Capitulo III
CAPÍTULO III
O tilintar de talheres de prata e xícaras de porcelana ressoou no salão paroquial do bairro de Brookline, encobrindo as vozes delicadas das Filhas da Graça. Na conclusão do encontro oficial, elas haviam trocado informações sobre as campanhas beneficentes e, claro, sussurros sobre as sócias ausentes.
Gina fez uma careta nesse momento, pois não gostava de especulações e boatos. Preocupava-se unicamente com as ações de caridade, que incluíam a entrega diária de sanduíches aos necessitados e sem-teto. De propósito, levantou-se da mesa com sua xícara de chá e fugiu para o canto do salão. Não importava se uma das colegas aproveitasse a ocasião para difundir que ela fora reconhecida nas docas, dias antes, e que o garboso estranho que dirigia sua carruagem era agora um empregado da família. A visita já marcada à avó, Worth, no campo, proveria mais do que o costumeiro alívio.
— Não fique triste, Gina. — Hermione aproximou-se dela. — Essas conversas fúteis não causam dano maior a ninguém.
— Fala das moças como se fossem crianças, amiga. — Ela notou que certo número de cabeças se voltava, suspeitosamente, em sua direção. — E pensar que em breve serão as molas da sociedade!
Hermione sentou-se no pequeno sofá perto da janela, de onde se avistava a rua. Uma nesga de sol acentuou o brilho de suas madeixas castanhas. Muitas carruagens se alinhavam na frente do prédio.
— Como podem se alegrar com mexericos, julgando-os inofensivos? Nunca o são — disse Gina.
— Elas não se contentam em distribuir cobertores e doar comida aos pobres. — Hermione constatou o fato amargamente. — Consideram tais gestos um pretexto barato para as reuniões sociais da entidade, onde falam mal umas das outras. Pecado grave.
— Com esses comentários, parece uma autêntica filha de religioso. — Gina sorriu, mas notou que a amiga estava angustiada. — Embora não esteja arrumada, hoje, como filha do reverendo. Onde conseguiu esse belo vestido azul?
Hermione Granger, além de ajudar o pai viúvo na administração da paróquia e na criação de dois filhos gêmeos, era uma exímia costureira. Explicou que havia ganhado e reformado uma roupa de Pancy Malfoy, a irmã de Draco, que não lhe servia mais.
— Papai quis que eu a vestisse hoje, para mostrar como sou grata a Pancy. — O esgar que se seguiu a essa declaração revelou o que ela pensava dessa gratidão.
Gina a confortou, afagando-a no braço.
— Com certeza, o traje fica muito melhor em você do que em Pancy.
— Acho que recebi uma lição em matéria de caridade. — Hermione suspirou, depois dilatou os olhos como se enxergasse longe. — O orgulho é algo difícil de engolir, mesmo nas piores circunstâncias. Temos de cuidar para não esfregar nossa bondade na cara dos beneficiados pelo trabalho assistencial.
— Grande verdade — Gina concordou, admirando a habilidade de Hermione em encontrar o lado luminoso de uma realidade sombria.
Ginevra focalizou Harry através da janela. Ele trouxera dois baldes de água e dava de beber aos cavalos. Permanecia afastado dos outros cocheiros, que esperavam as patroas.
Estes nunca o aceitariam como um dos seus nem o convidariam para conversas sobre esportes, política ou o estado de conservação das ruas de Boston.
Ela entendeu que Harry tinha motivos para preservar-se, evitando falar de suas origens. Era um estrangeiro numa terra estranha. Por causa dela, claro. O sentimento de culpa a acometeu.
Hermione gesticulou na direção da janela e falou em tom baixo:
— Já que estamos sozinhas e o assunto é orgulho, como anda a recuperação de seu cocheiro? E de que modo convenceu seus pais a empregar um substituto, que, obviamente, desperta seu interesse?
Gina olhou para a amiga. Como dizer a ela que havia arriscado seu futuro a fim de garantir os empregos de Remus e Tonks, além de ter forçado um cavalheiro como Harry, dono de inata fidalguia, a assumir um trabalho tão modesto quanto o de guiar a carruagem da família Weasley? Sim, se o assunto era orgulho, Harry havia perdido tudo, menos o amor-próprio, o que dificultava qualquer plano de Gina para recompensá-lo.
— Acabo de comentar com a srta. Malfoy como está bonita hoje, Hermione. — A intrusão de Luna, acompanhada de Pancy Malfoy, impediu a evolução do diálogo.
— A cor do vestido combina com a de seus olhos — acrescentou Pancy. — Eu tinha certeza de que a senhorita faria bom uso dele.
Com as faces rubras, Hermione levantou-se do sofá.
— Vou ver se preciso abastecer a mesa com mais chá e biscoitos — disse, fazendo menção de sair.
— Eu a ajudarei — anunciou Gina, lançando um olhar frio a Luna e Pancy, que piscaram inocentemente.
— Espere um momento, Ginevra — pediu Amélia. — Por certo, a srta. Granger não se importará. Eu queria uma oportunidade de falar com a senhorita.
— Não se preocupe comigo, Gina. — Hermione estava ciente de que ninguém se livrava de Pancy Malfoy com facilidade. — Posso providenciar o chá sozinha.
