O plano.
“Você está cara a cara com o homem que vendeu o mundo”
(Nirvana)
Capítulo III: O plano
- Como você sabe, a família Malfoy vem de uma linhagem de puros-sangue – disse Sebastian me olhando sem pestanejar – Nunca houve relatos de qualquer membro da família Malfoy se envolver com algum trouxa. Até a geração de meu pai. – O encarei por um breve momento. Sebastian permanecia sério enquanto finalmente me contava sua história após eu insistir tanto. Estávamos sentados no pátio em um dos bancos de mármore perto da entrada do castelo. Era um dos raros dias de sol em Londres e por isso o guiei até os jardins enquanto outros estudantes aproveitavam o dia e conversavam alegremente. – Meu pai é irmão do pai de Draco, obviamente se você perguntar para qualquer integrante da família Malfoy, eles negarão isso até a morte.
- Não perguntarei – disse tentando extrair um sorriso do garoto, o que não consegui, já que ele apenas mostrou os dentes em uma tentativa fracassada de sorrir. Hermione, cale a boca e só a abra quando ele terminar de falar.
- Meu pai, Anthony Malfoy, estava de casamento marcado com a filha de um dos sócios de meu avô, por ser o mais velho herdaria o negócio da família e de acordo com um acordo fechado entre meu avô e seu sócio, iriam fundir os dois negócios com o casamento de meu pai e a filha do outro homem – ele evitou ao máximo me dizer que “negócio” era aquele, não insisti. Sabia que era algo ligado à arte das trevas. – Papai conhecia sua noiva há algum tempo e não havia gostado nada de ter um casamento arranjado, principalmente com aquela mulher, que segundo ele era o pior tipo de vagabunda que existia – abri a boca para perguntar, mas Sebastian me interrompeu colocando o dedo em meus lábios, em sinal de silêncio – Parece que você não se contém quando se trata de perguntar algo – falou dando um leve sorriso sem mostrar os dentes – Ela era interesseira demais e superficial – respondeu como se pudesse ler meus pensamentos e sabia exatamente a perguntaria que faria – Não era o tipo de mulher que interessaria meu pai, por incrível que pareça, alguns membros da família Malfoy não dão mais atenção à aparência do que outras qualidades. – tirou seu dedo devagar e não perdeu a oportunidade de tocar meu rosto, sua pele era quente e macia, oh Merlin dá para acreditar que Sebastian é um Malfoy? Não só na maneira de agir e pensar, mas também na aparência. Os Malfoy seguem a linhagem de loiro platinado e olhos azuis frios, pele branca e lábios finos. Lábios finos atraentes, diga-se de passagem. Não que eu tenha prestado atenção nos lábios do Malfoy, está bem! Eu admito que uma ou duas vezes já o fiz embora tenha sido involuntário não pude notar que aquele loiro aguado é atraente. Não me julguem! Eu sou uma mulher mesmo não parecendo muitas vezes.
- Então ele desmanchou o noivado? – deduzi esperando sua resposta.
- Não. – Suspirou. Eu deveria parar de tentar adivinhar as coisas e deixar isso para a louca Trelawney. – Ele discutiu com meu avô. Ameaçou sair de casa e disse que não ia dar continuação aos negócios. Obviamente meu avô ficou furioso, a família inteira entrou em conflito e forçou meu pai a prosseguir com o combinado – parou de falar enquanto várias garotas da Corvinal passaram por ali cochichando e o olhando de soslaio. Corvinais podem ser inteligentes, mas em Hogwarts vocês não encontrarão garotas mais atiradas que elas. – Enquanto todos se envolviam nos preparativos do casamento meu pai conheceu uma bruxa mestiça que trabalhava no hospital como medi-bruxa.
- Sua mãe – falei convicta.
- Exato. Pelo que sei, eles começaram a conversar diariamente, meu pai visitava o hospital todos os dias para vê-la e em mais ou menos um mês eles já estavam envolvidos. Meu pai havia encontrado uma mulher perfeita para si e resolveu fugir com ela e casar. – Nossa, a história dos pais de Sebastian parecia um filme trouxa, para um Malfoy até que seu pai era um bom homem – Na véspera do casamento, meus pais fugiram para Paris e lá ficaram por mais ou menos um ano, quando meu pai soube por um amigo que meu avô estava à beira da morte. Meu pai não pensou duas vezes e aparatou para Londres acompanhado de minha mãe, que na época estava grávida de dois meses.
