Capítulo dois
Capítulo dois
James passou as mãos pelo cabelo, ouvindo Peter falar animadamente com Lily. Queria, por tudo que era mais sagrado, subir e trazê-la a força, se necessário, de volta para lá e terminar o que havia começado. O que ele havia começado.
Abriu a primeira garrafa de vinho que viu em sua frente, pouco se importando se Peter ficaria chateado por ele não voltar. Só Deus sabe como ele conseguia ser implicante quando James se trancava na adega e se punha a beber. Mas seu corpo precisava disso, sua mente precisava ficar entorpecida ao ponto de esquecer aquela maldita ruiva e seu maldito perfume. Deus, qual o seu problema? Que diabos, ele era gay. Porque essa garota fizera seu corpo rugir de uma maneira totalmente heterossexual?
E, o mais importante, o que faria para tirar a imagem de seu corpo quase desnudo da mente?
Lily olhou para Peter não mais com simpatia. Queria arrancar sua cabeça com as unhas por tirar dela o único homem capaz de lhe dar uma satisfação sexual plena. Porque os mais bonitos tinham que ser gays? Ela não entendia.
- Então, mandarei meu assistente tirar as medidas exatas, Peter – sorriu, mas seus olhos estavam frios, desejando nada mais do que uma morte àquele homem – Dê meus comprimentos ao seu companheiro.
Seus comprimentos e algo mais, pensou.
- Oh obrigado, Lily, querida – falou, segurando sua mão nas dele – Não sei o que deu em James, sumir assim na adega! Ele teve um dia ruim, imagino, o chamei correndo do escritório quando você me telefonou dizendo que podia vir hoje.
- Compreendo – sorriu novamente. Ela compreendia perfeitamente, imensamente desejosa de compartilhar a adega com James Potter novamente – Então, até mais.
Respirando fundo, Lilian saiu daquela mansão onde desejava jamais ter entrado. Que inferno, aquele homem era tão quente! Seu corpo pedia – implorava – para que ela reclamasse por seu toque. Qualquer vestígio de juízo que por ora tivesse, ela tinha absoluta certeza que deixara em algum lugar daquela adega máscula.
Ligando o motor do carro, Lily disparou de volta a cidade, tentando esquecer as mil contradições que aquela tarde revelara ter sido.
Em algum lugar no fundo de seu cérebro, James interpretara o som de um carro dando partida e levando, muito provavelmente, a mulher com quem ele desejara compartilhar algo mais do que uns bons palpites sobre vinho. Sabia que, agora que Lily estava fora de casa, Peter logo viria ali ralhar até perder a voz por seu comportamento muito pouco refinado.
Os passos na escada não lhe frustraram. Daria todo seu bom vinho para Peter simplesmente calar a boca.
- James, que coisa ridícula foi essa? – abriu pesadamente a porta da adega onde havia sido traído por seu namorado e sua decoradora. Não que ele soubesse disso. – Eu fiquei com cara de idiota olhando para Lily Evans, esperando inutilmente que você saísse dessa maldita adega e fosse fazer sala pra moça. Sabe quanto eu tive que penar para que conseguisse um tempo na agenda dela? Faz ideia do quanto me esforcei para você vir e estragar tudo?
- Não estraguei nada, Peter - revirou os olhos, completamente mal humorado. Não estava bêbado ainda. Droga.
Peter levantou as sobrancelhas para o homem a sua frente. Sua camisa jazia jogada em algum lugar, uma garrafa de vinho quase vazia em suas mãos. Odiava quando James se comportava como o pai, como se fosse um machão inveterado que resolve todos os seus problemas numa competição de quem bebe mais.
- Porque está me chamando de “Peter”? – reclamou.
- Talvez porque seja esse o seu nome – disse James, rude – Agora vamos, não gosto quando você desce aqui, reclama demais. Nem minha mãe reclamava tanto assim.
- Ah, James, que grosseiro! – Peter falou, ajeitando o casaco nos ombros e sendo escoltado para fora por James – E sabe que gosto que me chame de “Pete”, é mais carinhoso. Porque você não pode ser carinhoso?
James passou as mãos pela barba mal feita, completamente exasperado. A última coisa que precisava hoje era uma discussão. Detestava os ataques de Peter, mais do que tudo no relacionamento.
- Hoje não, Peter, hoje não – reclamou – Vou me deitar, com licença.
Deixando o homenzinho para trás, James subiu as escadas que o levariam para seu quarto, completamente irritado. Daria tudo o que tinha para passar uma única noite com aquela mulher. Se ele não fosse gay, diria que ela era a mulher de seus sonhos.
