O Segredo de Pickwick



Nos dias que se seguiram, Alvo estava muito angustiado; o Prof. Pickwick havia reagido muito mal ao pedido do garoto sobre o Manuscrito de Zaiden e por mais que gastasse tempo pensando no assunto, Alvo não conseguiu imaginar uma forma de conseguir alguma coisa do professor. No primeiro momento, ele logo pensara em pedir ajuda a Rose, mas ele sabia que sua prima não iria colaborar e ainda iria ralhar com ele por estar lhe contando isso. As palavras do Prof. Dumbledore de que eles não poderiam fazer mais nada até Alvo conseguir olhar esse manuscrito estavam torturando o garoto, toda a verdade do que estava acontecendo com seu pai, estava dependendo do seu sucesso nessa missão; ele mais uma vez estava se sentindo solitário, desamparado, sem ninguém por perto que pudesse lhe ajudar naquele momento difícil.


Alvo chegou ao salão principal na manhã de sexta-feira perdido em seus pensamentos funestos e mal percebeu a excitação que estava a sua volta, os cochichos de esgueira, os jornais que eram passados de mão em mão, a preocupação no semblante dos funcionários, nada disso chamou a atenção do garoto que caminhou alheio a tudo até a mesa de Grifinória.


_Alvo! Você já está sabendo? _ disse Dominique que estava muito elétrica.


_Sabendo o que?


_Do objeto misterioso que foi roubado do Departamento de Mistérios!


_Ah! Sim, eu já sei.


_Como?! _ perguntou a garota impressionada.


_Hum... Ouvi alguém dizer no caminho _ disfarçou a garoto.


_Pois está na primeira página do Profeta Diário. Veja!


A garota praticamente enfiou o jornal na cara do primo que teve que afastar um pouco o rosto para entender o que estava escrito, o jornal estampava uma manchete em letra garrafais com os dizeres:


 


 


Departamento de Mistérios é invadido e roubado


 


 


Na última segunda-feira, o Ministério da Magia foi invadido durante a madrugada. Através de um comunicado, o Ministro da Magia, Kingsley Shacklebolt, confirma os rumores de que os invasores roubaram um objeto mágico de grande valor que estava em poder do Ministério há muitos anos. Maiores informações: Paginas 3,7,8 e 11.


 


 


No centro da página havia uma grande fotografia do Ministro tentando esconder o rosto muito envergonhado.


_Você acredita nisso? _ disse Dominique _ Um roubo dentro do Ministério! Com toda a segurança que existe lá! O que será que eles levaram?


Alvo sabia muito bem o que eles tinham levado.


_Atenção! _ disse a Prof. Minerva que estava de pé atrás da mesa dos professores _  A essa altura eu tenho certeza que vocês já estão sabendo sobre a invasão ocorrida no Ministério da Magia, felizmente, nesse momento um funcionário de confiança do Ministro está aqui em Hogwarts! E poderá nos explicar como isso aconteceu! Por favor, Sr. Barton!


Alvo pode notar que havia certa satisfação nas palavras da diretora, o Sr. Barton parecia um pouco encabulado.


_B-bem _ gaguejou ele _ foi uma fatalidade... Coisas que acontecem... Todos estão sujeitos...


_Belo discurso Sr. Barton! _ disse Minerva teatralmente _ Ele só é um pouco incoerente com o que o senhor disse na noite que chegou a Hogwarts, não é mesmo!


_C-coisas... Situação diferente... E...


_O senhor não disse que estava aqui porque a direção da escola não conseguiu manter a segurança? E o que me diz agora do Ministério?


O Sr. Barton se encolhia cada vez mais como se estivesse sendo vítima de um feitiço de achatamento... Mas de repente, seu rosto voltou a se iluminar.


_Isso mesmo! _ disse ele alegre _ Eu vim aqui para proteger Hogwarts e foi só eu deixar o Ministério por dois dias que isso aconteceu!


_Ah! Então foi só você deixar Londres e o Ministério deixou de ser um lugar seguro?


