Quinto Capítulo



Quinto Capitulo



           



– Lily! – James, Bella, Remus e Seth gritaram ao ver a ruiva cair inconsciente.



EXPECTO PATRONUM! – O professor gritou conjurando o seu patronus e da sua varinha saltou um cavalo prateado que galopou pela sala, espalhando um calor confortável e obrigando o Dementor a recuar para a caixa. – Lilian, acorda.



– Lily! Por favor, Lils, acorda. – Bella disse ajoelhando-se ao lado da ruiva.



– Classe disp’nsada! – Seth exclamou para os alunos que pareciam curiosos com o que se passara. – Saiam! AGORA!



– Lily. – James disse aproximando-se de Bella e da jovem desmaiada.



– Eu disse classe disp’nsada, Potter. – Seth rosnou. – Podes-t’ir embora.



James parou momentaneamente para olhar para o moreno. – Eu não a vou deixar sem saber se ela está bem.



Os olhos de Seth perscrutaram os de James, procurando neles uma razão que ultrapassasse a preocupação que o rapaz parecia sentir por Lily, mas nada encontraram além de genuína preocupação. O Salteador reparou no olhar do professor, não compreendeu os motivos por detrás da atitude dele, no entanto, a sua mente estava focada apenas na rapariga que se encontrava inconsciente.



– Rem, ainda tens chocolate? – James perguntou ao lobisomem, vendo-o assentir brevemente. – Vai buscá-lo, por favor, Moony.



Bella continuava ajoelhada ao lado da amiga. Os seus olhos azuis perscrutavam o rosto sereno da ruiva, mas conseguiram detectar uma ruga entre os seus olhos, ruga essa que a morena sabia aparecer apenas quando a amiga estava deveras nervosa ou assustada.



O que terás ouvido, Lilian Evans. Bella pensou passando a mão delicadamente nos fios de cabelo ruivo.



– Lilian, moça, acorda. – Disse Seth tocando levemente no rosto. – Vá lá, pequenita.



Lentamente, a ruiva foi voltando aos seus sentidos, abrindo repentinamente os olhos verdes quando se apercebeu onde estava. Olhou à sua volta, percebendo que a sala estava vazia à excepção dos três Salteadores e do professor.



– O que aconteceu?



– O dementor aproximou-se de ti e tu desmaiaste. – Bella respondeu, ajudando a amiga a sentar-se. – Sentes-te bem?



– Tenho um pouco de frio...



– Toma, isto vai-te f’zer sentir m’lhor. – Seth disse entregando-lhe o chocolate que Lupin retirara da mala.



Lily comeu o chocolate sob o olhar atento do professor e dos Salteadores, sentindo-se constrangida por tal facto. Pouco depois, Bella ajudou-a a levantar-se, levando-a para um dos puff’s evocados pelo professor de DCAT.



– Eu não compreendo. – A ruiva disse com um ar confuso. – Eu estava a ir muito bem, mas de repente... não consegui fazer o feitiço.



– Ouviste alguma coisa quando o Dementor se aproximou de ti? – Bella perguntou, os seus olhos azuis focados nos verdes da amiga que assentiu silenciosamente.



Subitamente as palavras cruéis do seu passado vieram-lhe à mente, trazendo consigo um enorme nó no estômago da jovem ruiva que baixou a cabeça deixando o seus cachos ruivos taparem-lhe o rosto, impedindo os outros de verem as lágrimas que inundaram os seus olhos. Ninguém sabia acerca do seu passado, ninguém sabia acerca do facto de que ninguém em sua casa desejava a sua presença, talvez todos já tivessem reparado e talvez questionado o porquê de Lily ficar em Hogwarts aquando das férias de Natal e Páscoa, mas ninguém sabia o verdadeiro motivo por detrás de tal opção.



– Às vezes, - Seth disse, fazendo os olhos da ruiva elevarem-se para os seus. – e é normal, a presença de um Dementor faz-nos reviver, no nosso intimo, a memória ma’s triste que temos, a que nos magoou mais ao longo da nossa vida, mas’isso nã faz de nós fracos.



– Já lhe aconteceu isto alguma vez? – Lily perguntou timidamente.



O professor assentiu, um olhar triste prendendo-se no seu rosto. – Po’co tempo d’pois de ter perdido a minha filha, há dezasseis anos. Nã foi uma experiência agradável, mas nã me pude deixar abater... A minha esposa precisava de mim. – Seth sentou-se ao lado da ruiva e com um simples olhar para Bellatrix, pediu-lhe que saísse e levasse os rapazes.



A morena acenou com a cabeça, levantando-se do chão e dirigindo-se a James e Lupin. – Vamos embora, rapazes.



– O quê?! – James pareceu despertar de um devaneio ao ouvir a voz da amiga. – Mas, a Lily...



