O Garoto do Outro Mundo

 

Aquele garoto de cabelos encaracolados e olhos verdes... Alvo já o tinha visto, mas nem se lembrava mais desse episódio, não até vê-lo ali, sentado a sua frente com uma expressão divertida.

_Você! _ disse Alvo _ Você é aquele garoto que levou o Prof. Dumbledore e eu até a caverna de Gerard!

_Sim eu sou! E você era o garoto que não falava nada pelo caminho! Mas agora até que está falando bastante, mudinho!

_Então... Era você que estava me assombrando esse tempo todo?!

_Assombrando?! Eu não sou nenhum fantasma. Eu estava salvando a sua vida!

_Salvando minha vida?

_Oh sim! E não foi tarefa fácil, você gosta muito de se meter em encrenca!

_Mas como foi que você chegou aqui?

_Hum... Você é devagar heim mudinho!

_Por quê?

_Ora! Eu cheguei aqui da mesma forma que você!

Alvo continuava não entendendo muito bem o que aquele garoto estava dizendo, sua cabeça ainda estava tentando absorver todos os acontecimentos daquela noite.

_Espere! _ disse Alvo _ Vamos devagar! Você nos levou até a entrada da caverna... E depois o que fez?

_Eu entrei junto.

_Entrou junto?! Mas eu não te vi... _ e então começou a fazer sentido para Alvo _ Você ficou invisível!

_Ah! Agora eu sinto que iremos chegar a algum lugar!

_Então você ficou invisível e entrou na caverna junto com a gente?

_Isso mesmo, a muito tempo eu estava querendo conhecer o grande Gerard, todo mundo sempre falou tanto dele, mas confesso que fiquei um pouco desapontado, tudo bem ele tem muitas cabeças, mas isso não é grande coisa! Eu esperava algo mais grandioso, é o Gerard entende! Eu pensei que...

_Ok, ok! E depois? _ se Alvo deixasse, o garoto ficaria naquela ladainha o resto da noite.

_Ei mudinho, não fique tão nervoso! Isso pode fazer mal para o coração, mamãe sempre diz isso! Bem, depois o Gerard que não era nada do que eu esperava _ Alvo olhou feio para o garoto _ Tudo bem! Ele mandou você atravessar aquela coisa e eu decidi ir junto.

_Por quê?!

_Parecia divertido! Então nós caímos, caímos, caímos e finalmente chegamos, eu achei que não ia acabar nunca aquele buraco! E foi aí que eu comecei a salvar a sua vida!

_Então foi você que atacou os morcegos, o cachorro, desviou aqueles objetos malucos...

_Isso mesmo! Mas não sei se vou conseguir fazer isso sempre, você vai acabar tendo uma vida curta mudinho! Mamãe sempre diz que quem procura encrenca acaba encontrando ela junto com a família inteira!

_Mas como você fez todas essas coisas? Você também é um bruxo?

_Um bruxo?! Não eu sou um anjinho!

_Acho que você não entendeu, eu quis dizer bruxo como nós aqui de Hogwarts, com varinha e esse tipo de coisa.

_Ah! Esses pedaços de pau que vocês carregam? Não, eu não tenho um desses, eu posso conseguir um?

_Bom... Eu acredito que sim... Você consegue até ficar invisível! Isso é magia muito avançada.

_Eu sempre soube alguns truques, quando mamãe queria brigar comigo eu ficava invisível por vários dias!

_E existem mais pessoas do seu povo que sabem fazer esses “truques”?

_Não que eu saiba. O pessoal lá só pensa trabalho! Temos que acabar a construção! Temos que acabar a construção! _ disse o garoto imitando a voz de um adulto _ É um pouco chato lá, muito parado, sempre as mesmas coisas...

_Certo! Mas então quando eu voltei daquela casa o que você fez?

_Você segurou aquela coisa estranha e começou a desaparecer, eu encostei em você para ver se você estava bem e quando vi estávamos de volta a casa de grande polvo, o barbudão ficou todo feliz em te ver e o polvo ficou muito surpreso, aí o barbudão entregou o tal relógio e foi a vez do polvo ficar todo feliz; depois o barbudão te trouxe de volta e eu vim junto.

_Mas porque você continuou invisível?

_Não seja bobo mudinho! As pessoas iam achar estranho eu aparecer aqui do nada! Então continuei te seguindo e te salvando das confusões que o barbudão te arruma, quem tem amigos assim não precisa de inimigos!

