Pacto.



“Nunca ninguém está ali para morrer, para estar em silêncio, para não procurar, para não amar, não se arrepender e não dormir. Nunca e de nenhuma parte ninguém deve ser deixado”.


(T.A.T.U)


 


- Muito esperta, sangue-ruim – ouvi a porta ser aberta e meu sangue congelou – Mas não a ponto de enganar Draco Malfoy. – disse entrando na sala e fechado a porta. Merda, eu estava morta.


 


Capítulo IV: Pacto.


 


A sala estava escura, iluminada apenas pela varinha de Malfoy. Ao que me parecia era uma antiga sala de monitoria, pois havia apenas uma mesa e uma cadeira. Uma estante vazia e quadros igualmente vazios.


Meu coração batia acelerado e meu estomago estava embrulhado, Malfoy me analisava com um sorriso sacana no rosto e até mesmo assustador. Seus olhos azuis acinzentados me observavam com raiva e nojo. Eu sabia que boa coisa não sairia dali. Tateei minhas vestes em busca de minha varinha, mas não a encontrei, arregalei os olhos ao perceber que estava sozinha e trancada com Malfoy em uma sala escura e vazia. Sim Hermione, você havia se metido em uma encrenca. E das grandes.


Engoli em seco.


- Procurando por isso, Granger? – enfim Malfoy se manifestara. Sua voz era arrastada e debochada. Olhei para sua mão esquerda e lá estava minha varinha.


- Ãh, é. – tentei reproduzir algum som a mais, mas minha voz saíra tão falha e insegura que desisti ao invés de falar apenas afirmei com a cabeça.


- Que pena, pois não vai tê-la tão cedo – e com um giro rápido trancou todas as portas e janelas. Com a minha varinha. – Sabe Granger, com toda essa suposta inteligência, imaginei que faria algo bem mais criativo para tentar chegar a mim, mas parece que superestimei o teu cérebro de sangue-ruim. – Raios, onde aquela coisa loira estava tentando chegar? Enquanto balançava minha varinha despreocupado na altura do rosto olhava fixamente para mim. O que não era comum para Malfoy, já que sempre fora um covarde que se escondia nas sombras do papai.


- Me deixe sair Malfoy! – falei sem pensar e minha voz saiu trêmula, o que o fez soltar uma risada fraca – Não me faça acertar sua cara mais uma vez – tentei soar confiante e ameaçadora sem obter sucesso.


- Você só conseguiu chegar perto de mim aquela vez porque eu estava distraído, sangue-ruim! – guardou minha varinha do bolso. Tive a impressão de que dali não sairia tão cedo – E você está em desvantagem Granger, eu poderia acabar contigo aqui mesmo que ninguém daria falta. Talvez o Santo Potter ou o pobretão. Ou nem eles.


- Pelo menos alguém se importa comigo – respondi mal educada, sabia que só estava piorando as coisas para meu lado, mas não iria deixar Malfoy me vencer. – Aliás, como vai seu pai, Malfoy? – ri de leve. Seus olhos ficaram sombrios e adquiriram um brilho assassino – Soube que estavam precisando de uma Barbie para os dementadores brincar por lá.


- Como ousa mencionar o nome de meu pai com essa boca suja? – Me encolhi imediatamente ao vê-lo aproximar-se e jogar longe a cadeira que estava em seu caminho – Escuta Granger, você está em maus lençóis aqui. Eu posso te dar uma lição aqui mesmo e jogá-la no terceiro andar para servir de alimento ao animal bizarro do gigante bizarro ou eu posso te dedurar à velha Mcgonagal que você andou me espionando e fez uma poção assumindo a identidade de outra aluna para entrar na Sonserina. Sua vida está literalmente em minhas mãos.


- E eu posso contar à professora sobre o ataque à Toca e sobre sua aliança com o Lord das trevas. Pense Malfoy, se abrisse minha boca você acabaria em Azkaban junto ao seu papai. – empinei o nariz e mostrei toda a confiança que estava procurando desde o momento que fui trancada naquela sala fedida com a coisa loira. Malfoy fez uma cara indecifrável franzindo o cenho, acompanhei toda cena sem desviar o olhar aguardando um avada kedavra ou qualquer coisa pior, como um sorriso irônico. Foi exatamente o que ele fez.