– Ela fica com o Seth e vai ficar bem. – Bella disse, olhando o amigo com olhos severos, virando-se depois para a ruiva com olhos mais meigos. – Nós vamos andando, Lils. Qualquer coisa que precises, podes pedir ao Seth que envie um patronus à minha procura.



Tanto o professor como a ruiva assentiram, vendo os Salteadores abandonarem a sala de Defesa Contra as Artes das Trevas. Quando se viram sozinhos, Lilian virou-se para o professor, milhares de dúvidas atravessando a sua mente.



– Não sabia que tinha uma filha. – Ela disse rapidamente. – O Alan nunca disse que tinha uma irmã.



– O Alan nunca chegou a saber que tinha uma irmã. – Seth respondeu, a mágoa presente tanto na sua voz como no seu olhar. – Quando a minha filha... desapareceu, o Alan ainda nã tinha nascido. Eu e a Isis ficámos destroçados com a perda, mas nã podíamos ignorar as nossas vidas... Nunca superámos a dor, mas tínhamos que ter em consciência qu’o nosso filho precisava de nós, por isso mimámo-lo quase tanto quanto queríamos ter mimado a nossa menina.



A ruiva não sabia porque é que o professor, que nem sequer a conhecia há mais de poucas horas, lhe estava a contar aquilo tudo sobre ele, parecia-lhe que de algum modo, ele queria que ela o conhecesse, mas claro que ela devia estar errada.



– Quando o Alan nos contou sobre ti na primeira carta que nos enviou no primeiro ano, achámos que, por alguma piada do destino, ele sempre teria uma irmã mais velha que pudesse olhar por ele. – Seth sorriu com a memória. – Foi um pequeno choque quando ele nos falou sobre ti, sabíamos qu’ele poderia encontrar alguns problemas na sociedade por ser meu filho, mas quando chegaste tu e o defendeste... Foi como se tivesses ocupado o lugar de vazio que havia desde qu’a minha pequenina desapareceu.



– Eu? – Lily disse, incrédula com o carinho que via no olhar do professor. – Porque haveriam de pensar que eu ocuparia esse lugar?



Seth olhou para o vazio, um sorriso a brincar com os seus lábios, fazendo-o parecer divertido. – Nós sabemos que nã fizeste de propósito p’ro fazeres, mas... nós tínhamos essa necessidade. Foi instintivo. Adoptámos-te, por assim dizer. O Alan nã pára de falar de ti e eu e a Isís já sentimos como se te tivéssemos conhecido durante toda a vida. – O professor fez uma pausa, sorrindo abertamente. – Só lamentamos que nã tenhamos tido a hipótese de te conhecer antes, uma vez que rejeitavas sempre os nossos convites.



– Também lamento. – A ruiva acabou por dizer, ainda digerindo as informações que Seth lhe dera. Em algum lugar do mundo, mais próximo de si do que pensava, era desejada e querida, enquanto no seu próprio lar era apenas um fardo indesejável.



– Mas teremos imenso tempo est’ano. – Seth disse, na sua voz o cunho de uma promessa bastante saliente. – Este incidente nã voltará a acontecer, pequenina. Ajudar-te-ei em tudo o que puder e precisares.



Lily sorriu perante o tom sério do ex-Auror, naquele único momento, sentira-se mais acarinhada numa conversa com o pai do seu amigo do que com o seu próprio pai. Sentira, pela primeira vez em toda a sua vida, o carinho paterno e, subitamente, sentiu-se extremamente grata a qualquer entidade superior por ter colocado Alan no seu caminho.



– Mas agora deves querer ir te embora, moça. – Seth levantou-se do puff, lançando um sorriso à ruiva.



– Obrigada, professor. – Ela disse, levantando-se. – Por tudo, por me ter ajudado e por compartilhar comigo a sua história.



O professor aproximou-se da jovem, puxando uma das mechas ruivas dela para trás da orelha, desobstruindo assim a vista do rosto da jovem.



– Recorda-te apenas que p’ra mim é c’mo se fosses m’nha filha, pequenina.



Lilian corou, mas sorriu, olhando para o professor com um brilho agradecido.



 



* * * * *



– Não me agrada. – James disse pela enésima vez.



– Não tem nada que te agradar, Prongs! – Bella disse, folheando o livro de poções mais uma vez.



– Mas, Bastet... – O moreno resmungou como uma criança pequena.



– Nem Bastet, nem meia Bastet. A Lils é uma menina crescida e é a melhor amiga do filho do Seth. Sabes o quanto ela fez pelo Alan?! Tens sequer noção do que a amizade dela significa para o Seth?! – Bella levantou os seus olhos do livro, dirigindo um olhar aborrecido para James. – Ela não tarda deve estar aí a chegar. Deixa de ser chato.