— Talvez possamos retomar nossa conversa mais tarde — Gina propôs a Hermione. — Ou então, vá me visitar amanhã ou depois.
— Veremos... — A filha do reverendo mostrou-se em dúvida. — Devo viajar a Providence, para rever minha tia.
— Quer dizer que vai perder o baile de amanhã, na casa dos Anderson? — perguntou a irmã de Gina.
— Luna! — censurou ela.
— Oh, perdão. — Luna teve o bom senso de reparar seu deslize. — Esqueci que ela não dança. Espero que faça uma boa viagem e que volte logo, srta. Granger.
Meneando a cabeça, Hermione agradeceu e despediu-se das duas visitantes intrometidas. Afastou-se com uma dignidade que despertou a admiração de Gina. Não era a primeira vez que esta via a amiga superar uma situação constrangedora.
Hermione mancava ligeiramente de uma perna, em virtude de um acidente ocorrido na infância.
— Luna, como pôde magoar tanto minha amiga? — Ginevra exigiu uma satisfação da irmã.
— Já pedi desculpas, Gina. Pare de me recriminar.
Pancy Malfoy ignorou a discussão, ajeitou os cabelos negros e escolheu uma poltrona.
— Certamente, todas nós admiramos a srta. Granger por sua coragem. Agora, Luna, faria a gentileza de me trazer uma limonada? Tenho a boca seca.
Luna pareceu pronta a negar o pedido. Mas desistiu, fazendo Ginevra lembrar que Pancy Malfoy tudo o que a irmã aspirava a ser na vida. Seguiu até a cozinha, onde estavam os refrescos, com o intuito de atender seu ídolo.
— Venha juntar-se a mim, srta. Weasley. — Pancy bateu no estofado de veludo da poltrona ao lado da que ocupava. — Posso chamá-la de Ginevra ou Gina? Quero que saiba que a considero como uma irmã.
Surpresa pela declaração de um símbolo da alta sociedade de Boston, Ginevra ocupou o assento oferecido. Tinha havido bastante progresso na campanha de seus pais para se aliarem aos Malfoy, mas ser tratada como irmã de Pancy era algo que embrulhava seu estômago.
— Obrigada — disse a afortunada dama, ostentando o charme que lhe garantia tantos admiradores. — Tenho certeza de que nos tornaremos grandes amigas.
Pancy não se parecia com o irmão, Draco. Tinha pele alva, formas delicadas e cabelos negros como os do pai. Draco saíra mais à mãe, com madeixas claras e compleição forte como a de um trabalhador braçal.
Ambos, no entanto, possuíam carisma e exerciam poder sobre os outros que nem sempre era ditado pelo dinheiro ou pela posição social. Bastava-lhes, por exemplo, elevar as sobrancelhas para ter uma ordem cumprida. Fazia mais de um século que a família Malfoy liderava a elite de Boston. Suas raízes remontavam aos pioneiros da colonização dos Estados Unidos. A mãe de Gina não se cansava de lembrá-la dessa linhagem.
— Como amigas — Pancy ajeitou o chapéu e apontou a janela da sala —, talvez você possa me esclarecer quem é o seu simpático cocheiro novo.
O brilho nos olhos da srta. Malfoy era desconcertante. Harry estava bastante visível, sentado na boleia da carruagem, e, pela cortina aberta, Pancy o observava com evidente cobiça.
— Sua irmã me contou que ele a resgatou de um tumulto no cais na semana passada, e seu pai o recompensou com esse emprego. — Um sorriso curvou os lábios da jovem dama quando retornou o olhar para Gina. — Não se trata apenas de um homem corajoso, é bem diferente da média dos cocheiros, especialmente daquele senhor pálido que costuma conduzi-la. Possui um ar de mistério, e todas nós estamos ansiosas por saber mais sobre esse rapaz.
Sem palavras, Gina sentiu no peito um sobressalto de culpa e raiva. Praticamente havia forçado Harry a aceitar um cargo de serviçal numa casa cujos donos lhe eram hostis. Agora, ele se tornava objeto de especulações e cochichos entre as moças de sociedade.
Pancy apertou a mão dela.
— Precisa me contar essa aventura. O que sentiu quando ele a transportou nos braços para fora da carruagem? Luna disse que o rapaz é quase mudo, mas quem necessita de palavras quando tem tão boa aparência? Se você me convidar para um passeio a três pelo logradouro, poderei agradecer a ele por salvar uma amiga querida...
Ainda assombrada, Gina não teve tempo de formular uma resposta. Sua mãe irrompeu na sala, anunciando que já era hora de partirem.
— Pancy, minha cara. — Molly Weasley dirigiu-se à outra convidada. — Acabo de dizer à sua mãe como a senhorita está bonita. É bom que o mais cobiçado solteiro da cidade seja seu irmão Draco, do contrário nenhuma outra mulher teria chances com ele... — Ela riu da própria brincadeira e passou à filha a capa que havia trazido.
Gina acenou um adeus apressado a Hermione e seguiu a mãe, junto com Luna. Sentiu-se grata a Molly por tê-la salvado de um previsível constrangimento diante de Pancy Malfoy.