- E como você poderia provar tudo isso, hein sangue-ruim? – deu passos lentos e compridos em minha direção, a adrenalina corria por minhas veias a cada passo até que ficou parado. Há dez centímetros do meu rosto. Eu já conseguia sentir o calor de sua pele branca e sem vida – Até onde sei, mortos não podem falar – dizendo isso Malfoy me empurrou com força para trás me fazendo bater a cabeça na parede gelada e ficando tonta. Entrei em pânico e tentei gritar, mas ele foi mais rápido tapando minha boca com sua mão enquanto tirava uma varinha do bolso. Não pude distinguir de quem era já que na mesma hora com um só movimento sua mão passou ao meu pescoço apertando-o. – O que pretende fazer agora Granger? Pedir ajuda do Pottinho? Ah não, ele não está aqui para te ajudar. Ninguém está. Você morrerá aqui sozinha e jogarei seu cadáver ao cão-mostro. Esse é o fim merecido para uma sangue-ruim – apertou meu pescoço mais forte. Podia sentir lágrimas invadir meus olhos enquanto lutava para respirar. Malfoy era um assassino e todos nós sabíamos, mas nunca pensei que chegasse a esse ponto. Tentei falar algo pensando que talvez o fizesse mudar de ideia, mas minha voz não saiu, comecei a agonizar à medida que seus dedos fechavam ao redor de meu pescoço. Então aquele era meu fim? Tudo que já havia acontecido na minha vida começou a girar em torno de mim e minhas lágrimas antes sem motivos aparentes a não ser o sufoco se transformaram em lágrimas de tristeza e saudade.


- Suas últimas palavras, sangue-ruim? – ouvi Malfoy falar, mas tudo parecia distante demais, como se estivesse com sono e lutasse para manter-me acordada. A única diferença é que quando você está com sono não tem alguém querendo quebrar seu pescoço. Sua voz parecia um sussurro, ou apenas um eco há milhas de distância, com toda a pouca força que ainda me restava puxei ar o suficiente para uma única palavra.


- Assassino! – foi apenas um cochicho lento, eu não sentia raiva ou qualquer tipo de sentimento negativo por Malfoy. Talvez pena fosse a palavra certa, apesar de ser eu quem estava à beira da morte. Com aquela última palavra fechei os olhos esperando-o quebrar meu pescoço ou me lançar uma maldição.


Mas nenhuma das duas coisas aconteceu.


Malfoy me largou imediatamente de forma brusca me fazendo despencar e cair de joelhos no chão quase desacordada, eu não sentia mais meu corpo e meu pescoço latejava. Tinha certeza que se olhasse mais tarde para ele, teria uma bela marca vermelha. Puxei o ar que meus pulmões estavam tanto clamando, os sentia em brasa - como se tivesse caído dentro da água e mergulhado tão fundo que não conseguiria voltar à superfície.  Respirei fundo até minha respiração se tornar regular novamente e então – ainda de joelhos – olhei para cima, Malfoy ainda estava ali e parecia congelado. Seu rosto imóvel e os olhos arregalados e escuros me olhando fixamente. Franzi o cenho com receio esperando que ele apontasse a varinha e me matasse a qualquer segundo, mas isso não aconteceu.


- Eu não sou um assassino! – Sua voz era fraca e triste. – Eu não quero ser um assassino! Eu não quero, eu não quero, eu não quero – falava repetitivamente mais para si mesmo do que para mim levando as mãos à cabeça.


Aproveitei seu momento de insanidade para me recompor e levantar sem chamar muita atenção. Ao fitá-lo mais de perto pude perceber que seu estado não era dos melhores; o rosto branco estava cheio de pequenas bolsas abaixo dos olhos denunciando várias noites sem dormir e com uma pequena cicatriz perto do queixo, quase imperceptível para quem estivesse longe, suas vestes sempre perfeitas e limpas estavam postas de qualquer jeito parecendo que o garoto não chegava perto de um ferro de passar roupa ou de um espelho há um bom tempo e os fios de cabelo loiro e normalmente bem penteados estavam desalinhados e sem vida, caiam-lhe na face teimosos e compridos. Malfoy estava um caco.