– Até porque a Lily não te deve quaisquer explicações. – Remus disse do seu lugar junto da lareira.



– Hoje tiraram todos o dia contra mim. – James queixou-se.



Tanto Bella como Remus suspiraram perante o tom infantil do amigo, quando o retrato da Sala Comum se abriu para dar passagem à ruiva em questão que parecia estar ligeiramente perdida em pensamentos.



– Lily! – Remus disse, poisando a pena com que escrevia.



– Lils. – Bella levantou-se do sofá para olhar para a amiga.



– Evans. – James chamou-a, fazendo-a sair do seu pequeno mundinho. – Estás bem?



– Sim. – Ela respondeu depois de hesitar um pouco. – Obrigada por perguntares.



– Tens a certeza de que estás bem? – Remus perguntou. – Pareces um tanto... aluada.



Bella ter-se-ia rido do termo empenhado por Moony relativamente ao estado da amiga, não fosse estar preocupada com ela.



– Estou, não se preocupem. – Lilian respondeu dirigindo-se às escadas para os dormitórios. – Vou lá acima buscar uns livros e volto já.



Os três ficaram a ver a ruiva desaparecer escada acima, cada um com um ar preocupado no rosto.



– Ela pareceu-vos bem? – Remus perguntou ainda olhando para as escadas.



– Nem por isso. – Bella disse, deixando que um sorriso se alastrasse pelo seu rosto. – Mas achei hilariante o simples facto de tu teres dito que ela estava aluada, Moony.



Os olhos de Lupin arregalaram-se com surpresa e, sorrindo, abanou a cabeça.



– És inacreditável.



Enquanto os dois amigos trocavam palavras divertidas, James continuava a olhar para as escadas do dormitório feminino com preocupação. O que teria acontecido na sala de aula com Seth para que Lily voltasse para a Torre dos Gryffindor tão alhea a tudo o que se passava à sua volta?!



– Hei, James. – Bella chamou o primo, abanando a sua mão em frente dos olhos do rapaz. – Jamie... Acorda!



– D-Diz?



– Rem, enganámo-nos quando te apelidámos de Moony. – Bellatrix arqueou a sobrancelha. – O que se passa contigo hoje, Potter?!



James sorriu, era raro ver Bellatrix preocupada, ainda mais raro era vê-la fazer piadas quando os amigos pareciam estar em sarilhos ou doentes.



– Eu estou óptimo, Bells. – James disse ainda com um sorriso. – Bem, vou dar uma vista de olhos pelos corredores antes de termos a aula de Herbologia.



E tal como Lily chegara, James partira, de corpo presente, mas com a cabeça nas núvens. Os corredores estavam vazios, o que facilitava, o silêncio ajudava-o a pensar e era isso que ele precisava. Nunca tivera muitas dúvidas em relação aos seus sentimentos pela ruiva: ao início, fora o sentimento de desafio que a rejeição dela provocara, mas depois, começara a descobrir alguém que não era só um desafio para conquistar, mas também para compreender, Lilian Evans era um mistério que o atraia cada vez mais e a cada passo que estava mais próximo de dissolver o mistério este revelava-se ainda mais profundo.



Só uns instantes na tua mente, Lilian, e talvez conseguisse resolver o mistério que és. James pensou ao cruzar uma das esquinas dos inúmeros corredores da escola.



– Não penses muito, primo. – Uma voz familiar disse. – Pode fazer-te mal.



James sorriu antes de se virar. – Sirius, que surpresa ver-te aqui.



Quando se virou para a parede do corredor, deparou-se com o primo. O sorriso despreocupado e o cabelo negro penteado na perfeição, Sirius era a figura do menino rico e desinteressado.



– Julguei que não ficarias surpreendido, afinal, conheces-me como ninguém. – Sirius disse desencostando-se da parede.



– Ou eu julguei que conhecia. – James disse, o seu ar sorridente ficando sério. – E se te conheço assim tão bem, sei que estás a falar comigo porque queres alguma coisa.



O sorriso de Sirius desapareceu no mesmo instante em que James acabou de falar. – Vês, eu disse que me conhecias bem.



– O que queres, Sirius?



– Por favor, James, não uses esse tom. Também vais lucrar com isto. – Sirius disse. – Tu sabes que eu não peço favores sem os ficar a dever.



– E o que iria eu ficar a ganhar?



– O que quiseres, dentro do que eu puder fazer mais tarde. – Sirius disse. – Vá lá, James. Preciso mesmo que o faças.



Os olhos de James semicerraram-se e uma das suas sobrancelhas arqueou-se, observou o primo como se o testasse, mas por fim suspirou condescendente.



– O que precisas que faça?



E Sirius sorriu, um sorriso genuíno ao que parecia a James.


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