Capitulo II
CAPÍTULO II
Sentado à mesa da espaçosa cozinha da mansão dos Weasley, Harry comia o segundo pedaço de torta de maçã, observando o dr. Raymond envolver com ataduras a perna de Remus. O doutor, além de competente, parecia gentil. Tinha um modo suave de examinar e tratar o cocheiro ferido.
Pálido, Remus agarrava com as mãos as pernas da cadeira, a fim de enfrentar a dor. Sua mulher, Tonks, pressionava-lhe os ombros por trás durante os curativos, aflita, porém controlada.
— Aceita mais um chá, senhor? — perguntou Bridget Smith, a segunda cozinheira, desviando a atenção de Harry.
— Não, obrigado. Esta foi a melhor refeição que fiz em muitas semanas. — Ele inalou os aromas de temperos dominantes na cozinha. A seguir, olhou com gratidão a gorda mulher de cabelos amarrados em um nó acima da cabeça.
Na verdade, aquela tinha sido a primeira refeição completa de Harry desde que saíra da Irlanda. A sequência de enjoos na viagem de navio o havia deixado sem apetite, além de fraco. Por isso, tinha saboreado com prazer a carne assada com batatas que lhe fora servida, bem como a torta de maçã salpicada de açúcar e canela.
— O Senhor merece, por ter trazido a srta. Ginevra em segurança para casa e ajudado Remus, inclusive esperando que fosse tratado — opinou Bridget, secando as mãos no avental. Ela lançou um olhar para o idoso mordomo, que acompanhava tudo, de pé entre a mulher e a jovem copeira, Lucy. — Por causa da idade, Marbury e Colin não conseguiriam carregar Remus até o quarto.
Além de alimentar Harry, Bridget lhe havia apresentado o pessoal da criadagem e explicado a rotina da casa. O resultado disso foi que o irlandês se tornou mais relutante em ir embora dali do que gostaria de admitir.
Encontrar seu destino numa terra hostil constituía um projeto desanimador. E, por mais que fosse tentador procurar ajuda entre os associados de Neville no transporte naval, outro fator poderoso o prendia à mansão dos Weasley: Gina. Quando ela saíra da cozinha, sem nenhuma palavra nem um olhar de despedida para ele, Harry havia sentido uma pontada no coração.
Não tinha ficado zangado com ela, mas aflito. A srta. Weasley parecia obrigada a atender a seus compromissos sociais. Não se tratava de ingratidão nem de menosprezo ao cocheiro, embora o nervosismo dos criados fosse desproporcional à extensão dos ferimentos de Remus.
—Vai se recuperar bem, Lupin — informou o médico ao terminar sua tarefa. — Terá de guardar algumas semanas de repouso e, de modo algum, carregar peso que force sua perna.
— Mas tenho meu trabalho, doutor.
— Esqueça o trabalho, por uma quinzena. Com certeza, os Weasley encontrarão um substituto temporário para o senhor.
Remus exibiu um esgar de contrariedade, enquanto a mulher, Tonks, levou as mãos à cabeça, parecendo pronta a arrancar os cabelos.
— Vão nos colocar na rua — ela protestou, sentando-se numa banqueta —, como aconteceu com a pobre Edith quando queimou o braço, há dois anos.
O velho Marbury fitou a copeira Lucy, talvez avaliando se ela seria uma substituta à altura de Tonks. Lucy saiu do recinto pelo mesmo caminho que Gina havia tomado, cerca de uma hora antes.
Que tipo de família eram os Weasley? Harry moveu-se em sua cadeira com desconforto. A julgar pelos preconceitos do chefe do clã contra os irlandeses, e agora pela queixa de Tonks, talvez não fossem tão generosos quanto imaginara. Talvez tivesse julgado mal Gina, quando ela havia deixado a cozinha com o único pensamento em receber, atrasada, o reverendo Granger e a filha Hermione.
Que tipo de pessoa se preocupava tão pouco com os serviçais, agregados e ajudantes? O principal objetivo de Harry, ao buscar um lugar na corrida ao ouro da Califórnia, era obter meios de manter o estaleiro da família aberto, não só em benefício dos parentes, mas de toda a exígua população da ilha Beannacht.
— Não tenha medo, querida. — Remus tentou confortar a esposa. Uma agulhada de dor tirou-lhe o fôlego por um momento. — Estamos nesta casa desde que a srta. Gina era um bebê. Ela irá nos defender, caso os pais queiram tomar alguma atitude desumana.
O dr. Raymond bateu no ombro de Tonks, depois de pegar sua maleta.
— Gostaria que eu desse uma palavra a seus patrões em favor dos senhores? Como seu marido se feriu no exercício do trabalho, creio que os Weasley compreenderão a necessidade de abrigá-lo.
— Isso pode fazer diferença — disse Tonks com voz trêmula, apertando a mão do médico. — Obrigada.