_Agora a senhora está entendendo professora, eu sempre soube que no fundo você era esperta!


_Fico lisonjeada! Mas sendo assim... Com uma crise como esta no Ministério, o senhor terá que voltar para Londres, não é mesmo Sr. Barton? Só assim ele voltará a ficar em segurança.


Alvo começou a entender o que a diretora estava fazendo, ela era muito esperta, muito mais do que o Sr. Barton imaginava.


_E-eu _ voltou a gaguejar o Sr. Barton, ele viu que a cartada da professora havia sido muito boa _ veja bem... Ministério ficaria mais seguro... Mas Hogwarts precisa... Momento difícil...


_O senhor poderia ser mais claro Sr. Barton?


_Bem, eu...


_O senhor não acha que o Ministério está precisando de sua perspicácia e eficiência?


_Sim, mas...


_A situação no momento não é muito mais grave em Londres do que aqui?


_Correto, mas eu...


_E o senhor vai deixar o Ministério desprotegido?


Xeque-mate. Barton não tinha saída.


_Não. O Ministério realmente precisa de mim.


_Então o senhor vai voltar?


_Hoje mesmo.


_Que pena! Nós sentiremos muita falta do senhor! _ completou a professora voltando a se sentar e deixando o Sr. Barton em pé aturdido.


 


A verdade é que ninguém iria sentir falta do Sr. Barton e a Prof. Minerva era o nova heroína dos alunos, todos estavam satisfeitos com a forma astuta com que ele havia se livrado daquele “incomodo”. Depois do desfecho daquela situação, Alvo voltou a pensar no seu problema mais urgente: conseguir os Manuscritos de Zaiden. Já estava claro para o garoto que o Prof. Pickwick não iria mudar sua decisão, não iria de forma nenhuma falar sobre o assunto com o garoto, então ele precisava olhar o manuscrito sem que o professor soubesse. Mas como? Ele sabia da localização da sala do professor, mas isso não adiantava muito já que os alunos não tinham permissão para circular pelo castelo sem a presença de um professor ou auror e dessa forma, seria impossível entrar na sala de Pickwick... A não ser que...


Alvo ficou sentado sozinho num canto da sala comunal de Grifinória naquela noite, esperou pacientemente até que todos foram se deitar e então havia chegado o momento; ele iria até a sala do professor. Ele sabia dos riscos daquela decisão, se fosse descoberto por alguém, seria expulso sumariamente, ainda havia o perigo de ser atacado pela mesma pessoa ou criatura que não havia poupado nem mesmo um auror; mas ele não tinha escolha, a única coisa que tinha em mente era a imagem de seu pai ensangüentado e mesmo sabendo que aquilo havia sido uma ilusão, a cena ainda causava grande impacto no garoto. Com essa decisão em mente, ele atravessou o quadro da mulher gorda e se embrenhou na escuridão sem fim dos corredores de Hogwarts.


A noite estava um breu, uma tempestade descomunal desabava sem dó nos terrenos da escola e era acompanhada pela ventania que era presença constante nas últimas semanas, Alvo via o rosto de um professor em cada curva, cada armadura se parecia terrivelmente com algum auror, ele caminhava devagar, apesar dos barulhos da chuva, podia ouvir sua respiração rápida, cada batida de seu coração que martelava com força o seu peito... E então ele ouviu mais alguma coisa. Um arrepio percorreu seu corpo, o medo invadiu-lhe como as águas em uma represa; ele havia ouvido nitidamente o som de passos há menos de um metro de distância. Ele girou a cabeça, não havia ninguém ali, apenas a escuridão que preenchia cada espaço, com as pernas tremendo ele seguiu em frente, já não faltava muito para alcançar a sala do professor...


_Ele disse o que?!


Alvo parou onde estava, ouviu vozes vindas do final do corredor, logo pode ver o brilho de duas varinhas, ele ficou desesperado, não havia onde se esconder, não havia tempo para sair do corredor, ele seria descoberto...


_Isso mesmo Neville! Disse que se eu não mudar meu comportamento ele irá me afastar do cargo! Como se ele pudesse!


