Adeus, dignidade.



- Então Granger?


-Eu aceito.


 


Capítulo V:


Palavras.  Muitas vezes não tem significado algum, são ditas da boca para fora e sem pensar. Palavras magoam, palavras podem ser mentirosas, palavras podem demonstrar sentimentos, palavras podem mudar o destino de alguém e até mesmo salvar vidas. Palavras são poderosas. E depois de uma palavra ser dita, não há como voltar atrás. E se me pedissem um conselho, a única coisa que teria a dizer é: Tomem cuidado com o que dizem.


Meu nome é Hermione Jane Granger e estou condenada a queimar no fogo ardente do inferno por toda a eternidade. Merlin deveria estar rogando uma praga em mim naquele momento. Por quê? Vocês realmente querem saber o que fiz de tão errado para receber um castigo divino? É muito simples: eu apenas entreguei a vida de milhares de pessoas (incluindo a minha própria) nas mãos de nada mais nada menos do Lord das trevas.


Ok. Isso não explica tudo e antes que pensem, não, eu não fui para o lado negro da guerra. Eu apenas entrei em pânico, tive um desvio de sanidade, bati a cabeça ou simplesmente preciso tirar férias no St Mungus. Eu fiz a escolha mais errada e egoísta de toda minha vida, eu agi por impulso e desespero. Mas quando se tem uma pequena – por mínima que fosse – chance de salvar aqueles que tu ama, de repente ajudar o lado das trevas a invadir o lugar considerado mais seguro perante uma futura guerra sabendo que teria graves danos e formar uma aliança com aquele que sempre te odiou e vice-versa não era tão terrível assim. Certo? Errado.


Naquele breve momento de desespero eu senti como se estivesse segurando em meus ombros todo peso do mundo. No que havia me tornado? Senti-me tão suja quanto um rato correndo nas curvas imundas de um esgoto, tão covarde quanto um. Uma cobra certamente passaria vergonha comparada ao meu bote e minha consciência jamais me perdoaria ou me deixaria esquecer. Eu havia vendido minha alma ao diabo. E esse diabo atendia pelo nome de Draco Malfoy.


Malfoy me fitou em silêncio por breves segundos, sua expressão era dura e impenetrável como se o loiro apavorado que havia me mostrado suas fraquezas há poucos minutos nunca tivesse se manifestado. Os fiapos de luz que entravam pela janela faziam os olhos de Malfoy parecer ainda mais assustadores. Engoli em seco pela centésima vez naquele dia.


- Sabe Granger, para uma grifinória está se saindo uma bela sonserina. – falou ele com a voz arrastada de sempre – Eu pensei que os idiotas da grifinória eram mais leais e não abriam mão de seus escrúpulos tão fácil assim.


Abri a boca para contestar, mas Malfoy colocou a mão nos próprios lábios me fazendo calar.


- Mas eu entendo Granger, entendo perfeitamente. E com isso talvez você também entenda como eu me sinto todos os dias desde que entrei nessa escola maldita. Você acha que pode ser uma pessoa boa, você pensa que eles não podem te machucar se você for forte, você acha que sabe tudo. Até eles tirarem algo valioso de você. Então você se torna tão vulnerável quanto um rato num ninho de cobras. Você sucumbe aos seus medos e  a dor de perder alguém e então finalmente abre mão dos seu princípios e da sua humanidade para ter quem você ama novamente. É, Granger, é exatamente assim que me sinto. É esse o fardo que carrego durante toda a minha vida, sem ter um momento sequer de paz interior. Eu sinto medo Granger, eu sinto dor e aflição. Eu também sou um ser humano, mesmo não parecendo na maioria das vezes.


- Nossa Malfoy, eu...


- Não, Granger. Não sinta pena de mim. Eu não suporto pensar que alguém nutra qualquer tipo de sentimento por mim. Muito menos você. Se vamos conviver é bom saber disso, fale comigo apenas o necessário e esqueça qualquer tentativa de me ajudar. Eu sou um caso perdido Granger, sou apenas uma sombra nesse mundo e nunca sairei do meio em que estou agora. Meu caminho é as trevas, morrerei no meio delas e não há nada que possa fazer.


