pseudo-seduzindo.













Quando o dia amanheceu, azul e refrescante, e todos os meninos corvinais do sexto ano acordaram para se arrumar, uma nuvem densa do mais profundo mau-humor pairava sobre dois meninos em específico e parecia que ia explodir numa onda infinita de xingamentos á qualquer momento. Alguém até tentou puxar um assunto com eles, animá-los, falando ‘bom dia’ e comentando como o dia estava lindo, mas a única resposta que recebeu foi um olhar atravessado equivalente á uma tijolada no meio da cara.
 


Esses dois meninos, que atendiam pelos nomes de Albus e Scorpius, vestiram seus uniformes mecanicamente. Calça jeans, camisa branca, gravata, meia, tênis, mochila. E saíram rumo ao salão principal, lado á lado, sem dizer uma palavra.


 Quando faltavam apenas alguns passos para entrar, Albus estacou.


 - Cara, eu tenho família aqui, eu tenho meus irmãos. – sua voz estava trêmula.


 - Seus irmãos não dão á mínima pro que você faz Albus. – Scorpius retrucou ríspido.


 - Ah ta, obrigado pelo consolo. – Albus disse olhando o loiro de canto de olho; a boca crispada em total desgosto com a vida.


 Suspiraram juntos, tentando simplesmente não pensar, e, após uma breve troca de olhar confirmando de que iriam mesmo fazer aquilo, deram os passos finais firmemente até o salão principal.


 Passaram pelas duas portas de carvalho e, exatamente dois passos depois, quando estavam, precisamente, na frente das quatro mesas, que estavam lotadas de alunos famintos e barulhentos, Albus fingiu que tropeçou e, quando estava indo rumo ao chão, Scorpius tentou segurá-lo, mas acabou indo, propositalmente, junto com ele. Os dois rolaram e caíram no chão numa confusão de braços e pernas.


 Ficaram parados por um segundo, com Albus deitado no chão arfando, e Scorpius em cima dele, com uma mão de cada lado da cabeça do moreno. Um contato mais próximo e íntimo do que eles jamais gostariam de ter um com o outro propositalmente, independente da circunstância.


 - Você ta bem? – Scorpius perguntou, com a voz rouca, seu nariz á um milímetro do nariz de Albus. Albus engoliu seco e apenas balançou a cabeça positivamente.


 Passado o minuto mais longo da vida deles, eles se levantaram do jeito mais másculo que conseguiram e foram, casualmente, conversando sobre o céu, o clima e a agradável expressão da natureza naquela específica estação do ano, em direção á mesa da Corvinal. Para a total alegria deles, quase ninguém prestou atenção no que aconteceu. Algumas pessoas riram rapidamente do acontecimento, já que é sempre engraçado ver alguém caindo – principalmente se a pessoa leva outro junto e ninguém se machuca seriamente –, e, muito mais importante, algumas outras pessoas olharam interessadas á cena e trocaram olhares entre si.


 - Porra Scorpius, você quase esmagou minha bola esquerda com o seu joelho. – Albus disse ao se sentar, com uma expressão profundamente séria, como se o assunto que estivesse tratando no momento fosse á proteção da humanidade.


 - Desculpe – Scorpius começou, com seu sarcasmo característico – É que eu não tenho o hábito de deitar em cima de menininhos. Da próxima vez eu acerto, pode deixar. – E deu um sorrisinho, que poderia facilmente ser comparado á um dedo do meio erguido.  


 Albus estreitou seus olhos em direção o loiro, desconfiado de que talvez ele acertasse mesmo.


 - Você viu também, Albus? – Scorpius perguntou cordialmente, mudando drasticamente de assunto, pegando a jarra de suco e servindo-se. Albus soltou uma risada irônica.


 - Olha menino Malfoy, - Albus começou a falar com um sorriso convencido nos lábios; Scorpius engasgou com o suco num misto de indignação e divertimento ao ouvir como Albus o chamou – Eu posso não ter herdado a habilidade no quadribol do meu pai, mas eu, com certeza, compensei com a perspicácia em dobro.


 Scorpius, num impulso incontrolável, cuspiu todo o suco que tinha na boca e começou a rir escandalosamente. Sua risada era, provavelmente, sua maior marca em Hogwarts. Todo mundo conhecia aquela característica composição gritos roucos inacreditavelmente altos. Quando ele começava a rir, você não tinha outra opção a não ser rir junto com ele, de tão hilária que era sua risada.


 Porem, obviamente, sua risada não era ouvida com muita freqüência – na verdade, ela praticamente nem era ouvida. Scorpius só ria assim quando era pego totalmente desprevenido, como, por exemplo, logo depois de executar um plano muito sério, que poderia acabar com a reputação de sua família e, seu companheiro na situação, o chama pelo apelido mais infantil e esdrúxulo que ele jamais poderia imaginar, e, pra completar, diz, o que, na sua opinião, seria a coisa mais absurda de todas, sem exceção.


 - Vai parar ou não? – Albus perguntou irritado, vendo que Scorpius não parava de rir. O loiro estava com lágrimas no canto dos olhos, uma mão no peito, tentando recuperar o fôlego, e a outra batendo estrondosamente na mesa á cada nova onda de riso.


