Terceiro Capítulo
Terceiro Capitulo
– Engorgio! – James disse apontando a sua varinha para um muffin que estava à sua frente.
Assim que o bolo cresceu, o moreno riu-se, pegando-lhe e dando-lhe uma grande dentada. Remus abanou a cabeça incrédulo perante a atitude do amigo e Bella apenas se riu com o rosto maravilhado do primo. Já a ruiva ao seu lado abanava a cabeça, com um pequeno sorriso no rosto.
– És mesmo uma criança grande, Jamie! – Bella riu-se.
– ‘Tá talada... ‘To tabe bem temais... – James disse com a boca cheia do bolo.
– Fala com a boca vazia, Prongs! – Remus refilou tentando afastar-se dos perdigotos mandados pelo seu melhor amigo. – Já tomei banho de manhã.
– Vais ter que repetir, Jim... – Bella riu-se mais uma vez agora do ar desgostoso de Remus. – Não percebi nada.
– Eu dite... – James engoliu o bolo, levando em seguida o seu cálice com leite aos lábios. – Está calada, isto sabe bem demais.
– Ah! E eu a julgar que tinhas aprendido um dialecto novo durante o verão. – Ela riu-se fazendo Lupin sorrir ligeiramente. – Já me ia arrepender de não ter ficado tempo suficiente na companhia dos meus queridos tios e pais durante as férias para aprendê-lo também.
– Vocês aprendem novas línguas durante o verão? – Lily perguntou aproximando-se mais do pequeno grupo.
– Mais ou menos, Lil. – Bella disse.
– Não é aprendermos... Os nossos pais como pertencem à alta sociedade querem que nós mantenhamos as mesmas tradições que eles. – James explicou à ruiva.
– Sabes, Lily, a nossa família é tipo nobreza. – Bella disse. – Creio que até temos um título não temos, James?
– Duques. Se não estou em erro... – James disse.
– O meu pai é Laird e Tiarna. – Alan disse entrando também na conversa. O seu sotaque escocês chamou à atenção de Lily que sorriu carinhosamente para o jovem.
– Resumindo... – James disse, apesar de saber o significado de ambas as palavras, gostava de se meter com o jovem.
– Deixa-te de coisas, Prongs! – Bella bateu-lhe no braço de uma maneira muito pouco delicada.
– Duque Potter, tenha a gentileza, milady. – James disse e, de repente, toda a arrogância que Lily achava que o moreno possuia fazia, de facto, sentido na aparência do jovem Salteador.
A ruiva deixou que o seu olhar vagueasse por toda a figura de James. Tinha que admitir que ele era bonito e que conseguia até ter o seu quê de graça... Mas ele também era um idiota.
– B’dia, crianças. – Disse uma voz profunda de trás do grupo. Todos olharam para o recém-chegado e James, Bella e Alan abriram um imenso sorriso.
– Pa. – Alan disse com o seu sotaque extremamente carregado pela alegria.
– Seth! – Bella disse com um sorriso na voz.
– Nós chamar-te-iamos de Pa... – James disse erguendo-se e esticando o braço para cumprimentar o primo.
– Mas nã somos teus filhos. – Bella disse completando o raciocínio de James.
Seth riu-se cumprimentando James e fazendo uma pequena vénia a Bellatrix que deixou que os seus cabelos adquirissem um tom adorável de vermelho.
– Nã gosto de ver imitações da minha esposa quando era ma’s nova, Bellatrix. – Seth disse tomando em atenção os cabelos ruivos da prima e a outra ruiva na mesa. – Traz-me boas recordações. E lamento a má-criação... Sou Seth MacEvans. E a menina deve ser Lily Evans.
Lily olhou atentamente para o seu novo professor, achando-o estranhamente familiar, mas decidiu que deveria ser pela parecença com Alan.
– Sim. Muito prazer, professor. – Ela disse num tom alegre estendendo a mão ao professor.
– Bem, crianças. – Seth disse olhando para a mesa dos professores. – Encontramo-nos mais logo na aula. – Fez então uma pausa. – Vocês estão todos em Defesa contra as Artes das Trevas, nã é?