Alvo logo reconheceu aquela voz, era a Prof. Minerva que parecia estar acompanhada pelo Prof. Neville. “Logo ela!”, pensou Alvo, seria bem melhor se ele fosse surpreendido pelo Prof. Dumbledore, mas se tratando da diretora, ele sabia que não teria escapatória e eles estavam chegando, o brilho das varinhas aumentava... Alvo tomou um novo susto e por incrível que pareça havia sido pior que os anteriores, uma mão segurou firme o seu pulso, mas não havia ninguém visível ali, ele teria gritado, mas o pavor havia-lhe privado da sua capacidade de emitir sons, olhou aturdido para o seu pulso, que de repente, começou a ficar invisível! Logo todo o seu braço havia desaparecido, o garoto apertou-lhe com a outra mão para certificar-se que ele continuava lá e então sua outra mão também foi desaparecendo, em seguida sua cabeça, peito, barriga, pernas... Ele estava inteiro invisível. Continuava a sentir uma mão apertando o seu pulso, mas aquela não era a hora de pensar em quem estava ali, ele ficou o mais parado possível torcendo para que os professores atravessassem logo o corredor.


_Então o Sr. Barton não vão mais embora? _ perguntou Neville.


_Não! Kingsley disse que ele ficará aqui até segunda ordem _ respondeu a professora parando a dois passos de Alvo.


_Como o Ministro pode confiar naquele homem, Minerva!


_Eu não sei Neville, ele era um péssimo aluno, passou raspando em todas matérias! Todas menos transfiguração, que ele sequer foi aprovado! Não sei como conseguiu um cargo tão importante no Ministério.


_Ele ainda assim consegue ser um grande informante?


_Sim. De alguma forma ele consegue extrair informações que ninguém mais consegue, eu estive me reunindo com o Ministro frequentemente antes do ano letivo começar e vi o quanto ele presa a opinião do Sr. Barton.


_Então foi ele que descobriu essa lenda e toda a história do Tirante de Gáia?


_Sim. O Tirante de Gáia estava a séculos no Departamento de Mistérios e ninguém nunca soube para que ele servia.


_E logo em seguida começaram a acontecer coisas estanhas...


_Isso mesmo. O Tirante de Gáia misteriosamente se moveu, Dumbledore desapareceu do retrato da sala do diretor e ainda aquela história do Chapéu Seletor...


_Ninguém sabia que ele iria mudar a forma de seleção, não é mesmo?


_Ele nunca fez isso desde os primórdios de Hogwarts! Não tem sentido! Normalmente os filhos ficam nas mesmas casas dos pais, é tão comum que eu mesma cheguei a tirar pontos de Grifinória porque Alvo estava ouvindo uma conversa minha com Hagrid antes mesmo da seleção! E o chapéu colocou Rose em Corvinal e Scorpio em Grifinória!


_Falando no Potter, você não vai mesmo contar a ele e ao irmão o que está acontecendo com Harry?


_Gina acha melhor que não. E para ser sincera eu concordo com sua decisão, os garotos não precisam disso os preocupando _ Alvo viu que Minerva parecia abalada, estava quase chorando, ele nunca tinha visto a diretora naquele estado.


_Eu ainda penso que seria melhor...


_Vamos parar de discutir isso aqui Neville, agente não sabe quem ou o que pode está escutando nossa conversa.