 Lentamente Scorpius retomou á sua postura habitual, respirando fundo e fechando os olhos, se concentrado.


 - Ok, parei. – Disse com um ultimo vestígio de sorriso passando pelos seus lábios. - Então, voltando ao assunto, por favor.


 - Sim, o assunto. – Albus concordou. – Eu vi duas meninas e dois meninos na Lufa-Lufa. Quatro meninas na Grifinória, nenhum menino.


 - Eu vi três meninas e um menino da Sonserina. Três meninas e dois meninos aqui da Corvinal.


 - Traidores! – Albus disse indignado, vendo que até gente de dentro da sua própria casa estava metido nisso. – Eu não conheço nenhuma dessas pessoas. Você conhece alguma, Scorpius?


 - Pior que não. Conheço de vista, mas não tenho a mínima idéia de quem são. Nessas horas eu queria ser como o meu pai...


 - Porque?


 - Draco Malfoy sabe automaticamente, ao ver uma pessoa, quem ela é, onde mora, o que faz, e no mínimo outras três pessoas relacionadas á ela que poderia ser útil caso fosse preciso uma aproximação ou algum tipo de informação. – Scorpius relatou didaticamente, orgulhoso.


 - Mas você não é seu pai e muito menos eu. – Albus constatou o óbvio após um segundo de reflexão – Então a gente tem que descobrir quem são, já que não conhecemos nenhuma dessas pessoas. 


 -Exato. Que incômodo. – Scorpius falou massageando as têmporas, sentindo a sua dor de cabeça avançar mais alguns níveis rumo á enxaqueca. E ainda eram oito horas da manhã... tinha um mau pressentimento sobre como estaria no fim do dia.


 - Então, vamos lá.


 - Vamos lá, menino Potter! – deu uma risadinha irônica.  


 Ambos se levantaram ao mesmo tempo, deram um sonoro HIFIVE e saíram em direção á primeira aula, destinados á descobrir quem eram essas pessoas.


 O dia passou com os dois se revezando entre prestar atenção nas aulas – pois ainda tinham que se manter entre os mais inteligentes do colégio – e, sorrateira e despretensiosamente, conseguir informações sobre essas pessoas que os observaram de manhã no pequeno “acidente”.


 Meia-hora antes do jantar, Albus e Scorpius se sentaram em duas poltronas, frente á frente, para tentar juntar os fatos do dia. Ambos com expressões sérias, digna de pessoas que estão defendendo á humanidade.


 - Então, o que você conseguiu? – Albus perguntou com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos cruzadas, e lamentou não ter um charuto, pois de alguma forma, parecia se encaixar perfeitamente na situação.


 Scorpius franziu as sobrancelhas, sentindo que o clima da situação estava tão sério que beirava o ridículo.


 - Eu descobri que as meninas da Sonserina chamam Liv, Mary e Mary. – Albus abriu a boca para falar, mas Scorpius o interrompeu. – Sim, duas Mary’s. Elas são do quinto ano, sendo que as duas Mary’s são irmãs GEMEAS! É, imagina que horrível, além de ser igual á sua irmã, ter o mesmo nome; e o menino, ele se chama Johnny. Ele também é do quinto ano e é apaixonado por alguma das Mary’s, e, por isso, faz tudo o que ela manda... E você, o que descobriu?


 - Eu descobri que as quatro meninas da Grifinórias também são do quinto ano, elas passam praticamente o tempo inteiro juntas, sussurrando e rindo por aí, ninguém sabe exatamente o que... – Parou por um segundo e fez uma adorável cara de culpado, como uma criança pega fazendo arte. -... o nome delas eu esqueci.


 Scorpius estreitou os olhos e deu um tapa na cabeça de Albus.


 – Ahh, doeu, seu animal! – Fez uma leve pausa, suspirando – O povo da Lufa-Lufa, esses foram difíceis de descobrir, mas eu usei os meus contatos e consegui, claro... – Disse com um sorriso convencido.


 - Você quer dizer que pediu informação pros seus irmãos... – Scorpius interrompeu, se divertindo horrores ao ver como Albus passou num instante de convencido á ultrajado.


 - Isso não vem ao caso. – Disse entre os dentes – O que interessa é que eu consegui. As duas meninas e os dois meninos também são do quinto ano. Os meninos são meio-irmãos, um deles foi transferido esse ano aqui pra Hogwarts, e esse transferido é francês, o outro é inglês. Veja bem, FRANCÊS! – Disse tentando sub-entender algo na nacionalidade dele, porém sendo completamente mal-sucedido, pois nem o próprio Albus sabia o que estava tentando sub-entender.     


 - Certo. Então, o que todos eles têm em comum? – Scorpius perguntou, já sabendo á resposta, mas querendo ter o prazer de ver Albus fazer, inconscientemente, as caretas mais bizarras e esquisitas enquanto as engrenagens do seu cérebro trabalhavam lenta e dolorosamente juntando as informações.