Harry ajudou as três mulheres a subirem à espaçosa cabine. As palavras de Pancy ecoavam na mente de Gina. Apesar do sentimento de culpa, ela estremecia disfarçadamente toda vez que a mão de Harry tocava seus dedos. Sim, havia um problema a resolver em relação àquele contato, embora ele desempenhasse suas tarefas da maneira mais impessoal possível. Ele de fato fugia ao padrão de aparência dos condutores de carruagem. E o aroma de almíscar que o acompanhava estimulava a fantasia secreta de Gina de viver uma aventura selvagem.
— Bem, menina — falou Molly diretamente à filha mais velha. — Fico contente por comportar-se de acordo com os planos que seu pai e eu fizemos. Nos últimos seis meses, tem se mostrado digna do interesse dos mais qualificados pretendentes.
A entonação da mãe não desbloqueou o remorso que Gina sentia.
— A sra. Malfoy me confidenciou, agora há pouco, que gostaria muito de ver você e Pancy desfrutando uma sólida amizade — acrescentou Molly. — Seu pai também ficará feliz quando eu relatar seus esforços. Pelo menos desta vez, tomar chá em grupo valeu a pena.
— Pancy admitiu que a inteligência de Ginevra a inibe um pouco durante uma conversa — Luna interveio.
— Deve continuar chamando-a de srta. Malfoy, querida, até que o pedido almejado por mim e seu pai se concretize. O futuro de sua irmã está quase assegurado.
Pedido? Gina sentiu-se consternada.
— Podemos adiar qualquer discussão referente ao meu futuro para depois de minha visita a vovó Worth, no próximo mês?
— Não é interessante que viaje neste momento, filha. Surgiram odiosos boatos sobre o seu acidente de carruagem na semana passada. É melhor que permaneça em casa e aguarde uma mudança de situação, antes que algum escândalo afete nossos planos.
Gina resistiu a um protesto furioso. Fazia anos que passava um mês inteiro da primavera no sítio da avó, no Maine. A senhora morava sozinha e contava com a visita da neta. Esta, por sua vez, adorava a vida no campo. Era inadmissível que certos rumores a impedissem de viajar. Como havia previsto, algum gaiato com ligações na sociedade a tinha visto sendo carregada no colo por Harry Potter. Já o beijo não tivera testemunhas, do contrário o desastre temido pela sra. Weasley estaria em curso.
— Minha mãe optou por morar no meio do mato. Fez isso ainda antes que você nascesse, Ginevra. Ela continuará vivendo no sítio, mas você tem compromissos em Boston, é o que espero. Talvez precise passar a primavera preparando o seu casamento.
Molly Weasley recostou-se melhor nas almofadas da cabine.
— Talvez, depois das núpcias, possa visitar sua avó na companhia de seu marido. Aliás, deu a palavra a seu pai.
— Concordei apenas em pensar no pedido de Draco, caso ele o fizesse. Além do mais, vovó precisa de mim.
— Tenho razões para acreditar que o sr. Malfoy vá se declarar a você em breve. A aliança das duas famílias é muito importante para todos. — Os olhos de Molly cintilaram de expectativa. — Quanto à sua avó, sempre poderemos mandar Luna para fazer companhia a ela.
Luna fitou a mãe com a vista embaçada de frustração. Aquela ideia representava um castigo sufocante.
— Fique bem quieto —Tonks ordenou ao marido Remus. — Precisamos amarrar muito bem as bandagens em torno de seu tornozelo.
Ajoelhado, esticando a atadura, Harry cumpriu a missão de trocar o curativo do cocheiro titular da casa. O aroma das ervas moídas que Tonks aplicava sobre o local inchado alastrava-se pelo pequeno quarto do casal de empregados. Ele ficou imaginando o que ela faria se o marido tivesse um ferimento grave.
— Vamos obedecer a ela, Harry. — Remus piscou um olho para o outro. — Assim evitaremos uma segunda dose.
Harry já se acostumara ao odor das ervas. Todas as noites, após ajudar nos cuidados para com o cocheiro machucado, passava uma hora com ele, jogando xadrez. Era um contraponto ao tédio da inatividade, que precedia seu período de sono no quartinho dos fundos.
— Essa mistura que o dr. Raymond receitou vem fazendo maravilhas em sua perna. — Tonks suspirou, obviamente necessitada de aplausos. — Qualquer homem ferido não se importaria com o desconforto do tratamento, menos você!
Pelo canto do olho, ela conferiu o trabalho que Harry executava com as bandagens. Além disso, admirou mais uma vez a figura agradável do irlandês. Ele se aborreceu. A própria mãe não efetuaria um exame tão acurado.
— Vou conseguir um pouco do pó facial que a srta. Luna usa — avisou Tonks —, para cobrir esse talho em seu queixo. Um par de luvas esconderá os nós dos dedos arranhados. Os Weasley não manterão abrigo para alguém que se envolve em brigas de bar.
Com esse alerta, ela saiu do quarto. Tonks tinha razão. Harry estaria no olho da rua, caso os pais de Ginevra descobrissem a escapada daquela noite.
