Capítulo III
Engolindo palavras te vai dando conta
Que as vezes o lógico é o mais difícil
E pouquinho a pouco vai se aproximando
Ao fogo, à chama que queima as borboletas
Azuis e brancas entre as cinzas
As asas sem vida de vôos suicidas
E eu as entendo porque eu senti
A luz cegadora de um fogo proibido
Entender o que de fato havia se passado na noite anterior não foi uma tarefa fácil, mesmo para alguém que se considerava tão conhecedor das misérias do ser humano, como Draco Malfoy. Aqueles momentos com Hermione jamais seriam esquecidos, em parte pelas sensações que inesperadamente tomaram conta de seu ser, ao mínimo contato com a garota, mas principalmente porque não conseguia olvidar as revelações que ela o fizera.
A guerra foi sem dúvida, um momento dramático e doloroso na vida de todos, mas para Hermione, foi muito além; A perda dos pais e a traição que sofrera, provocaram uma dor profunda a ponto de cegar a jovem e a afastar do futuro promissor que certamente a aguardava. Draco não imaginou que o segredo que Hermione escondia envolvesse tamanho sofrimento.
Em seu subconsciente, algo sempre gritou que Hermione pertencia a ele; Somente Draco podia atormentá-la e fazê-la sofrer, ninguém mais... E influenciado pelo passado distante do colégio, quando a competição entre ambos dava sentido aos malditos testes e ainda mais, pelos momentos que desfrutaram juntos naquele mesmo quarto, horas antes, Draco decidiu mudar o destino e arriscar algo improvável: trazer Hermione Granger para o seu lado. E como primeiro passo, Draco cuidou para que Ted Carson e seu bar fossem definitivamente apagados da vida da garota.
O simples ruído do vento que empurrava uma porta, fazendo-a ranger levemente era suficiente para fazer com que sua cabeça latejasse de maneira cruel; Como pudera se deixar levar daquela maneira? Sempre soube que o álcool não era um bom conselheiro e, no entanto, na noite anterior, havia ingerido quantidade suficiente para acabar na cama de um desconhecido... – culpava-se a moça. Mas os efeitos físicos da bebedeira não eram nada, se comparados a terrível sensação de não se lembrar do que havia dito.
Não queria pensar sobre o assunto, não queria pensar que podia ter exposto suas fraquezas a qualquer outra pessoa, muito menos a Draco Malfoy; Um homem que ressurgia do seu passado e roubava seus pensamentos a cada minuto do dia. O risco fora algo que sua mente racional sempre abominou, mas então, em um momento ímpar decidiu permanecer ao lado daquele homem estranho e que ao mesmo tempo exercia um magnetismo impensável sobre todo o seu ser. Aquela foi sem dúvida, a última decisão que tomou naquela noite. O resto do tempo, entregou-se aos tão temidos riscos e deixou-se levar pela vontade dele.
Com o dia seguinte, retornou a razão e sentiu o peso da vergonha e da dúvida, mas ao contrário do que esperava, ele ainda estava ali e sem nenhuma resposta errada, mantinha a perfeita imagem de um sonho. Aquilo não era real! – pensou Hermione jogando-se no sofá de seu pequeno apartamento, retornando de seus devaneios e encarando a verdade.
-O que sei é que precisamos encontrar um lugar para nós dois, Bichento! – disse a garota, afagando o felino que se colocara ao seu lado.
Malas prontas, uma última olhada e a porta se fecha pela última vez. Era o adeus ao lugar onde havia se abrigado nos dias mais difíceis de sua vida. Aquele apartamento não poderia ser chamado de lar, pois jamais havia se sentido amada e protegida ali, mas ainda assim, sentia uma pontada de tristeza, por deixar seu refúgio. Agora caminhava sem rumo, sem ter certeza de que direção tomar, até que um sinal apareceu diante de seus olhos.
Uma coruja inesperadamente cruzou seu caminho, atirando-lhe uma mensagem inesperada. Uma proposta de emprego vinda dos céus? Não era preciso ler até o final para identificar o remetente. Então, no exato momento em que abandona sua casa e segue a procura de um novo rumo, ele lhe oferece uma oportunidade... Não, não seria tão ingênua a ponto de acreditar em tamanha bondade.
