Quarto Capítulo
Quarto Capitulo
Gryffindors e Slytherins reunião-se à porta da sala de aula de Defesa Contra as Artes das Trevas depois do almoço.
Para os leões, a última aula da manhã fora com a sua chefe de equipa e com a equipa dos texugos, não houvera incidentes idênticos aos ocorridos durante a manhã com as cobras. No entanto, apesar da alteração de ambiente, certos alunos pareciam ainda amargurados pelos resultados da pequena “competição” na aula de poções, era ainda possível ver Lily e Bella relativamente aborrecidas com a situação, parecendo deter sentimentos de revolta contra Sirius que sempre que via ambas as raparigas lhes lançava um sorriso irónico.
– A sério! Eu detesto-o. – Bella reclamava pela enésima vez no dia.
– Já me perguntava quanto tempo iriamos ficar sem te ouvir dizer isso. – James disse coçando a cabeça. – Quanto tempo foi, Moony?
– Cerca de um quarto de hora. – Disse o moreno aloirado sem olhar para o relógio de pulso. – Devias tentar ignorar isso, Bella, afinal de contas ele é o Chefe da tua família.
– Até eu me casar! – A morena respondeu com indignação. – Não percebo o que raio passava pela cabeça dos meus antepassados para impor essa regra.
– Não me digas que pensavas ficar para Tia e viver com 50 gatos. – James gargalhou.
– Sabes bem que apesar de tudo eu não me dou bem com gatos. – Bella respondeu ao primo, franzindo o nariz com repugna. – Sabes que eles são irritantes quando se metem a esfregar-se contra as nossas pernas e mostram aqueles dentinhos... Ugh!
– Não percebo porquê, Bells. – Lily intrometeu-se. – Acho-os tão queridos.
– A Bellita tem um trauma com gatos, Lilian. – Disse-lhe James. – É uma coisa antiga.
A ruiva apesar de parecer interessada na história que o Salteador parecia querer contar, fingiu desinteresse e poucos segundos depois, a figura possante e, por demais, elegante de Seth MacEvans apareceu no fundo do corredor, abrindo as portas da sala de aula com um acenar de varinha.
Lentamente, foram todos entrando e sentando-se nos seus lugares de eleição, deixando espaço suficiente para que os Salteadores se sentassem na frente da sala junto de Lilian e Sirius.
– Levantem-se, classe. – Seth disse com o seu sotaque escocês carregado e com um aceno de varinha as mesas e cadeiras desapareceram dando lugar a puff’s verdes, dourados, vermelhos e prateados. – Muito bem podem sentar-se. – E assim o fizeram. – O meu nome é Seth MacEvans. Bem sei que mu’tos de vocês sabem quem eu sou e devem ter algumas questões nada pertinentes.
Seth quedou-se em silêncio ao ver uma mão no ar, os seus olhos verdes seguiram o braço erguido para identificar que o seu dono era nem mais nem menos que Lilian Evans, a melhor amiga do seu filho.
– Diga, Miss Evans.
– Não querendo ser indiscreta, professor. – Lily disse, a sua face ficando quase da mesma cor que o seu cabelo. – Mas é mesmo verdade que foi perseguido pelo Ministério da Magia injustamente?
– É sim, Miss Evans. – O tom pesaroso de Seth não passou despercebido pela ruiva. – E por causa das acusações sem qualquer fundamento feitas contra mim e a minha família, perdi muito mais qu’anos de liberdade. Quero que fique aqui bem esclarecido, nunca servi nem nunca servirei Lord Voldemort. – Vários arrepios se fizeram notar pela sala, mas o professor ignorou-os. – E nã q’ero ouvir ninguém, repito ninguém comentar ou elevar rumores acerca de ter ou nã servido tã vil criatura.
– Mas é verdade que praticou Magia Negra. – A voz de Jensen Potter cortou o silêncio, deixando todos em estado de choque. – Conhecendo a sua família e a família da sua esposa, não admira que os tenham julgado como Devoradores da Morte.