 Scorpius nunca entendera como Albus conseguia ter uma das melhores notas do colégio, pois era uma das pessoas mais lerdas que conhecia. Parecia que o conhecimento de tudo simplesmente estava em sua cabeça, ele não precisava estudar ou se esforçar para que tudo aquilo saísse. Assistir as aulas era o suficiente para que ele tirasse nota máxima em todas as provas. No fundo, Scorpius invejava isso, pois para se manter no mesmo nível, ele tinha que se dedicar quase inteiramente aos estudos.


 - Já sei! – Albus disse depois de uma longa reflexão, batendo o punho fechado na mão aberta – Todos eles são do quinto ano! Ahhh, esses quintanistas, que bando de malandrops!


 Scorpius questionou por um segundo a existência da palavra ‘quintanistas’ – e resolveu ignorar solenemente o ‘malandrops’.


 - Exato! EXCETO... – Scorpius parou e olhou pra direita, depois pra esquerda, com um ar desconfiado. -... As três meninas e os dois meninos da Corvinal. Eles são do sexto ano.


 - NÃÃÃO! – Albus reagiu exageradamente, indo pra trás com a boca aberta, os olhos arregalados, agarrando os braços da poltrona. Nesse instante ele desviou os olhos de Scorpius e olhou por cima do ombro do mesmo. Estacou no mesmo instante, seu rosto petrificou e um pavor subiu da base de sua coluna até seu cérebro, arrepiando-o até o ultimo fio de cabelo.


 Mecanicamente, Albus voltou a sua posição anterior e encarou Scorpius. Seu rosto estava totalmente inexpressivo, mas seus olhos verdes gritavam desesperados por ajuda. Scorpius, que estava examinando suas unhas sem muito interesse, não se deu o trabalho de ver o que estava assustando Albus e apenas o encarou, esperando o minuto em que ele começaria a falar e falar sem parar.


 - Ah meu Deus! Ali atrás Scorpius – Dessa vez era Albus que tentava gritar e sussurrar ao mesmo tempo – Aqueles cinco da Corvinal que olharam a gente hoje de manhã, eles estão ali atrááááás! Todos juntos, juntinhos, e eles estão olhando para nós toda hora! Eles com certeza são os ‘líderes’ desse clube idiota, ou seja lá o que for, eles estão tramando alguma coisa, certeza, o que a gente faz Scorpius? – Albus tropeçava nas palavras, gotas de suor brotavam em sua testa e ele parecia que ia ter uma síncope nervosa á qualquer segundo.


 Scorpius fez um bico, deu um suspiro resignado, piscou preguiçosamente, e, por fim, voltou a observar suas unhas, com o mesmo desinteresse de antes. Se desesperar com certeza não é a solução, pensou. Albus continuou falando, sua voz atingindo notas insuportavelmente agudas.


 Após uns bons quinze ou vinte minutos com Albus se desesperando mais e mais, Scorpius, finalmente, resolveu dar um jeito na situação.


 - Vamos jantar, Albus. – Scorpius disse solene, se levantando. Não era bem uma solução, mas ninguém faz nada de barriga vazia, pensou, no maior espírito brasileiro.


 - Tudo bem, tudo bem, vamos. – Albus respondeu, limpando o suor da testa com a manga da camisa. Mas continuou na mesma posição, encolhido na poltrona abraçando os joelhos, num retrato perfeito de uma pessoa potencialmente insana.


 Scorpius suspirou e fechou os olhos, se concentrando em não deixar sua enxaqueca levar embora sua consciência. Pegou Albus pelo antebraço e o puxou, arrastando-o por todo o caminho até o salão principal, ao som dos muxoxos e acessos histéricos do mesmo.  


 Quando já estavam sentados á mesa, comendo, Albus percebeu que Scorpius estava passando a mão no rosto em uma freqüência muito maior do que seria considerado normal. Isso não era um bom sinal.


 - Enxaqueca? – Albus perguntou. Scorpius como resposta apenas o encarou com uma expressão que gritava: Yeah, and it’s a BITCH!


  Albus suspirou entre uma garfada e outra de purê de batata, pensando nos possíveis finais de noite que aquela enxaqueca poderia dar á eles – pois, querendo ou não, ele sempre acabava sendo diretamente afetado.


 Exatamente dezessete minutos depois, quando eles estavam no meio do caminho entre o salão principal e o confortável dormitório masculino do sexto ano da Corvinal, o final que Albus mais esperava evitar, aconteceu.


 


 


N/A: Yoo-Hooo, Capitã Is falando! :D


Então, esse capítulo foi mais revelador, -eu espero! HIUEHIOUAHEOIUAHEOI, foi muito divertido de escrever, disso vocês podem ter certeza! A cada página eu estou me apaixonando mais e mais por esses dois :B

Eu quero agradecer á todo mundo que está comentando e tal, isso me ajuda muito na hora de escrever ;D. Por favor continuem escrevendo suas sugestões, críticas, elogios, xingamentos e hadoukens. (:


 


ps: Se preparem porque eu amo reviravoltas! HIHIHEHEHEHAHAHAHAHAHA *risada maligna estilo Saga de Gêmeos dos Cavaleiros do Zodíaco* 

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