Andou o dia inteiro a procura de um lugar e ao final teve que se contentar com uma pensão barata do outro lado da cidade. Tinha algumas economias, mas sabia que não durariam muito tempo. Ainda retorcia o pergaminho em suas mãos. O que aquele homem poderia querer com ela? – perguntava-se cada vez mais confusa.
Longe dali, sentado confortavelmente em uma poltrona, onde permanecia com os olhos bem fechados, Draco Malfoy se permitia relaxar enquanto ouvia delicadas notas de uma complexa melodia clássica ecoarem pelo rico ambiente. Certamente ela já teria recebido a mensagem e não demoraria muito a procurá-lo.
Pernas, lábios, mãos... Cada parte da garota ficou marcada em sua memória. Ainda que vivesse cem anos, ele não esqueceria a sensação de tê-la em seus braços. A queria, e sem nenhuma dúvida a teria para si. No entanto, nem todas as lembranças da noite anterior eram tão agradáveis... Potter e Weasley viviam em glória, como verdadeiro heróis, tendo o mundo a seus pés, enquanto para Hermione restou somente o esquecimento. Mas aquela situação logo iria mudar.
O destino podia se mostrar de fato maravilhoso! - pensou o loiro enquanto degustava um cálice de vinho. Ter Hermione ao seu lado significava mais do que atender a um simples desejo carnal, na verdade, era a maneira perfeita de vencer mais uma vez Harry Potter e iniciar uma nova era para o nome Malfoy. Mas talvez tal manobra exigisse um pouco mais de esforço do que o rapaz imaginara a princípio.
Pouco passava das sete da manhã, quando um atraente loiro cruzou um pequeno café no centro de Nova Iorque e se dirigiu a uma mesa no fundo. Onde uma bela jovem permanecia completamente entretida com uma página de classificados.
-Bom dia! – cumprimentou satisfeito com o impacto de sua voz na expressão da garota, que quase derramou o café.
- Bom dia. – respondeu séria recompondo-se do susto.
Encararam-se por alguns segundos, até que o loiro aceitou que ela realmente não facilitaria as coisas para ele.
- Fiquei imaginando se teria recebido a minha mensagem... – começou Draco com os olhos fixos em cada movimento da moça e sentando-se ao seu lado.
- Recebi e agradeço por sua preocupação, mas sou perfeitamente capaz de arrumar um emprego sozinha. – respondeu ainda com a expressão séria.
- Por que tem que tornar tudo tão difícil?Será que não poderia simplesmente aceitar a minha oferta? – questionou Draco, perdendo a paciência e se aproximando ainda mais da garota.
- Não, eu não poderia simplesmente aceitar, porque não sei o que há por trás de toda essa bondade. Você nunca gostou de mim e não tem nenhum motivo para querer me ajudar. – falou direta.
- E se eu te dissesse que isso não é verdade? – questionou o loiro começando a brincar com um dos cachos de seu cabelo.
- O que está querendo dizer? – perguntou Hermione confusa, ao tempo que movia-se no assento procurando aumentar a distância entre os dois.
- Que eu sempre gostei de você! – falou sem rodeios tomando os lábios da garota sem aviso, num beijo profundo capaz de parar o tempo.
Era incrível como ele conseguia deixá-la completamente sem reação. Não era possível! Algo estava errado! Aquele ali que a beijava em público era Draco Malfoy, o sonserino metido e arrogante que ela conhecia perfeitamente bem... Ou será que não conhecia?
Antes que percebesse, ele a levou daquele café direto para um enorme prédio no centro da Londres bruxa. Ao se dar conta do que havia acontecido, Hermione sentiu suas pernas falharem, o sangue congelou e por um segundo ela pensou que iria perder os sentidos. Draco percebeu o que se passava e imediatamente tomou-lhe as mãos e lhe prometeu que nada de mal aconteceria.
Ainda hesitante, Hermione pediu que ele a levasse de volta para Nova Iorque. Tinha medo do que poderia acontecer e principalmente de quem poderia encontrar. Draco não gostou de ler esses pensamentos, mas respirou fundo e se esforçou para ser paciente. Estava tão perto de conquistá-la, não iria recuar agora. Decidido, guiou a moça pelas escadarias e procurou fazer de tudo para que ela relaxasse. Mas relaxar era algo de fato impossível. Por onde passavam atraiam olhares curiosos, afinal não era todo dia que Draco Malfoy chegava acompanhado ao seu local de trabalho.