— Como pôde enfrentar, desarmado, dois ratos no próprio ninho? — Remus quis saber. — Foi sorte que a taverna inteira não se voltasse contra o senhor, devido ao preconceito que os irlandeses sofrem por aqui.
— Acredito que os dois ladrões não tenham a estima dos outros notívagos. Além disso, não entrei na taverna anunciando minhas intenções. — Harry respirou fundo. — Pedi um drinque e segui os suspeitos quando saíram para a rua.
— De qualquer modo, eram dois. Dois marginais perigosos.
— Não mais, por alguns dias. Acertei bons socos neles, depois que se fizeram de desentendidos quando reclamei meu dinheiro e minhas malas.
Harry não poderia se queixar de tédio naquela noite em particular. Informado de que a família não precisaria da carruagem, ele se dirigira a pé à taverna A Águia, a fim de enfrentar os dois malandros que, no balcão do bar, nem mesmo o reconheceram.
Pouco depois, do lado de fora, o tal de Crabbe e seu comparsa receberam de Harry alguns golpes fortes de punho, sem reagir, porque estavam embriagados. De qualquer modo, a represália de nada tinha servido para que Harry recuperasse sua bolsa de dinheiro, as malas e os mapas perdidos.
— O senhor sabia que seus pertences dificilmente seriam devolvidos — falou Remus, inconformado. — Então, para que arriscar-se?
— Fui criado num estaleiro da Irlanda, com dois irmãos valentes, e não tenho sangue de barata!
Estava feito, e Harry não se arrependia. Gostaria de socar também o rosto de Draco Malfoy, pela maneira como havia olhado para Gina.
De súbito, veio-lhe à mente a imagem de Neville, desaprovando de forma categórica sua viagem ao Novo Mundo. Segundo o irmão, ele deveria terminar os estudos em Dublin e ajudar a salvar o estaleiro da família Potter por meios honestos e disponíveis, em vez de garimpar ouro na Califórnia. Indulgente, Neville não chegara ao extremo de proibi-lo de partir. As palavras do irmão mais velho, porém, cada vez mais ganhavam sentido.
Por coincidência, Remus estava pensando exatamente na formação acadêmica de Harry.
— O senhor é um homem educado, um universitário. Por que jogar fora tanta coisa boa?
— Dos três irmãos, fui o mais beneficiado. Meu pai sempre quis me ver formado. Carlos retomou os estudos de advocacia já maduro, mas se tornou um mestre. Neville sempre viveu no estaleiro e no mar.
Harry sentiu certa culpa pelas oportunidades perdidas na Irlanda. Mas, naquele momento, havia um pote de ouro a sua espera na Califórnia, pensou. Só faltava chegar lá.
— Ainda pode negociar sua passagem de navio e voltar à universidade, em sua terra. Sem a menor dúvida, seus parentes vão apreciar muito o gesto.
Ele confundiu os olhos castanhos de Remus, que o fitavam, com outros, cor de mel, que o prendiam à América. Balançou a cabeça, descartando a ideia de regressar.
— Não me vejo como professor nem como homem de letras. Já é suficiente que Carlos tenha estudado as leis e se tornado uma pessoa culta. Por outro lado, o estaleiro da família Potter precisa de dinheiro imediato, para modernizar-se e crescer. Quanto ganha um mestre ou um profissional liberal? Quanto tempo levaria para que eu juntasse algum capital?
— Realmente não sei. — A voz de Gina soou junto à porta aberta.
Ela portava uma lamparina, cuja luz amarela acentuava seus olhos maravilhosos. Usava uma camisola leve, parcialmente recoberta por um xale verde. Os cabelos soltos formavam uma cascata nos ombros.
No primeiro instante em que a viu, Harry sentiu-se tentado a agarrá-la de modo a expressar todo o desejo que o consumia. Depois, bastou-lhe a fantasia de correr as mãos pelas ondas flamejantes da cabeça de Gina.
Quase de imediato, ela fixou o olhar no rosto dele, e percebeu que havia algo errado.
— Você está ferido! — Ela indicou com o dedo o corte no queixo de Harry, mostrando-se sinceramente preocupada.
Menos mal que a camisa que ele usava impedia a visão de algumas lesões no peito. Mas Gina o devassava com os olhos como se estivesse nu. Não era preciso ser um homem experiente para notar o desejo carnal que ela expressava. Nessas condições, como continuar trabalhando na casa dos Weasley, na função de cocheiro temporário?
A tentação personificada em Gina parecia maior do que a vontade de cumprir satisfatoriamente as tarefas. Mas Harry sabia que nada mais haveria entre eles, além de uma insofismável atração física, que o tempo se encarregaria de amortecer e apagar.
— Foi um pequeno acidente doméstico. Não se aflija. Estou em perfeita forma para levá-la ao baile amanhã. Não iremos desapontar o seu Larry.
— Larry?
— É como chamo o sr. Draco Malfoy. Larry das mãos úmidas. Já reparou como esse rapaz transpira? — Entre zombeteiro e hostil, Harry simplesmente não conseguia imaginar o suarento cavalheiro a trocar intimidades com Gina.
O acanhado aposento ferveu de tensão. A forma como ela administrava seu presente ou seu futuro não era da conta de Harry. O destino dele era a Califórnia. O dela, não deveria preocupá-lo, mas o inquietava, sobretudo quando a diáfana camisola marcava as curvas sensuais do corpo delicado.