- De você – ele assentiu.
- Bom, a reação de toda família ao vê-lo não foi a mais hospitaleira; minha avó tentou matar minha mãe com um feitiço, mas por sorte mamãe sempre foi habilidosa e se protegeu, os outros integrantes da família tentaram evitar que meu pai chegasse até o quarto em que meu avô estava e meu tio, Lucius, queria começar um duelo na sala. Papai sempre teve mais experiência que meu tio em duelos e conseguiu desarmá-lo, mas foi atingido por outro feitiço pelas costas – falou calmo, eu em seu lugar não suportaria contar essa história sem perder o controle – Sua surpresa maior foi ver que o feitiço veio de sua ex-noiva, mamãe imediatamente agiu e conseguiu sair da mansão com meu pai. Ele não conseguiu ver meu avô em seu leito de morte, mas soube pouco depois que ele havia o deserdado. Não que fizesse muita diferença aquele dinheiro para ele, meu pai já havia criado seu próprio negócio. – Arregalei meus olhos por um segundo e Sebastian percebeu – Uma fábrica de varinhas, se quer saber. – acrescentou rapidamente, me fazendo soltar a respiração aliviada – Bom, meus pais não retornaram a Paris, resolveram ficar por aqui mesmo sendo alvo da fúria de toda família Malfoy. Alguns meses depois eu nasci para a felicidade de papai e mãe. E a infelicidade do resto da família que me considera um bastardo.
- Por ter sangue trouxa – respondi incrédula.
- Minha história é essa; embora carregue o sobrenome Malfoy não sou considerado um por ter quebrado a tradição deles. Segundo eles, o nome da família está manchado para sempre. – Sorriu travesso – Dramático não? – Era incrível como Sebastian conseguia tirar sarro de qualquer situação.
- O que a ex-noiva de seu pai fazia na casa de seu avô no dia em que ele resolveu aparecer? – não contive a pergunta, como todos sabem, sou uma pessoa muito curiosa.
- Ela estava lá porque ia casar com outro membro da família – respondeu não se importando com a pergunta.
- Qual?
- Meu tio Lucius. – Arregalei os olhos mais uma vez e Sebastian riu, parecia que qualquer tipo de expressão que fizesse era motivo de risos para ele.
- A mãe de Draco?
- Narcissa Malfoy. Ela mesma. – fiquei perplexa com aquilo. – Em carne e osso – sorriu ele passando a mão nos cabelos claros – E cabelos loiros. – Não consegui evitar uma gargalhada.
- Quem imaginaria? Talvez esse seja o motivo de Malfoy ser tão recalcado. Ele é fruto de um mero acordo. E ter tanta raiva de você por saber que sua mãe fora negada pelo noivo.
Rimos.
Embora Sebastian fosse mais parecido com a mãe, notava-se bem alguns traços clássicos que qualquer Malfoy tem injetado no sangue, como por exemplo, o sorriso torto que por sinal era a marca registrada daquela família e droga, a beleza.
Paramos de rir ao ver que Malfoy atravessava o pátio com seu clã em direção às pedras as quais lhe dei um soco no rosto certa vez. Parecia apressado e até aflito. Mas não liguei, pensar em fosse lá o que aquele loiro estivesse aprontando não estava em meus planos. Havia passado uma tarde agradável ao lado de Sebastian e sem querer acabara me desvencilhando de meus planos sobre o resgate meus pais. O que acabara de me lembrar: sim, eu deveria me preocupar com o que Malfoy estava tramando porque ele estava envolvido com qualquer ligação aos comensais. Assumi um semblante sério por um breve momento e o garoto dos olhos pretos me olhou curioso esperando qualquer palavra minha.
- Sebastian, eu preciso ir – falei levantando rapidamente e catando minha bolsa.
- Aonde? – perguntou ele segurando firme meu pulso, mas de uma maneira gentil ao mesmo tempo.
- Preciso terminar umas anotações sobre Herbologia e começar o dever de história da magia – respondi tentando parecer normal.
- Ah – falou Sebastian me soltando – Mais tarde nos encontramos então – respondeu e logo em seguida rumei aos dormitórios.
-
Ultrapassei os alunos nos corredores com tamanha rapidez que por pouco evitava encontrões, ouvi mais de uma vez reclamações gritadas ao longe e tentava pedir desculpas, se vocês fossem pessoas exageradas poderiam dizer que eu estava correndo e por sorte não havia nenhum professor nos corredores para me impedir de chegar sem algum tipo de detenção.