A cada segundo que se passava, Draco revelava-se mais sedutor. Cada gesto, cada palavra que saia de sua boca parecia ter a única finalidade de agradar. Aos poucos, Hermione compreendeu que dentro daquele prédio não encontraria nenhum de seus fantasmas e se permitiu apenas observar tudo que os cercavam. Era difícil admitir, mas aquele estava sendo o seu melhor dia em anos.
- Então é isso, senhorita! É aqui que passo a maior parte do meu tempo... – falou o rapaz, enquanto educadamente puxava uma cadeira para que a dama se sentasse.
- E é aqui que deseja que eu venha trabalhar... – disse sem conseguir evitar o ar de desconfiança.
- Na verdade não. – respondeu o rapaz surpreendendo a garota. – Venha comigo, eu vou lhe mostrar – disse estendendo-lhe a mão.
Um segundo após tocá-lo, Hermione sentiu seu corpo ser tragado e quando deu por si estava dentro de uma fabulosa biblioteca. Sem dúvida, a maior que já vira em toda a sua vida. Emocionada, não pode conter um sorriso diante de tamanha beleza. Draco observava cada mudança na expressão da garota e sorria triunfante diante do golpe perfeito que havia acabado de dar. De repente, a expressão da garota mudou por completo.
“Há algo errado. Draco Malfoy seria incapaz de doar um pequena fortuna para melhorar a vida de estranhos. Ele jamais faria algo assim...” – pensava a garota, esquecendo-se de que ele podia ler cada um de seus pensamentos.
- Você tem razão! – falou ele, assustando-a. – Eu jamais pensaria em fazer algo desse tipo... Na verdade, esse era um desejo da minha mãe, mas ela morreu antes de concretizá-lo. Além disso, paga os impostos! – esclareceu.
“Incrível, ela não perde um detalhe!” – pensou divertido diante do desafio que era conquistar a confiança de Hermione Granger. No entanto, pelas reações da moça, ele estava cada vez mais certo que estava muito perto de vencer essa prova. Por isso, não hesitou em por em prática a parte final de seu plano e guiou sua dama até um confortável gabinete, onde uma senhora já os aguardava.
- Hermione, quero que conheça Norma Spencer, sua nova chefe. De hoje em diante estará subordinada a ela e apenas a ela. – comunicou com um sorriso.
A senhora baixinha e de óculos levantou a vista da pilha de papéis que organizava e observou cuidadosamente a jovem a sua frente. Não estava bem certa se seria agradável ter alguém interferindo em seu trabalho, mas ao constatar que o jovem Malfoy a mantinha no comando, não encontrou motivos para deixar de ser gentil e desarmou-se diante da novata.
- Creio que vão se dar muito bem. – disse o loiro se retirando e deixando as duas à vontade.
Uma vez sozinhas, a senhora Spencer explicou a Hermione cada uma de suas atribuições e ficou satisfeita em perceber o gosto que a jovem tinha pelos livros, tratando-os como verdadeiras obras de arte. Aos poucos aquela convivência se revelou bastante benéfica e agradável para as duas. Hermione mostrou-se prestativa e organizada e logo conquistou o carinho de sua chefe.
Norma Spencer era uma pessoa muito dócil, sempre com a aparência impecável e incrivelmente concentrada, não perdia um detalhe do que se passava a sua volta. E embora, Draco Malfoy não houvesse retornado as dependências da biblioteca nos últimos dias, obviamente não deixou de perceber o interesse que ele destinava a sua assistente e por isso não ficou nem um pouco surpresa diante do convite que Hermione recebeu naquele final de tarde, mas ficou surpresa diante da reação da moça.
- Por que não aceita o convite, filha? Que mal há em um café? – questionava a senhora em tom amável.
- Não devo aceitar, Norma. É melhor que tudo fique como está. – disse decidida.
- Como os jovens de hoje em dia são complicados... Se eu tivesse a sua idade e um homem lindo como aquele me convidasse para o que quer que fosse, eu aceitaria! – falou Norma, arrancando um sorriso de Hermione.