_E você não pensa em voltar para casa?

_Sim! Eu sinto saudades da mamãe! Mas não agora, vou ficar aqui mais um tempo, aqui é bem mais divertido e movimentado!

_Você vai continuar me seguindo então?

_Sim! Mas agora eu vou ficar visível quando estivermos sozinhos! Pra gente poder conversar, eu sinto falta de uma boa conversa e para minha grande surpresa eu descobri que você também fala!

 

A manhã seguinte foi muito surpreendente os alunos quando descobriram que o Sr. Barton continuava em Hogwarts, a Prof. Minerva parecia furiosa e os demais professores também não pareciam nada satisfeitos,. Com exceção de Pickwick que estava descontraído como sempre. Alvo olhou para ele por algum tempo, a descoberta de que o professor possuía uma pedra muito suspeita ainda assustava o garoto, seria possível que Pickwick fosse o bruxo das trevas que estava em Hogwarts? Seria ele o responsável pelos ataques? Será que era ele que Draco Malfoy havia ido encontrar? Ainda havia a questão do Manuscrito de Zaiden, Alvo estava desapontado com o que conseguira ler, ele apenas sabia que a Pedra das Nove Luas estava no andar secreto de Hogwarts, mas que andar era esse? Como se chegava lá?

 

As férias se aproximavam e os professores resolveram entupir os alunos de deveres de casa para serem feitos no período de recesso.

_E eles chamam isso de férias! _ reclamou Jet Suliman durante a última aula de Herbologia do semestre em que o Prof. Neville havia passado como tarefa de férias uma redação de quarenta centímetros explicando as propriedades da Erva Vinerar, uma planta muito feia que para Alvo só servia para estragar a decoração de qualquer ambiente.

_Ei Alvo, você está bem? _ perguntou Neville ao lado da mesa em que o garoto estava trabalhando.

_Sim, professor.

_Escute, eu sei que você deve estar preocupado com seu pai, mas fique tranqüilo, Harry sempre soube se virar muito bem, tenho certeza que ele logo irá terminar essa missão e irá voltar para casa.

_Eu espero professor.

_Pode estar certo, nos vemos no natal então! Sua mãe me convidou para ir cear com vocês.

Alvo sentia certa gratidão por Neville, pelo que ouvira da conversa dele com Minerva na última noite, o professor tinha vontade de contar para ele tudo o que estava acontecendo de verdade e essa confiança deixou Alvo satisfeito.

A semana se arrastava, quanto mais ansioso os alunos ficavam, mais o relógio parecia demorar para passar, Alvo também estava desejando muito que chegasse logo a sexta-feira, não apenas para ir para casa, mas também porque seria o dia que iria encontrar o Prof. Dumbledore.

 

_Muito bem senhores! Por hoje isso basta e assim nós terminamos esse semestre de Defesa Contra as Artes das Trevas, tenho certeza que os Gelodins irão sentir muita falta dos senhores!

_Você também vai passar dever para as férias, professor? _ perguntou Dominique já temendo a resposta.

_Oh não! Eu acredito que nós estudamos bastante durante o semestre e os senhores tem todo o direito de esvaziar suas cabeças como bem entenderem nas férias!

A turma inteira bateu palmas e gritou vivas, Jet Suliman declarou que gostaria que a Prof. Minerva também tivesse barbas e assim todos os alunos deixaram a sala de aula, todos menos um.

_E então Alvo? Temos novidades?

_Sim! Eu consegui ler o Manuscrito de Zaiden!

_Mesmo?! Que notícia fantástica! Eu sabia que o Prof. Pickwick iria acabar cedendo.

_Hum... Não foi bem assim que aconteceu professor.

Alvo então contou como foi que ele conseguiu chegar até o manuscrito.

 _Você não devia ter feito isso Alvo _ disse Dumbledore muito aborrecido.

_Mas professor! O senhor disse que nós precisávamos muito de saber o que estava escrito no manuscrito...

_Sim! Mas não dessa forma! Será que você não entende? Se você e eu formos afastados de Hogwarts, de nada adiantara nossos esforços! Nós precisamos estar aqui, por isso você não deve infligir as leis da escola!

Alvo se sentiu muito envergonhado, ele esperava que o professor ficasse satisfeito com o seu feito, mas não foi bem isso que aconteceu.

