Capítulo quatro
Capítulo quatro
- Estou falando sério, Marlene! – Lily quase berrou ao telefone com uma Marlene que ria histericamente. Pouco se importava se estava no trânsito e dirigir assim era perigoso, estava desesperada e há duas noites sem dormir. Se existia um inferno, então com certeza Lily estava nele – Ele me ligou às três da manhã pedindo meu endereço.
- E você recusou? – Marlene riu mais um pouco – Você é IDIOTA? Poderia estar acordando agora depois de uma noite devassa e maravilhosa.
- Ridícula – reclamou a outra – Simplesmente ridícula, Lene.
- Se você quer e ele também, qual o problema? – perguntou Lene – Sempre achei que você complicava demais as coisas, mas dessa vez chegou ao limite, Lily.
Lilian revirou os olhos. Não sabia por que ligava para Marlene em situações de crise como essa. Ela sempre diria para se jogar na cama com quem quer que fosse e ser feliz.
- O problema? Bom, não sei. Talvez porque ele seja gay? – ironizou – E, ainda por cima, é comprometido. Você não pode realmente estar falando sério ao dizer que eu deveria ir pra cama com ele.
Lily parou o carro na frente do escritório. Ali ela supunha que estaria a salvo de James Potter o dia todo, graças a pilha de trabalho não feito que precisava dar um jeito. Se não fosse esse infeliz, ela tinha certeza que todos os projetos estariam encaminhados agora, e ela estaria saboreando uma maravilhosa taça de vinho enquanto jantava com um homem perfeitamente encantador – e heterossexual.
- Lily pense comigo: se ele optou por dormir com homens, é porque nenhuma mulher fez direito, certo? – Lily revirou os olhos – Então, você já sabe o que fazer, não preciso dizer mais nada.
- Não, Marlene, não precisa – Lily revirou os olhos – Bom dia pra você.
Deveria perder esse novo hábito de desligar o telefone na cara das pessoas, mas era mais forte do que ela. Seu dia havia começado da pior maneira possível, e a única coisa que queria era deitar a cabeça no travesseiro e dormir. Sem James Potter, sem ideias alucinantes... Sem absolutamente nada que pudesse distraí-la ou fazê-la passar mais uma noite imaginando o que teria acontecido se tivesse aceitado o convite e lhe dito onde morava.
- Lily! – disse Dora, sua secretária, assim que colocou os pés em sua sala – Finalmente você chegou!
- Desculpe, Dora – pediu, se sentando e vendo, com um tremor, a pilha de papéis que lhe esperava – Não dormi a noite toda, só consegui pregar os olhos às cinco horas da manhã.
- Bom, ainda bem que você chegou – Dora olhou a agenda – Peter Pettigrew está ligando para cá desesperadamente desde que cheguei. Parece que houve algum problema na decoração. O pessoal foi lá hoje tirar as medidas que você solicitou, mas ele quer conversar com você. Diz que só pode ser você.
Lily respirou fundo. Inferno de homem! Tinha certeza que James não gostara do plano para a adega, coisa que lhe custara muita determinação em fazer. Agora aquele homem miúdo lhe tiraria mais um dia inteiro de paciência. Ela não tinha isso.
- Vou telefonar para ele – suspirou – Não tenho a menor condição de ir lá hoje, Dora, estou lotada de trabalhos.
- Eu sei – disse – Mas esse cliente fechou um dos nossos mais caros orçamentos, Lily. Não seria bom perdê-lo.
Infelizmente, ela tinha razão. Se perdesse essa decoração, seria somente por desistência do cliente. Não podia ser por luxo próprio, mesmo que o que ela mais queria era atirar toda aquela tinta na cabeça de Peter, de preferência tendo roubado o homem dele.
Oh, a que ponto chegara!
- Alô, Peter? – exclamou ao telefone, rezando para James estar bem longe dali.
- Lily, querida, ainda bem! – Peter praticamente gritou, quase derrubando Lily da cadeira pelo susto e alivio.
- Dora me disse que estava histérico atrás de mim – disse, com um pouco mais de veneno do que pretendera – Sou toda ouvidos, meu bem.