- Sim, ele é mesmo lindo.... – traiu-se a garota.
- Sim, ele é lindo, está louco por você e veja que sorte! Já veio buscá-la. – disse a senhora Spencer baixinho, enquanto lhe entregava seu casaco.
Com o coração aos pulos, Hermione virou e encontrou aquele par de olhos azuis observando-a. Imediatamente sentiu-se febril. “Que droga! Porque ele tem que fazer isso comigo?” – repreendia-se diante das emoções que ele a fazia sentir. Somente ali, diante dele, se deu conta do quanto desejava vê-lo novamente.
Draco sabia que deveria esperar mais alguns dias antes de procurá-la, mas não conseguiu esperar mais. As noites eram uma tortura sem fim, há muito já havia descoberto que nenhuma outra mulher a substituiria. Sem pensar demais e aceitando que já não comandava aquele jogo sozinho, cedeu ao desejo e decidiu procurá-la.
Chegou à biblioteca de surpresa. Sabia que se desse alguma chance ela poderia recusar o convite. Caminhou decidido até a sala privada, onde a encontrou na companhia de Norma Spencer. Estava linda, com um vestido azul na altura dos joelhos, que desenhava seu corpo bem-feito. Por uma fração de segundos, seus olhos se encontraram e ele sentiu a boca ficar seca. Felizmente, logo a razão voltou.
- Está pronta? – perguntou calmamente.
Hermione ainda estranhava o fato de andar de braço dado a um Malfoy. Tentava buscar respostas no olhar de Draco, mas não havia nada que o denunciasse. Ele parecia confortável e tranqüilo com a situação. Durante o tempo que permaneceram no requintado café, conversaram sobre o trabalho de Hermione, seu novo apartamento e coisas sem muita importância.
“Ela devia relaxar com tudo isso, mas está cada vez mais tensa” – constatou o loiro ao observar sua respiração alterada.
- Já terminamos o nosso café, eu já lhe agradeci e já falei do quanto estou satisfeita com o trabalho, mas você ainda não me disse o que quer de mim. – falou decidida, fazendo com que Draco sorrisse.
Ela ainda não havia compreendido que quando mais inatingível tentava parecer, mais o atiçava. Ele podia dar várias respostas naquele momento, mas preferiu agir com cautela.
- Na verdade, eu estava pensando se você já teria recuperado sua varinha... Agora, que voltou a viver na Londres bruxa, não faz sentido não usufruir da magia. – começou o rapaz.
- As coisas não são tão simples assim, Draco! – respondeu Hermione impaciente. – “Aonde ele queria chegar com essa conversa?”
- São bem mais simples do que imagina, Hermione! Já é hora de esquecer o passado e seguir em frente! Retome o seu lugar e pare de agir como se todos quisessem lhe fazer mal o tempo todo!
- Acha que eu sou louca, não é? Mas você não faz idéia do que eu passei! – respondeu magoada.
- Eu sei exatamente o que você passou. Sei que perdeu seus pais, que seu namorado te traiu com sua amiga e que seu melhor amigo em quem confiava cegamente mentiu e a deixou fazer papel de boba! – falou sem pensar, deixando a garota arrasada.
Hermione se levantou, mas Draco a segurou e não permitiu que ela se afastasse.
- Eu não sou igual a eles. Apenas deixe eu te mostrar! – falou o rapaz abraçando a moça com ternura. Naquele instante, ela era o centro de seu mundo era tudo o que lhe importava. Mais do que um nome, mais do que sua imagem, mais do que sua vingança. Estava apaixonado.
- Olha só, você acha que eu quero algo de você e está certa... – continuou o rapaz, soltando-a somente o suficiente para olhá-la nos olhos. – Quero que me faça um favor. Preciso que me acompanhe em um jantar de negócios. Sei que é algo um tanto desagradável, mas eu realmente ficaria grato - disse tentando disfarçar suas reais intenções.
Hermione engoliu seco diante da idéia.
- Eu, uma sangue-ruim em público com um Malfoy? Creio que...
- Por favor, não fale assim! Será que não dá para esquecer a escola? – questionou o loiro.
- Olha, Draco, eu não sei! – falou temerosa.