E assim eles terminaram de atravessar o corredor, Alvo demorou um bom tempo para perceber que já não havia mais ninguém segurando seu pulso e que seu corpo estava novamente visível; ele estava chocado com o que tinha acabado de ouvir. Quando voltou a si, continuou seu caminho mais determinado do que nunca, seu pai estava dependendo daquilo e agora ele tinha certeza que ele estava em perigo. Depois de mais algum tempo ele chegou à porta da sala de Pickwick, experimentou a maçaneta a para sua surpresa ela estava destrancada, não havia ninguém na sala, o Prof. Pickwick certamente estava fazendo ronda em algum ponto do castelo, Alvo olhou em volta, a sala mais parecia a galeria de um museu, vários objetos antigos e estranhos estavam espalhados pelo lugar, ele mal reparou na pequena mesa que estava num canto entre duas estatuetas em forma de duendes. Quando a percebeu, foi até lá e vasculhou todas as gavetas, havia apenas pergaminhos com anotações das aulas, onde será que ele guardaria algo tão importante? Próximo à janela havia uma estante abarrotado de livros, Alvo pensou que o pergaminho poderia estar ali, foi até a estante e verificou alguns volumes com cuidado, eles pareciam que poderiam desmanchar a qualquer momento, de repente ele puxou o livro que estava na ponta da segunda prateleira e o armário girou revelando uma passagem secreta, Alvo a atravessou.


Era cômodo sufocante, não havia ventilação e várias tochas de fogo mágico iluminavam o lugar com suas chamas azuladas, o lugar não tinha tantos objetos quanto o outro cômodo, mas todos os que se encontravam ali, pareciam ser muito valiosos: Estátuas de ouro, vasos de cristal, belas pinturas e no centro, dentro uma pequena redoma de vidro, estavam dois objetos: uma pedra negra como carvão e um manuscrito muito velho.


Aquela pedra... Alvo se lembrou do que tinha dito o Prof. Dumbledore, os dementadores medievais... A pedra que os criava... Seria que aquela era a tal pedra? Será que Pickwick era o responsável por tudo que estava acontecendo? Alvo se lembrou que Rose não havia gostado dele desde o primeiro momento... Mas naquela hora ele tinha outras preocupações, se aproximou do vidro e olhou o manuscrito, a maior parte do documento havia se deteriorado sendo impossível ler qualquer coisa, mas uma parte do final ainda estava bem legível:


 


 


Deixando claro que o aventureiro está muito bem advertido, se ainda assim desejar seguir em sua traiçoeira busca, a Pedra das Nove Luas está guardada no andar secreto de Hogwarts, que pode ser alcançado através do el


 


 


O resto do pergaminho também estava indecifrável, Alvo se sentiu muito frustrado, havia chegado até ali e agora... Ele ouviu passos no corredor, rapidamente saiu daquele esconderijo, fechou a passagem e procurou algum lugar para se esconder, não havia nenhuma opção aparente, ele já estava ficando desesperado quando sentiu novamente um aperto em seu pulso e seu corpo ficou invisível.


_Meus tesouros! Meus queridos tesouros! Sentiram falta do papai? _ era Pickwick que havia entrado na sala com aparência de cansado _ E quanto aos meus favoritos? Pickwick foi até a estante de livros e abriu a passagem que levava até a outra área, era aquele o momento, Alvo se precipitou o mais rápido que pode para fora da sala, já não havia ninguém segurando seu pulso. Atravessou o castelo as presas, parando apenas uma vez para se esconder de Pirraça e Binns que esvaziavam lixeiras pelos corredores, finalmente chegou em frente ao quadro da mulher gorda.


_Ei! Acorde! Acorde! _ disse o garoto que sentia dor no lado da barriga e a respiração difícil.


_O que você está fazendo aqui fora essa hora? _ disse a mulher gorda acordando de mal-humor.


_Não interessa apenas me deixe entrar!


_Você não disse a palavrinha mágica!


_Por favor?


_Não idiota, a senha!


_Ah! Sorvete de amora, sorvete de amora!


_Tudo bem! _ disse ela girando o quadro e permitindo a passagem do garoto.


Ele se sentou na poltrona mais próxima da lareira e soltou uma exclamação de alivio, havia conseguido voltar sem ser descoberto, isso graças a... Alguém sentou na poltrona em frente e começou a assobiar uma melodia alegre.


_Bem, acho que é hora de acabar com esse suspense, não é mesmo? _ disse a voz que vinha da poltrona _ Acho que você está começando a ficar assustado de verdade, está sim!


Um corpo começou a aparecer na poltrona: primeira as pernas, o tronco, os braços, a cabeça e lá estava ele!


_Como vai, mudinho?


 


 

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