Todos assentiram e o professor saiu com um sorriso nos lábios. James redirigiu o seu olhar para a comida, tal como Bella e Lupin. Alan olhou para Lily, os seus olhos verdes a brilharem intensamente. A ruiva sorriu carinhosamente para o rapaz, a afeição que tinha pelo jovem deixava-a feliz por ele estar feliz.
– E então? O que achaste dele?
A voz animada do rapaz chamou à atenção de James que logo olhou para ele com os olhos semicerrados. Bella quase se riu do olhar de um primo para o outro, no entanto, Lily pareceu não reparar em nada. A ruiva parecia indecisa nas palavras que havia de usar, ela gostara do professor, parecia-lhe ser uma pessoa amigável e afável, no entanto, não conseguia perceber por que razão o amigo parecia tão interessado na opinião dela.
– Pareceu-me ser muito boa pessoa. – Acabou por dizer, tomando cuidado com as palavras. – Simpatizei com ele.
Alan pareceu sorrir ainda mais, voltando-se para a sua comida. Lily continuava a não perceber o interesse do rapaz, mas não deixou que isso a incomodasse.
Terminaram de tomar o pequeno-almoço e os mais velhos seguiram para as suas aulas, enquanto Alan tinha o primeiro tempo livre. O jovem MacEvans levantou-se do banco e seguiu os Salteadores e Lily até ao grande hall, seguindo depois cada um para o seu lado.
Alan caminhava pelos corredores vazios, os seus pensamentos virados para o encontro do Pai com a sua melhor amiga ruiva. Tinha sido óptimo tê-los a confraternizar, estava desejoso que fosse a vez da Mãe para conhecer Lilian. Recordava-se de, nos últimos dias de férias antes do seu retorno a Hogwarts, ter falado várias vezes com os pais acerca da ruiva, ainda conseguia ouvir a voz da sua Mãe a dizer-lhe que deveria ser simpático para ela e que acontecesse o que acontecesse deveria, acima de tudo, nunca deixar que outros mal-tratassem a jovem.
– Olá, Alan. – Uma voz grave retirou-o dos seus pensamentos. – Vais a algum lado, primo?
– Sirius! – O rapaz disse quando viu a figura de Sirius encostado à parede do corredor de maneira descontraída. – É bom ver-te.
– Diria o mesmo... – Sirius disse desencostando-se da parede e arqueando uma sobrancelha ao jovem. – Não devias estar numa aula qualquer?
– Tenho o primeiro tempo livre. – Alan respondeu, coçando a nuca. – Sirius, queria agradecer-te...
– Não há nada a agradecer. – Sirius respondeu erguendo uma mão despreocupadamente. – Acho que a Isis ficou muito satisfeita por saber a verdade, não é?
– A Mãe queria matar aquele... – O moreno calou-se, deixando a ideia pairar no ar. – Eles ficaram contentes por saber que ainda há esperança. O Pai ficou muito desiludido com ele, o Pa confiava nele.
Sirius assentiu, conhecia o sentimento de ter a certeza de poder confiar em alguém e ser traído mesmo debaixo do seu nariz. No entanto, não conseguia imaginar qual seria a sensação se essa traição proveniçe de um membro da sua família, não conseguia imaginar se tivesse sido o seu irmão a traí-lo. Black abanou a sua cabeça, tentando afastar a imagem de Regulus a traí-lo da maneira como o irmão de Seth o tinha traído.
– Mas diz-me, Al. O que estão a pensar fazer com aquilo que vos disse? Não esperam que o ano acabe para acertarem a situação, pois não?
– A Ma e o Pa não querem apressar as coisas. Não querem traumatizá-la.
– Ah! – Sirius gargalhou. – Quando ela souber, creio que ficará traumatizada de qualquer maneira... Bem, primo, está na hora de ir. Vemo-nos por aí.
– Vemo-nos por aí. – Alan concordou. – E, Sirius, obrigado, mais uma vez.
Andando de costas para o rapaz, Sirius acenou a mão como se enxotasse o agradecimento do primo, novamente.