O doutor passou a ela um vidro com láudano, recomendando que três gotas fossem misturadas a um copo d'água e dadas a Remus a cada quatro horas, mesmo na ausência de dor. Então, o médico ajeitou seus óculos e fechou a maleta, pronto para sair.
— Ele sofreu uma entorse no tornozelo, de modo que é indispensável manter a perna elevada e aquecida até que eu volte a vê-lo, amanhã.
— Sim, senhor. — Ela se mostrou mais calma. — Remus ficará de cama, sem se mexer, nem que eu precise amarrá-lo.
— Se não se importa, sr. Potter... — disse Marbury, aproximando-se do irlandês e dando indícios de que deveriam transportar o cocheiro até o quarto dele.
Cada um apoiou o paciente de um lado, e Remus colaborou mantendo a perna ferida no ar.
— Depois que terminarmos — falou Harry —, as mulheres devem exercer a devida vigilância sobre Remus. — Começaram a travessia da cozinha, que se revelou trabalhosa.
— Seria melhor que Colin estivesse presente para segurar a perna ferida — opinou o mordomo, livrando uma das mãos para empunhar a lamparina.
— Vou mandar um prato de sopa para Remus, assim que Colin voltar — prometeu Bridget.
— E trocarei a roupa de cama dele logo pela manhã — afirmou a governanta.
Sem dúvida, Remus estava em excelentes mãos, pensou Harry ao retornar à cozinha e deparar com Gina, que falava com o dr. Raymond.
— O ferimento é sério, doutor? — ela indagou.
O coração de Harry deu um pulo ao som da voz dela. O emaranhado de cachos já se encontrava esculpido e preso num coque baixo. Embora Gina não tivesse trocado o vestido verde-claro, ainda manchado por respingos das docas, já não usava botinas de couro, substituídas por sapatilhas de cetim dourado. A mão que estendera ao médico também estava desprovida de luva, e os dedos graciosos denunciavam a jovem aristocrata que era.
O médico explicou que o machucado de Remus não tinha gravidade e que o cocheiro estava devidamente assistido. Harry arrependeu-se por ter permanecido na casa dos Weasley em troca de um prato de comida, porque Gina não se dignava a dar-lhe a menor atenção.
— Mas ele deve ficar de repouso por duas semanas. Gostaria de me assegurar de que o emprego do cocheiro seja mantido. Pode discutir o assunto com seus pais?
— Claro. Obrigada por ter vindo prontamente, doutor. Remus já é da família, assim como todos os outros empregados. — Ela fez um gesto largo, abrangendo as mulheres que presenciavam a cena.
Por fim, quando o dr. Raymond partiu e ela focalizou Harry, exibiu um olhar pouco mais do que neutro.
— Pode ir cuidar de seu marido, Tonks — disse. — Não se preocupe com a cozinha. Lucy e Bridget darão um jeito.
As duas criadas se entreolharam, imaginando se estavam ou não sendo promovidas. O aroma inebriante de gengibre e camomila, exalado por Gina, pareceu destoar, segundo Harry, de sua campanha humanitária dentro da mansão.
— Tudo dará certo — ela acrescentou. — Minha irmã Luna e eu vamos nos arrumar para a recepção desta noite. Avisem-me se precisarem de alguma coisa com relação a Remus.
Gina animou todos os presentes a saírem da cozinha, liderados pelo mordomo. Harry ainda ouviu o agradecimento abafado que ela lhe murmurou. A palavra de gratidão o arrepiou, pois portava um pouco da tempestade que se formara no horizonte de ambos.
Os Potter terão de optar entre a alegria e a tristeza, exigia a bênção. Mas o destino de Harry na América parecia determinado por uma encantadora jovem de fascinantes olhos cor de mel.
Ela iria se aprontar para uma festa à qual ele não era convidado. A não ser como condutor da carruagem, caso a acompanhante de Gina não dispusesse de uma. Talvez o serviço lhe valesse as refeições do dia seguinte. No entanto, como imaginar-se participando de uma recepção, quando sua única roupa elegante estava entre os pertences roubados? Além disso, a mulher cobiçada dependia da aprovação dos pais, o que era altamente improvável.
Harry suportou o peso da dúvida enquanto Gina o guiava por uma escada estreita até um quarto no fundo de um corredor no segundo andar. Em pensamento, ela orava para que suas iniciativas dessem certo. Os pais seriam muito menos rigorosos ou reprovadores se encontrassem todos os arranjos feitos, todas as providências tomadas.
Os ouvidos de Gina ainda doíam devido ao sermão que escutara por chegar atrasada ao encontro com o reverendo Granger. Com isso, ela havia decidido adiar o relato do acidente que causara o atraso, bem como omitir a presença de um tal Harry Potter na casa. Só mesmo a intercessão divina para impedir que surgissem mais problemas.
— Oh, srta. Gina, o que faremos? — quis saber a governanta quando a patroa retornou à cozinha, após deixar Harry sozinho no pequeno quarto. — Sua mãe anda muito agitada por causa da recepção desta noite, na casa dos Malfoy. Ela é capaz de forçar o sr. Weasley a levá-la até lá, caso fique sabendo do acidente.