Ela deu de ombros, como se assimilasse o insulto a Draco. Parecia ingénua, sem consciência da própria beleza e poder de sedução. Seguiu-se uma descoberta importante: ela não se vestira daquele modo para ver Harry.
— A srta. Ginevra vem aqui quase todas as noites, amigo. Lê histórias para mim e Tonks. Com isso, ajuda em nossa instrução, tanto que já conhecemos alguns personagens de Shakespeare,
De fato, ela segurava firme nas mãos um volume de capa vermelha.
— Sonho de Uma Noite de Verão — disse Gina. — É a leitura em andamento.
Pasmo, Harry sentiu crescer dentro de si o apreço por ela. Tinha tudo para ser uma jovem esnobe, no entanto cuidava da cultura literária dos mais humildes empregados da casa.
— Já vou, então. — Ao cruzar a porta, sem olhar para Ginevra, Harry aspirou o inebriante perfume de gengibre e camomila.
Harry afagou a longa crina da égua alazã, que Colin tratava de prender à carruagem.
— Cuidado com os arreios, Colin — ele alertou o rapaz. — Esse animal é uma beleza, mas tende a agitar-se quando alguém se aproxima depressa demais.
Como que para provar o comentário, a égua balançou a cabeça e bateu o casco no chão, irritada. Harry lhe deu uma porção extra de aveia na boca, e o animal se acalmou.
O condutor falava baixo enquanto trabalhava com Colin na preparação do veículo, tal como fora ensinado pelo pai de Shannon Rhodes, criador de cavalos, tempos atrás.
Uma pontada de remorso o atormentou. Descumprira a promessa de visitar a amiga, com a qual havia passado tantas tardes agradáveis antes de embarcar para longe, no porto irlandês de Limerick.
Shannon tinha sido namorada de Neville e representava a mulher ideal para Harry. Casara-se com outro, porém, e agora só podia imaginar de que modo ela, com um filho pequeno, estava enfrentando os primeiros meses de viuvez.
— Shannon não tem problemas de dinheiro, entende? — Harry disse à égua, como se travassem uma conversa. — Eu me preocuparia com o futuro dela se não estivesse interessado em Gina. Além disso, seu velho pai provavelmente vai tornar a casá-la com um de seus funcionários, apenas para mantê-la debaixo de suas barbas. Mas Shannon é mais forte do que todos pensam e precisa levar em conta o filho.
Harry meneou a cabeça, combatendo a onda de melancolia. A égua pateou, como se manifestasse sua opinião a respeito.
— Ela dará um jeito — Harry afirmou a si mesmo e ao animal.
Deixou para Colin os preparativos finais, enquanto esfregava os ombros doloridos. Foi respirar melhor na porta do estábulo dos Weasley e abençoou Bridget pelo farto desjejum que ela lhe proporcionara uma hora antes.
Não havia comido nada desde a briga na saída da taverna, e a recuperação de seus pertences parecia ser uma hipótese remota, se não inviável. No entanto, a verdadeira calamidade tinha ocorrido no quarto de Remsu Lupin. Harry falhava fragorosamente na tentativa de tirar Gina do pensamento.
De novo...
Ele praguejou ao lembrar-se das horas insones que passara naquela noite, fantasiando uma calorosa proximidade com ela. Em seus braços, Ginevra recendia a gengibre e camomila, e o fitava com os olhos repletos de desejo. Os lábios úmidos pareciam ansiar por um beijo inesquecível.
Tal cena nunca seria real, pensou. Era bom trabalhar com o hábil Colin no estábulo. O serviço braçal o distraía de seus sonhos impossíveis: o ouro da Califórnia e o amor de Gina. Em todo caso, se prevalecesse a bênção dos Potter, talvez essas metas não fossem tão absurdas quanto pareciam. Ele já se encontrava no meio do caminho para as minas de ouro, mas tinha sido retardado pelo canto de sereia entoado pela herdeira dos Weasley.
Voltou ao interior do estábulo e retomou suas confidências à égua, que já estava atrelada à carruagem, junto com seu par, um formoso cavalo preto.
— Imagine só. Vim a esta terra a fim de fazer fortuna, não para trabalhar como cocheiro de um ricaço. Há pessoas que dependem de mim, do meu sucesso, mais do que Gina possa pensar. Nem mesmo o fabuloso Neville Potter é capaz de levar o estaleiro adiante, com os cofres vazios e sem estoque de madeira.
Era tolice permitir que sentimentos equivocados o levassem a julgar que havia recebido uma dádiva, concentrada nos olhos e na boca de Gina, Harry refletia em silêncio.
— E, no entanto, aqui estou, sem meios de completar minha viagem.
Naquela manhã, Colin lhe transmitira uma notícia importante: um navio com destino à Califórnia tinha atracado de surpresa no porto, para reparos, e zarparia em uma semana, dez dias no máximo. Prazo insuficiente para alterar o ânimo de Harry.
O cavalo negro abanou o rabo, mas permaneceu no mesmo lugar enquanto Colin escovava seu pêlo.
