Sexto Capítulo



Sexto Capitulo



 



– Oh! – James gemeu ao sentar-se no banco à mesa dos Gryffindor. – Estou exausto! E esfomeado.



– Era capaz de comer um hipógrifo! – Concordou Remus sentando-se ao lado do amigo.



– Rapazes. – Sussurrou Bella ao sentar-se ao lado de Lily, que sorriu discretamente.



James lançou-lhe um olhar falsamente contrariado que não passou despercebido a ambas as raparigas. – A sério, Bellatrix? Porque eu ia jurar que tu ficas ligeiramente pior que nós quando estás naquela altura do mês... Não sei como é que os Elfos conseguem alimentar esta escola toda depois do teu ataque da meia-noite às cozinhas quando o teu melhor amigo te vem visitar.



As faces de Bella ficaram rubras tal como os seus cabelos. Sabia que o facto de andar sempre com os rapazes e viver com eles como se fossem irmãos fá-los-ia tornarem-se conhecedores dos seus ciclos, tal como sabia que seria inútil tentar esconder o seu estado de Remus que, como James costumava dizer, sofria da mesma situação que ela, a única diferença é que para Bellatrix, nem sempre havia Lua Cheia.



Lily, que até então se mantivera calada, riu-se em alto e bom som perante o ar envergonhado de Bellatrix. Nunca imaginara ficar a saber algo tão... inesperado acerca dos Salteadores, aqueles que ela quase admirava pela relação que partilhavam e a maneira como levavam a vida. Vê-los tão... normais era inacreditável.



– Achas graça, Evans? – James perguntou com uma careta ao dizer o apelido dela.



– Lily. – Ela corrigiu o moreno com um sorriso, fazendo com que Remus que ia a dar um gole do seu cálice se engasgasse.



Potter ficou a olhar para a ruiva, que ainda sorria, com um ar incrédulo. Poderia ela estar a dizer aquilo que ele julgava que ela tinha dito?!



– O quê!?



– Trata-me por Lily. – Ela disse ainda a sorrir. – Acho que está na hora de deixarmos o passado para trás das costas.



Um imenso sorriso abriu-se nos lábios de Prongs, alterando de tal forma o seu semblante que a ruiva não pôde deixar de reparar como ele até era bonito. Ao lado de Lily, Bella sorria não só pelo ar de felicidade do amigo como do ar surpreendido de Lupin que parecia ainda recuperar o fôlego.



– Ora, isso significa que é desta que te juntas aos Salteadores, Lily? – Bellatrix perguntou com um ar matreiro fazendo a ruiva rir-se.



– Talvez. – A resposta críptica de Evans fez com Remus gargalhasse.



– É de vez! – O Salteador disse. – Passados tantos anos, a influência da Bella finalmente teve os seus frutos em ti, Lils.



– Parece que sim! – Lilian riu-se com o moreno perante a cara de ofensa de Bellatrix.



– Gozem, gozem. – A morena disse. – Mas acho que te devíamos arranjar um nome.



– Oh! – Remus exclamou arregalando os seus olhos cor de mel. – Eu tenho uma ideia.



– Vamos ouvi-la então. – James disse, agarrando no seu cálice.



Tiger Lily. – Lupin respondeu, fazendo o grupo rir-se perante a piada inerente ao nome de Lilian.



– Agrada-me. – Lily disse. – Tiger... Gosto.



– E eu brindo a isso! – James disse erguendo o cálice sendo imitado pelos amigos. – À mais nova Salteadora, Miss Tiger.



– À Tiger. – Repetiram Remus e Bella com sorrisos alegres nos seus lábios.



James lançou um olhar calmo à mesa da equipa inimiga, encontrando o olhar atento do primo.



Ao longe, na mesa de Slytherin, Sirius observou-os, erguendo o seu próprio cálice quando os seus olhos azuis-cinza se encontraram com os castanhos esverdeados de James. Um pequeno sorriso surgiu nos seus lábios após ingerir o conteúdo do copo, soltando então um pequeno gemido com o ardor causado na sua garganta pela bebida.



– Ainda a misturar Whisky de Fogo no sumo de Abóbora, Sirius? – Narcissa perguntou vendo o primo tossir para limpar a garganta da sensação de fogo líquido.



– Quando fores maior de idade, priminha, permitirei que andes com um cantil cheio se assim te aprouver... – O moreno disse, a voz com uma rouquidão mais profunda provocada pela bebida “alcóolica”. – Até lá, não tens nem que te preocupar com o que eu bebo nem que te meter na minha vida. Estamos entendidos?



A loira assentiu e calou-se, virando-se para o seu namorado com um ar ofendido como se fosse uma criança que fora repreendida, de certo modo, era assim que se sentia.