- È apenas um jantar de negócios, nada mais. – assegurou.
- Você pode ter a companhia de qualquer garota da cidade, por que iria querer ir com uma simples garçonete? – questionou Hermione afastando-se.
- Eu não quero ir com uma garçonete, quero ir com a mulher mais bonita e inteligente que já conheci! – falou decidido fazendo com que ela se derretesse por dentro.
Sem resposta. Draco acompanha Hermione até a entrada do pequeno apartamento que ela alugara. Simples, mas com uma ótima vizinhança. Ela sabe que não pode recusá-lo depois de tudo o que fez por ela, mas tem medo de ser vista. Já estava fora daquele mundo há muito tempo. Na mente de Draco Malfoy, a idéia vinha oposta. Ela já estava fora daquele mundo a muito tempo, era hora de retornar e em grande estilo. Seria um prazer ter Hermione ao seu lado e mais ainda, a chance de esfregar isso na cara de Harry Potter e Ronald Weasley.
- Não se preocupe com nada! Venho lhe buscar amanhã as oito. – declarou o loiro antes de lhe dar um beijo no rosto e desaparecer por completo.
Na mansão ele comemora. Durante toda a sua adolescência sonhou com Hermione Granger – a única garota que lhe era proibida, a única que realmente interessava... E agora tantos anos depois, ele tinha livre acesso a ela e em breve ao seu coração. Nada o faria mais feliz, chegou até a esquecer a idéia inicial de desmoralizar o mais famoso herói do mundo bruxo. Nada mais importava, desde que a tivesse.
A noite não passa tranqüila para uma garota amedrontada por lembranças dolorosas. Pela primeira vez em anos, Hermione abre a caixinha de veludo e encara as fotos do trio maravilha ainda em Hogwarts, onde a vida parecia perfeita. Lágrimas se formam em seus olhos, mas ela continua tocando cada lembrança, até que se detém em um pequeno bilhete, no qual Luna Lovegood diz amá-la como a uma irmã. Ela ri amarga e recorda a dor que sentiu ao ver sua querida irmã na cama com o homem que ela amava. Jamais passaria por aquilo novamente! - jurou para si mesma na época. Mas também não desistiria mais da vida! – pensou pegando nas mãos a varinha que jazia esquecida no fundo da caixa.
No trabalho, a senhora Spencer não deixou de reparar na agitação de Hermione, que se intensificou após a chegada de um enorme pacote, contendo um fabuloso vestido de festa. Aos poucos, Hermione acaba revelando sobre o convite de Draco, assegurando que preferia que ele tivesse desistido da idéia. Norma entende que é hora de trazer a menina para realidade, antes que ela desperdice sua felicidade pelo simples medo de tentar.
- Sei que é assustador, querida! Mas você precisa ser corajosa e se arriscar! A felicidade não bate duas vezes à mesma porta se ela permanece sempre fechada... – falou com toda a paciência.
- Eu já me arrisquei uma vez e não quero passar por toda aquela dor novamente! – confessou.
O relógio já marcava as seis da tarde, e ela permanecia sentada com as roupas do trabalho, pensando nas palavras de Norma. Sua chefe havia se mostrado uma mulher compreensiva e gentil, jamais a questionou sobre seu envolvimento com Draco Malfoy ou sobre o seu passado. Talvez, a bondosa senhora tivesse razão, talvez fosse hora de arriscar e seguir seu coração que naquele momento ansiava por atenção e carinho, algo que certamente Draco Malfoy poderia lhe oferecer.
- Torça por mim, Bichento! – pediu a moça começando a se arrumar.
Exatas duas horas depois, Draco batia a porta do pequeno apartamento. Estava perfeito no smoking negro. Os olhos azuis pareciam ter adquirido um brilho ainda mais intenso, e naquela noite, Hermione não teve dúvidas que seriam capaz de penetrar-lhe a alma. Embora não houvesse muita luz no ambiente, Draco conseguia ver claramente a beleza de sua acompanhante, que trajava um maravilhoso vestido longo de cetim verde escuro. Sorrindo, o loiro constatou que havia feito duas escolhas perfeitas: Hermione Granger e verde.