Após ter abandonado Alan no corredor, Sirius percorreu os corredores vazios da escola até a sua aula de Transfiguração no segundo andar, sabia que já estava atrasado, mas as suas notas permitiam-lhe essas atitudes pouco aprovadas pelos professores.
– Finalmente se junta a nós, Mr. Black. – A professora McGonagall disse, os seus olhos verdes observando-o com cuidado por cima dos seus óculos quadrados.
Um pequeno sorriso surgiu nos lábios do herdeiro Black, na sua garganta crescia uma vontade de se meter com a mulher, mas conteve-se mordendo a bochecha. Não ficaria bem perder logo alguns pontos na primeira aula, especialmente quando essa aula se tratava de uma que era leccionada pela chefe de equipa dos Gryffindor.
– Desculpe o atraso, professora. – Sirius disse, calmamente. – Prometo que não voltará a repetir-se.
– Esperemos bem que não. – O tom ameaçador da professora deixou bem claro que a atitude do rapaz lhe desagradava imenso e que a repetição de tal acto seria severamente repreendida. – Sente-se no seu lugar.
O moreno assentiu com a cabeça, sentando-se imediatamente no lugar vago à sua direita. O olhar de vários alunos caíram sobre ele, mas ao se encontrarem com o olhar ameaçador de Sirius, desviavam logo o olhar para a frente da sala. Quando teve a certeza de que todos estavam focados na imagem severa da professora, retirou as suas coisas da mala e poisou-as em cima da mesa, abrindo cuidadosamente o tinteiro e molhando a sua pena de águia pronto a escrever a matéria.
– E como estava a dizer antes de a aula ser interrompida pelo vosso colega. – McGonagall disse lançando um olhar grave a Sirius. – Alguém me sabe dizer o que é um Animagus?
Os olhos azuis-acinzentados de Sirius ergueram-se rapidamente para a professora que esperava pacientemente pela resposta de algum aluno.
– Ninguém me sabe dizer? – Os olhos verdes da mulher percorreram a turma, com um suspiro resignado chamou. – Mr. Black, seria gentil o suficiente de nos dizer a resposta? Se souber.
– Um Animagus é um feiticeiro com a habilidade de mudar a sua forma humana para uma forma animal de acordo com a sua vontade. – Sirius respondeu. – Não é um talento inato como é no caso dos Metamorfamagos. Geralmente, o processo de transformação é longo e prolongado e só os feiticeiros mais fortes e controlados conseguem alcançar na perfeição a transformação. Quando feita incorrectamente, a transformação é extremamente dolorosa. Uma vez que a transformação inicial esteja completa, um feiticeiro consegue mudar de forma à sua vontade com ou sem varinha.
Com um olhar satisfeito e relativamente surpreendido, a professora anunciou. – Muito bem. Vinte pontos para Slytherin.
Sirius recostou-se na cadeira, apesar de ter ficado satisfeito por ter feito a sua equipa ganhar pontos, no entanto a quantidade não o satisfizera.
Talvez uma demonstração fizesse valer os cem pontos. Sirius pensou, lançando um olhar irritado à velha professora. Gata velha.
O resto da aula passou sem que McGonagall se voltasse a dirigir a Sirius, o que lhe permitiu ficar a pensar noutros assuntos que não envolviam a aula.
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O toque ressoou pela escola e a afluência de alunos encheu os corredores.
– Finalmente! – Bella espreguiçou-se ao sair da sala de História da Magia. – Será possível que o professor Binns fique cada vez mais chato?!
Bocejando amplamente, James assentiu com a cabeça, cobrindo a boca com uma mão. O único que parecia discordar do assunto era Remus que ajeitava a alça da mala no ombro.
– Não concordo convosco. – Lupin disse enquanto ele próprio reprimia um bocejo. – A matéria é muito interessante.
– O tanas. – Bellatrix disse. – Onde é que as Guerras dos Goblins vão ajudar-me numa carreira de Auror?
– Sim! O que raio nos interessa que os Goblins tenham lutado bravamente pela porcaria do ouro?! – James perguntou lutando contra o torpor do sono imposto pela aula de História dada pelo fantasma.