Sirius era rigído no cumprimento das regras que impunha para a própria família, tão ou mais rigído do que se lembrava do Tio Orion ter sido, mas não podia negar que fora essa inflexibilidade em relação às regras que fizera a própria família voltar a ser respeitada entre a sociedade bruxa, não que não fosse antes, mas subitamente, ninguém questionava um Black, a sua palavra era lei, especialmente se esse Black fosse Sirius.



Enquanto isso, na mesa de Gryffindor...



– Urgh. – Bellatrix gemeu depois de engolir o sumo de abóbora com o qual brindaram a “aderência” de Lily ao grupo.



– Eu juro que não baptizei a tua bebida. – James disse ao ver o ar confuso de Bella.



A morena arqueou uma das sobrancelhas perfeitas dirigindo um olhar incrédulo ao primo. Sabia que era comum as pessoas tomarem os mesmos hábitos que outras quando passavam muito tempo juntas, só não entendia o gosto que James tomara por Whisky de Fogo. Tinha consciência de que Sirius transportava sempre algum consigo e que a convivência entre os dois rapazes era maior durante as infindáveis férias de Verão, mas não conseguia imaginar o que levara James a adoptar tal hábito do outro moreno.



Prongs puxou de um pequeno cantil de prata de dentro do seu manto e abanou-o, mostrando que o cantil se encontrava vazio, desprovido de conteúdo.



– Não tenho nada! – Prometeu.



– Não seria a primeira vez. – Bellatrix resmungou erguendo o seu cálice para o cheirar, mas não detectou o mais breve odor de álcool. – Sabes que não gosto disso.



– E eu iria alguma vez fazer algo contra ti, priminha?!



O ar inocente de James quase que a convenceu, mas era exactamente aquele ar inocente que aparecia quando tentavam esconder alguma partida dos professores ou dos pais, o que implicava que ele podia estar a mentir ou, aquilo que ela mais desejava, a falar a verdade.



– Eu vou confiar em ti. – Ela disse, na sua voz uma ameaça patente.



– Se não confiares em mim, em quem confiarás?! – Ele respondeu e ela soube que ele falava a verdade.



O resto da refeição decorreu com picardias entre James e Lily com o envolvimento de Bella, por vezes, e outras, com a interrupção de Remus, que para frustração de James, tomava o partido de Lilian na discussão.



– Então eu fui trocado! – Queixou-se James fazendo Lily rir-se em alto e bom som.



– Admite, Potter, eu sou melhor que tu. – O tom brincalhão não passou despercebido ao moreno que sorriu amplamente.



Bella acompanhava-os em silêncio, sorrindo aqui e ali, agradecendo aos Céus – ou a quem quer que fosse que olhava por eles – por ter feito com que aqueles dois se entendessem.



Era só uma questão de tempo, agora. A morena pensou bocejando em seguida e atraindo o olhar dos amigos.



– Acho que o jantar me caiu na fraqueza. – Ela sorriu de maneira apologética. – Desculpem estragar-vos o momento, mas acho que me vou deitar. Boa noite.



Os três amigos desejaram-lhe uma boa noite e enquanto se dirigia para as escadas que a levariam ao dormitório feminino, ouviu Lily despedir-se dos outros dois também.



Quando as duas raparigas chegaram ao quarto, tiveram o prazer de constatar que eram as únicas que tinham chegado ao dormitório. Vestiram os seus pijamas em silêncio e deitaram-se, ficando a olhar para o tecto num silêncio companheiro.



– Nunca pensei que chegaria a confraternizar com o James. – Lily disse passado um bocado.



– Lá no fundo... – Bella bocejou, esfregando os olhos azuis. – Eu sabia que um dia irias tornar-te mais amena à ideia de seres amiga dele. E, acho, tu também sabias... eras é demasiado teimosa para ceder à verdade.



Lily contemplou as palavras de Bellatrix em silêncio, verificando a veracidade dos factos. Sim... algures dentro de si, sabia que a amiga estava certa e que não teria aguentado muito mais e que teria aceite ser amiga de James Potter, o rapaz que desde o seu terceiro ano a convidava para sair incansavelmente.



– E talvez... – Bella disse, bocejando. – Só talvez, tu queiras mais do que ser apenas amiga dele... Mas só talvez.



Lilian sorriu perante a voz ensonada de Bella. – Boa noite, Bells.



E aquele tom semi-divertido, semi-irritado de Lilian Evans foi a última coisa que Bella ouviu antes de cair na profundidade da inconsciência.