Bridget fixou em Gina os olhos brilhantes de satisfação pela liderança na cozinha, que tinha conquistado diante do impedimento de Tonks.
— A sra. Weasley de nada saberá por minha boca — , afirmou a cozinheira.
— Mamãe não pode tomar uma medida radical contra Remus. Ele não teve culpa. — Gina combateu a onda de pânico que a rondava. — Se convencermos o sr. Potter a substituir o cocheiro, provisoriamente, Remus não perderá o emprego.
— Ouvi do médico — interveio a sra. Marbury — que os ferimentos de Remus não terão nenhum efeito sobre sua capacidade de servir à família, uma vez recuperado. Mas seria desastroso forçá-lo a trabalhar antes de totalmente curado do tornozelo.
Sábias palavras.
O plano de Gina, apoiado pelas criadas, dependia agora da disposição de um homem que ela mal conhecia. Sabia apenas que ele era impulsivo, como todos os heróis, dada sua atuação nas docas, fosse pelo resgate em si ou pelo beijo caloroso que lhe dera. Ela sentia culpa por ter gerado as circunstâncias de ambos os eventos. Por isso, tinha a obrigação de resolver a situação.
Foi até a janela de trás, com vista para o estábulo e o curral. Forte e jeitoso, apesar da pouca idade, Colin tinha conseguido desatrelar a carruagem, recolher os arreios, dar de comer e beber aos cavalos. Faltava somente uma boa limpeza no veículo empoeirado.
Suspirando, ela tentou imaginar a reação do pai, quando chegasse, a todas as desventuras que haviam desabado sobre a casa dos Weasley. Conseguiu falar alguns minutos com Hermione, em particular, antes que ela e o reverendo se despedissem. A amiga apoiou sua intenção de convencer Harry Potter a substituir Remus. Durante esse período, ela trataria de persuadir os pais a ajudarem Harry na retomada de seu destino original.
Convencer os pais seria mais fácil do que pactuar essa estratégia com o irlandês, pensou Gina. O grande obstáculo estaria em obter de Harry a discrição necessária, a fim de garantir o emprego de Remus Lupin e sua mulher, Tonks. Quanto aos pais, Gina estava habituada em lidar com eles. Admitia, porém, que, se não conseguisse convencê-los, o desfecho da história seria bastante negativo.
Claro, ela omitira de Hermione o episódio do resgate e sua culminância num beijo atrevido. Afinal, tinha correspondido à carícia de Harry, em prejuízo de seu alegado autocontrole. E queria mais. Contudo, qualquer novo contato físico não poderia dar-se em público.
Gina avaliou o quanto de seu plano repousava nesse secreto e arrebatado desejo por Harry. Era um esforço para mantê-lo na casa por pelo menos duas semanas? Teria de examinar esse detalhe com atenção. Precisaria ser forte.
Força foi o que sentiu ao ouvir o pai, recém-chegado, gritando à porta do estábulo:
— Lupin! Por que a carruagem está em condição tão deplorável? E onde foi parar o rapazinho que me ajuda a desmontar?
Passando por Gina com a bandeja destinada a Remus, Bridget sorriu resignadamente para a patroa.
— Marbury! — A voz de Arthur Weasley agora reverberava no saguão da casa. — Por que tive de abrir a porta de entrada? Está tomando chá em vez de realizar seus afazeres?
O som cresceu perto da cozinha. O pai de Gina sempre gritava quando estava aborrecido e seu mau humor era frequente. Ela sentiu a garganta tão seca quanto as folhas de outono que caíam no chão do logradouro. O descontentamento de Arthur Weasley a afetava negativamente.
Esfregou as mãos, disposta a não se deixar intimidar dessa vez, por mais furioso que o pai estivesse. Remus e Tonks dependiam de sua diplomacia. Harry não menos.
— Sumiu todo mundo? — Arthur prosseguiu na cozinha deserta. — Por acaso é feriado?
Gina abordou o pai, apesar dos sinais de irritação.
— Houve um acidente no cais esta manhã, papai. Com nossa carruagem. — Por sorte, a voz dela não tremeu.
— Falei para aquele idiota do Lupin não fazer as curvas tão fechadas. Terá de pagar com o próprio salário, se causou algum dano ao veículo.
Era típico dele: nenhuma preocupação com o estado de saúde da filha e do condutor. Gina esforçou-se para manter o tom calmo:
— Houve um tumulto qualquer na rua e os cavalos desembestaram. A carruagem não sofreu danos, mas o cocheiro machucou o tornozelo e, de acordo com o dr. Raymond, deve permanecer de resguardo por quinze dias.
— Só faltava! E as criadas estão festejando as férias forçadas com ele? Sabe onde se escondeu sua mãe? Um homem não pode mais deixar sua casa por algumas horas sem encontrar o caos na volta?