Larguei meus livros na cama e logo comecei a procurar por alguma coisa em meu malão. Mas não qualquer coisa, era algo específico e quem me visse procurando por aquilo não acreditaria que eu Hermione Jane Granger faria aquilo algum dia. Embaixo de meu casaco bege encontrei uma caixa, menor que uma caixa de sapato, de madeira e lacrada com magia. Olhei para os lados esperando não ser flagrada por alguma aluna curiosa que estivesse no dormitório e sussurrei as palavras que destrancavam a caixa. Hesitei antes de abri-la, sabia que estava fazendo errado, mas que outra opção eu tinha?
A caixa era forrada por dentro por um tecido vermelho aveludado e macio, havia um pequeno espelho em sua tampa, era minha antiga caixa de jóias, mas como não as uso mais imaginei que poderia guardar algo de mais valor e proibido ali dentro.
Puxei um par de orelhas extensivas dali juntamente com uma pena de repetição rápida e um pequeno frasco que continha poção polissuco.
Eu sabia que se fosse pega, seria expulsa da escola ou pior ganharia minha primeira detenção. Mas creio que situações desesperadas requerem medidas desesperadas. E odeio admitir que pela primeira vez ao longo dos sete anos que conheço os gêmeos Weasley eles estavam certos; eu viria a precisar de seus, bem, artefatos um dia. Se alguém me dissesse isso no dia em que eles me entregaram as orelhas e a pena eu gentilmente o mandaria se internar no St Mungus por tempo indeterminado.
Respirei fundo. Uma vez. Duas vezes. Três vezes.
Tentei fazer com que minhas pernas parassem de tremer para que conseguisse sair da Grifinória sem levantar suspeitas. Elas resolveram me obedecer depois que fui molhar o rosto e respirei fundo mais uma vez. Fui em direção à porta – não sem antes pegar um livro para disfarçar minha escapada sem parecer muito suspeita, afinal, toda Hogwarts sabe que quando estou com um livro em mãos não devo ser incomodada – e saí com cuidado, evitando ao máximo encontrar algum conhecido que interferisse na minha importante missão.
Corri mais uma vez pelos corredores feito uma louca, sorrindo para os conhecidos que tentavam me parar para falar qualquer coisa sem parar para ouvir uma palavra sequer. Cheguei ao meu destino e parei de correr no momento em que encontrei minha vítima e caminhei até a árvore em que ela estava sentada com as amigas.
Parei alguns metros antes com receio que notassem a minha chegada, mas parecia que estava entretida com as outras duas sonserinas que a acompanhavam. Caminhei devagar até o lado oposto – e apodrecido - da árvore em que se encostavam torcendo para que não saíssem ao me ver chegar. Ouvi uma delas sussurrar “alerta sangue-ruim” enquanto Katherina e sua amiga riam. Ignorei. Sabia que se revidasse iria colocar meu plano por água a baixo. Sentei do outro lado da árvore e abri meu livro como se não estivesse prestando atenção em sua conversa fútil.
Percebi que suas vozes diminuíram e quase não se podia ouvir além de sussurros e risadinhas estridentes, coloquei a mão no bolso direito e tirei minha varinha, respirei fundo – tenho feito muito isso ultimamente – e transfigurei meu livro em um ratinho. Talvez isso soe confuso à maioria de vocês, mas eu precisava de alguns fios do cabelo de Katherina.
Ouvi mais uma vez sua risada irritante antes de colocar o ratinho no chão e com a varinha nos ombros da sonserina enquanto as três olhavam distraídas para um garoto que passava por ali. Voltei rapidamente para a posição que estava antes e em menos de dez segundos ouvi um grito ensudercedor. Não pude evitar um sorriso pelo canto da boca.
- TIRA! TIRA! – gritava Katherina sacudindo as duas mãos freneticamente no ar – TIREM ESSA COISA DA MINHA CABEÇA! – falava inutilmente enquanto suas duas amigas apenas gritavam “rato” para quem quisesse ouvir. Vi alguns garotos se aproximando e percebi que era hora de agir antes que alguém fizesse por mim.