Seu relacionamento com Peter era de longa data. Não que não houvesse paixão. Tinha, no começo. Peter o fazia rir, ficar com ele era tolerável no primeiro ano. Mas nos últimos meses beirava o insuportável. Passou a mão no rosto mais uma vez, sentindo nojo de si mesmo. Em quem havia se transformado? E porque diabos aquela mulher não saia de sua mente? Iria enlouquecer.
- O jantar está pronto – disse Peter, horas mais tarde, entrando no quarto e vendo James esparramado na cama. Torceu o nariz de desgosto, mas não disse nada – Liguei para Lily Evans pedindo desculpas – James levantou um pouco a cabeça – E ela disse que está tudo bem, que seria bom nós almoçarmos amanhã, ela levaria o orçamento.
- Certo – resmungou James. Peter raramente o arrastava para esses almoços, ele detestava. Mas a ideia de ver Lilian mais uma vez fazia seu estomago revirar de maneira sadia.
Pelo visto, uma tarde inteira tentando não pensar naquela mulher não havia dado certo. A mera menção de seu nome fazia seu corpo tremer de desejo.
- James, o que está havendo? – Peter se sentou na cama, as mãos no colo e uma imitação patética de uma mulher em crise – Você está tão diferente comigo, querido.
- Peter, eu estou cansado, só isso – ele se levantou – Se você não se importa, vou jantar, tomar um banho e dormir: estou exausto.
Se tivesse feito o que desejara mais cedo, estaria exausto de uma maneira muito melhor, suponha.
- Você não me beija mais – disse Peter de repente, fazendo-o parar na entrada da porta – Não me beija há semanas.
A simples ideia de beijá-lo, depois de ter devorado os lábios de Lilian, parecia no mínimo desgostosa.
- Esqueça isso, ok? – Sorriu-lhe. Era o máximo que podia exigir de si mesmo naquela ocasião – Só estou um pouco mal humorado.
Sorrindo, Peter saiu antes dele, pedindo que fizesse a barba antes do jantar. James respirou fundo mais uma vez, tentando organizar os pensamentos. Não se sentia tai vivo há anos. Que feitiço aquela bruxa lhe lançara?
- O que está me dizendo, Lily? – perguntou Marlene na outra linha.
Lilian Evans passara a pior noite de sua vida. Revirando-se de um lado a outro, pesando no infeliz toque de James Potter. Porque seu corpo não podia simplesmente se esquecer daquele incidente? O homem era pior do que casado, era gay, pelo amor de Deus! Porque então ela ficava ali, alimentando fantasias sexuais com um cara que certamente fizera amor a noite toda com um homem que lhe fazia lembrar um rato?
- Ele é gay, Lene, você ouviu perfeitamente – Lily penteou o cabelo com uma das mãos, arrumando-o em ondas naturais. Teria hoje um almoço de negócios com Peter. Sua sorte é que não tinha a menor possibilidade de ver Potter. Morreria se o visse. Ainda mais depois de uma noite inteira revirando por ele na cama e desejando ter revirado com ele.
- Se fosse totalmente gay, não teria agarrado você – disse Marlene – Pule em cima dele com uma lingerie vermelha, querida, e agarre o homem. É um desperdício um cara tão gostoso quanto você diz ter um namorado!
- Por falar no namorado dele, tenho que desligar – Lily passou seu perfume e retocou o batom. Almoçar com Peter exigia uma grande produção, afinal, ela estava interessada no homem que lhe dividia a cama. – Tenho um almoço de negócios com ele.
- James vai?
- Não, graças a Deus – disse a ruiva – Eu não usaria um vestido tão curto se ele estivesse lá.
James torceu as mãos nervosamente. Como um adolescente, mal coubera em si de animação e excitação quando Peter lhe pedira para vir ao almoço com a decoradora, por estar tão enrolado no trabalho. Ocasionalmente acontecia de Peter ter um paciente que fala demais na clinica de psicologia em que trabalhava. Deus sabia o quanto ele se dava bem com pacientes que falavam demais.
Achou que deveria telefonar para a moça e avisar quem realmente estaria lhe esperando no restaurante, mas mesmo que tivesse o número de seu celular, duvidava seriamente que ela poderia mandar um subordinado entregar o orçamento e discutir os últimos detalhes.
Um vento gelado percorreu o restaurante quando Lily entrara. Os seus olhos pousaram imediatamente em James, sentando em uma mesa ao fundo, a encarando com o mesmo fogo que tinha nos olhos na tarde anterior. Droga, Peter deveria estar no banheiro.
- Olá, Sr. Potter – disse educadamente, mestra em disfarçar o tremor de seu próprio corpo – Não o esperava aqui. Onde está Peter?
- Problemas no trabalho – murmurou com a mesma voz sensual que ela lembrava – Pediu que eu viesse. E você poderia me chamar de James, sabe.