A escuridão que tomou conta do seu ser era aconchegante, não era forçada e era bem-vinda. Quando pequena costumava temer a escuridão, costumava acreditar que existiam monstros escondidos em todos os cantos escuros, mas ele ensinara-lhe que nem todos os monstros se escondiam no escuro e que mais perigosos que essas criaturas eram aquelas que caminhavam sob a luz do dia.



Bella costumava por fazer com que as suas noites fossem livres dos pesadelos que, por norma, a atormentavam, no entanto, o seu stock de poção Sono-Sem-Sonhos estava próximo do fim e o tempo que demoraria até conseguir repô-lo seria maior do que o tempo que a separava do pior dia do ano... o dia em que as memórias surgiam sempre como sonhos inconvenientes e que não a deixavam descansar. Por já ter apenas um frasco de poção, não a tomou nessa noite e um pequeno canto da sua mente cansada, rezava para que não surgissem sonhos inesperados, por esse mesmo motivo não ficou surpreendida quando abriu os seus olhos para encontrar o belíssimo carvalho da mansão Black, os seus enormes ramos repletos de luxuriantes folhas verdes, banhado pelo Sol e oferecendo uma enorme sombra a uma figura que ela reconheceria em qualquer lugar.



– Demoraste mais do que o costume. – A figura disse, ainda de costas para ela. Não havia na sua voz a meiguice que costumava haver quando tinha aquele sonho e ela soube de imediato que aquele era a versão dele que ela mais odiava... a versão dele que a assombrava durante o dia.



– O que estás aqui a fazer? – Ela perguntou, a sua voz demonstrava a atitude defensiva dela e ele apercebeu-se disso, suspirando em seguida.



Bellatrix viu a figura de Sirius virar-se, não podia deixar de admitir que o seu subconsciente tinha a imagem dele muito bem gravada, que aquela pessoa passaria bem pelo Sirius que ela via todos os dias e que, sendo aquele um sonho seu, ele era o rapaz mais belo que alguma vez vira. Mas a arrogância daquele Sirius tirava-lhe o gosto pelo sonho, era por isso, e porque o seu cérebro tinha a irritante mania de misturar ambas as realidades (a do sonho com a real) fazendo com que os seus sonhos se tornassem de tal modo vívidos que quando acordava ou sentia uma enorme mágoa por ter acordado ou acordava com lágrimas a escorrerem-lhe pela face, fossem essas lágrimas de raiva ou de tristeza, que tomava a poção para impedir que o seu subconsciente lhe mostrasse os seus maiores desejos.



Os olhos azuis acinzentados de Sirius encontraram os seus e ela viu, por momentos, o rapaz novo que brincava com ela naqueles mesmos jardins há já muitos anos.



– Desculpa. – Ele disse, a sua voz vibrando com sinceridade. – Não era minha intenção ser rude.



Aquelas palavras dele foram como um golpe na sua face, apanhando-a desprevenida perante a sinceridade dele. Porque estaria ele a falar-lhe daquela maneira?! Ele era o Sirius, aquele que ela mais odiava, aquele que mais a odiava (talvez mais que a sua irmã Narcissa) naquele mundo. Mas claro... aquilo era um sonho, ele faria tudo o que a mente dela mandava e ouvi-lo a pedir-lhe desculpas era um desejo já muito antigo da morena.



– Tenho dificuldade em acreditar que te encontras realmente arrependido. – Ela disse cruzando os braços sobre o peito.



Sirius voltou a suspirar e os seus olhos estavam repletos com algum sentimento que ela não reconheceu quando ele lhe voltou a dirigir o olhar. Subitamente pela sua mente passou a hipótese de ele estar realmente arrependido.



– Tens todo o direito de desconfiar de mim... – Ele disse. – Não te tenho dado motivos para confiares nos últimos anos. Mas peço-te que acredites que tudo o que fiz, tudo o que tenho feito, tudo o que ainda irei fazer, será tudo por ti.



Observou-o por mais um pouco, deliberando as suas palavras que soavam tão verdadeiras mas que para si, nunca teriam um fundo de verdade e, por isso, riu-se em alto e bom som... fazendo com que Sirius olhasse para ela de olhos arregalados. Esperava qualquer reacção dela, mas não esta, teria o seu comportamento afectado-a assim tão severamente para que ela estivesse naquele estado?



– Bellatrix? – Ele chamou-a.



O riso da morena morreu, mas no seu rosto encontrava-se um sorriso sarcástico que Sirius reconheceu como sendo sinal de incredulidade.



– Aceitarei a tua palavra, mas não quer dizer que acredite em ti. – Ela disse, os seus olhos brilhavam com seriedade. – Afinal de contas isto não passa de um sonho, não é?