Ele desfiava as perguntas com a óbvia intenção de não ouvir ninguém.
Parte da criadagem retornou à cozinha, encabeçada pela sra. Marbury, Colin e Harry.
— Colin! — o chefe da casa vociferou. — Seu lugar é no estábulo. E, quando eu estiver fora, deve me esperar e cuidar de minha montaria! Saia já e trate de meu cavalo imediatamente!
Com a testa enrugada, mas calado, o garoto obedeceu.
— Marbury! — Arthur dirigiu-se ao mordomo assim que o viu entrar. — Por que tive de abrir a porta? Minha filha parece incapaz de me fornecer uma explicação.
O mordomo resumiu os acontecimentos que o haviam retido, enquanto Gina experimentou uma velha e conhecida indignação. Detestava a maneira como o pai tratava as mulheres da casa, feito idiotas. Odiava a superioridade que ele clamava para o gênero masculino. Não fosse a presença de Harry, ainda despercebida, e o perigo que corriam Remus e Tonks, ela demonstraria seu desagrado com a conduta do pai.
— Estávamos todos ocupados em cuidar de Remus, senhor, de acordo com as instruções do dr. Raymond — falou a governanta pausadamente.
—Ah, o médico também participou do complô! —Arthur exclamou. Então, concentrou a vista em Harry Potter, que permanecia ao lado do mordomo. — E quem é o senhor? Tem ou teve algum papel neste drama doméstico?
Gina teria preferido uma conversa particular com o pai, na qual, apoiada na costumeira compreensão materna, contaria os eventos e destacaria a ação destemida de Harry em seu salvamento. Não era tão ruim, porém, que o encontro acontecesse daquela maneira imprevista. Tinha menos a perder do que os criados, mas estes possuíam mais coragem diante das caretas do patrão.
— Harry é o cavalheiro que resgatou a srta.Weasley e a trouxe em segurança para casa, senhor. Além disso, claro, socorreu Remsu Lupin, que se feriu no acidente com a carruagem.
Bendita sra. Marbury por intervir, antes que o irlandês abrisse a boca e, pelo sotaque, traísse sua origem. Embora frustrado pelo silêncio que fora forçado a manter, Harry inclinou-se educadamente perante o irascível senhor.
Gina prezou a imprevista discrição que ele guardara. Ganhou fôlego e decidiu terminar o que havia sido começado.
— Como vê, papai, o sr. Harry me salvou a vida e evitou que Remus tivesse ferimentos mais graves. Conseguiu parar a carruagem desgovernada, instalou o cocheiro na cabine e nos conduziu para casa.
Arthur Weasley examinou a filha com um olhar desconfiado.
— Com isso — ela acrescentou —, perdeu o navio para a Califórnia, bem como as malas com suas roupas e pertences.
— Quanto ele quer de recompensa? — disparou o pai de Gina, despertando um abafado murmúrio de contrariedade entre as pessoas presentes.
Céus, ele sabia humilhar os outros!
— Na verdade, o sr. Harry recusou todas as minhas ofertas de gratificação em dinheiro ou em outras formas — ela respondeu.
— Outras formas? — Weasley exibia agora um ar mais desconfiado.
— Ele lida com os cavalos com grande habilidade, papai. Conseguiu deter a parelha, conduziu a carruagem de volta para cá e poderia continuar encarregado disso enquanto Remus Lupin se recupera.
A proposta surpreendeu o próprio Harry, que não havia cogitado tal possibilidade.
— Sua mãe ficará inconformada se perder a festa dos Malfoy esta noite — falou o sr.Weasley em tom menos hostil. — Como Remus está incapacitado e já é tarde para alugarmos um coche...
O maxilar de Weasley movia-se de maneira singular, denotando derrota diante das circunstâncias. Gina sabia que o pai guiaria a carruagem para não perder a recepção, mas socialmente seria pouco edificante.
Por sua vez, Harry estranhou que ninguém lhe pedisse aprovação. O pai de Gina estava acostumado a dar ordens, porém ele esperava uma atitude mais coerente da parte da srta. Weasley com a simpatia mútua que crescera entre ambos. De qualquer modo, não existiam muitas alternativas para passar alguns dias abrigado, alimentado e próximo da mulher que havia despertado a bênção dos Potter. Ou a maldição, pensava ele, consumido pela dúvida.
— Muito bem. O rapaz está contratado temporariamente. — Weasley observou a compleição do novo cocheiro. — Sra. Marbury, escolha roupas apropriadas para ele e diga a Remus que vou deduzir a despesa com o médico do próximo pagamento. Estarei na biblioteca, tomando um licor.
— Pois não, senhor — disse a governanta mais que depressa.
Harry seguia calado, ainda que os punhos estivessem cerrados de raiva. Gina moveu os lábios em silenciosa prece para que ele consentisse, em vez de explodir, como bom irlandês.
Nenhum membro da família Potter aceita caridade, ele argumentara.