Pulei ao lado dela e peguei o “rato” que estava com as patas segurando firmemente os cabelos dourados de Katherina e parecia não querer largá-los. “Bom garoto” pensei disfarçando um sorriso enquanto a garota ainda gritava. Deveria ser rápida, o feitiço não duraria mais de um minuto. Finalmente puxei o animal fazendo Katherina soltar um berro agudo por ter perdido mais um pequeno maço de cabelos. Larguei o “animal” no chão e ele fez o contorno na árvore voltando para onde eu estava.
A garota me encarou sem qualquer sinal de gratidão ou qualquer sentimento que fosse, levantou sem trocar uma palavra e saiu junto com as amigas me deixando sozinha ali. Peguei meu livro e fui em direção aos dormitórios. Já tinha o que estava faltando.
-
Passei os dois últimos dias observando Malfoy. Eu sei, pareço estar tão obcecada com essa história que fico seguindo aquela doninha – disfarçadamente é claro – por todos os cantos do castelo. Devo dizer que minha pena de repetição rápida foi muito útil nos últimos dias. Graças a ela tive pequenos relatórios de onde, quando e para qualquer lugar que ele fosse, embora devo admitir que algumas vezes o perdi de vista.
Completamente doentio.
Não deixei de observar Katherina também, preciso saber exatamente onde ela estava e com quem estava para não fazer nada que me faça ser pega, caso isso aconteça serei expulsa de Hogwarts pelas tantas regras que vinha quebrando. Guardei os fios de cabelo em segurança para evitar perdê-los ter que armar outra cena.
Eu estou consciente de que eu fiz uma coisa considerada estúpida ao armar o plano do rato e até mesmo psicopata. Hermione Granger nunca agiria com tal desvio de conduta, Hermione Granger sempre foi quieta, Hermione Granger sempre foi calma e equilibrada, Hermione Granger sempre foi a pessoa mais inteligente e racional que andou pelos corredores desta escola. Bem, eu tenho uma novidade para vocês: Hermione Granger está desesperada e, além disso, só para que lembrem sempre; Hermione Granger também é um ser humano.
Pegar alguns fios de cabelos de sua roupa com certeza era mais fácil, mas a última vez que fiz isso acabei na enfermaria vomitando bolas de pêlo por uma semana.
Quando não estava na cola de Malfoy, estava na biblioteca checando as anotações da pena e tirando conclusões. Exceto quando Harry vinha conversar comigo eu disfarçava estar estudando, o que para ele não era mais novidade. Com freqüência ele tentava tocar no nome de Rony, mas o vetava sempre que ele tentava. Não importava quantas vezes ele o fizesse, continuo com minha decisão. Se Ronald não é maduro o suficiente para falar comigo, não o faria também.
Quanto à Sebastian, constantemente me procurava para conversar, quando não estava cercado de garotas por onde quer que fosse. Até algumas sonserinas começaram a rondá-lo como urubus ao descobrir que também era um Malfoy. Demorei a acostumar com essa verdade, cada vez que conversávamos eu bolava teorias de que ele fora trocado na maternidade e não quiseram procurar o verdadeiro Sebastian Malfoy. Isso o fazia rir. E seu sorriso era lindo. E eu sou uma idiota por ficar reparando nisso.
Depois de tanto ler e reler minhas anotações cheguei à conclusão que deveria colocar meu plano em prática. E seria aquela noite.
Estava quase na hora do jantar, as garota estavam no dormitório terminando de se arrumar – me perguntei por que raios elas precisava se emperiquitar para um simples jantar -, aguardei sua saída e abri minha caixinha de madeira pegando o que precisava. Meu coração acelerou só em pensar que invadiria as masmorras, mas me contive, já fora longe demais para desistir.
Coloquei a varinha no bolso e desci as escadas correndo, estava no salão comunal prestes a sair pelo quadro da mulher gorda quando encontrei Sebastian entrando apressado. Estava com o cabelo despenteado e os belos olhos pretos arregalados. Não pude conter um risinho.
- Essas loucas! Elas querem me matar! – falou ofegante.
- Quem? – perguntei inocente, mas de alguma forma já sabia o que diria.
- Essas garotas! Completamente malucas! Elas me perseguem! – falou apavorado – Uma garota da sonserina guardou um lenço que eu havia usado para assuar o nariz – fiz uma careta em sinal de nojo – Assuar o nariz! Você faz ideia do que é isso? Hermione, não ria! – tarde demais, eu havia começado a gargalhar sem conseguir parar, era tão patético – E essa mesma garota me convidou para uma festinha privada no dormitório dela hoje à noite.