- Está quase perfeita, minha querida... Falta apenas um detalhe. – disse o loiro tirando um delicado colar de brilhantes e o colocando em volta do pescoço da garota, antes que ela pudesse protestar.
- Eu não posso aceitar, Draco! – tentou sem sucesso.
-Claro que pode! Agora venha ou vamos nos atrasar! – decretou o rapaz a tomando pelo braço. Ele jamais a deixava pensar.
Em poucos segundos a penumbra do apartamento simples, deu lugar a exuberância e as luzes do rico salão de bailes. O jovem casal caminhava entre uma pequena multidão atraindo a atenção de todos. As mulheres olhavam para Hermione num misto de inveja e curiosidade e para Draco, como se quisessem devorá-lo.
Um cavalheiro puxou Draco e Hermione sozinha caminhou até uma farta mesa de ponches. Ela o observava de longe e questionava como podia ter se envolvido daquela forma novamente. O Draco Malfoy que estava a sua frente em nada lembrava o dos tempos da escola, exceto por um detalhe: perto dele ela não conseguia reagir. Por um momento a constatação dessa fragilidade a assustou, mas os pensamentos foram dissipados com a aproximação de uma elegante senhora.
- Sabe, eu conheço esse rapaz desde que ele ainda usava fraldas e por isso mesmo não posso deixar de cumprimentá-la pelo grande feito! – disse a mulher com um largo sorriso.
- Desculpe, mas não compreendo o que a senhora está falando. - tentou fugir a moça, divertindo ainda mais a senhora.
- Meu nome é Phoebe... E o seu, querida?
- Hermione.
- Pois bem Hermione, Narcisa Malfoy era uma grande amiga e por isso eu conheço Draco muito bem e digo que você definitivamente o fisgou. – disse, fazendo Hermione engasgar com a bebida.
- Oh, não! Não estamos juntos dessa maneira. – defendeu-se a garota.
- Sinto muito querida, mas não posso acreditar em você! Eu vi como ele a olha e como você olha para ele.... Além disso, ele nunca vem acompanhado a esse tipo de evento. “Social demais” - ele mesmo sempre diz! - falou sorrindo, deixando Mione branca feito papel.
Draco observava Hermione de longe e viu quando sua expressão se transformou e decidiu se aproximar. Conhecendo Phoebe, não era difícil imaginar porque Hermione estava tensa, por isso, não hesitou em quebrar a conversa. Mas logo percebeu que não seria tão simples assim. Phoebe havia encontrado sua diversão da noite e não estava disposta a deixá-la passar. Mas agora seu alvo era outro.
- Draco, meu amor! Está mais lindo do que nunca! – disse a mulher dando um beijo na face do rapaz. – Escute, esta linda jovem tentou me convencer a pouco que eram somente amigos, se isto é verdade, tenho que perguntar o que houve querido? – disse sem ligar para o nível exagerado de inconveniência e causando pânico em Hermione.
Não houve resposta durante alguns segundos e ela não hesitou em insistir.
- Ora, não me olhe desse jeito! A única vantagem da idade é a possibilidade de falar o que penso sem me preocupar! – disse divertida, arrancando um sorriso de Draco.
- Bom, Phoebe... Tudo o que posso lhe dizer é que por essa noite a senhorita Granger fala a verdade. – declarou o rapaz provocando um misto de alívio e frustração em Hermione.
- Oh, céus! Então precisamos reverter isso! Ouçam música! Nada melhor do que música! O que está esperando rapaz. Convide a moça para dançar! - ordenou fazendo Draco sorrir ainda mais.
Completamente constrangida e ainda confusa com a declaração de Draco, Hermione não teve escolha quando ele lhe ofereceu o braço e a conduziu para o centro do salão. O silencio reinou entre os dois por alguns minutos. Ela podia sentir o claramente o cheiro dele invadir o seu corpo, que parecia cada vez mais quente devido à proximidade que a música lhes permitia.
- Você está linda... – ele sussurrou em seu ouvido, fazendo-a estremecer. – Sabe, não leve Phoebe a mal. Ela é uma boa pessoa...
Hermione o encarou e sorriu acenando que concordava. E Draco aproveitou que ela o olhava nos olhos para completar o pensamento: - e extremamente perspicaz! Diante de tal declaração, a moça corou e num impulso tentou esconder o rosto para não denunciar as emoções que sentia, mas Draco não permitiu. Segurando-lhe firme continuou a falar...