Peter começou uma preleção extremamente monótona sobre os elementos da decoração, prendendo somente uma fração mínima da atenção de Lily. Só quando comentou da briga que tivera com James pela decoração da adega que a mulher começou a ouvir suas palavras como se fossem instruções para a busca de um tesouro valiosíssimo.
- Oh, James não gostou da decoração da adega? – perguntou com falsa inocência.
- Antes fosse isso, flor! – lamentou-se o outro – James nem se dignou a olhar! Ficou possesso quando eu comentei que íamos transformar tudo em uma sauna linda! Veja, me acusou até de estar fazendo isso para irritá-lo e por status pessoal. Fiquei absolutamente chateado.
Lilian segurou o riso. Nunca antes sentira vontade de rir diante dos problemas dos outros, mas a simples ideia de Peter sendo rejeitado por James a fazia levitar de alegria.
- Então... – finalizou ele. Lily não se lembrava de metade das coisas que ele tinha dito depois da briga com James – Vamos ter que mudar toda a decoração! James bateu o pé, ele está insuportável esses dias. Ah!
- Peter, eu não posso visitá-lo hoje – se adiantou em dizer. Se pusesse os pés naquela casa novamente, duvidava muito que sairia inteira e íntegra como entrara. Ou, pelo menos, menos íntegra – Sito muitíssimo, mas minha agenda está lotada. Tenho muitos outros projetos.
Mas nenhum tão caro como esse, infelizmente.
- Oh, eu sei como é difícil conseguir um horário com você, bem sei – choramingou – Mas eu preciso muito mesmo, Lily! Tenho medo que, senão acertamos um projeto e começarmos logo, James resolva desistir da decoração da casa. Só Deus sabe o quanto eu tive que penar para conseguir isso!
Droga, pensou Lily. A única coisa que não podia era perder esse contrato. O preço era, literalmente, alto demais. E, se desse sorte, essa seria a última vez que veria Peter ou pisaria naquela casa. Não podia correr o risco de ter essa decoração cancelada, por mais que admirasse a antiga.
Xingando até a décima geração de Peter, Lily disse:
- Ok, Peter. Passo aí, mas o único horário que tenho disponível é no começo da noite. – teria que trabalhar feito louca para concluir todos os outros projetos e passar naquela casa. – Sinto muito, mas é realmente meu único horário...
- Está perfeito! – disse o outro rapidamente – Fabuloso! Até a noite, querida.
Desligando o telefone, Lily refletiu sobre o quanto queria jamais ter retornado os setenta telefonemas de Peter Pettigrew. Aquele homem tinha, literalmente, trazido o seu próprio inferno pessoal à tona. O que faria pra se livrar daquela situação?
- Então, o jantar de sábado está confirmado? – perguntou Peter do outro lado do fone.
James suspirou. Não tinha a menor ideia do que significava esse jantar de sábado, mas a perspectiva era no mínimo nauseante. Imaginou-se jantando em outra companhia. Uma companhia com adoráveis olhos verdes e um par ainda mais adorável de pernas.
- Que jantar é esse? – resmungou.
- Oh! – Peter ofegou – Nosso aniversário. Caso não se lembre, estamos juntos há dois anos.
- Tempo demais! – deixou escapar.
Peter ofegou mais uma vez e James praguejou. Como, meu Deus, como aguentara dois anos na companhia daquele homem? A lembrança dos momentos que haviam passado causava um arrepio de asco em seu íntimo.
- O que quer dizer com isso? – gaguejou o outro.
- Quero dizer que... – James respirou fundo. Aquele definitivamente não era um bom momento – Não quero dizer nada. Vá trabalhar, Peter. Você deve ter centenas de peruas problemáticas para atender.
- Não chame minhas pacientes de peruas problemáticas! – gritou. Peter quase nunca gritara antes – A sua sorte é que Lily Evans está a minha espera nesse momento, senão eu saia daqui agora e ia até ai acertar as contas com você. Não vê o que está fazendo conosco e...
James parou de prestar atenção na conversa, se fixando na única parte que lhe interessava: Lily Evans estava em sua casa naquele exato momento. Murmurando um até logo para um histérico Peter, James arrumou suas coisas e disse à secretária que tinha uma emergência. Jamais em toda a sua vida fugira do trabalho, mas essa mulher tinha o poder de fazê-lo agir assim.