— Com muito suor e um pouco de sorte, vou ajudar minha família. Não tenho escolha — Harry murmurou.
— Que tipo de mágica fez para que os animais ficassem tão quietos? — A voz feminina veio acompanhada de um aroma inconfundível, que denunciava a presença de Gina.
Perigo à vista, ele pensou, sentindo-se um completo idiota.
Ela sorria, parada ao lado do portão de madeira, usando o mesmo vestido verde-claro que trajava na tarde do acidente no cais. A tarde em que a beijara, provocando um descontrole em sua vida.
Os cabelos ruivos achavam-se presos num coque tão perfeito que inspiravam em Harry a vontade de desmanchá-los com urgência, reconstituindo a figura de sereia que ele tinha visto na noite anterior.
— Não é preciso parecer tão culpado, sr. Potter — ela disse, com uma breve risada. — Falar com cavalos não equivale a um ato de sedução.
Sedução? Quem era o sedutor e o seduzido ali? Gina se mostrara deliciosamente tentadora no quarto de Remus, segurando a lamparina junto ao corpo esculpido pela camisola. Ela havia exibido um olhar de inequívoca volúpia, muito além do autocontrole de Harry.
Mas, decerto, alguma força sobre-humana o ajudou a manter o bom senso. Desde o episódio da carruagem nas docas, seu mundo particular fugira de seu comando, para repousar literalmente nas mãos de Gina.
Ela havia permanecido ao menos cinco minutos na entrada do estábulo, a testemunhar o jogo do novo cocheiro com o cavalo negro. Os longos dedos dele afagavam a crina do animal com tal intimidade que Ginevra sentiu-se aquecida em seus pontos sensíveis, mais do que deveria ficar uma moça de família.
Ela nunca planejara deixar que um homem invadisse sua vida tão completamente, nunca tinha ansiado por carícias que nem ousava nomear. Pensamentos perturbadores, indesejados em seu modo de vida, não importando quantos romances de cavalaria houvesse lido ou quantas histórias de amor tivesse escutado a avó contar, só para acalmá-la na hora de dormir.
Harry cessou de acarinhar o cavalo e enviou a Gina um olhar luminoso, a despeito da testa franzida. O embaraço acompanhou as caprichosas reações à atenção que ela estava recebendo.
— A sedução é um meio de obter cooperação, srta.Weasley— ele sentenciou no mesmo tom utilizado com o cavalo, mas acrescido de uma ponta de sarcasmo. — Essa lição, muitas meninas aprendem desde o berço, e tenho certeza de que a conhece bem.
Ainda que em timbre suave, era uma acusação, responsável pela ardência nas faces de Ginevra, como sinal de irritação. Quando pedira a Harry que ficasse abrigado em sua casa, engolindo as grosserias preconceituosas do pai, ela pór acaso tinha recorrido à sedução?
Ele voltou a passar os dedos no pescoço do cavalo, com movimentos longos, cadenciados, até mesmo sensuais, enquanto mantinha o olhar fixo nela. Isso sim, ela concluiu, podia ser chamado de um gesto de sedução. A volúpia impregnou o ar durante o jogo que Harry praticava com as fantasias e os pensamentos de Ginevra.
Muitas vezes, desde que o conhecera, ela havia se flagrado admirando as mãos fortes de Harry. Tinha sido uma maneira de desviar a atenção dos cabelos negros e ondulados dele, do verde de seus olhos. Agora, esperava que os familiares, especialmente Luna, não percebessem que sonhava com aquelas mesmas mãos sobre seu corpo, acariciando sua pele. Rezava para que a tática de enganar os outros não se tornasse uma encenação a si própria. Em seu mundo íntimo, marcado pela ânsia de novas sensações, Harry Potter reinava.
— Precisa de mim esta manhã, srta. Weasley? Sua mãe requisitou a carruagem para tarde. O horário mudou?
Ela gesticulou, negando, e se concentrou no objetivo de sua ida ao estábulo, além da oportunidade de ver Harry. Avançou alguns passos.
— Eu lhe trouxe algumas folhas de papel e uma caixa de lápis de cor — disse, mostrando o material que segurava nas mãos. — Assim, sua irmã Megan, na Itália, desfrutará melhor seus esboços da paisagem de Boston.
Ele rodeou o cavalo e aproximou-se de Gina. Ela sentiu o típico aroma de almíscar quando lhe passou o presente. Harry pareceu aceitá-lo sem restrições, mas era um engano.
— Agradeço sua iniciativa, porém, como já disse antes, os Potter rejeitam qualquer ato de caridade. — Ele depositou o embrulho no canto de uma baia. — Algo mais, srta. Weasley?
Ele estava recusando aquele presente simples e útil.
— O que os Potter aceitam então? — Gina que não escondeu a contrariedade. — Quem é o senhor? Por que renega um simples reconhecimento à ajuda que me prestou? Teme por sua posição?
— Nada sabe de minha vida, moça. — Harry escondendo a raiva atrás do sarcasmo. Recuperou a calma após respirar fundo e estreitou os lábios numa linha fina. — Apenas uma hora em Boston, quando cheguei, foi suficiente para que eu perdesse tudo o que tinha.