_Mas eu não entendi uma parte de sua narrativa _ disse Dumbledore _ você disse que cruzou com a diretora e o Prof. Neville em um corredor, como foi que eles não te viram?

_Isso foi graças a mim barbudão.

O garoto de cabelos encaracolados e olhos verdes apareceu ao lado de Alvo.

_Doni! _ disse Dumbledore.

_Eu mesmo!

_O que você está fazendo aqui?

Doni novamente narrou suas aventuras da caverna de Gerard até aquele momento.

_Você é outro irresponsável Doni! _ disse Dumbledore tentando parecer severo mais não conseguindo disfarçar um sorriso _ Escute: assim que for possível eu te levarei de volta a sua casa, está bem? Mas por hora você continue acompanhando o Alvo, até sua ajuda está sendo bem útil! Mas então Alvo, o que estava escrito no Manuscrito de Zaiden?

_Bem professor... Não deu para ler muita coisa, a maior parte do pergaminho estava estragada... Eu só consegui entender uma parte que falava que a Pedra das Nove Luas estava no andar secreto de Hogwarts, a parte que ia dizer como chegar lá já estava impossível de entender.

_Que pena! Mas pelo menos já sabemos onde ela está, agora só falta descobrir como chegar lá! Muito bem, agora vamos aos seus deveres de casa, Alvo.

_Mas o senhor disse que não iria passar dever para as férias!

_Não para os outros, Alvo, mas você é um aluno especial!

_Ih... _ disse Doni _ Já vi que o mudinho vai se meter em confusão de novo.

_Você terá duas missões para as férias Alvo: primeiro eu quero que você pratique o Patronum Selatti, eu acredito que está chegando o dia em que ele será útil; e em seguida, algo que irá exigir um pouco mais do seu poder de dedução, nessas férias você irá passar perto de um lugar, um lugar que eu tenho certeza que você irá reconhecer, você vai precisar entrar lá e pegar um objeto que eu tenho certeza que você também já viu.

_O que? Eu não entendi professor.

_Não se preocupe, no momento certo você irá entender.

_Hum... Professor? Tem mais uma coisa que aconteceu na sala do Prof. Pickwick que eu ainda não contei.

_O que foi Alvo?

_O senhor se lembra de quando conversou comigo a respeito da pedra que pode criar dementadores?

_Sim Alvo.

_Eu acho que ela estava na sala do Prof. Pickwick. Havia uma pedra muito estranha lá, nunca vi uma parecida, ela era negra, tinha um formato estranho...

_Entendo.

_Professor?

_Sim, Alvo?

_O senhor... Acha que o Prof. Pickwick é o bruxo das trevas que está aqui em Hogwarts?

_Eu não sei Alvo. Mas isso que você me contou é muito grave, eu realmente irei prestar mais atenção no Prof. Pickwick daqui pra frente.

_Mas como nós poderemos saber, professor?

_Bem, eu acredito que os dementadores medievais logo nos darão a resposta. _ disse Dumbledore sombriamente.

 

A sala comunal de Grifinória estava uma algazarra naquela noite, Tiago e Fred estavam estourando grandes fogos de artifício das gemialidades Weasley, os alunos haviam conseguido surrupiar comida e bebida da cozinha e até mesmo Molly, a monitora, havia caído na farra.

Os membros de Grifinória já entoavam gritos de guerra, ansiosos pelo jogo de quadribol da casa contra Corvinal, que seria logo nas voltas das férias, Grifinória liderava o campeonato de quadribol e estava em segundo lugar na disputa das casas, mas com uma vitória na próxima partida a casa tomaria a dianteira de Sonserina.

Alvo que não estava muito animado para festas, subiu para o dormitório, instantes depois apareceu Doni que ficou visível e Alvo viu que ele segurava uma caneca de cerveja amanteigada.

_Ei mudinho, porque você não ficou na festa? _Eu não estou muito animado.

_Você não pode ficar assim! Sempre preocupado... Hum! Isso é uma delícia! _ disse ele virando o caneco inteiro _ Eu vou buscar mais, você quer?

_Não. Obrigado.

_Você é quem sabe! _ Doni ficou invisível e Alvo pode ouvi-lo resmungando enquanto descia as escadas _ Esse mudinho! Parece que ele precisa salvar o mundo!

 

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