Fiquei quieta processando os acontecimentos. Eu odiava admitir, mas Malfoy também tinha sentimentos, passou a vida inteira com medo do pai e era submetido a trocas e responsabilidades cedo demais. Eu o odiei por tanto tempo sem ao menos tentar entender o que se passava em sua mente perturbada. Malfoy não sabia o que era ser amado por alguém, não sabia o que era ter uma família ao seu lado e amigos dispostos a arriscar suas vidas por ele. No fundo, Draco Malfoy não passava de uma criança crescida que precisava de colo.


- Não, Granger, eu não preciso de colo. – respondeu ele me encarando firmemente e senti meu sangue congelar. Malfoy era legilimente? A ideia dele poder vasculhar cada pedacinho da minha mente me deixava alarmada. – Sim, eu posso ler seus pensamentos. E seus sentimentos também. Mas não precisa se preocupar, sua mente é confusa demais para que eu consiga encontrar algo decente.


- Ora Malfoy...


- Se vamos trabalhar juntos, não devemos brigar por mais que isso pareça impossível. E precisamos manter a discrição. Não devemos ser vistos juntos e nem eu quero que vejam. Pensarei em uma forma de nos comunicarmos – falou ele levantando, fiquei esperando que ele me desse a mão para que levantasse também, mas não o fez. Só porque éramos cúmplices um do outro, não significava que poderíamos ser amigos.


- E sem jogo sujo, Malfoy – respondi levantando também. Ele deu os ombros.


- Boa sorte Granger, você vai precisar de muita. – E com essas palavras ele devolveu-me a varinha e saiu da sala.


Fiquei observando aquela figura loira sumir ao fim do recinto e tentei me recompor. Se antes alguém me dissesse que eu formaria uma aliança com aquela doninha descarada acho que iria jogar algum tipo de feitiço na pessoa. Eu era uma traidora devido aos acontecimentos e meus impulsos e Malfoy era um traidor por natureza, seríamos uma bela dupla, sem dúvida alguma. Mas será que dois traidores não poderiam trair um ao outro a qualquer minuto?


E se ao sair dali ele fosse atrás do Lord das Trevas e armar uma emboscada para mim? Ou será que ele pensava que eu iria atrás de Dumbledore contar tudo que acontecera nesta pequena sala? Cheguei à conclusão de que ambos estávamos na mesma canoa furada, teríamos que confiar cegamente um no outro se quiséssemos sair dessa.


-


Amanheceu.


Abri meus olhos devagar e olhei para os lados; todas as garotas ainda dormiam profundamente. Tentei dormir mais uma vez sem obter sucesso, virava para um lado e para o outro, tapava a cabeça com o travesseiro e ficava contando as manchinhas na cortina de minha cama. Revirei os olhos e decidi levantar.


Arrastei-me até o banheiro e tomei um banho não muito demorado, deixei a água escorrer enquanto ficava de olhos fechados pensando no que havia acontecido na noite passada, me sentia suja por mais que a água morna caísse sob meu corpo, como se pela primeira vez os meus arrependimentos e tristezas não fossem ralo abaixo.


Sai do banho e me enrolei em uma toalha branca e fofa com um H bordado no lado direito, que minha avó havia feito antes de eu ir para a casa dos Weasley, suspirei só de pensar que ela fora enfeitiçada para pensar que nunca tivera minha mãe, pelo menos enquanto ela estivesse desaparecida.


Respirei fundo e finalmente criei coragem para me olhar no espelho. Encarei meus olhos castanhos e não soube exatamente o que eles expressavam. Aflição? Tristeza? Fraqueza? Vulnerabilidade? Não, era algo mais. Algo que talvez nem o melhor dos legilimentes pudesse desvendar.