- Eu não, eu não sou! – repetiu mais uma vez antes de cair jogando as duas varinhas longe. A coisa loira estava totalmente insana e eu estava com muito medo do que poderia acontecer se continuasse ali. Em passos silenciosos fui até minha varinha e a guardei no bolso, me certificando de que não sairia mais dali e rumei à porta.


- Pode ir correndo contar ao velhote o que aconteceu Granger, pode ser que assim acabem com essa tortura rápido – sua voz amargurada saia ainda mais fraca a cada palavra. Parei imediatamente ao ouvi-lo virei em sua direção.


- Malfoy...


- Não precisa ter pena de mim Granger! – seu ódio era visível – Não quero a compaixão de um ser tão desprezível quanto você. Vá embora. – disse virando-se de costas. Eu estava pronta para sair correndo, chegar ao salão comunal e contar a Harry o que havia acontecido e denunciar Malfoy ao diretor, tendo assim mais uma arma contra você-sabe-quem. Infelizmente mais uma vez meu corpo reagiu contrariamente às informações enviadas por meu cérebro. Fiquei plantada a ponto de criar raízes na sala escura observando Malfoy encolhido virado de costas parecendo um débil mental.


Senti minhas pernas caminharem em sua direção me castigando profundamente por isso, parece que meu pequeno cérebro não havia se recuperado do choque, pois estava perdendo completamente a noção do perigo ao chegar perto demais da coisa loira.


- Vá embora sangue-ruim! – disse ríspido.


- Não – falei firme me castigando por isso. Por que eu estava agindo daquela maneira?


- Você perdeu a noção do perigo Granger – soltou uma risada fraca – Se eu quiser posso te matar a qualquer minuto.


- Malfoy, se quisesse me matar já o teria feito antes – suspirei – Além disso, está desarmado.


- Você não entende Granger – disse olhando um ponto fixo na parede parecendo estar pensativo. Pisquei confusa. Talvez fosse por nunca ter visto a criatura vulnerável –  Ninguém entende. Eu não quero ser como ele!


- Ele quem? – me atrevi a perguntar esperando que fosse malcriado e me ofendesse como sempre.


- Meu pai – ouvi sua voz agora tremula embargar. Minhas palmas novamente começaram a suar frio antes de ouvir sua voz arrastada – Eu não sou esse monstro que você pensa Granger.


- Malfoy eu n...


- Não Granger! Não tenta me fazer sentir melhor, eu não sou o Santo Potter ou o pobretão. Diferente deles, as coisas nunca acabam bem para mim. – suspirou derrotado – Então nem pense em me julgar Granger, ninguém sabe o que se passa na minha vida por trás deste rosto bonito. – Ah, modesto como sempre – Você não sabe o que é ser ameaçado e perder quem ama. – Não sabia o que falar ou fazer, aquele Malfoy era completamente diferente do que estava acostumada a ver durante todos esses anos. Aquele ser metido, cruel e arrogante definitivamente não era quem estava na minha frente naquele momento e eu não saberia dizer se estava gostando daquilo.


- Eu sei como está sentindo Malfoy...


- NÃO! NÃO SABE! – levantou a voz agressivo, respirei fundo tentando manter a calma.


- Acho que você não sabe o que eu sinto Malfoy – eu não acreditava no que estava fazendo; estava compartilhando minha maior angustia com meu maior inimigo – depois de você-sabe-quem – sabendo que ele poderia usar minha fraqueza contra mim mais tarde – Meus pais estão desaparecidos; estou completamente sozinha; meus amigos pensam que estou enlouquecendo e acho que isso está acontecendo mesmo; há pouco quase fui morta e ninguém pode me ajudar a encontrar o meu único porto porque todos crêem que estão mortos! – tentei segurar uma lágrima sem sucesso, Malfoy me encarou por um longo tempo e então riu amargurado mais uma vez.