— Só vou pagá-lo — o pai de Gina dirigiu-se a Harry — depois de ver como as coisas andam. Não costumo contratar pessoas sem referências, mas, pelo que contou minha filha, o senhor merece uma oportunidade.
Para desespero de Gina, aquele homem a havia salvado, e agora ela não tinha como evitar que o pai o humilhasse.
— A sra. Marbury providenciará um uniforme adequado ao senhor. Como regra da casa, só terá acesso à cozinha e deve estar sempre pronto para trabalhar. Não é permitido que cuspa nem xingue em público. Conversar com alguém da família, apenas quando solicitado. Fui claro?
— Perfeitamente. — Harry foi agressivo com apenas essa palavra, mas Weasley pareceu não notar como suas instruções eram avaliadas pelo novo nem pelos antigos empregados.
Gina sentiu alívio. O pai estava sendo insuportável, como sempre. O que ela ainda teria de fazer a fim de salvar o emprego de Remus e Tonks? Trocou um olhar cúmplice com Harry, de modo a assegurar-lhe que estava atenta. E grata.
— Como se chama, rapaz? Informarei seu nome à minha mulher.
Ela sentiu o sangue gelar em suas veias. Agora sim, estava perdida!
— Potter, senhor. Harry Potter. — Apesar do tom frio, ele curvou os lábios num sorriso, certo de que seu sotaque não passaria em branco.
Mas Arthur pareceu não perceber que se tratava de um irlandês. Também ignorou a mão que Harry lhe estendeu.
Harry conteve a vontade de resgatar Gina das garras do pai, assim que ela foi levada por ele para fora da cozinha. A mão cautelosa da sra. Marbury, pousada no braço dele, adicionou um argumento a mais para que este não tornasse as coisas ainda piores em relação a Gina.
No entanto, ele cerrou os punhos e plantou os pés no chão, para manter-se distante da biblioteca, longe do limite do desastre que estava prestes a provocar.
Aquela casa não era lugar para ele, embora estivesse tentado a considerá-la como tal. Não suportaria ver o rosto vermelho e inchado de Arthur Weasley recusando-lhe a mão, nem a submissão de Gina, a despeito dos óbvios esforços que ela fazia para não se render totalmente ao arbítrio do pai.
A distância, o bater forte de uma porta sinalizou que a srta.Weasley havia discutido com o pai. Harry praguejou. Se ao menos ele não tivesse sentido tanto prazer em revelar suas origens a Weasley, os grilhões da culpa não estariam se fechando em torno de seu coração naquele momento.
— Não se apresse, sr. Potter — aconselhou a sra. Marbury.
— Nossa Gina segurou os próprios brios por quase dezoito anos. Ela encontrará uma maneira de pacificar a família, como sempre faz. Deseja um café?
Sem esperar resposta, a governanta colocou uma vasilha de decantação no fogo. Instantes depois, Harry tomou a bebida rapidamente.
— Obrigado. Agora é melhor que eu tome meu rumo — disse, para espanto da sra. Marbury. O marido dela, o mordomo, veio beber uma xícara do líquido fumegante e também se admirou com a autoconfiança de Harry na solução de seus problemas.
O casaco de cocheiro estava pendurado na cadeira. Cada vez que Harry atendia a um desejo de Gina, ele apenas alimentava os próprios apuros. As docas provavelmente lhe reservariam um emprego até que pudesse embarcar para a Califórnia. Como marinheiro, improvisado ou não, ele conhecia o trabalho melhor do que como condutor de carruagens.
Esse plano o encheu de esperança. Provaria à srta. Weasley que os Potter não aceitavam caridade. E ainda, com um pouco de sorte, encontraria sua bagagem roubada.
— Um gole de conhaque para arrematar? — propôs a governanta. — Meu irmão da Filadélfia me enviou uma garrafa. O conhaque aquece o espírito, sabia?
Ao menos, as restrições impostas pelo patrão pareciam não se estender a bebidas alcoólicas, desde que não fossem do estoque particular dos Weasley. Harry aceitou a oferta e logo engolia o aperitivo, cujo calor pouco amenizou o senso de fracasso que se apossara dele.
Saber reconhecer o instante mágico é a nossa tarefa, o resto virá naturalmente.
Havia se deparado com os sinais da bênção quando tivera Gina em seus braços, havia vislumbrado um sublime relâmpago nos lábios delicados. Não conseguiria partir sem conhecer o potencial daquela experiência.
— Mas — pensou em voz alta — como conseguirei ficar num lugar em que minha gentileza é desprezada?
— Se por "sua gentileza" o senhor quer dizer portar-se como um cavalheiro e amigo fiel — falou o mordomo —, não terá problemas em sentir-se bem-vindo, desde que escolha os lugares certos para ficar.
O sr. Marbury sorriu amistosamente e focalizou Harry por sobre o aro dos óculos, antes de bater-lhe nas costas e concluir:
— Um homem pode governar sua casa sem mesmo saber o que a torna um lar. Não está errado, sr. Potter, por atender a srta. Gina. Isso é fato.
