Conturbação.
Conturbação.
É impossível se arrepender daquilo que no seu intimo, no âmago de seu ser, você queria na verdade. Hermione, de certo, queria saber como era beijar, contudo beijar uma garota era traumatizante, afinal. Ao menos para uma garota que tinha seu mundo sistemático, tudo feito simetricamente, calculado e pensado, para andar fora dos trilhos. Claro, o lance com Harry e Voldemort era algo que ela adaptou ao seu jeito sistemático, sabia que teria, em um dia ou outro, deixar tudo para ajudar seu amigo a combater Voldemort, para o infeliz parar de perseguir o moreno, mas este dia estava longe de chegar, sabia disso, então seu mundo ainda continuava enquadrado em seu mecanismo simétrico.
Seu jeito de ser não a permitia nada fora dos padrões das duas sociedades imposta a ela. E certamente beijar outra garota era algo totalmente desaprovador nas duas, era mal visto, era fora dos padrões, portanto, não tinha nada a ver com Hermione. A castanha, de certo, respeitava as diferenças e não tinha nenhum preconceito com os outros, mas não fazia a menor questão de fazer parte deste grupo diferente.
Por isso, naquela noite, que quase não dormira pensando no que havia acontecido com ela e Phoebe, decidiu que não iria mais pensar no assunto, que iria apenas esquecer o ocorrido, não iria comentar com mais ninguém, se manteria longe da Corvinal e aceitaria o convite de Victor para ir ao Baile de Inverno. Assim não teria mais surpresas, estava disposta a fingir que o ocorrido não havia realmente acontecido.
Explicar o ocorrido a sua melhor amiga ruiva fora uma tarefa até que fácil, pois a ruiva se mostrou mais compreensiva do que a castanha esperava.
- ... e então eu bati em seu rosto e saí correndo da biblioteca! – Hermione acaba de contar o relato do que havia acontecido há pouco, não conseguia encarar o rosto da menina a sua frente.
- Bem... Que coisa, não? Hehe, quero dizer, ter seu primeiro beijo com uma menina – Ginny riu fraco e Hermione a fuzilou com o olhar – Calma, Herms, é só um detalhe. E você ainda beijará muitos caras na sua vida, duvido que daqui a uns anos ainda se lembre desse beijo tão embaraçoso.
- Espero que você esteja certa, mas... você não está com nojo, está? – perguntou a castanha envergonhada, a ruiva, por sua vez, riu.
- Nojo? De você, Hermione? – ela perguntou divertida – Óbvio que não, tudo bem que é estranho o fato de você ter beijado uma garota, mas isso não interfere em nada no que eu penso de você, Herms. Você continua sendo a mesma pessoa doce, corajosa e inteligente que eu conheço.
Em resposta, Hermione deu um abraço forte na amiga.
No dia seguinte, Hermione acordou e decidida foi se encontrar com o búlgaro que lhe observava todos os dias na biblioteca. Estava decidida a esquecer o que aconteceu, porem o lugar que haviam marcado de se encontrar para ela lhe dar a resposta era justamente a biblioteca e assim que pisou no lugar, lembrou-se instantaneamente do que havia acontecido na noite anterior.
- Her-r-mi-o-ni-ni – ouviu o sotaque búlgaro lhe chamar, estava tão distraída que nem viu o garoto e quando se virou, estava muito próximo do mesmo.
- Olá, Victor – a castanha respondeu colocando um sorriso, amarelo, no rosto.
- Seu nome é tão complicado – o menino riu e a menina o acompanhou. – Então, aceita ir-r ao baile comigo?
- Bom, acho que Herms é mais fácil do que Hermione para se dizer durante a noite de baile, certo? – a menina disse corada; o búlgaro logo se entusiasmou e a abraçou.
- Des-desculpe – o garoto disse se afastando da menina que estava extremamente vermelha.
- Tudo bem, Victor, tudo bem. – disse a castanha sem graça.
- E onde está a sua amiga que fica o tempo todo com você aqui? – ele perguntou ao sentarem em uma mesa, tentando puxar assunto.
- Hm… ela não está aqui porque… tinha um encontro – Hermione disse procurando uma desculpa, mexia as mãos de nervoso, Victor percebeu isso e colocou suas mãos, grandes e quentes, em cima das de Hermione, as parando e esquentando.