Apenas palavras tinha dito o gémeo de James, mas várias reacções foram despertas por essas ditas palavras. Três pessoas levantaram-se – Sirius, James e Bellatrix, cujos cabelos e olhos se encontravam vermelhos –, os três com as varinhas em riste. Potter não parecia sequer importar-se com o facto de estar prestes a atacar o seu irmão, Bella parecia estar completamente alheia ao facto de o sentimento assassino que a assolava ser dirigido para o seu namorado, apenas Sirius tinha plena consciência de que a sua família fora insultada pela pessoa que ele mais odiava na sua existência.
– Retira o que disseste! – Exclamou Bella, tendo sido a única a conseguir aproximar-se de Jensen antes que outros a conseguissem impedir. – RETIRA O QUE DISSESTE, SEU MISERÁVEL!
A varinha de Bella estava apontada à garganta do moreno que olhava para ela com um misto de medo e surpresa. Não era segredo para ninguém o ódio que a morena nutria pela família, mas uma coisa era ser ela a insultar o seu próprio sangue, mais ninguém tinha esse direito, nem mesmo alguém que também descendia dessa árvore familiar tão nobre.
Enquanto a Gryffindor ponderava ou não o uso de um feitiço que certamente lhe iria render a expulsão da escola e um bilhete de ida para Azkaban, Seth, o realmente ofendido, olhava para o rapaz através de uma núvem vermelha de ódio e raiva.
– Bellatrix. – Seth disse, a sua voz mortalmente calma, lançando arrepios por todos os alunos. – Senta-te. – A morena não respondeu, não saindo da sua posição hirta à frente do seu namorado. – Eu disse senta-te! – A voz de Seth elevou-se, fazendo os vidros vibrar com o poder na sua voz que levou a rapariga a sentar-se contrafeita.
Só quando os três alunos exaltados ficaram quietos nos seus puff’s, bufando silenciosamente com ódio para com o outro rapaz, só então Seth se dirigiu ao rapaz com passos calculistas e uma máscara de gelo sobre o seu rosto. Jensen conhecia o que diziam acerca do ex-Auror, que ele fora um dos mais brilhantes discípulos de Alastor Moody Olho-Louco e que, não tivesse sido a abrupta interrupção na sua carreira por parte do Ministério, as celas de Azkaban estariam cheias com o bom trabalho feito pelo Escocês.
MacEvans olhou Jensen nos olhos, fazendo o jovem Potter tremer de medo do verde gelado e cruel dos olhos do professor que o perfuravam. Se o ex-Auror estivesse a gritar com ele, seria muito mais fácil de o enfrentar, mas o silêncio era ainda pior do que uma Maldição Imperdoável.
– Não, Jensen. – Seth disse, por fim, a sua voz não mais alta que um murmúrio. – Nunca pratiquei Magia Negra. Nem eu, nem a minha mulher, nem ninguém da minha família. – Um pequeno sorriso que fez um arrepio percorrer a espinha do beater dos Gryffindor. – Não desminto que é possível que alguns membros da família da Isis tenham praticado as Artes das Trevas, mas nesse caso também tu saberias disso, não é? Afinal, tanto tu como ela partilham o mesmo sangue-puro dos Black.
Jensen engoliu em seco, sentindo-se suar frio ao som das palavras frias e calculistas de Seth. O homem tinha razão e jogara bem contra o jovem, utilizando um modo de tortura muito pior que um Cruciatus.
– Agora, senta-te e lembra-te sempre disto, dentro destas quatro paredes, sou eu que mando e ‘inda posso defender outros de cometerem erros por tua causa, mas tenhas tu o azar d’eu t’ouvir a f’zer outro comentário desses, podes ter a certeza qu’as unhas de gatinha da Bellatrix nã serão nada comparadas ao inferno q’eu te vou f’zer passar, ouviste-me? – Seth viu Jensen assentir e deu um pequeno sorriso. – Senta-te e se f’zeres outra interrupção inoportuna, nã temerei oferecer-te uma detenção.
Seth virou as costas ao rapaz, voltando para o seu lugar na frente da sala. Todos os alunos olhavam para ele, uns relativamente aterrorizados, outros surpreendidos e os Salteadores e Sirius, parcialmente, satisfeitos com a acção do professor. Aquele seria assunto para a escola toda assim que tocasse o término da aula, disso Seth tinha a certeza.