Porque James estava inacreditavelmente apaixonado por ela.
O carro na entrada era o mesmo do dia anterior. Um belo modelo de Honda, estiloso e simples, o tipo de carro que Peter jamais compraria por julgar “comum demais”. As suas mãos tremiam, num gesto completamente desconhecido, o coração pulsante. Céus, ele a veria! Mal podia esperar para tocar seus cabelos rubros novamente.
Sentada em borboleta e usando a mesa de centro como escrivaninha, James via Lily rabiscar apressadamente em algum bloco, fazendo anotações em outro. Estava tão concentrada que não o vira entrar, vestindo um macacão branco e curto que a deixava ainda mais fabulosa.
- Boa noite, Lilian – disse, cortês.
O susto foi o suficiente para fazê-la derrubar o lápis com que desenhava, a ponta bem feita se perdendo no tapete. Lily claramente não o esperava.
- James! – exclamou – Peter me disse que estaria no trabalho!
- Consegui sair um pouco mais cedo – ele descansou a pasta no sofá, sentando-se e pegando um de seus esboços – Isso aqui é muito bom – elogiou. Era o plano de um jardim.
Se James fosse realmente decorar alguma parte da casa, seria essa. Não por orgulho próprio, mas em memória da mãe. Ela adorava plantas de todo o tipo e sua maior infelicidade fora morrer sem antes terminar de arrumar seu jardim. E antes de ver o filho casado com uma boa moça.
- Obrigada – ela agradeceu, ajeitando o coque mal feito em seus cabelos. Estava mais bonita do que a memória de James conseguia se lembrar – Peter pediu que eu refizesse. Achou muito simples.
- Eu acho perfeito – olhou de modo insinuante para seu decote – Reluto muito em redecorar minha casa, mas podemos fechar um contrato com esse jardim.
O contrato!, pensou Lily, despertando do transe que entrara desde que viu James colocando suas coisas no sofá. Estava fabuloso em um terno social que não escondia os músculos que Lily sabia muito bem que existiam. Precisava se controlar e trabalhar. Não podia pensar em sexo toda vez que conversava com esse homem!
Ou podia?
- Ainda que eu confesse que seria uma pena mudar a decoração dessa casa – falou, sorrindo – O contrato com Peter é muito lucrativo para minha empresa.
- Eu seria capaz de dobrar o contrato, Lily – seus olhos brilharam – Para você cancelar com ele e fechar comigo.
Era um acordo duplamente tentador. Isso se não levasse em conta o terrível duplo sentindo nas palavras dele.
- E porque eu faria isso? – ergueu as sobrancelhas.
- Por prazer – sorriu torto – Em mudar completamente o estilo de vida. O da minha casa, pelo menos.
James se sentou em frente a ela, no tapete. Algo em seu cérebro alertava ‘perigo’ sem parar, mas a ruiva resolveu ignorar. Afinal, que mal há em sentar-se assim com seu futuro cliente? Oh, só de pensar que ela não precisaria mais trabalhar com Peter e aceita fechara um contrato melhor ainda...! Parecia bom demais para ser verdade.
- E onde entra Peter nessa história? – perguntou – Acredito que ele não vai ficar muito satisfeito com essa mudança de planos.
James chegou mais perto.
- É o que eu e você queremos – chegou mais perto. Lily ofegou, hipnotizada por sua boca perfeita – E, de qualquer modo, Peter está de mudança.
- O que quer dizer com isso? – falou baixo.
- Peter vai sair da minha vida, Lily – James chegou ainda mais perto. Seus narizes se encostavam – Desde que lhe vi, e não parece ter sido somente há dois dias, minha vida virou de cabeça pra baixo. Não consigo tirar você do pensamento.
- Ah – engoliu em seco. Como o desejava! Por dentro, seu corpo dançava uma animada conga. Ele daria o fora em Peter! Queria ficar com ela! Era bom demais para ser verdade – E por quê?
- Porque estou apaixonado por você – beijou-a.
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n/a: Querem o último capítulo? Já está pronto. Comentem!
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