Refletindo nas palavras do mordomo, Harry apanhou seu casaco. Um ruído de papel no bolso o lembrou de que guardara ali a passagem de navio e a carta da mãe, que o cobria de esperanças para o futuro. Dali em diante, só o presente importava.
Que tipo de homem entregaria seus dias em mãos tão suaves quanto as de Ginevra Weasley? Não seu irmão Neville, certamente, cioso de liderar o próprio destino num estaleiro da Irlanda. Nem Carlos, cuja inteligência e habilidade o haviam transformado no mais renomado advogado de Limerick.— Talvez fosse bom o senhor ir ao estábulo e verificar como Colin está lidando com os cavalos — propôs o mordomo.
— Ele parece conhecer bem seu trabalho — Harry murmurou, concentrado nos dilemas que o atormentavam.
Resolvera não evitar o inevitável. Tinha perdido o navio para a Califórnia, seus pertences e, agora, a própria bênção. Apertou a mão do sr. Marbury e voltou-se para sair.
— Espere!
Ouvindo o chamado, que vinha do canto oposto do recinto, ele contemplou Gina quase com alívio. Os olhos dela se dilataram, revelando uma fina camada de umidade, resultado de um pranto recente.
— Meu pai concordou com sua permanência na casa, se o senhor ainda quiser. —As palavras foram seguidas de um suspiro profundo, sinal do esforço de Gina para aquele resultado.
Ela havia ido muito longe a fim de conseguir, não só a estada de Harry, como a garantia de que Remus e Tonks não seriam demitidos.
Paralisada no meio da cozinha, onde recebia o sol pelas costas, Gina parecia exibir uma aura em torno dos cachos ruivos. Estava terrivelmente pálida e as mãos tremiam ao segurar o vestido.
— Papai impõe algumas condições que o senhor pode considerar difíceis de aceitar — sussurrou com a voz igualmente embargada —, mas peço que veja esta casa como um abrigo provisório... — Ela desviou o olhar de Harry para acompanhar a saída do casal Marbury, que pretendia deixá-los a sós na cozinha. — Creio que, após esse período conosco, o senhor retomará sua trilha sem remorso e até achará graça na aventura... — A voz soou mais forte, porém os olhos ainda suplicavam para que ele ficasse.
Ao aproximar-se, Gina o envolveu com seu perfume de gengibre e camomila, e foi como se abrisse os braços para acolhê-lo. Harry evitou enganar a si próprio. Depois de tê-la resgatado e de ter sofrido ataques ao seu orgulho, ela o mobilizara para cooperar no salvamento de estranhos, colocando as necessidades destes acima de tudo. Nisso, Gina tinha a virtude de ser transparente.
Raiva e ressentimento o dominaram. Mas também havia a clareza de que, se falasse alguma coisa naquele momento, poria em risco a livre manifestação da bênção, que ainda esperava concretizar.
Manteve a boca fechada e cedeu ao pedido com um gesto de cabeça.
* * *
— Venha nos apanhar em uma hora. Estaremos no interior da loja até que apareça, pois detesto esperar na rua. — O tom de Molly Weasley transmitia compaixão por aqueles com quem era obrigada a falar.
Harry tocou a borda do chapéu e aguardou que a matrona e as duas filhas entrassem no estabelecimento de uma modista. Depois, voltou à boleia da carruagem e retirou o veículo do tráfego intenso da principal rua comercial de Boston. Faltavam-lhe o temperamento e a humildade necessários para continuar naquela farsa de servir de cocheiro à família Weasley. Pensava em como tinha se deixado levar pelas súplicas de Gina e pela arrogância do pai dela, que nem mesmo conversara com ele para saber se aceitava o emprego.
Isso pouco tem a ver com o pensamento racional, ele ouviu a voz de Neville martelando em sua cabeça. Devia ser verdade. O apelo de um par de olhos cor de mel e a ameaça de penúria sobre um casal de inocentes eram os maiores responsáveis por suas decisões, que o levaram a engolir seu orgulho.
Apesar do desconforto da posição que ocupava, Harry não se sentia preparado para abandonar o lar dos Weasley e aventurar-se na terra do ouro e das oportunidades. Nem desejava valer-se das amizades do irmão Neville em Boston para sobreviver a uma fase adversa. Sempre que analisava essa alternativa, vinha-lhe a imagem paralisante de Gina em perigo no cais.
Harry ouviu o apito distante de um navio que zarpava. Tentou folgar o colarinho estreito da camisa que a governanta lhe dera para usar. Suava muito apesar da temperatura amena.
Sua avó apoiaria a decisão de permanecer na mansão, em busca do significado da bênção. A própria mãe elogiaria o sacrifício que ele fazia pelo bem dos outros. O pai também julgaria sábio aceitar um refúgio provisório até que Harry estivesse pronto para seguir seu caminho.