– Com’eu ia d’zer antes de ser interrompido, nunca pratiquei Magia Negra nem nunca tenciono vir a praticá-la. – Ele sorriu suavemente. – E por f’lar em Magia Negra, hoje, moços e moças, vamos aprender a... como dizê-lo... afastar a escuridão.
Seth franziu um pouco o nariz, parecendo pouco satisfeito com o modo como a informação tinha sido dita. Estava a ficar enferrujado na comunicação...
Todos olharam de uns para os outros, parecendo confusos com o que o professor dissera. “Afastar a escuridão”? Que queria isso dizer? Depressa Seth acenou com a sua varinha e um baú apareceu na ponta da sala, aproximando-se ruidosamente do Escocês.
– Por favor, crianças, levantem-se e formem uma fila.
Todos obedeceram e o ex-Auror voltou a acenar a varinha fazendo os puff’s desaparecer, criando imenso espaço livre.
– Quero que puxem das vossas varinhas e prestem atenção ao qu’eu vou d’zer. – Expondo a sua varinha a todos os alunos, Seth posicionou-se à frente deles de maneira a que todos o vissem bem. – O feitiço que vão realizar é um pouco complicado e é preciso que se concentrem muito, mas mesmo muito. – O seu rosto estava sério, tentando transmitir a todos a mensagem de que não seria fácil a realização do feitiço. – O feitiço que vos vou ensinar chama-se Patronus, certamente que já ouviram f’lar dele. Alguém me sabe d’zer p’ra que serve?
Para surpresa de todos foi James que ergueu a sua mão para responder.
– Sim, James? – Seth disse, um pequeno sorriso nos seus lábios.
– O encantamento Patronus é um feitiço defensivo, que cria uma encarnação dos pensamentos mais positivos de quem lançou o feitiço. É um feitiço que se alimenta de memórias positivas e quanto mais feliz for a memória, mais forte será o feitiço. Serve como um escudo contra Dementors uma vez que os repele. – James disse de uma só vez, parecendo feliz com a sua explicação.
– Muito bem! 10 pontos para Gryffindor. – Seth disse sentando-se em cima do baú que se manifestou ao contacto do feiticeiro. – Como o James disse, é, de facto, um feitiço defensivo muito eficiente contra os Guardas de Azkaban. E que quanto mais feliz for a memória e os pensamentos positivos que o alimentam, mais forte o feitiço será. A primeira coisa que vão todos fazer é vasculhar a vossa linda mente e encontrarem a memória mais feliz que tiverem. – Fez um momento de silêncio deixando que todos se concentrassem na memória. – Agora apontando a vossa varinha para a frente, quero que digam Expecto Patronum. Vá repitam comigo, Expecto Patronum.
– Expecto Patronum. – Repetiu a turma toda, deixando um ar ligeiramente satisfeito no rosto do professor.
– Muito bem. ‘gora, sem s’esquecerem da vossa memória, cad’um de vocês vai enfrentar um Dementor e proclamar o feitiço. – Informou-os Seth. – Espero que estejam prontos.
– Professor. – Lilian disse, quando Seth se debruçou sobre a caixa para a abrir.
– Sim, Lilian? – Seth disse olhando para a jovem rapidamente.
– Não tem mesmo um Dementor nesse baú..., pois não?
O jovem professor sorriu perante a preocupação da rapariga e o seu sorriso charmoso sossegou ligeiramente os seus medos. – Nã, é apenas um Sem-Forma que tomará a forma de uma dessas criaturas. Nã há que temer.
Lily pareceu mais apaziguada pelas palavras do professor, mas mesmo assim não se sentia muito confiante.
– Vamos, formem uma fila. – Seth viu os alunos obedecerem-lhe e assim que se encontravam todos em fila indiana, ele olhou para o aluno que se encontrava na frente da mesma. – Pronto?
O aluno assentiu e o professor abriu o baú, soltando o Sem-Forma que tomou a figura de um Dementor, erguendo-se das profundezas do caixote, flutuando com o seu manto negro, espalhando pela sala um frio gelado que sugava todos e quaisquer sentimentos felizes que alguém sentisse.