Remus não argumentou contra os dois amigos, deixando-os com a sua crença de que a aula de História era uma autêntica perca de tempo. Estavam a dirigir-se para o pátio onde poderiam aproveitar um pouco mais do Sol de fim de Verão antes de se dirigirem para a sua próxima aula nas Masmorras, Bella parecia ansiosa por aproveitar outro momento ao ar livre antes de se enfiar no território dos Slytherin. A morena quase correu para a saída dos claustros, o seu nariz extremamente sensível captava o cheiro da terra húmida e do Sol a embater na relva.
– Ó meu amado... Humph! – Bella queixou-se ao embater numa parede de músculos.
– Tem cuidado por onde and... – Uma voz terrivelmente familiar disse, interrompendo-se quando se apercebeu de quem se tratava. – Ah... És tu.
– Tu! – Bella exclamou ao ver a figura de Sirius na sua frente, impedindo-lhe a passagem para a luz quente do Sol. – O que estás aqui a fazer?
– O mesmo que tu, suponho. – Sirius respondeu, a sua cabeça indicando o Sol e a relva nas suas costas. – Agora, saí-me da frente, Bellatrix!
Sirius avançou, empurrando a morena para o lado que ficou com o cabelo rapidamente vermelho de raiva, e embatendo no ombro de James que o seguiu com um olhar rabugento (ainda ensonado). Remus juntou-se aos amigos com um olhar à figura recuante do Slytherin.
– O que é que aconteceu? – Remus perguntou.
– Nada. – Bella respondeu por entre dentes serrados avançando para o pátio, os seus passo mais pesados com indignação.
Remus e James olharam um para o outro, encolheram os ombros e avançaram atrás da morena.
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Tinham passado pouco tempo no pátio a aproveitar os poucos minutos que teriam ao sol antes de se dirigirem para as Masmorras para duas horas de poções com o Professor Slughorn.
James parecia ter despertado sob a luz matinal e começava a falar incansavelmente sobre os try-outs de Quidditch que se aproximavam para os encontrar substitutos para os jogadores que já tinham acabado a sua estadia em Hogwarts no ano anterior, Bella opinava sobre as opções que o amigo apresentava para os jogadores que poderiam vir a prestar provas, como chaser da equipa sabia o que precisavam e o que queriam, já Remus apenas ouvia o que ambos diziam deixando apenas escapar alguns comentários quando os dois lhe pediam a sua opinião.
Quando chegaram às masmorras depararam-se com a equipa de Slytherin concentrada às portas da sala de aula. No meio deles, encostado à parede como se nada o afectasse, estava Sirius com Lucius Malfoy a seu lado.
– Ora quem são eles. – Malfoy disse, a sua voz chamando à atenção de muitos dos Slytherins à sua volta. – O trio de falhados.
Os olhos azuis de Bella estreitaram-se e mudaram rapidamente para vermelho, demonstrando assim a sua fúria. Fechou as suas mãos em punhos e quase se queixou quando sentiu as suas unhas enterrarem-se na carne terna da palma da sua mão. Estava pronta para responder à altura daqueles que se achavam maiores que ela, mas a mão de James no seu braço impediu-a de tal acto.
Ignora-os, os seus olhos castanhos esverdeados pareciam dizer-lhe enquanto ele abanava a cabeça passando claramente a mensagem que os seus olhos tentavam transmitir. Começaram a virar as costas aos Slytherin que pareciam determinados em fazer os Gryffindor perder a compostura e iniciar uma guerra naquele corredor. Estavam quase a conseguir ignorar os idiotas por completo quando viram Lily aproximar-se da turma, para sua infelicidade, não foram os únicos.
– Hei, Snape! – Crabbe exclamou chamando à atenção do Slytherin em particular e de todos os outros no corredor. – A tua sangue-de-lama chegou.
Um segundo foi o tempo suficiente para que as palavras de Carter Crabbe se registassem no cérebro de James, Bella, Lily e dos mais próximos, arrancando uma reacção instantânea dos Salteadores. James e Bella retiraram as suas varinhas dos mantos, erguendo-as na direcção daquele que havia insultado a ruiva, em resposta ao acto dos Gryffindor, vários Slytherin puxaram também das suas varinhas apontando-as para os dois leões.