Como sempre acontecia, Gina sentiu culpa. Mas o incidente no cais havia atingido os dois, atrapalhando os planos de ambos. Os dele mais intensamente, era forçoso admitir.
Harry se achava ali, sem nada nem ninguém que pudesse chamar de seu; o pior, porém, era o orgulho ferido e não havia recompensa capaz de mudar essa realidade. Num impulso, ela o tocou no braço.
— Conte-me... Além de seus pertences, o que perdeu no episódio do cais? Ouvi uma pequena parte do que disse a Remus na noite passada.
Ele franziu a testa de tal modo que Gina julgou que Harry se negaria a responder, recusando a amizade que ela oferecia junto com o presente.
— Sou um Potter e fui criado como tal. — O olhar passeou do pacote de papel e lápis ao horizonte distante. — Mesmo não sendo um bom exemplo, tento fazer o que posso, assim como ganhar dinheiro na Califórnia, para aplicar no negócio da família. Os Potter são homens do mar. Há gerações, constróem barcos de fina qualidade na Irlanda. Todos, em nossa ilha, dependem do estaleiro, que agora está ameaçado de fechar.
Voltando os olhos para Gina, notou que ela dera mais um passo na direção dele.
— Então, o senhor foi abençoado com o sentimento da generosidade — ela murmurou.
— Abençoado? Talvez. — Uma expressão de mágoa tomou conta de seu rosto. — Meu destino nunca esteve aqui, nesta cidade. A doença de meu pai permitiu que golpistas inescrupulosos esvaziassem os cofres do estaleiro. Meus dois irmãos procuram meios de enfrentar as perdas. Neville nasceu para comandar operários. Carlos tem vocação para ser advogado. Ambos trabalham muito, enquanto eu...
Harry afastou-se de Gina e apanhou do chão o pacote com material de desenho. Trocaria o gesto, se pudesse, pelo poder de suavizar as rugas visíveis na testa dele.
O cavalo negro agitou-se dentro da baia. Gina valeu-se da oportunidade para erguer a barra da saia e partir dali. Não tinha certeza se Harry quisera amedrontá-la ou se, mais uma vez, estava sendo precavido. Talvez se empenhasse em protegê-la dela mesma.
Apesar da velocidade com que correu, ela ouviu o ruído de um pacote sendo atirado contra a parede do estábulo.
Voltando do intervalo programado, os músicos empunharam seus instrumentos e deram início a mais uma rodada de danças no salão de festas dos Anderson. Gina observou Draco em busca da taça de vinho que ela pedira. Não suportava mais dançar com ele, em contato com as mãos que transpiravam, sem falar nos pisões que levava nos pés.
— Endireite a cabeça, filha — disse-lhe a sra. Weasley em raro tom de aprovação. — Está deslumbrante nesse vestido rosa de tafetá. Os homens simplesmente a estão devorando com os olhos.
— Sinto-me um pouco indisposta, mamãe. Por favor, dê-me licença para que me refresque na varanda. — Qualquer pretexto para escapar de Drcao era bem-vindo.
— Que absurdo! Você foi ao jardim há menos de uma hora. Deve estar sofrendo dos nervos. — A mãe pousou os dedos repressores no ombro de Gina. Retirou-os quando viu Draco que se aproximava. — Oh, sr.Malfoy, é muita gentileza de sua parte. Está tão quente aqui que vou abusar de sua cortesia um pouco mais.
— Basta me dizer o que deseja — ele falou, olhando diretamente para Gina ao passar-lhe o vinho.
A mãe tomou um gole da taça da filha e sorriu, ardilosa.
— Ginevra está indisposta por causa do excesso de gente. Poderia escoltá-la até o jardim, para que tome um pouco de ar fresco?
Não e não! Sozinha com ele? Dançar era uma alternativa menos penosa. Melhor mesmo seria que a noite terminasse logo.
Um brilho inesperado se apossou dos frios olhos de Draco, quando ele ofereceu o braço a ela. Uma recusa seria, no mínimo, ofensiva e despertaria a fúria dos pais dele contra a família Weasley. Por outro lado, como suportar alguns minutos no jardim com o homem que queria, ou melhor, ameaçava, pedi-la em casamento?
Sem escolha, ela tomou o braço de Draco e saiu do salão de festas para os elogiados jardins dos Anderson, inspirados em seculares modelos ingleses.
Pancy e Luna, junto com um pequeno grupo de Filhas da Graça, estavam na varanda e fitaram a dupla com sorrisos aprovadores. Outras cabeças se voltaram, denotando curiosidade. Gina se aborreceu. Toda a sociedade de Boston teria conhecimento das intenções de seus pais?
— Aqui está melhor, não? — indagou Draco à frente de um caramanchão. — É horrível permanecer no salão sob o peso de tanta expectativa por parte dos outros.
A surpresa tomou conta de Gina. Ela nunca pensara nos sentimentos de Draco, na qualidade de objeto da ambição dos pais. Ou, então, ele sofria em boa medida o mesmo que ela.
Ele olhou para cima e um sorriso igualmente inesperado curvou-lhe os lábios.
— Há um manto de estrelas sobre nós, além do suave perfume das flores. Que tal fazermos bom uso de nossa fuga do mundo dos boatos e desfrutarmos o jardim?