– Foca-te na tua memória mais feliz. – Seth disse. – Revive-a na tua mente e diz o feitiço.
– Expecto Patronum. – Exclamou Lucius Malfoy.
Da sua varinha surgiu uma névoa prateada que se ergueu num escudo entre si e a figura encapuzada, não parecia ser muito forte mas era o suficiente para manter a criatura afastada. Seth apreciou o modo como a figura arrogante de Malfoy começou a ceder sob a pressão aplicada pelo Sem-Forma-Dementor no escudo, fazendo-o recuar e até mesmo transpirar de esforço.
– Avança, Malfoy! Obriga-o a entrar na caixa. – Seth disse, observando o aluno loiro esforçar-se por fazer a criatura recuar.
Assim que se ouviu o estrondoso som do baú a fechar, todos aplaudiram, ainda que alguns o tenham feito de maneira contrafeita.
– Muito bem. – Seth aplaudiu, aproximando-se do baú. – Próximo!
A seguir na fila estava James que com um sorriso malandro se colocou de frente para o baú com a varinha em riste.
– Pronto, Potter?
– Eu nasci pronto. – James respondeu fazendo alguns alunos rirem-se.
Com um sorriso alegre no rosto, Seth reabriu a arca e, de novo, o Dementor ergueu-se. O jovem Salteador deixou que a criatura se aproximasse, dando tempo a si mesmo para fixar a memória mais feliz que tinha.
– Expecto Patronum! – Exclamou James, da sua varinha saltando um belíssimo veado prateado que galopou firmemente para o Guardião de Azkaban, obrigando-o a fugir da luz poderosa que o animal das boas emoções emitia.
Toda a sala ficou em silêncio após ressoar o banque surdo produzido pela arca a fechar-se com o Sem-Forma lá dentro. Todos olhavam abismados para James Potter, que parecia tudo menos preocupado com o simples facto de todos olharem para ele como se lhe tivesse crescido uma segunda cabeça. Ninguém produzia um som e o silêncio parecia tão palpável que seria possível cortá-lo com uma faca, até Seth começar a aplaudir a demonstração do rapaz.
– Muito bem! Um Patronus corpóreo... É raro de se ver em alguém tão novo. – Seth disse colocando-se na frente do jovem. – Já tinhas feito este encantamento antes, não é?
– Sim, o meu pai ensinou-mo. – James disse.
– A maravilha que não é ter um pai que trabalha no Ministério. – O professor disse para que só James ouvisse e sorrisse ainda mais. – Isto, meus caros alunos e alunas, foi um muitíssimo poderoso Patronus. Quando uma memória é de tal maneira forte, pode acontecer que o vosso Patronus tome a forma de um animal que vos defina de certo modo.
Atrás de James, Bella e Remus riram-se baixinho para não chamarem à atenção nem do professor nem dos seus colegas. No entanto, no fundo da sala, também Sirius captou o humor da situação e teve que conter uma gargalhada.
– Claro que até conseguirem alcançar o nível em que o jovem Potter se encontra, terão que trabalhar muito. – Seth disse fazendo outros que se riam ficarem calados. – Vamos! Lupin, és tu!
Remus avançou para a frente da sala e novamente o Sem-Forma reergueu-se do baú, esperando até ao momento certo, o jovem Salteador deixou que a criatura se aproximasse o suficiente e então exclamou o encantamento, fazendo com um escudo prateado surgisse entre si e o monstro. Fechando os olhos, Moony concentrou-se tentando fortificar a sua defesa, mas parecendo incapaz de o fazer, então um ar determinado fixou-se no seu rosto e obrigou o Dementor a recuar de volta ao baú. Para os restantes dois Salteadores fora óbvio o quanto o amigo ficara aborrecido com a sua fraca performance, reconhecendo que a sua memória, a sua melhor memória não fora nem de perto nem de longe a mais forte que conseguira arranjar.
Seth pareceu reparar no mesmo que dois dos seus alunos, proferindo palavras encorajadoras ao jovem lobisomem. – Estiveste muito bem, Lupin. Só precisas de praticar um pouco mais.
Tais palavras elevaram ligeiramente o espírito do Salteador, animando-o um pouco fazendo-o seguir o seu caminho até os amigos.