Sirius fechou os olhos e o seu rosto contorceu-se numa expressão sofrida por um instante tão breve que ela não se teria apercebido disso não fosse a dor presente na voz dele quando lhe respondeu: – Sim, não passa de um sonho.



Bella sentiu um aperto no coração quando o seu cérebro registou a dor dele, mas como todo o bom Black, ela disfarçou a pena que sentia dele. Enquanto tentava controlar os seus sentimentos, aos seus ouvidos chegou o som de crianças a rirem-se, fazendo-a olhar para o lado... Ao longe, vindos de lado algum, duas crianças, um rapaz e uma rapariga, corriam em direcção ao carvalho espalhando gargalhadas pelo ar.



Não me apanhas! – O rapazinho gritou e conforme ele se aproximava, Bellatrix teve um vislumbre de olhos acinzentados.



Espera por mim! – A menina respondeu, a sua voz coberta com riso.



Os olhos de Bella arregalaram-se quando reconheceu a voz da criança e o seu coração acelerou quando reconheceu a memória.



– Porque estamos a ver isto? – Bella perguntou vendo o menino parar debaixo da sombra do carvalho e olhar para o chão com um olhar pensativo.



– Porque eu queria que te lembrasses de como já fomos. – Sirius disse chegando-se mais perto dela, fazendo com que cada célula do corpo da jovem tremesse de antecipação com a presença tão próxima dele. – Como ainda podemos ser.



Si? O que foi? – A menina, Bellatrix com apenas sete anos, perguntou, na sua voz o riso morrera e dera lugar à preocupação.



O menino, que agora ela reconhecia como sendo Sirius com os seus ternos sete anos a caminho dos oito, ergueu o seu olhar do chão com um enorme sorriso. Os seus olhos brilhavam com pura felicidade e ele fez-lhe sinal para que se aproximasse e ajoelhou-se, olhando reverentemente para o chão.



Olha para estas flores, Bells! – Ele disse indicando o pequeno amontoado de flores silvestres que cresciam sob a frondosa copa da árvore.



São tão lindas. – Ela murmurou, olhando para as flores, fascinada.



Um dia... quando crescermos... tu vais ser como elas. – Sirius disse, o seu olhar brilhava com orgulho e a sua voz passava segurança. – Tu vais ser linda e indomável!



A menina abriu um imenso sorriso e olhou para ele, os seus olhos azuis metamorfosearam-se para imitar o tom do céu e brilharam como estrelas. – A sério?



Prometo!



Então, se eu vou ser como estas flores, tu vais ser como o carvalho. – Ela disse, o seu tom de voz como se constatasse um facto. – Grande e forte! E vais sempre proteger-me! Prometes?



Os olhos do rapaz brilharam com determinação que se reflectiu na sua voz. – Prometo!



Ambos os jovens viram a pequena Bellatrix aproximar-se de Sirius e dar-lhe um beijo no rosto, suave e inocente... E então ambas as crianças desapareceram tal como tinham surgido.



– Eu prometi-te. – Sirius disse, a sua voz forte fê-la tremer. – E não quebrei nenhuma das minhas promessas.



Ela virou-se para ele, os seus olhos brilhando com lágrimas por derramar. Olhou-o nos olhos, não se importando com a proximidade.



– Tens razão... – Ela concordou. – Mas quebraste outras. Porquê, Sirius?



Ele apenas olhou para ela, o seu olhar parecia percorre-la por dentro, vendo os seus maiores medos e desejos escondidos no fundo da sua alma, despindo-a da fachada que ela apresentava sempre que estava perto dele.



– Eu sei. – Ele disse. – Mas se as quebrei foi porque queria manter uma e apenas uma promessa, Bellatrix.



– E qual seria essa promessa?



– Prometi-te que seria como aquele carvalho, grande e forte. Que seria assim, que te iria proteger sempre.



O hálito dele bafejava o rosto dela, lançando pequenos sinais eléctricos pelas suas terminações nervosas. O rosto dele aproximou-se ainda mais e os lábios dele roçaram os dela. Bella fechou os seus olhos em antecipação, fora uma resposta natural à proximidade dele... Sirius fechou a pequeníssima distância que os separava e beijou-a de uma forma tão natural que os lábios de ambos pareciam ter sido desenhados única e exclusivamente para aquele fim.



O moreno separou-se dela pouco depois, deixando-a sem fôlego e confusa. Porque a teria beijado?!



– Eu vou sempre proteger-te, Bellatrix... Sempre! – Ele disse quando começou a desvanecer-se, tal como as crianças.



– Porquê? – Ela perguntou, ainda sem fôlego.



– Porque te amo... – A resposta veio já num sopro de vento.


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