- R-re-laxa – disse e seu sotaque fez Hermione se descontrair, sorrir genuinamente. Victor podia ser uma bela companhia.
O que Hermione não sabia é que um par de olhos verdes-azuis a observava por entre algumas estantes de livros, e que a dona desses mesmos olhos verdes-azuis estava não triste, mas decepcionada com Hermione, essa decepção que carregaria nos olhos por algum tempo.
O dia do comentado Baile de Inverno chegou. Hermione ficara trancada o dia inteiro na Torre da Grifinória, assim como todas as garotas da grifinória do quarto ano para cima e convidadas, se arrumando para o baile. Hermione tinha que estar perfeita, ela sabia, pois seria o par de Victor Krum!
O tempo entre o dia do baile e o tal dia do beijo passaram-se lentos até, mas Hermione tinha com o que se distrair, sua maior distração era os deveres e as conversas que jogava fora com Ginny. Sua cabeça estava ocupada, mas ela sentia falta de algo, contudo ignorava esse sentimento, afinal dali a pouco ele passaria, teria de passar. A corvinal, por sua vez, estava decepcionada não apenas com a reação exagerada ao beijo e sim a reação exagerada ao todo, pois a grifinória passou a lhe ignorar, não lhe dava mais aulas, nem sequer lhe dirigia o olhar. Logo Hermione, a única bóia que tinha para se segurar no meio do mar profundo e gelado que se encontrava; a única a quem tinha no meio de sua depressão silenciosa.
A atitude infantil da grifinória decepcionava a morena, que não achou que podia ser tão rejeitada, terem tanto nojo de si, afinal o nojo e o medo era o que estavam estampados na cara da grifinória quando recebeu o tapa. Mas a Corvinal ainda gostava da castanha, não lhe pediria nada, não lhe falaria nada, não questionaria sua decisão, apenas respeitaria, por mais que isso lhe tirasse a única coisa que tinha, Hermione. E a grifinória sabia disso, mas preferia ignorar.
Hermione se divertia no baile, Krum era um ótimo dançarino apenas na valsa, no resto improvisava tudo, o que divertia a castanha, com seus passos desajeitados. Ele também era muito carinhoso e atencioso, o que a encantava ainda mais, ele a fazia esquecer que o melhor amigo ruivo estava com raiva dela, afinal.
Dançaram mais um pouco, e depois de darem uma volta pelo salão, Krum a levou para a Torre da Grifinória, beijando-lhe a mão em frente ao quadro da Mulher Gorda e esperou-a entrar para então sair, com um sorriso, a caminho do Navio de sua escola.
O amigo ruivo entrou no salão Comunal pouco depois dela e não poupou as palavras. Após discutirem, Hermione aproveitou que Harry havia entrado e saiu da Torre, indo para o corredor, sem rumo.
Deixou as lágrimas escorrerem livremente pelo rosto, estava cansada de tudo aquilo. Ron havia conseguido estragar sua noite perfeita. Phoebe havia estragado algo que ela ainda não conseguia definir, apenas sabia que havia estragado. Era estranho, sentia um vazio enorme, algo que não queria ter, era inexplicável e ainda sim incomodava, e muito. Não conseguia acreditar em como uma amiga podia fazer tanta falta, elas se conheciam nem há meio ano! Era impossível se apegar tanto a alguém em tão pouco tempo, Hermione pensava.
Era aquele sentimento vazio que ela não conseguia apagar. Simplesmente não conseguia entender o fato de como estava vazia por dentro, era como se sua vida passasse e fosse só mais alguma coisa, apenas aquilo. Algo fazia falta em si, ela apenas não sabia o que, ou fingia não saber, afinal, no seu intimo sabia do que sentia falta, mas preferia se fingir de ignorante, preferia se iludir de que não sabia do que sentia falta, era mais fácil.
Ouviu um barulho que lhe tirou de seus devaneios e foi averiguar, parecia ter vindo de uma sala abandonada. Com cuidado abriu a porta e o que viu, fez ficar lá, em choque, como se seus pés houvessem criado raízes, e estas fincadas na terra.
Comentários (1)
Ah, que momento ruim essas garotas passaram! Espero que se resolvam logo ;)
2012-06-14