- Sua companhia é extremamente agradável, dar aquele emprego a você não foi favor nenhum. Todos a elogiam e falam de sua competência, mas não nego que quero mais! – disse sem rodeios.
- E-eu não sei o... – começou a garota, mas antes que pudesse dizer algo concreto, foi puxada para um beijo intenso e apaixonado. Era hora de por as cartas na mesa.
A cena é acompanhada de longe por uma elegante senhora, que sorri vitoriosa, enquanto moças fecham a cara e praguejam por toda a festa. Hermione não consegue raciocinar, não quer raciocinar e apenas corresponde o beijo, que parece eterno, até que Draco se afasta. Novamente vem o impulso de esconder a face, novamente ele não permite. Sabe que ela tem medo e sabe o que está pensando naquele momento e diz a ela que aquilo tudo é de verdade...
- E agora eu sei que você também sente! – ele diz baixinho em meio ao sorriso mais lindo do mundo.
Hermione abre a boca várias vezes, mas não há o que dizer... Ela não pode mentir. Novamente ele a abraça e voltam a dançar. Ela encosta a cabeça no ombro dele imaginando se aquilo estava mesmo acontecendo com ela.
Houve uma época em que ela julgava impossível se apaixonar novamente. Para ela não existia outro, senão Rony Weasley, mas então o destino lhe pregou uma peça e agora ela estava ali, completamente entregue e indefesa diante de Draco Malfoy, um homem que sempre lhe foi oposto em todos os sentidos e que se revelara o único capaz de compreendê-la. Tudo aconteceu rápido demais, mas por algum motivo já não sentia medo.
Paciência. Essa era a palavra que girava na mente de Draco, naquele momento. Não podia estragar tudo ali. Continuou abraçando e desejando fazê-la sentir-se segura. Somente ela importava... O mundo em sua volta já não interessava, nem mesmo se flashes de luz eram disparados em sua direção.
- Venha, acho que já podemos sair daqui... – disse o rapaz, seguindo em direção á saída.
Diante da porta do apartamento, Draco a beijou novamente e se sentiu ser dominado por seus instintos. Foi um custo, mas recuperou o controle e se afastou, encontrando profundos olhos castanhos que insistem lhe acusar... “Seria apenas uma noite” – ela pensava, fazendo com que ele fosse novamente obrigado a recuar. Frustrado, ele desejou “boa noite” e se preparava para sair, quando a moça decidiu mudar o jogo.
Agora ela daria as cartas. Durante semanas havia sido objeto e alvo das manobras de Draco Malfoy, que de alguma maneira havia conseguido colocá-la sempre onde queria e da maneira que queria, mas dessa vez seria diferente. Ainda que não pudesse ter certeza de que as palavras e as promessas fossem reais, por aquela noite, ela faria com que fossem.
E lá estava um completo estranho
Um estranho aos meus olhos
Dedilhando minha dor com seus dedos
Cantando minha vida com suas palavras
Matando-me suavemente com sua canção
Pretendendo se despedir, Draco foi pego de surpresa, quando a moça o puxou para um beijo profundo e cheio de sensualidade. Ela era fogo, ele podia sentir. O beijo não cessava e pouco a pouco, Hermione puxava o loiro para si e para a pequena sala, batendo a porta com força. O estrondo teria sido mais do que suficiente para despertá-lo, mas ela não permitiu.
E se a mente de Draco acusava que aquilo estava fora de seus planos e que ele não devia seguir em território desconhecido, seu corpo sabia exatamente como agir e para onde ir. Se era aquele o jogo que ela queria jogar, ele estava mais do que disposto. Há meses não sonhava com outra coisa a não ser com aquela mulher e acontecesse o que acontecesse nenhum dos dois iria recuar.
