Capítulo três



Capítulo três


James se ergueu ao ouvir o nome do homem com quem deveria dividir a cama. A noite passada fora um horror, e James sabia muito bem que Peter estava chateado. Assim que se deitara para dormir, James se levantara. Não conseguia relaxar na mesma cama que aquele homem, era impossível. Tivera que dormir no quarto de hóspedes, deixando Peter magoado em sua cama enquanto se revirara em outra pela mulher que, pela segunda vez em menos de 24 horas, lhe fizera perder a cabeça.


- Lily, querida! – Peter se lançou contra ela, afastando o braço de James com delicadeza. James praguejou, surpreendendo a si mesmo por desejar que Peter ainda estivesse chateado demais para falar. Porque ele tinha que aparecer naquela hora? Céus. – James não lhe enlouqueceu, não? Ele pode se muito avarento às vezes, querida! Reclamou muito pelo preço, amor?


James corou enquanto Lily levantava as sobrancelhas atrás de Peter. Inferno, ele queria atirar a cabeça daquele homem na primeira lata de lixo que achasse aberta.


- James foi absolutamente encantador – Lily sorriu torto de sua piada já não mais tão interna assim. – Mas não esteve muito interessado nos detalhes... Talvez você queira me ligar mais tarde para acertar isso. Entreguei ao seu marido a pasta com todos os meus desenhos e esboços para o lugar.


- Oh, ele deve ter passado o almoço inteiro falando daquela adega infernal – Peter riu, ignorando a face rosada de sua decoradora. – Já vai mesmo, querida?


- Ah, sim – Lily abriu, finalmente, a porta do carro – Estou atrasada. Tenho um encontro com outro cliente. – Tenham uma excelente tarde.


Finalmente estava longe dali! Lily não tinha a menor ideia se poderia resistir a um novo embate com James Potter. E pensar que quase agarrara aquele homem no meio da rua! Estava louca, só podia estar louca. Mas as sensações daquelas mãos grandes em seu corpo ainda eram vividas demais para que pudesse se esquecer facilmente.


De agora em diante ela se certificaria que James Potter estaria bem longe quando fosse se reunir com Peter. Definitivamente não resistiria a uma próxima vez.


- Porque está tão irritado, James? – perguntou Peter no carro.


Estavam indo para casa em velocidade considerável. James tinha que analisar uns processos, mas poderia fazer isso muito bem na tranquilidade do seu escritório particular, onde não seria constantemente atrapalhado pelos telefonemas de Peter querendo saber que horas ele chegaria. Sua irritação já havia atingido o máximo, ele podia passar essa experiência sem problemas.


- Não estou irritado – mentiu.


- Claro que está! – disse o outro, fechando a cara. Realmente queria entender o que fizera de errado. James estava tão rude. Seu colega no trabalho, Fábio, para quem contara como via seu relacionamento caminhar para uma crise, sugeriu que talvez ele tivesse outro... Será que James seria capaz de traí-lo? Oh, ele o amava tanto! – E não entendo o porquê! Quero que me diga, para que eu possa concertar! James, não percebe que assim vai acabar destruindo esse casamento?!


- Não estamos casados, Peter – resmungou o outro.


A última coisa que precisava era discutir a relação. Lembrou-se de como era fácil passar o tempo com Lily. Às duas vezes que se encontraram tinham sido extremamente proveitosas: quentes e provocativas, o tipo de encontro que ele jamais tivera com Peter. Ele não era capaz de provocar, somente de se entregar. James estava cansado, saturado de uma relação a muito desgastada. Isso teria sido antes ou depois de por os olhos naquela mulher absolutamente perfeita?


- Está vendo? Olhe o modo como está me tratando! Você não me diz uma palavra doce há meses! – reclamou, pondo as mãos nas têmporas – O que está acontecendo? Eu me esforço tanto para esse relacionamento dar certo! Eu faço tudo por você, corri feito um louco atrás de Lily Evans para deixar a casa mais a nossa cara e tudo o que você me faz é ser grosseiro! Eu não aguento mais!


- Ótimo! – disse James, saindo do carro e batendo a porta. Estava louco para entrar no escritório e esquecer-se do mundo. Isso se conseguisse tirar um par de coxas da cabeça – E se lembre que a única cara que quis colocar nessa casa foi a sua.


Batendo a porta do escritório atrás de si, James passou a mão pelos cabelos. Céus, qual o seu problema? Ele gostava de Peter, não gostava? O tolerava, pelo menos. Porque agora o único sentimento que nutria era o de repulsa? Queria vê-lo o mais longe possível, enquanto acenava um adeus distante enlaçando a cintura de Lily Evans.


Será que toda a essência de sua vida poderia ser mudada por causa de uma única mulher? E alguém, em nome de Deus, já ouvira dizer em ex-gay? Ele duvidava muito.


- Jay? – disse Peter, entrando no escritório. Droga, havia se esquecido de passar a chave!


- Peter, eu estou trabalhando – reclamou, apesar de não haver nenhum papel em sua mesa e do computador desligado.


- Só vim me desculpar – ele sempre fazia isso, em qualquer briga – Não quero que fique bravo comigo. Vai ver, quando a sauna estiver pronta, vamos relaxar muito e toda essa tensão vai estar esquecida.


- Que sauna? – perguntou, rude.


Não havia como evitar ser grosso com ele, por mais que tentasse. Peter sempre fazia as coisas que tinham a maior capacidade de deixar-lhe irritado. Como reagiria se James simplesmente se virasse agora e dissesse que acabou, que ele estava profundamente atraído pela decoradora que o próprio Peter contratara?