– Retira o que disseste. – James rosnou entre dentes.
O ar frio pareceu ficar mais pesado entre as escuras paredes húmidas, os dois grupos enfrentavam-se varinhas erguidas em riste, o olhar mortifero nunca se afastando do outro. Os olhos esverdeados de James cruzavam-se com os cinza de Lucius, os vermelhos de Bella cruzavam-se com os negros de Crabbe. Parecia que nenhum dos rivais respirava, os olhares a tentarem forçar o pedido de desculpas do outro...
– Retira o que disseste. – Repetiu James, a sua voz carregada pela fúria que lhe fazia arder o sangue nas veias.
Parada atrás de James e Bella estava Lily, o seu rosto lívido com o choque da situação, os seus olhos arregalados perante a atitude de ambos os Gryffindor. Esperava aquela atitude de Bella, mas já de James hesitara em acreditar que ele seria capaz de fazer uma coisa daquelas. Seria mesmo possível que James gostasse tanto dela ao ponto de se arriscar a meter-se em sarilhos? Por ela?
– James, pára. – A ruiva disse saindo do seu turpor, avançando para o moreno e segurando na mão dele. – Por favor.
O Gryffindor olhou para ela, os olhos verdes da ruiva imploravam-lhe silenciosamente que recuasse. Mas não era isso que ele queria fazer, ele queria ensinar uma lição àqueles idiotas por a terem insultado. No entanto, o facto de ela lhe ter chamado pelo primeiro nome e não pelo apelido, lançava faíscas de calor pelo resto do seu corpo.
– Por favor. – A ruiva voltou a dizer e só então ele baixou a varinha, mas nunca deixou de olhar para os seus inimigos.
Bella, no entanto, não baixara a varinha e os seus olhos continuavam fixos nos seus rivais. Todos olhavam para ela, até James colocar uma mão no ombro da rapariga, fazendo com que ela saísse do seu transe.
– Devias ter mais mão nos teus cães. – Bella disse virando as costas mas dirigindo-se ao seu primo. – Não queremos que a peste se alargue.
Sirius deu um ligeiro sorriso perante a boca da prima... e estava prestes a responder, mas o professor de Poções chegou juntamente com o toque da campainha, anunciando o final do intervalo.
Foram todos entrando na sala, alguns alunos faziam comentários sussurrados acerca da situação que tinha acontecido no corredor, mas ao receberem um olhar ou outro dos dois Black acabavam por encerrar as conversas.
A sala de poções nas Masmorras era escura e a única luz que lá existia provinha das velas estrategicamente colocadas ao redor da sala. Havia algumas mesas que davam lugar para três alunos espalhadas pelo local, em todas elas encontravam-se já a postos caldeirões que seriam utilizados pelos alunos. Na frente da sala, perto de um quadro negro de ardósia, estava a mesa do professor, enfeitada com adereços confortáveis indicando a natureza perguiçosa de Horace Slughorn, e em frente à mesa erguiam-se três pequenos e negros caldeirões que fomegavam diferentes cores.
Ao entrar na sala, o nariz de Bellatrix recolheu a mais bela fragrância que alguma vez tinha sentido. Era fresca como o ar que lhe batia no rosto quando andava de vassoura, no entanto, a colónia masculina fazia-se notar perfeitamente, havendo uma harmonia perfeita entre ambos os odores... Na composição de odores ainda podia reparar numa pequena nota de algo húmido, não desagradável, mais como... terra molhada depois da chuva. Olhou à sua volta, procurando a origem de tal perfume e só então reparou no pequeno caldeirão que expelia um fumo cor-de-rosa que depressa mudou de cor quando o seu olhar parou nele, tomando um tom azul-cinza.
Bella olhou para os melhores amigos e viu como ambos olhavam para o mesmo caldeirão de maneira intensa.
– Cheira tão bem. – Ouviu James dizer conforme se aproximava mais do caldeirão para sentir melhor o odor.
– Cheira a chocolate. – Remus concordou quando já se encontrava envolto pelo fumo que agora estava roxo. – E a...