Meu rosto estava pálido, sem cor alguma ou expressão, havia olheiras profundas que denunciavam minhas noites em claro, minha boca estava seca – dava a impressão de que meus lábios rasgariam se eu tentasse sorrir – e mesmo sem eu perceber, estava com a testa franzida, provavelmente andava sempre assim ultimamente. Eu era uma garota sem qualquer tipo de atrativo físico, isso muita gente havia deixado claro, mas eu estava em ruínas. E o pior: não me importava. Não estava nem aí se parecia um zumbi andando, tampouco com os comentários das pessoas que passavam por mim pelos corredores do castelo, eu até preferia que todos eles esquecessem minha existência e me deixassem vagar por aí como um daqueles fantasmas esquecidos pelos alunos porque não representavam alguma casa.  Assim como Malfoy, não queria a preocupação ou compaixão de ninguém. Acho que no fundo, eu e ele éramos exatamente iguais, não passávamos de covardes ordinários.


Olhei no espelho mais uma vez e concluí: eu havia me tornado o monstro que sempre temi. E algo que também sempre julgara, mas agora já era tarde demais. Eu iria arcar com as consequências mais tarde, mas não sem antes resgatar meus pais.


 


A primeira aula da manhã era com o Snape Ranhoso. Entrei a passos lentos naquela masmorra que fedia à mofo e rumei às classes da frente, como de costume. Harry e Rony estavam sentados há 2 metros de distância, acho que haviam entendido meu recado finalmente.


Passei reto por todos, principalmente pelos alunos da sonserina que insistiam em fazer piadinhas e acertar pedaços de pergaminhos na minha cabeça. Ignorei como de costume e sentei sozinha. Notei que todos os grifinórios me analisavam, até Neville que costumava ser minha dupla estava sentado ao lado de uma sonserina ruiva. Não me senti incomodada, pelo contrário, estava aliviada por não precisar trocar palavras ou sorrisos falsos com alguém.


Snape entrou na sala sério e com sua capa de batman voando enquanto caminhava. Como de costume sentou em sua cadeira e encarou um por um de nós. A maioria tinha medo de seus olhos – e nariz – gigantes olhando firmemente como se pudessem ler nossos pensamentos mais insanos.


Ouvi a porta da sala abrindo e passos ecoando pelo chão úmido e gelado, Snape torceu o nariz e fez uma cara de reprovação, pela sua expressão pensei que fosse algum grifinório atrasado, mas tamanha foi minha surpresa quando o ouvi esbravejar “Sr Malfoy, está atrasado. Menos cinco pontos para Sonserina”.


Malfoy apenas balançou a cabeça e sentou no único lugar disponível em toda sala: ao lado do meu. Suei frio e engoli em seco, os acontecimentos da noite anterior vieram à tona e comecei a tremer. Não consegui encarar Malfoy com vergonha de algum comentário sobre a noite anterior.


Snape mandou fazermos uma poção cujo nome não lembro, pois como de costume estava com a cabeça nas nuvens, só acordei quando Malfoy falara comigo rudemente a respeito dos ingredientes da mistura.


- Granger, eu preciso que vocês rale essas raízes.


- Como? – perguntei dispersa.


- Pega o ralador, passe as raízes nele até virarem pó. Simples. – respondeu sem paciência. Sem contestar peguei o ralador e comecei a fazer meu trabalho enquanto Malfoy fazia qualquer outra coisa.


Joguei o ralador longe ao sentir que havia cortado meu dedo, o sangue começou a se espalhar pela minha mão enquanto todos me encaravam na sala de aula e Snape e Malfoy gritavam alguma coisa em meus ouvidos.


- Você não sabe fazer nada direito mesmo, Granger! – urrou Malfoy ao meu lado. - Você manchou as raízes e agora vamos ter que começar do zero, sua sangue-ruim. – Ouvi Harry soltar um muxoxo no fundo da sala de aula e xingar o loiro aguado de alguma coisa, o que acarretou em uma discussão dos dois no meio da sala de aula. Snape continuava gritando freneticamente tentando retomar o controle, sem sucesso já que todos ali estavam mais interessados na briga de Harry e Draco. Por que eu não estava conseguindo escutar tudo perfeitamente? Ou enxergar algo a mais que meros vultos na masmorra? Senti um gosto desagradável na boca e o sangue manchando a manga de meu uniforme, passei as mãos no rosto tentando limpar o suor que escorria por ele, mas isso só fez o sangue sujar minha testa e bochechas. Segurei firme na cadeira porque senti que a qualquer momento iria cair, tudo começou a perder o foco e a brilhar. A última coisa que ouvi antes de cair fora um “HERMIONE” de uma pessoa que estava na porta da sala com um envelope.