James tomou um gole do vinho que pedira, apreciando as curvas da mulher que tanto desejara. Hoje suas pernas, as que ele tanto explorara na adega, estavam mais a mostra, emolduradas por um leve vestido estampado e solto, de um tecido que Peter comentava muito e ele sempre esquecia o nome.
Se não estivessem em um restaurante lotado, James a defloraria naquela mesa mesmo.
- Certo – respondeu Lily pausadamente – Então presumo que deva me reunir com você.
Não era uma pergunta, mas James assentiu mesmo assim, se levantando e puxando a cadeira para que ela se sentasse, em um gesto puramente galante. Seus dedos tocaram vagamente no ombro nu da moça e James corou levemente. Estava se comportando como um cafajeste barato, um conquistador. Ele não era assim!
- Vamos pedir algo antes de começar? – sugeriu ela – Talvez uma bebida?
Notou sua taça de vinho vazia, lembrando-se irresistivelmente da cena da adega.
- Claro – James sorriu de modo sedutor – Mais um vinho seria ótimo.
James notou a pele perfeita dela, clara e macia, como bem sabia. Seus olhos verdes eram do tom mais vivo da cor que já vira em toda a vida, um cabelo vermelho quase tão brilhante, caindo pelas costas em ondas naturais. Ela era uma mulher fascinante: o modo como mexia os dedos agilmente nos papeis, procurando o orçamento, como tirava uma mexa teimosa da frente dos olhos, como mordia os lábios de leve, sorrindo de lado por se lembrar de alguma piada interna... Queira tocá-la, liberar um pouco da enorme tensão que sentira desde que conhecera essa maldita mulher.
Lilian sorria por puro nervosismo. O homem a sua frente a observava com o mesmo desejo do dia anterior, o qual Lily tanto tentara apagar da mente. Ele é gay!, tentava se convencer de todo modo. Não iria para a cama com esse homem, não suportaria pensar onde ele colocara certas coisas antes dela! Era insuportável. Porque então se sentia tão atraída por ele? Hoje, com uma calça jeans escura e uma blusa branca colada, sem parecer nada gay, caso fosse essa a intenção. A única coisa que ela queria era levá-lo para um beco escuro e...
- Então, Sr. Potter...
- James – ele a interrompeu – E não acha que deveríamos conversar um pouco sobre o que quase aconteceu ontem na minha adega? – falou sem conseguir se controlar.
- Não – continuou como se não tivesse sido interrompida – Então, como pode ver, aqui está o orçamento. Ficou um pouco pesado, confesso, mas Peter disse que isso não seria problema, ele encomendou os melhores móveis e as melhores ferramentas de nosso catálogo.
James revirou os olhos. Peter geralmente fazia isso. Não se importava em gostar das coisas, somente em comprar as mais caras e extravagantes e depois comentar com suas clientes sobre o quão rico James era. Às vezes ele se perguntava se o namorado era psicólogo ou cabeleleiro.
- Tenho certeza de que apesar das extravagâncias de Peter – ele a olhou intensamente por cima da taça de vinho recém adquirida – Você fará um excelente trabalho.
- Peter não é extravagante – disse somente por cortesia. Concordava inteiramente com a extravagância daquele homem, ainda mais na hora de escolher seu parceiro – Então, o orçamento está aprovado?
James nem tocara no papel.
- Não me sinto a vontade em mudar a decoração de minha casa – disse levemente, numa inútil tentativa de trazer civilidade para a conversa. Ele ainda queria agarrá-la e possuí-la no meio de toda aquela gente – Gosto da decoração que meu pai deu a ela.
- É de muito bom gosto – disse Lily, sentindo uma animação estranha. Viu que sua barba estava exatamente igual ao dia anterior, senão maior, mais rude. Sentiu imediatamente a vontade de pressionar seu rosto ao dele – Mas porque redecorar se mostra tanto apreço pela original?
Lilian tomou um gole do próprio vinho, saboreando lentamente, aparentemente sem notar o olhar de cobiça que James lhe lançava. Adorava toda e qualquer possibilidade de ouvir que não estava mais interessado em Peter. Era terrível cobiçar o homem da próxima, mas fazer isso com o próximo talvez não fosse um pecado assim tão grande.
- Insistência de Peter – revirou os olhos. Pensando no quão gay deveria tão soado aos olhos dela, James completou – Não quero discutir, é estressante. Ele disse que levaria uma decoradora até lá, a melhor da cidade. Você.
Lily o olhou. James era, no mínimo, o preço por todos os seus pecados. O que mais queria era levá-lo para sua casa, não muito longe dali, e ter uma tarde inteira de sexo saudável e memorável. Porque ele tinha que ser tão bonito? Era o maior dos desperdícios da humanidade que ele jogasse no mesmo time que ela.
Mas será que jogava mesmo?