– Lírios. – James completou, o fumo à sua volta tomando uma cor esbranquiçada.
– Vamos, meninos. – A voz do professor chamou os dois à atenção fazendo com que o transe em que se encontravam. – Sentem-se nos vossos lugares. Vá, vamos.
Rapidamente, os rapazes juntaram-se a Bellatrix e ocuparam a segunda mesa em frente ao professor. De igual maneira, os outros foram ocupando as suas mesas e o silêncio espalhou-se pela sala, à excepção de o crepitar das chamas que aqueciam alguns caldeirões no canto mais afastado da sala.
– Ora, bom dia, meus caros alunos... e alunas. – Slughorn disse sorrindo a todos os alunos, lançando um sorriso ainda maior a Bellatrix e a Lily, o que fez James fechar o rosto com descontentamento. – Vamos então iniciar as vossas aulas de poções. Como sabem este é o vosso último ano...
Bella poderia ter achado o discurso de Horace minimamente interessante, mas a verdade é que o que estava a ser dito pura e simplesmente não lhe interessava. Já ouvira aquilo tudo antes, acerca de ser o último ano na escola, de terem exames que seriam ainda mais difíceis que os anteriores, que depois de Hogwarts a vida seria muito mais complicada que trabalhos de casa e a realização de poções complicadas. A sua atenção fora desviada para os caldeirões fumegantes novamente, na sua mente perguntas surgiam conforme o fumo cor-de-rosa do caldeirão mais próximo mudava de cor novamente.
– Começemos então. – Disse o professor quebrando o devaneio da morena. – Quem me sabe identificar esta poção? – O professor disse indicando o caldeirão de onde um fumo agora vermelho saia. – Hum... Ah! Miss Evans!
Os olhos de todos foram atraídos para Lily que os ignorou e respondeu. – É Amortencia, professor. Uma poderosa poção de Amor, que produz em quem a beber a ilusão de uma paixão por quem a preparou, podendo também provocar a obsessão em quem a beber. – A ruiva respondia calmamente, os seus olhos nunca saindo do caldeirão em questão. – Para além de produzir uma ilusão de afecto, a poção possui uma tonalidade madre-pérola e um odor característico, pois para cada pessoa que cheirar a poção, esta terá um cheiro diferente, tomando o odor do que a pessoa se sente atraída por... – Evans fez uma pausa e ao inspirar fundo, corou. – No meu caso, senti o cheiro de... Livros novos,... Cera de vassoura e... pinho.
– Muito bem! – Exclamou o professor entusiasmado. – 40 pontos para Gryffindor! E agora quem é que me sabe dizer que poção é esta?! – Horace inquiriu indicando o caldeirão do meio. – Ora, ora não sejam tímidos. Vamos, vá! Miss Black, por favor.
Bella recolheu o seu braço e inspirou profundamente, captando um cheiro amargo do caldeirão ao lado daquele que era suposto ela identificar. Mas não se ia deixar distrair por aquele odor.
– É a Bebida do Desespero. – A morena respondeu. – Inodora, insípida, mas com uma cor verde-esmeralda e com um brilho fluosforecente, essa poção quando bebida provoca um medo irracional, delírio, intensas dores de estômago e sede. É comum, que quem beba, reviva algum momento que mais o tenha marcado negativamente ou provocado uma sensação idêntica de medo ou terror.
– Muito bem, muito bem! – Horace bateu palmas, demonstrando novamente entusiasmo perante as respostas correctas das suas alunas. – Mais 40 pontos para Gryffindor!
– Boa! – Sussurrou James apertando a mão de Bella.
– E agora, mas não por última, quem me consegue dizer que poção é esta? – Disse o professor indicando o último caldeirão. – Mr. Black?
– É a Poção do Ódio. – Sirius respondeu. – Revela a quem a beber os defeitos e características negativas das outras pessoas, pode funcionar como sendo um antídoto para uma poção do Amor, uma vez que produz o efeito contrário.
– Excelente. 30 pontos para Slytherin! – O professor aplaudiu calmamente. – E agora, meus queridos alunos, vamos ao trabalho a sério.