– Black. – Seth disse virando-se de costas e voltando a encaminhar-se para o pequeno cofre onde se encontrava o Sem-Forma.
– Sim? – Sirius e Bella chegaram-se à frente, lançando um olhar mortífero um ao outro.
MacEvans virou-se, com um ligeiro sorriso no rosto, para ver os dois primos tentarem fuzilar-se com o olhar. Não podia negar que achava engraçado o modo como ambos pareciam nutrir um ódio mútuo, mas no fundo reconhecia o olhar irritado da rivalidade que os dois morenos partilhavam. Em tempos idos, também ele trocara olhares daqueles com uma ruiva que, no presente, tinha o prazer de chamar esposa.
– Eu ‘stava, de facto, a referir-me à Bellatrix. – Seth disse com uma pontada de riso na voz. – Mas vocês podem decidir entre vós qual será o primeiro a mostrar as suas capacidades c’o Patronus.
Sirius olhou de Seth para a caixa a seus pés e então, de soslaio, para a prima. Estava um pouco temeroso de mostrar o seu patronus, tinha a certeza que iria demonstrar mais de si do que devia, mas por outro lado, queria que os outros reconhecessem a sua força... Deixou que ambos os seus desejos lutassem um contra o outro por um momento, mas com um olhar sobre a prima, tomou a sua decisão.
– Ela pode ir primeiro. – Sirius respondeu, a sua voz com um toque de escárnio. – Vamos ver do que é ela capaz.
Bellatrix cerrou os seus dentes impedindo-se de responder à letra ao que Sirius dissera, não se iria rebaixar perante Seth e ambas as equipas. Erguendo o seu queixo, mostrando-se superior aos outros, avançou para a frente da sala colocando a sua varinha a postos para trabalhar.
Isto vai ser interessante, Sirius pensou, encostando-se à parede mais próxima de si.
– Estás pronta, Bella? – Seth perguntou num tom de voz baixo ao que ela respondeu com um breve acenar de cabeça.
Um silêncio frio alastrou-se pela sala quando o Dementor se elevou dos confins do baú. Bella apertou a sua varinha com mais força, trazendo para si as memórias felizes que tinha.
Não grites, rapaz! A voz de Orion fez-se ouvir na sua mente conforme a criatura se ia aproximando. Nem chores, chorar é para os fracos! Quase que podia ver o Tio a torturar Sirius na sua frente e o medo apossou-se de si.
Pare, Pai. Por favor! O choro do primo encheu a sua cabeça fazendo-a cerrar os dentes e tentar lutar com mais força contra as memórias sombrias que a invadiam. Pai!
Chega! Bella pensou, recordando-se da liberdade que sentira quando se transformara na sua forma animaga pela primeira vez, da felicidade que sentira quando fora aceite na equipa de Quidditch. – Expecto Patronum!!
Na escuridão que invadira a sala, emergindo da ponta da varinha de Bellatrix, surgiu um cão prateado que depressa se colocou entre a sua dona e o guardião de Azkaban. Os olhos de todos arregalaram-se ligeiramente quando viram o animal posicionar-se na frente da morena numa posição defensiva, como se estivesse prestes a atacar. Quase como se o animal de boas emoções lhe estivesse a rosnar e a mostrar os dentes, o Dementor recuou lentamente, voltando para a caixa de onde viera.
Assim que o banque do baú a fechar-se se fez ouvir, as velas voltaram a acender-se, iluminando a sala novamente. No meio da sala, Bellatrix tremia ligeiramente, os seus olhos fixos no vazio, a sua varinha ainda apertada na mão e o seu patronus perto de si, a olhá-la com os seus olhos prateados.
– Bellatrix? – Seth disse aproximando-se dela ligeiramente.
– Bells? – James chamou-a colocando-lhe a mão sobre o ombro. – Bastet?
Ao ouvir a sua alcunha ser chamada, Bella olhou para James com os olhos cheios de lágrimas. Inspirou fundo, tentando acalmar-se e depois voltou com o rapaz para junto de Remus que lhe entregou logo um pouco de chocolate.