- Seus problemas são simples Granger – foram as únicas palavras que saíram de sua boca.


- Você sabe onde meus pais estão – falei automaticamente. Havia planejado aquele momento há tanto tempo, havia pensado em diversas maneiras de encurralar Malfoy e obrigá-lo a me contar o que sabia, mas tudo saíra tão diferente do planejado que já não sabia como tocaria no assunto.


- Não sei – respondeu olhando para baixo – Eles não me dizem nada Granger. – Eu sabia que eles eram os comensais e até o próprio Lord deles e pela primeira vez na minha vida, acreditei em Malfoy. E então mais uma vez me surpreendi – Mas posso descobrir.


Sorri. Não pude evitar. Não sabia ao certo a razão. Talvez fosse por ter uma chance – por mínima que fosse – de encontrar meus pais após tanto tempo aflita e angustiada ou pelo fato de pela primeira vez alguém me oferecer ajuda, mesmo que este alguém fosse Draco Malfoy. Não sei por quanto tempo continuei sorrindo e o loiro me encarando então como meu sorriso se fez, se desfez rapidamente.


- Mas você quer algo em troca – respondi.


- Quero – Claro que queria! Um Malfoy nunca ajuda outra pessoa sem receber algo em troca – talvez Sebastian não o faça. Levantei a cabeça e fitei os olhos azuis acinzentados. Estavam vermelhos, indícios de que estava chorando. Ou segurando as lágrimas. Porém havia algo diferente naquele olhar tão sombrio. Eu não poderia decodificar aquilo por mais que tentasse. Era diferente de qualquer expressão que Malfoy havia feito ao passar dos anos. Era diferente do que ele tentava esconder por tanto tempo. E era diferente de tudo o que havia visto.


Seus olhos assumiram um tom azul, azul intenso, como o céu fica só depois de uma grande tempestade. E brilhava. Mas não era aquele brilho raivoso como quando brigava com Harry e até comigo, ou aquele brilho malicioso que exalava quando estava me olhando na pele de Katherina.


- Eu preciso de ajuda – disse me tirando de meus pensamentos.


- Eu já havia percebido – respondi sem pensar, fazendo-o revirar os olhos.


- Granger, guarde suas ironias para seus amiguinhos sujos – o velho Malfoy voltou em um passe de mágica.


- Ora sua doninha oxigenada!


- Quer seus pais de volta ou não? – foi rude.


- Quero – baixei os olhos me sentindo culpada.


- Eu preciso fazer algo para eles... É uma missão, pelo que fui informado. E é arriscado. – engoli em seco. Eles. Voldemort queria algo de Malfoy e eu estava com medo de descobrir o que era. – É uma invasão.


- Como?


- Uma invasão. Em Hogwarts. – disse por fim. Meu coração acelerou e arregalei os olhos. Minha expressão fora de completo pavor pelo que pude notar. Malfoy continuava imóvel me encarando, esperando uma resposta. Uma resposta que não conseguia reproduzir. – Me ajude a encontrar um meio de invadir a escola e eu trago seus pais a salvo.


Meus pais a salvo.


Aquelas palavras haviam soado tão bem em meus ouvidos que por um breve momento me desconectei do mundo e voltei ao último momento em que estive com meus pais. Foi pouco antes de voltar das férias de natal em Hogwarts, eu abanava pela janela do expresso alegremente para eles prometendo notas impecáveis nos N.O.Ms quando voltasse novamente. Então quando voltei tive a notícia que eles haviam desaparecido.


- Então Granger?


-Eu aceito.


 


 


 


 


N/A: Capítulo pequeno, eu sei. Devo confessar que terminei de escrevê-lo com muito esforço já que estou enfrentado um bloqueio criativo do caramba.


Acredito que tenha ficado no mínimo razoável, mesmo com tantas palavras repetidas e alguns erros, mas me perdoem por isso, mal tenho tempo para respirar! Creio que esse capítulo tenha molhado o bico de vocês para os próximos acontecimentos e o desenrolar da fic. 
Muito obrigada pelos comentários e pelo carinho :D 


Espero que tenham curtido e que não desistam da fic.

Beijo, Luiza.

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