Eu senti como se ele me conhecesse
Eu meu completo desespero
Então ele olhou através de mim
Como se eu não estivesse lá
E ele continuou cantando
Cantando alto e claro
Dedilhando minha dor com seus dedo
Tomou a garota em seus braços sem se preocupar em conter a ânsia que o torturava há tantas noites. A beijava com paixão, até que esbarraram em uma pequena mesa, no canto da sala. Sem pensar em mais nada, ele a ergueu colocando-a sobre o móvel e se postando entre suas pernas, que dessa vez não o rejeitavam, mas claramente o acolhiam. Sua boca deslizava pelo delicado pescoço, enquanto uma das mãos puxava com força as tiras de cetim que prendiam o vestido ao corpo que ele desejava.
Ela podia senti-lo quase que por completo. E seu corpo reagia a cada movimento, deixando claro que ali, ambos estavam no mesmo nível. Após a segunda tentativa, ele finalmente soltou as tiras de cetim e deslizou o vestido até a cintura, deslumbrando-se com a visão da verdadeira beleza, para em seguida passar a devorá-la com a boca.
Sentindo-se um tanto vulnerável, a garota hesitou um instante, mas em seguida perdeu qualquer traço de lógica e entregou-se por completo as sensações que a língua dele em contato com sua pele produziam. Um carinho. Um suspiro. Ela estava pronta, ele podia sentir. Como se quisesse confirmar o pensamento, Hermione arrancou a camisa que lhe atrapalhava e passou a distribuir beijos pela pele extremamente alva de Draco, fazendo com que ele fechasse os olhos a cada contato e desistisse de se conter por mais um instante que fosse.
Desceu uma das mãos até a perna da garota e foi subindo devagar, ao tempo que arrastava o vestido e deliciava-se com a visão e sensação do toque na pele macia e firme. Hermione sentia-se no céu, a mulher mais desejada do mundo e procurava retribuir com carícias cada vez mais ousadas, que pouco a pouco enlouqueciam o homem diante de si.
A mão de Draco continuou subindo, até se deparar com uma peça que naquele instante, lhe parecia no mínimo inconveniente e por isso não teve dúvidas em rasgá-la e livrar-se dela para sempre. O gesto brusco, fez com que Hermione ficasse paralisada por alguns segundos, e somente então o rapaz se deu conta que poderia ter assustado sua garota e achou melhor esperar sua reação antes de prosseguir. Mas ao olhar em seus olhos, ele encontrou novamente o fogo e o desejo e se deixou guiar pela vontade dos corpos que exigiam o contato.
Sem muita delicadeza, ele a possuiu ali mesmo. Seus corpos eram um, suas mentes inundadas somente pelo prazer esqueciam qualquer traço de problema ou possíveis conseqüências de se entregar por completo em um impulso. Moviam-se no mesmo ritmo e o ar começava a faltar. Ele podia sentir as unhas dela na pele de suas costas. Ela podia sentir o suor e a saliva de ambos se misturando e o mundo girar depressa a sua volta.
A respiração ofegante dele denunciava o prazer que sentia e fazia Hermione sorrir de satisfação. Ao atingirem o êxtase, a garota permaneceu com os olhos bem abertos, somente para mirá-lo. Situação completamente nova para Draco, que ficou completamente encantado e envergonhado. Não se lembrava de ter estado com alguém que se entregava de tal forma e que se preocupava mais em dar do que receber prazer. Ela era de fato única.
O azul e o castanho se encontravam mais uma vez e dissipando qualquer dúvida que naquele momento passasse pela mente de Hermione. Draco a tomou nos braços e a levou até o quarto e lhe mostrando que a noite, na verdade, havia acabado de começar.
O sol invadia o ambiente e ao encontrar-se completamente sozinha em sua cama, Hermione suspirou derrotada, tendo a certeza de que tudo fora apenas um sonho. Como esperado, ele não estava lá. Não tinha porque estar... Não eram namorados e não tinham qualquer compromisso, ela sabia, mas não podia deixar de sofrer por isso.
Depois de um banho demorado, ela seguiu até a cozinha. Se recusa mirar a mesa no canto da sala. Pensa em comer algo rapidamente e ir para a biblioteca... Já estava muito atrasada. Mas para sua completa surpresa, ao chegar à cozinha, deparou-se com rico café da manhã à sua espera e ainda uma rosa e um bilhete, no qual Draco Malfoy se desculpava por sua ausência. “Ainda devo estar sonhando!” – pensou sem conseguir conter um sorriso, enquanto sua alma parecia renascer para uma nova existência.
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