- Por que você não vai? – perguntei finalmente acalmando minhas risadas – Você vivia reclamando que em Durmstrang não havia garotas.
- Ultimamente ando com saudades daqueles tempos – respondeu tentando arrumar o cabelo – Você vai onde?
- Jantar – respondi insegura, me lembrando do que iria fazer depois – Quer vir?
- Não obrigada, não quero sair daqui até o fim do ano letivo – disse dramático – e se você por acaso trombar com aquela garota da sonserina Katherina, por favor, diga a ela que não poderei comparecer à sua festinha.
- Ãh, claro – respondi. Acho que Sebastian não havia se dado conta da enorme aversão dos sonserinos aos alunos trouxas. Despedi-me dele e rumei ao salão principal, quando de repente lembrei-me de que para assumir o lugar de Katherina, deveria dar um sumiço temporário na própria. Não tive outra escolha, Sebastian iria me matar se soubesse o que iria fazer, mas que outra escolha eu tinha? – andava usando muito aquela frase ultimamente.
Antes de ir ao salão principal, dei uma passada no corujal enviando um pequeno bilhete para uma certa sonserina. Nele havia escrito “Encontre-me no campo de quadribol logo após o jantar, poderei me atrasar um pouco. Sebastian”.
-
Após o jantar silencioso que tive na companhia de Harry e Rony esperei Katherina sair do salão, pronta para minha missão. Não pude deixar de notar suas roupas curtas e coladas. Parecia marca registrada das garotas daquela casa: saia que deixava quase toda coxa aparecendo, blusa branca e decotada com o brasão da casa no lado direito do peito. E salto alto.
A garota sumiu no corredor e eu saí logo depois me escondendo no primeiro banheiro que encontrei, me certifiquei que não havia ninguém ali e tratei de me trancar na primeira cabine. Lá dentro peguei os fios de cabelo que havia pegado e os misturei à poção polissuco. O líquido fumegava e engoli em seco só de lembrar o gosto. Se eu sobrevivesse àquela noite, me lembrem de nunca mais fazer poção polissuco. Independente de qual seja o motivo que me leve a isso.
Tranquei a respiração e engoli todo em uma virada fazendo careta ao sentir o gosto em minha língua.
Segundos depois minha pele começou a aquecer de uma maneira inexplicável e a pinicar, senti uma coceira da ponta dos pés à minha nuca e só então percebi que os primeiros botões de minha blusa estavam apertados. Corri ao espelho mais próximo e observei minha imagem refletida; estava com longos cabelos dourados e olhos azuis, pele branca e pequenas sardas no rosto. Havia funcionado. E eu não estava metade gato, metade mulher o que para mim já era um grande avanço. Observei minhas vestes e engoli seco. Deveria fazer um feitiço para que elas ficassem exatamente como as de Katherina, ou seja, quase nua.
Foi o que fiz; com um simples girar de varinha minhas roupas encolheram tanto que a cada passo que desse, sentiria que minha calcinha estaria exposta à toda Hogwarts. O brasão da Grifinória deu lugar à cobra envolvida em verde da Sonserina. Estava pronta. E precisava correr, tinha apenas uma hora.
-
- Senha, por favor? – perguntou o quadro. Bati na testa automaticamente. Havia preparado um plano perfeito, no entanto havia esquecido esse pequeno detalhe.
- Hum, esqueci – falei esperando que mesmo sem a senha o quadro me deixasse entrar.
- Sem senha, sem entrada – falou ríspido.
- Mas eu sou da sonserina – boa resposta Hermione, ótima resposta. – Eu preciso entrar! – quase supliquei, enquanto o tempo passava.
- Olhos de serpente – uma voz invadiu meus ouvidos. Não precisaria virar para ver de quem pertencia. Meu coração havia dado um salto e minha respiração ficou irregular. Atrás de mim estava o traidor, atrás de mim estava aquele que se vendeu para o lado negro e por algum motivo desconhecido ainda freqüentava Hogwarts. Desconhecido até aquela noite. Eu iria descobrir o que aquele diabrete estava tramando.
O quadrou moveu-se e engoli em seco, pela primeira vez colocaria os pés em um ninho de cobras e sabia que de lá nada de bom poderia sair.
- Não vai entrar? – perguntou Malfoy com sua voz arrastada que fez minha espinha tremer. Dei um passo à diante. Era tarde demais para recuar.