-


Ouvi vozes. Várias vozes. Falavam ao mesmo tempo e coisas diferentes, a única palavra em comum em suas frases confusas era “Hermione”. Quem diabos era Hermione? E por que eu sentia que essas vozes vinham de uma distância não muito longa? Tentei abrir os olhos mais de uma vez, mas parecia que haviam jogado milhares de grãos de areia neles impossibilitando minhas tentativas. Tentei falar, mas não tinha fôlego, estava começando a ficar aflita até que senti uma mão quente tocar minhas bochechas.


- Ela está acordada – ouvi uma voz rouca e arrastada falar e silenciar o escarcéu que acontecia ali na volta.


- Então por que ela não abre os olhos? – reconheci aquela vez. Rony. Era Rony.


- Porque ela está fraca. – respondeu aquela voz encantadora ao fundo. Eu conhecia aquela voz.


- Afastem-se, por favor. – falou uma mulher. Senti algo picar meu braço e aos poucos comecei a recuperar os sentidos. Eu era Hermione e estava na ala hospitalar de Hogwarts por algum motivo estranho e estava rodeada por vários grifinórios.


A areia parecia ter sido varrida de meus olhos e finalmente uni forçar para abri-los. A voz arrastada vinha de uma figura de cabelos claros e pele bronzeada. Sebastian. Sebastian Malfoy.


- Oi Hermione. Como está se sentindo?


- Tonta. – respondi sincera. Olhei em volta e reconheci os presentes; Harry, Rony e alguns dos meus colegas da aula de poções. Procurei uma cabeleira loira entre a multidão, mas não encontrei. Não me perguntem porque havia feito aquilo, talvez curiosidade ou receio, não queria perdê-lo de vista em momento algum. Sabia que se Malfoy não estivesse por perto estaria aprontando algo.


- Não é para menos – uma voz feminina irrompeu o lugar – Saiam daqui, vamos! Preciso cuidar desta menina. – Madame Pomfrey afugentou todos rapidamente apesar da relutância de Sebastian e Harry para ficar ao meu lado – A senhorita não anda se alimentando regularmente?


- Não.


- E por essas olheiras enormes presumo que nem dormindo direito.


- Não.


- Você está pálida também. A senhorita não cuida da saúde há quanto tempo? – Madame Pomfrey me olhava furiosa e nem me deixava responder. – Está anêmica.


 


Ótimo, era só isso que faltava para minha vida se transformar em um completo desastre.


 


 


Nota da autora: Antes de mais nada gostaria de pedir milhões de desculpas pela falta de consideração e por ter sumido do mapa sem ao menos dar explicações a vocês. Deixei a fic de lado por um bom tempo e minha consciência fez questão de me fazer terminar este capítulo.


Bom, preciso organizar minhas ideias, achar os resumos dos capítulos e voltar a postar regularmente. Confesso que este capítulo está sem graça e sem muito nexo também, mas eu não poderia ficar mais tempo sem dar sinal de vida. Prometo melhorá-los daqui em diante.


A respeito do meu sumiço, a minha justificativa é ridícula e clichê: minha vida deu um giro de 180°. Voltei para a faculdade de Direito porque não passei em Medicina, perdi algumas pessoas, comecei a me dedicar a uma de minhas paixões (karatê) e mais uma série de acontecimentos completamente bizarros. De agora em diante não deixarei que isso atrapalhe minha vida de fanfic writter.


Bom, muito obrigada a todos que comentaram, votaram e tiveram paciência de esperar o capítulo 5 e mais uma vez peço perdão pela demora e irresponsabilidade.


Beijos a todos, Luiza.


 


PS: Caso se interessem pelos dramas da minha vida ou até para ficarem ligados no andamento da fic: @luizadafranja. 

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Comentários (1)

  • Minerva Lestrange

    Ahhh, não demora muito a postar o próximo... Quero ver logo uma aproximação entre o Draco e a Hermione!! Aiii, e o Sebastian, quero um desse para mim!! Bjo, sua fic é ótima!! 

    2012-02-27
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