Vários resmungos se fizeram presentes na sala enquanto os alunos se acomodavam nas secretárias.
– Ora, ora, não sejam assim, crianças! – Slughorn disse, os seus protuberantes olhos verdes arregalando-se ligeiramente. – Vai ser algo engraçado, acreditem. Não é nada de mais, afinal. Vá. O que quero que façam agora vai ser reproduzir um caldeirão de Amortencia e anotarem, conforme a vão fazendo, os passos que seguem e que anotem o cheiro que captam quando a vossa poção estiver finalizada. Saberão que a poção está bem feita quando sentirem o cheiro igual ao que sentiram quando inspiraram o fumo da minha poção. E para apimentar esta pequena tarefa, quem completar primeiro a poção correctamente receberá como prémio... um pequeno frasco de Empatheia. – Slug deu um pequeno sorriso quando os olhos de todos os alunos brilharam à menção da poção empática, olhando para o seu relógio. – E têm, exactamente, uma hora. Vá, a trabalhar. Chop chop!
Uma pequena azafama espalhou-se pela sala enquanto todos procuravam as coisas que precisavam para cumprir a tarefa que o professor lhes incutira. Bella parecia intretida a recordar-se do odor que sentira, acometendo-o à memória, decorando cada nota que os seus sentidos apurados captavam, enquanto procurava pelos ingredientes que lhe faltavam para fazer a poção, conseguia também pensar no pequeno prémio prometido, a utilidade que aquela pequena poção não teria na Festa de Natal da família durante as férias, ver e sentir de facto a falsidade dos sentimentos daqueles feiticeiros e bruxas que rodeavam a sua querida família, tornaria tudo diferente.
Seria óptimo poder ver o que ele sente por uma única vez, a morena pensou fazendo o seu caminho para o armário de ingredientes no fundo da sala. Estava tão envolta em pensamento que não deu conta de quem estava à sua frente, indo embater na pessoa com certa força.
– Uf. – Ela ouviu a pessoa resmungar e só se deu conta de que era um rapaz pelas fortes mãos ligeiramente calejadas. – Já não te disse para veres por onde andavas hoje, Bellatrix?!
Os encaracolados cabelos negros da moça ficaram de um vermelho vibrante, não de raiva, mas de embaraço, estivera tão distraída a pensar naquilo em que poderia usar a pequena amostra de poção que não dera pela presença de Sirius na sua frente. Reconhecia que o primo de certo modo tinha razão, já lhe dissera isso pelo menos uma vez, mas algo lhe dizia que não seria a primeira e última vez que aconteceria e, fosse o caso de ela acreditar no destino, julgaria que os “encontros” entre ambos teriam algum significado para além de pura e odiosa coincidência.
– Ora, desaparece, Orion. – Bella disse, erguendo o rosto altivamente e chamando-o pelo nome do meio, sabia o quanto Sirius detestava o nome do Pai e sabia bem o quanto isso o afectava.
– Sua... – O moreno rosnou baixinho, mas ficou-se por isso, virou-lhe as costas e voltou para a sua secretária, não pronunciando uma única palavra mais.
Enquanto o via afastar-se reparou na pequena sombra que se abateu sobre o olhar dele. O objectivo que tivera ao chamar-lhe pelo nome do pai fora cumprido e magoara-o, de certo modo, sentiu um pouco de remorços por o fazer sentir-se mal, mas ele passara seis anos da sua vida a magoá-la. Erguendo a cabeça e empinando o nariz, Bellatrix voltou para a sua mesa depois de recolher os ingredientes que precisaria para realizar a poção.
O tempo parecia passar devagar enquanto todos trabalhavam nas suas poções, o som do lume a cripitar sob cada caldeirão, do arrastar das penas sobre as folhas de pergaminho enquanto cada um tomava nota dos passos que fazia na realização da poção, as tonalidades coloridas das poções que estavam quase prontas e, por fim, o que era mais proeminente na sala, o cheiro... diferente para todos, mas não menos forte para os sentidos de cada um. Alfazema, rosmaninho, urze das Highlands, pinho, orvalho, terra molhada, estes eram alguns dos cheiros que invadiam a sala enquanto a maioria dos alunos terminava a poção correctamente.