Guiou-a pelas trilhas iluminadas por tocheiros esculpidos em madeira. Aquele lado romântico, e ao mesmo tempo prático, de Draco, ela não conhecia. Mas ele tinha razão. Afastarem-se das línguas impiedosas era um alívio.
— As tochas possuem algo mágico — ela murmurou ao ser conduzida ao largo banco de pedra que ficava num canto escondido do jardim e lembrava uma alcova rústica. — E a música, ouvida daqui, soa mais bonita.
— A música não é nada, comparada à sua beleza, Ginevra — disparou, enlaçando-a pela cintura assim que se sentaram.
Ele nunca a havia chamado pelo nome de batismo antes, nem lhe tocara qualquer parte do corpo, exceto em cumprimentos formais. Gina sobressaltou-se, porque julgava estar segura com o pretendente e, mais ainda, temporariamente salva de um pedido de casamento.
Trêmula, procurou safar-se das mãos de Jonathan, mas foi detida com firmeza, quando ele aproximou o rosto do dela. Sentiu o cheiro de álcool.
— Bebeu demais — ela afirmou em vez de perguntar.
— Não fique alarmada. Eu apenas quis conhecer os bares do cais do porto, local que você também frequenta. — Os dedos subiram da cintura para os ombros dela. — Convenhamos, querida. Você não esperava manter uma história em segredo, depois que ela chegasse ao conhecimento de Dursley.
— Dursley?
Ginevra conseguiu lembrar-se. O homem magro cuja montaria Harry tinha tomado, a fim de socorrê-la, passara o episódio adiante, mas não ao pai de Gina. Um calafrio subiu por sua espinha.
— Minha família não permitiria nenhuma aliança com outra, sem uma cuidadosa investigação. Valter Dursley ajudou bastante com a descrição do resgate realizado por seu novo e garboso cocheiro. Imagino que o esteja recompensando pelo esforço.
Os dedos de Draco apertaram, até machucar, os ombros de Gina. O pavor a dominou quando ele se inclinou, aproximando-se ainda mais.
— Veja, posso aceitar que a mulher que vai dividir a cama comigo e gerar meus herdeiros tenha sangue quente. Mas aquele grosseirão irlandês é capaz de iludi-la, à espera da oportunidade de roubar seu dinheiro.
O bafo de Draco soprava junto ao rosto de Gina. Ele lhe cobriu a boca com um beijo desajeitado e malcheiroso.
De modo algum, tratava-se de uma carícia a ser lembrada, e sim de um ato de horror paralisante. Ela o empurrou até conseguir safar-se, a despeito do vigor masculino que tentava imobilizá-la.
De nada serviria fazer uma cena, ameaçar um escândalo. A área em que estavam era deserta e distante das vistas dos convidados ao baile.
— É um pedaço de mau caminho, Ginevra Weasley. Quero tudo de você. — Embriagado, Draco deixou as boas maneiras de lado e vibrou a língua no ar, demonstrando suas intenções.
Ela apertou os lábios a fim de impedir um novo beijo. Sentiu na boca um gosto de bile, reação do organismo ao hálito azedo de tanto uísque.
— Com licença, senhor. — Uma voz grave soou da trilha mais próxima. — Fui enviado para encontrar a srta. Weasley.
Era Harry, que mais uma vez trazia socorro e alívio para ela. Com um forte empurrão em Draco, Gina ergueu-se do banco. Tentou juntar-se a Harry, mas foi retida pelo braço estendido do insistente Draco.
— Não respeita nenhuma privacidade? — Ele também levantou-se e exibiu força física. — Diga que não a encontrou. Estou prestes a pedir a srta. Weasley em casamento.
Harry insinuou-se entre a vegetação. Tinha um brilho perigoso nos olhos.
— Há uma mensagem urgente de sua avó, senhorita, entregue faz uma hora, e outra do médico dela. A governanta as recebeu e considerou importante que soubesse logo...
— Recado do médico de minha avó? Ela está doente?
— O mordomo dos Anderson está avisando o restante da família — informou Harry, aumentando as preocupações de Gina.
Ela escapou de Draco e tomou o braço de Harry, que a conduziu por uma vereda.
— Ainda não terminamos nossa conversa, Ginevra! — protestou Draco em altos brados, mal conseguindo manter-se em pé.
— Com certeza, terminamos, sr. Malfoy. Boa noite.
— Por aqui, pelo portão lateral! — Harry a puxou, acelerando os passos sobre a grama. Era gentil no tom e nos gestos, mas também distante, impessoal. Teria julgado que ela estivesse gostando do espetáculo que ele em boa hora interrompera?
— Obrigada por me resgatar uma segunda vez. Não pense que... — Calou-se, em luta com a irracional necessidade de se explicar a Harry.
No mínimo, era o momento errado para isso. Explanações só a atrasariam, quando tinha assuntos mais importantes a tratar.
— Creio que o seu Larry precisa de uma aula de anatomia se realmente está interessado em pedir sua mão — Harry ironizou.
Com esse comentário, ele abriu o portão de madeira do jardim. Na verdade, pretendia distrair Gina com um pouco de humor, pois ela estava tensa demais por causa do recado sobre a avó.
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