Um chilique, talvez.


- Pelo visto você não prestou a mínima atenção no que eu te disse ontem sobre meus planos da decoração – reclamou novamente. Peter simplesmente não conseguia se segurar. – Vamos transformar a adega em uma sauna! Não é uma maravilha?


Talvez por ter sido pronunciada de maneira tão alegre, James levou algum tempo para digerir a informação. Mas, quando finalmente entendeu, olhou para aquele homem com a aparência de um rato gordo e despelado demais. O que essa criatura tinha na cabeça, em nome de Deus? Transformar sua preciosa adega em uma sauna desgraçada? Ele só podia estar louco.


- O QUE? – rugiu James, dando inicio a uma longa discussão, ele tinha certeza.


Lily Evans se levantou pela quarta vez naquela noite. Não conseguia pregar os olhos. Por mais que tentasse, a imagem de James Potter não lhe saia da cabeça. Mas que inferno, iria enlouquecer em breve se continuasse dessa maneira. Porque aquele desgraçado do Peter a havia achado, para começo de conversa? Ou porque ele existia? Se soubesse quem ele era e que levava para cama o mesmo homem que Lily desejava, não tinha se esforçado tanto para encaixar aquela pobre alma em sua agenda lotada. Tinha outros milhares de clientes gays, não precisava de mais esse para lhe encher a paciência. Que inferno. Não tinha a menor ideia de como acabara em uma situação daquelas.


O telefone tocou, dando uma feliz razão para largar a televisão que acabara de ligar. Nunca tinha nada de interessante passando às três da manhã.


Aliás, quem ligava para a casa dos outros uma hora dessas?


- Alô? – disse no fone. Com certeza era Marlene, chegando de uma festa glamorosa e querendo lhe contar os detalhes do cara bonito – e hetero – com quem ficara.


- Pelo visto eu não sou o único sem conseguir dormir essa noite.


Lily reconheceria essa voz em qualquer lugar, mesmo sem sentir espasmos de desejo pela rouquidão da mesma. Oh, ódio.


- Como conseguiu meu telefone? – perguntou Lily.


- Peter praticamente fez um quadro com ele – ela se remexeu incomodamente. Desejava jamais ouvir esse nome novamente.


- O que quer comigo, James? – suspirou.


- Muitas coisas – respondeu, completamente sugestivo.


Como esse homem podia ser gay?


- Pare com isso, James, eu estou falando sério – mexeu nervosamente na camisola – Seu marido quase viu alguma coisa hoje!


Se ele tivesse visto, talvez os dois tivessem terminado. Droga, porque ela tinha que se meter e abrir o bocão quando o vira se aproximar?


- Pela última vez, Peter não é meu marido – Lily sorriu. Apostava que sabia muito bem a expressão que James estaria fazendo – Quero lhe encontrar.


- O quê? Agora? – exclamou, surpresa, esquecendo de negar toda e qualquer chance de se encontrar com um homem gay e comprometido às três da madrugada.


- Agora, em cinco minutos... você escolhe, Lilian – disse o moreno – Não consigo tirar você do pensamento, tentei de tudo! Então, se nos encontrarmos, talvez resolva. Não me diga que estava acordada por opção, eu não vou acreditar.


Por mais tentadora que fosse a proposta poderia parecer, Lily não se encontraria com James, nem agora e nem hora alguma. Poderia desejar esse homem como nunca desejara outro, mas não ia cair na cama com um gay casado, não mesmo.


- Me dê o seu endereço, Lily – pediu – Eu quero realmente te encontrar, não consigo tirar você da cabeça.


James respirou fundo. Talvez só estivesse fazendo isso por causa de quase uma garrafa inteira de vinho consumida noite adentro. Estava completamente fora de si, essa era a única justificativa a que se apegava enquanto ouvia a voz daquela mulher do outro lado do fone, uma crescente agitação em seu estômago. Havia virado novamente um adolescente, inexperiente e incapaz de segurar seus impulsos. Jamais em sua vida havia agido de tal maneira, sem nem ao menos pensar antes.


- Por favor – reforçou o pedido. Acabara de desistir de tentar entender suas reações frente Lily Evans.


- James, eu estou falando sério – disse Lily – Não vê a tremenda loucura que está me propondo? Homens como você simplesmente não ligam para mulheres como eu fazendo propostas indecentes para a madrugada. Custa entender isso?


- Custa o mesmo tanto de entender o que aconteceu na minha adega – rebateu.


Lily mordeu o lábio, seriamente tentada. Ele tinha um pouco de razão, ela queria encontrá-lo, acima de todas as coisas! Desejava isso terrivelmente. Mas não podia, era a coisa mais imoral de que já ouvira falar em toda a vida. Não se rebaixaria a tanto.


- Tenha uma boa noite, James – falou, contrariando os tremores de seu corpo – E, por favor, não volte a me procurar.


James desligou o telefone lentamente. Ela, com toda a certeza, havia tomado a melhor decisão. Se envolver com essa mulher – com uma mulher – agora seria um erro que o custaria muita coisa importante. Peter, por exemplo. Mas será que ele ainda se importava em perder isso? Duvida muito. Talvez fosse melhor terminar tudo antes que houvesse uma cena. Definitivamente, ele detestava cenas do tipo “volta pra mim”.


Droga, como se livraria de Peter?

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n/a: comentem! 

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