Adentrei o local; era sombrio e pouco iluminado, mas era extremamente luxuoso com móveis pretos e tapetes feitos de animais mortos, havia algumas mesas com alguns alunos jogando xadrez e a lareira estava acesa. Nas paredes, quadros de grandes bruxos que pertenceram a casa e alguns mantos verde e prata cobriam os sofás. Um lugar tipicamente sonserino.
Vi Malfoy andar em direção aos seus amigos que se encontravam nos sofás perto da lareira e mandar Goyle desocupar o local. Não contestou; o gordo simplesmente saiu e observou a doninha esparramar-se no cômodo. Observei tudo ao redor à procura de qualquer amiga de Katherina esperando que qualquer uma me chamasse para colocar meu plano em prática, mas minha grande surpresa foi quando Malfoy chamou-me “Kath” facilitando minha vida. Apontei meu próprio peito “Eu?”. O loiro aguado revirou os olhos.
- É claro que é você! Tem outra Kath nesta sala, por acaso? – respondeu rude. Meu sangue ferveu e tive vontade de mandá-lo colocar o dedinho branco e magrelo naquele lugar, estava por um triz de fazê-lo quando lembrei que não era Hermione Granger naquele momento.- Senta aqui – disse ele dando tapinhas no sofá, enquanto as outras cobras observavam minha reação. Engoli em seco – repararam quantas vezes fiz isso desde que passei por aquela porta? – e rumei ao sofá.
Sentei desconfortável ao seu lado e cruzei as pernas tensa, coloquei as duas mãos na coxa e observei as unhas impecáveis de Katherina. Estava quadradas e compridas – o tamanho que nunca conseguira deixar graças ao nervosismo que sentia antes das provas. Sempre acabava roendo-as – pintadas de um vermelho intenso.
- Você está quieta – falou Malfoy ao pé de meu ouvido. Audácia!
- Não... – foi a única coisa que consegui dizer, continuava olhando fixamente para as unhas e batia o pé discretamente, resultado de meu nervosismo. E ao mesmo tempo medo.
- Claro que está – falou mais próximo de meu pescoço. Seu hálito quente fez-me arrepiar e ele percebeu isso. Riu. – Katherina está com vergonha? – falou alto para que todos “amigos” que estavam na rodinha pudessem escutar e rir também.
- Claro que não!
- Claro que sim! Se não estivesse diferente, certamente já estaria sentada em meu colo – disse aproximando-se de meu pescoço – Ou... – sussurrou – em meu quarto e mordeu o lóbulo de minha orelha. Céus, com tantas garotas nesta casa por que raios escolhi me transformar justo na mais oferecida?
- Afaste-se Malfoy – falei levantando e todos me encararam. Meu tom de voz foi tão elevado que ecoou por todo salão. Os seguidores de Malfoy e o próprio arregalaram os olhos. Corei. Malfoy encarou-me e vi que havia um brilho diferente em seu olhar. Havia raiva. Havia desprezo. Havia nojo. E de alguma maneira ele havia me descoberto.
- Hum, preciso ir – respondi apressada evitando olhar em sua íris azul novamente. Corri em direção ao quadro e vi que Malfoy estava me seguindo.
Apressei o passo e subi às escadas que levavam para fora das masmorras e entrei na primeira sala que encontrei esperando despistá-lo.
Dois minutos depois respirei aliviada pensando que realmente havia o despistado. Percebi também que havia voltado ao normal; meus seios não estavam saindo da blusa – graças a Merlin – e meu cabelo estava castanho.
Não sabia como Katherina conseguia andar com uma roupa tão apertada e decotada, se tivesse ficado mais um minuto em sua pele acredito que os botões da blusa iriam saltar deixando os seios robustos completamente à mostra. Não precisava de muito mais já que era possível ver um pequeno pedaço de seu sutiã.
- Muito esperta, sangue-ruim – ouvi a porta ser aberta e meu sangue congelou – Mas não a ponto de enganar Draco Malfoy. – disse entrando na sala e fechado a porta. Merda, eu estava morta.
N/A: Oi, gente! Finalmente terminei o capítulo, embora devo admitir que previa para o mesmo mais coisas. Mas achei melhor terminá-lo por aqui para não ficar cansativo para a leitura de vocês :D
Gostaria de agradecer os comentários de vocês!Leio cada comentário com muito carinho e fico extremamente feliz por saber que alguém gosta do que eu faço. É muito gratificante! Muito obrigada, mesmo!
Beijos, Luiza.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!