Os dois irmãos, porém, iriam rir do papel servil que ele assumira, unicamente porque tinha se encantado com uma complacente boca de mulher e se comovera com as lágrimas dela.
Assim, ali estava Harry Potter, usando um casaco apertado, prestando serviços a uma petulante madame de Boston e suas duas filhas igualmente insolentes. Não, tal classificação era injusta. Ele comparou a mais jovem, Luna, com Ginevra, a quem passara a chamar de Gina, porque o diminutivo era íntimo e delicado como a portadora do nome. Luna, sem dúvida, era a cópia adolescente da mãe, no que dizia respeito à vaidade, à preocupação com as aparências e ao distanciamento dos problemas reais. Gina, no entanto, mostrava-se sensível aos contrastes sociais e se afligia com a situação dos menos favorecidos, a começar pelos empregados da casa. Tanto que participava com empenho de uma entidade beneficente.
Sim, existia uma carga de responsabilidade sobre aqueles ombros tão delicados. Os serviçais contavam com Gina para defendê-los em caso de ultrajes cometidos pelos outros membros da família Weasley. Essa sensação de igualdade — ou melhor, de intimidade — é que despertara uma tempestade interior em Harry quando ele a havia envolvido num beijo caloroso. Bênção ou... luxúria?
Ele apagou da mente qualquer vislumbre de novos momentos íntimos com Gina. Sua posição naquela casa erguia muitos obstáculos a encontros amorosos. E talvez fosse do pai, o desdenhoso Arthur Weasley, que Harry deveria se aproximar, tendo em vista criar uma sociedade nos negócios com ouro.
Claro, isso era tão improvável quanto a concretização da bênção dos Potter. Contudo, Harry não excluía a hipótese de seu pessimismo ser devido aos acontecimentos nas docas naquele dia fatídico, em que desembarcara de uma viagem que se tornara um pesadelo pelo desconforto, resgatara uma jovem rica e imprudente ao preço da perda de outro navio e ficara sem dinheiro e sem as malas que continham tudo o que possuía.
Mesmo assim, a bênção havia se anunciado em Boston, tão longe das origens de Harry, e para alguém tão desastrado. Amaldiçoou a si próprio pela centésima vez, por permitir que sua bagagem fosse roubada sem confrontar os desprezíveis ladrões.
Esfregou o polegar no queixo. Nenhuma de suas ideias o aproximava da Califórnia e do ouro necessário para que sua família ampliasse o estaleiro na Irlanda, comprando mais madeira. Imaginou então que se iludia com a perspectiva do instante mágico, que aconteceria segundo a bênção, e que de nada adiantava desgastar-se com isso.
Colin, o cavalariço, prevenira Harry de que a carruagem acidentada precisaria ficar uma semana fora de uso para reparos e manutenção. De comum acordo, ambos decidiram continuar utilizando o veículo, para não incorrerem na fúria dos patrões. Não deixava, porém, de ser mais uma frustração para o condutor improvisado.
Outra carruagem, reluzente de nova, dobrou a esquina, a fim de estacionar por ali. Os cavalos de Harry ficaram nervosos e ele teve de retesar as rédeas com a intenção de dominá-los. Saltou depois para o chão, acalmando os animais com palmadas no pescoço e palavras suaves, conforme havia aprendido a fazer quando jovem.
— Pelo menos eu tenho vocês, não é? Afinal, estamos todos abrigados e bem alimentados, graças aos Weasley. Remus está se recuperando, e logo vocês o terão de volta. Então, darei um jeito de chegar à Califórnia...
Aí não mais importaria se ele pensasse em Ginevra Weasley como apenas e simplesmente "a doce Gina".
Um sino de igreja começou a tocar, lembrando-o de que estava na hora de se reapresentar à família. Balançando a cabeça, os cavalos pareceram gostar de sair daquele beco sufocante, quando ele os guiou na direção da loja de artigos femininos.
Uma carroça de entregas bloqueava a esquina, por isso Harry teve de percorrer mais uma quadra no sentido do cais, para então retornar e estacionar. Foi quando viu nitidamente, à porta de uma taverna, os dois indivíduos mal-encarados que haviam dado início à confusão nas docas e levado suas malas.
A Águia. Harry memorizou o nome do bar, disposto a voltar ali assim que possível e enfrentar os desordeiros. Talvez recuperasse alguns objetos pessoais, como os mapas que indicavam as minas de ouro na Califórnia.
A rua principal fervilhava de gente e veículos, mas não havia sinal das mulheres da família Weasley quando Harry parou diante da loja da modista. Desceu e ficou aguardando, imóvel.
Logo a voz de Gina o mobilizou. Sua figura pequena estava recoberta com tafetá marrom, de barra mais clara combinando com a cor do chapéu de palha. Continuava encantadora, discreta e elegante, porém nada possuía da jovem turbulenta que ele encontrara e beijara no cais do porto. Conteve um lamento de frustração, pois ela a cada dia se tornava mais inalcançável para ele, e não só pela distância social que os separava.