No fundo da sala, Sirius olhava para a prima com um misto de preocupação e curiosidade, o que fizera com que ela ficasse assim? Tivesse sido o que fosse, abalara-a o bastante para que ela não conseguisse reagir e ele sabia que a sua Bellatrix reagia sempre a tudo, fosse de que maneira fosse.
– Bem... Continuando com a aula. – Seth disse ao certificar-se que a prima da sua esposa estava melhor e mais recomposta. – Sirius, queres mostrar agora do qu’és capaz?
Um pequeno sorriso formou-se nos lábios do rapaz. – Será um prazer.
Sirius avançou, lançando um pequeno olhar à prima que agora olhava para ele, teria sorrido mais, não fosse estar a concentrar-se na sua melhor memória.
Vai ser fácil. O moreno pensou posicionando-se em frente da arca e acenando a Seth indicando que estava pronto. Novamente, o Dementor ergueu-se e avançou sobre o aluno que o enfrentava.
Black não deixou de sorrir quando sentiu o familiar frio invadir-lhe os ossos, apertando a varinha e fechando os olhos, deixou-se perder na memória mais feliz que tinha.
Aquele acordar, aquela tempestade, a hipótese... Assim que abriu os seus olhos cinza sorriu mais um pouco. – Expecto Patronum!
À semelhança do que acontecera com James e Bella, da sua varinha saltou um animal, tão ágil e tão rápido que teria sido impossível identificar a sua forma, não fosse o tamanho dele. Um puma prateado saltou pelo ar, aterrando sobre as suas patas ao lado de Sirius, e um rugido suave fez-se ouvir por todos. Avançando lentamente sobre o Sem-Forma, fazendo-o recuar, lançando um calor acolhedor pela sala. Uma vez que a criatura se recolheu de volta ao seu esconderijo, um silêncio absurdo envolveu a sala enquanto o patronus de Sirius se dissolvia no ar.
Seth sorria ligeiramente, observando o primo e as expressões chocadas dos Salteadores – pelo menos de Bellatrix.
– Agora começo a reparar que devia ter levado realmente a peito as palavras do vosso antigo professor. – O Escocês disse, o seu tom de voz nada surpreendido. – Reconheço qu’esta primeira aula ‘stá a superar as minhas expectativas.
– E ainda não avaliaste o resto da turma. – James disse, feliz por conseguir espantar alguém mais velho que ele próprio. – Acredito que os restantes também devam ser capazes de te surpreender.
Seth tomou as palavras de James como sendo um incentivo para avançar com a aula, indicando com um olhar terno a Lily que era a vez de ela enfrentar o Dementor. O olhar da ruiva saltava entre o baú e o professor com receio espelhado em ambas as órbitas verde-esmeralda, algo que ninguém estava habituado a ver no rosto de Lilian Evans.
– Vai correr tudo bem. – Prometeu Seth, assegurando a jovem ruiva como um pai faria a um filho. – Eu ‘stou aqui.
Lily assentiu, aprontando-se em frente ao baú, e assim que os seus olhos se encontraram com os igualmente verdes do professor, houve uma troca silenciosa de palavras entre os dois antes de Seth abrir a caixa, libertando a criatura.
Primeiro, foram as mãos do Dementor Sem-Forma que surgiram, depois a sua cabeça coberta pelo seu longo manto negro que trazia consigo um cheiro putrefacto.
És uma inútil – Lily ouviu a voz dizer, lançando pelo seu corpo um frio que lhe gelou o sangue. – Não vales nada, és uma anormal.
Não, não sou uma anormal, sou especial. A ruiva pensou em resposta, recordando-se de como aquela voz e aquelas palavras não a deixaram dormir durante toda a sua vida.
O Dementor aproximou-se mais, fazendo com que o frio se espalhasse ainda mais, trazendo para a ruiva ainda mais dolorosas lembranças.
Por favor, mais não, eu prometo não voltar a repetir. A sua voz de pequena encheu-lhe a memória, trazendo lágrimas aos olhos da rapariga.
– Lilian. – Seth chamou-a, não obtendo resposta da aluna. – Lilian!
– Expecto... Expecto... – Lily começou a dizer, mas nunca chegou a acabar o feitiço.
– LILY!
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!