- James, o que aconteceu na sua adega – falou antes que pudesse se controlar. Não conseguia sequer lembrar-se do que Peter pedira na decoração olhando para os olhos castanho-esverdeados de James Potter. Era simplesmente impossível – Não quero que fique mal entendido, ok? Eu estou trabalhando para você, que é comprometido com um homem adorável – engoliu em seco.
James riu.
- Ora Lily, ninguém acha o Peter adorável – sorriu James de uma maneira cativante. Por tudo que é mais sagrado, como ela queria agarrá-lo ali mesmo! – Peter é irritante.
Ele estava conversando casualmente sobre seu relacionamento, como um gay bem resolvido, ou flertando com ela? Lily não fazia a menor ideia de como lidar com James.
- Isso não é relevante – ponderou – Vamos esquecer o infeliz incidente na adega e, finalmente, falar dos nossos negócios?
James chegou mais perto, sua mão quase tocando na dela. Pouco se importava se estavam em um local público ou se ele tinha um namorado. Desejava essa mulher como nunca desejou nenhum ser humano, homem ou mulher. Ele a teria, custe o que custar.
- Acontece, Lilian, que eu não vou esquecer esse infeliz incidente. Acredite – sorriu abertamente, causando suspiros nas mulheres da mesa ao lado, que pensavam em quanta sorte essa ruiva tinha – Eu tentei a noite toda e não deu certo. Então, podemos terminar logo com isso, ir para o seu apartamento e acabar de uma vez com essa história. Acredite, os seus olhos me dizem o quanto você me deseja, garota.
Lily ofegou. Desistira de tentar entender as reações que seu corpo tinha quando estava perto de James Potter.
- Sinto muito, mas isso não vai acontecer – murmurou, se levantando. – Nesse caso, eu ficaria grata se entregasse esses papéis ao seu marido. Ele vai saber o que fazer. Não temos a menos condição de continuar essa conversa.
James tivera menos de um minuto para pensar, deixando uma nota de cem na mesa e saindo do restaurante, sinalizando para o garçom. Sabia que era muito mais do que aquele vinho valia, mas pouco se importava com isso no momento. O perfume de Lilian deixava um rastro que era impossível não seguir. Não sabia que tipo de paixão alucinada essa mulher despertara nele, mas estava mais vulnerável do que lembrava ter sido.
Talvez tivesse sido direto demais. Toda aquela gente estava deixando-o alucinado. Os cabelos vermelhos dançavam a sua frente, enquanto seguia Lily pela rua, numa patética imitação de seus corpos na tarde anterior, tirando o pouco do juízo que ainda lhe restava.
- Pare – ele a puxou pelo braço, fazendo seus corpos se encostarem tamanha a força do gesto. – Não entre nesse carro. Não vou deixar você ir embora uma segunda vez.
- Pare você com essa situação ridícula, James – pediu Lily, o coração acelerado – Caso não se lembre, você é gay.
- Quem lhe disse isso? – perguntou, a boca se movendo muito perto da dela.
- Não seja ridículo – Lily revirou os olhos.
- Eu tenho um namorado, e isso não me satisfaz mais desde que pus os olhos no seu maldito corpo – disse, passando a barba mal feita em seu rosto alvo. A sensação fez Lily delirar, sentindo as coxas umedecidas. Que diabos! – Eu te quero.
- Não... não seja... ridículo – disse com menos convicção. Seu corpo mais do que respondia aos toques daquele homem.
- Entre nesse carro e me leve para sua casa – pediu James. – Você me quer. Nunca lhe disseram que transar com um gay garante à mulher o melhor sexo de sua vida? Eu sei exatamente o que você deseja.
Lily riu de suas palavras, ainda que as mãos de James estivessem em suas costas de uma maneira muito sugestiva. Uma senhora que passava com uma grande sacola os olhou absolutamente horrorizada. Lilian supunha o quão patética deveria estar parecendo aos olhos dos outros. Se arrumou um pouco, endireitando a postura, dando a entender que era somente uma conversa cordial onde ele lhe segurava o pulso muito forte.
- Não tinha me dito agora mesmo que não era gay? – Lily sorriu.
- Uso o termo com liberdade – piscou maliciosamente.
Mas a visão de um corpo robusto não muito longe dali fez, novamente, Lily Evans ter a sensação de um balde de água fria percorrendo seu corpo. Aparentemente, Peter não estava tão enrolado assim no trabalho. Será que James mentira para ficar a sós com ela? E porque essa hipótese só a fazia ficar ainda mais excitada?
- Oh, obrigada, James! – falou de modo artificial, aumentando a voz e fazendo James erguer as sobrancelhas - Acho que torci o pé com esse maldito salto. Ah, olá, Peter! Que pena que perdeu nosso almoço.
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n/a: capítulo dois online. Comentem.
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