Gina notou as folhas de papel que Harry tinha na mão.
— São esboços de algumas paisagens de Boston — ele explicou. — Vou enviá-los a minha irmã, Megan, que mora na Itália e periodicamente me manda desenhos da villa onde está passando as férias. Creio que gostará de conhecer cenários do Novo Mundo.
As boas maneiras impediram que Gina pedisse detalhes sobre a permanência da irmã de Harry na Itália, mas não satisfizeram sua curiosidade.
— Você desenha bem — disse. — Sugiro que registre vistas do logradouro, sempre repleto de pessoas. A simples passagem por lá, a caminho de casa, já é interessante. E, se aprecia a natureza, é uma praça cheia de árvores e plantas.
— Aprecio, sim — ele afirmou. — Muitas árvores daqui quase alcançam as construções mais altas da cidade. E formidável.
— Fico contente que esteja gostando de Boston. A vegetação torna o lugar mais tolerável, embora eu prefira a paisagem livre e selvagem das florestas próximas da casa de minha avó, Worth. — Gina observou em torno de si, a fim de verificar se a mãe e a irmã não vinham se aproximando. Por certo, as duas criticariam aquela conversa informal com um criado.
— Trata-se de algo que estou ansioso para ver — revelou Harry. — Florestas são raras e distantes na Irlanda.
De repente, a voz da sra. Weasley soou perto deles, interrompendo-os.
— Oh, sr. Malfoy! Que bom encontrá-lo!
Enquanto Gina erguia os olhos, Harry praguejou por entre os dentes. Ele se esquecera de sua condição humilde no seio da família que o tinha abrigado. A sra. Weasley lançou-lhe um olhar ferino antes de exibir um sorriso radiante ao cavalheiro impecavelmente vestido que se alteava diante dela.
— Veja quem apareceu, Ginevra querida: Draco Malfoy. É uma maravilhosa coincidência, para uma esquina movimentada do Centro.
Draco beijou a mão da mãe e da filha. Educadamente, porém ansiosa, Luna manteve uma respeitosa distância do grupo. Harry também se afastou para junto dos cavalos.
— A senhorita é como a visão de um oásis no deserto. — Draco inclinou-se diante de Gina.
Harry franziu a testa ao ouvir a tola comparação. Teria Ginevra dado liberdade a Draco para segurar e afagar-lhe a mão com tanta insistência, depois de beijá-la de maneira aceitavelmente cortês?
— É sempre um grande prazer vê-la, sra. Weasley. — Ele soltou os dedos de Ginevra. — Com ou sem suas adoráveis filhas.
Era imaginação de Harry, ou Gina parecia estar encolhida diante do cavalheiro, com uma máscara de polidez, mas sem o brilho de interesse que mostrara segundos antes?
Não era de sua conta, uma voz interior que se assemelhava à de Neville o repreendeu. Como empregado de Gina, os pretendentes dela nada deveriam significar para ele.
— Bem, aqui está nossa pequena Luna. — Finalmente, a sra. Weasley puxou a filha mais nova para a frente de Draco. — Passamos a última hora escolhendo roupas para esta menina. Ela está se preparando para debutar em sociedade.
Tímida, Luna tentou disfarçar as faces rubras, mas sorriu para Draco. Odiava quando a mãe se referia a ela como a uma criança retardada.
— Pretende comparecer ao sarau dos Anderson amanhã à noite, senhor?
— Se estiver lá, srta. Luna...
Outra bobagem, segundo Harry, distante porém atento.
— Magnífico! — exclamou a sra. Weasley. — Mas deve convidar Ginevra para pelo menos uma das valsas.
— O prazer será meu, madame...
— Muito bem. — Gina respirou fundo. — Então, até amanhã, sr. Malfoy. Precisamos ir, pois somos esperadas na paróquia para um chá.
—Ah, sim. — O sorriso de Draco não deu mais calor à sua fisionomia. — Deixem-me escoltá-las até a carruagem.
— O senhor é mesmo um cavalheiro — elogiou-o a sra. Weasley.
Ele se dirigiu a Harry, dizendo que ajudaria as damas a subir. Em silêncio, Harry subiu na boleia e assumiu as rédeas. Como Ginevra foi a última a galgar o degrau do veículo, ela recebeu mais um beijo na mão. Dessa vez, Draco ergueu-lhe o pulso até os lábios.
— Até amanhã, minha cara.
Ela praticamente fugiu para dentro da carruagem, enquanto o homem parecia lamber a própria boca de forma grotesca. Harry mal esperou que ele fechasse a porta para instigar os cavalos. Recebeu um olhar reprovador e murmurou, com falsa humildade, que não desejava atrasar as passageiras.
Entrando na corrente de tráfego, ele observou Malfoy retomar a calçada. Ao ver seu caminho obstruído, o jovem cavalheiro fez uma careta e deu uma cotovelada na senhora com criança de colo que lhe atrapalhava os passos.
Esse era Draco Malfoy.
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