseguindo só porque fui uma boa amiga? Essa história já acabou Chuck, você está com ela agora, e até podemos ser amigos se você for um bom rapaz e me ajudar a fazê-la se tocar.

                          
Chuck riu. Que idiota! Está rindo de quê?

                           
- Qual é a sua? Sério.

                          
Seu braço afrouxara, mas ainda segurava seu pulso.

                          
- Então você está me usando? Como pode fazer uma coisa dessas? – seu rosto tornou-se um poço de falsa incredulidade – Quero que você se lembre bem do que vou dizer agora. Não estou com Felicia pra te ajudar. – sua expressão mudou automaticamente, voltando a ficar séria, perigosa. Como se a qualquer momento ele pudesse fazer algo... Black.

                            - Sei por que está com ela, mas isso não é do meu interesse.

                            - Você gosta de mim. – ele sorriu descaradamente.
                           - Quê? – Gabrielle arqueou as sobrancelhas, não acreditando no quanto Chuck era metido.

                            - Você me ouviu.

                        
  Sentiu um dedo afagar seu rosto gentilmente, e os olhos de Chuck encontrarem os seus. Gabrielle sentiu-se violada, como se os olhos dele pudessem enxergar através de si, como se pudessem... Descobrir qualquer coisa sobre ela, e corou intensamente ao ver os olhos dele descerem até seus lábios, enquanto acariciava seu rosto carinhosamente.

                        
   - Eu odeio você, está ouvindo? - Ficava difícil se concentrar, e quis socar seu próprio corpo, como conseguia se sentir atraída por aquele monstro bem vestido? – Me solta Chuck, ou eu vou te socar de novo.

                            - Por que você simplesmente não admite? É mais fácil pra você... Vai te evitar muito trabalho futuro.
                       
     Ela deveria ter ouvido essa frase.

                            - Do que você está falando, seu idiota? Eu não suporto você. Se toca. Nunca, jamais sairia com vcê, entendeu? Nem sei de onde tirou isso. Você é até simpático como amigo, mas só isso.

                           
Gabrielle lutou pra se livrar de Chuck, mas seus braço forte prendia sua cintura contra seu corpo. Meu deus como ele cheira bem. Gabrielle o que é isso? Idiota.

                           
- Não é isso o que seus olhos dizem, e o resto também. – Ele ainda estava sério, encarando a garota próximo ao seu rosto, mas sua voz possuía um tom de sutil divertimento, ele amava cada segundo daquilo.

                           
Ela sentiu seu coração disparar, não sabia se era raiva ou se era pela proximidade que o braço de Chuck proporcionava apertando sua cintura contra ele.

                             
 - Meus olhos dizem eu vou socar cada centímetro de você quando sair daqui. Você não é tudo isso Chuck. – E tentou empurrar o rapaz com a mão livre, sem sucesso.

                              - Tem razão querida, eu sou mais do que isso. Vou deixar você descobrir sozinha. Você é teimosa, mas tenho que concordar com você, do jeito mais difícil vai ser mais prazeroso.

                             
Gabrielle se viu livre dos braços dele, e estava tão indignada que só conseguiu empurrar Chuck e sair resmungando pelo corredor. Quem ele pensa que é? Ah meu deus, eu sou Chuck Black... Grande porcaria! Eu sou a rainha da Inglaterra, babaca... Por que você não me deixa em paz? E desapareceu pelo retrato da Mulher Gorda.

                              Chuck continuou encostado na parede, observando um grupo de lindas meninas da Lufa-Lufa passar.

                               
- Olá garotas... Posso lhes fazer companhia? – e passando um braço pela cintura das duas meninas mais próximas, desapareceu pelo corredor com o sorriso mais sedutor de todos.










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