Bella sentia-se quase sufocada com o odor que sentira antes, apesar de sentir o cheiro fresco do vento e aquele odor masculino não tão possante assim, aquele perfume fazia algo vibrar no fundo do seu ser, algo que não reconhecia mas no fundo da sua mente parecia haver uma lembrança. Sentia-se dividida entre a familiaridade e o desconhecido... Não conseguia reconhecê-lo, mas sabia que conhecia aquele odor.
– E muito bem... O tempo acabou! – O professor disse. – Poisem as coisas, apaguem o lume dos vossos caldeirões e esperem que eu examine as vossas poções.
Todos fizeram como o professor disse e ficaram quietos nos seus lugares. James observou pela última vez a sua poção, examinando a sua cor avermelhada, sentindo-se satisfeito consigo mesmo, então passou a olhar para as pessoas ao seu redor; Remus parecia preocupado com todos os paços que tomaram e parecia revê-los lendo o pergaminho onde os anotara; reparou que no fundo da sala, Sirius estava de olhos fechados, inspirando calmamente o fumo que o seu caldeirão exalava, o Gryffindor sorriu de maneira travessa escolhendo deixar o primo em paz; reparou em Lily, a ruiva parecia intrigada com o odor que o seu caldeirão exalava, já a conhecia há tanto tempo que conseguia identificar no rosto dela a apreciação junto da irritação e da curiosidade, não pôde deixar de se questionar sobre os odores que ela inalara; e por fim, o seu olhar caiu em Bella que se encontrava ao seu lado, os olhos azuis perdidos no liquido à sua frente, mudando a sua cor azul clarinha para um tom azul acinzentado.
Com um suspiro resignado, James virou-se para o seu caldeirão, inalando o vapor, sentindo novamente o odor de lírios, livros, pergaminho e ainda urze... Ele sabia a quem pertenciam aqueles cheiros, no entanto, não se podia enganar ao imaginar que o cheiro que a sua ruiva sentira se referisse a ele, estaria louco por sonhar sequer nessa hipótese.
– Ora vejamos o que temos aqui. – Slughorn disse aproximando-se do caldeirão de Lily. – Uma poção extremamente bem feita. Muito bem, Miss Evans. Vinte pontos para Gryffindor.
Sorrisos victoriosos surgiram nos rostos de cada aluno da casa do leão, a aula estava a ser bastante produtiva para os leões no que tocava ao ganho de pontos.
Fez-se silêncio novamente, tendo voltado o professor a fazer a sua ronda. O som do rossar das roupas umas nas outras das vestes do professor era o único que se ouvia, mas de repente parou. Ninguém se atreveu a levantar a cabeça para ver onde o professor parara, qual a expressão que preenchia o rosto bolachudo do homem, apenas esperavam que o senhor falasse.
– Santo Merlin. – O professor murmurou. – Parece que temos aqui um vencedor.
Todos ergueram a cabeça para ver a quem se referia Horace e ficaram ainda mais admirados ao vê-lo parado em frente ao caldeirão de Sirius Black.
– Mr. Black, muitos parabéns! – Congratulou o professor. – Acabou de se tornar merecedor de um frasco de Empatheia! – E entregou-lhe o pequeno frasco, mesmo antes de tocar para a saída. – Muito bem, classe, estão dispensados. Os que fizeram mal a poção, quero que releiam os vossos pergaminhos e escrevam uma composição de duas páginas de pergaminho a explicar o que fizeram mal. Até amanhã.
Começaram todos a sair para a rua, Lily reclamava junto de Bellatrix acerca do simples facto de ser impossível a poção de Sirius estar melhor que a dela... Estavam ambas da mesma cor... como era possível? Os cabelos de Bellatrix estavam iguais aos cabelos de Lily, indicando o estado de irritação da jovem Black.
James deixou-se ficar para trás, atraindo o olhar curioso de Remus.
– Não vens? – O rapaz perguntou. – A McGonagall não vai ficar satisfeita se chegarmos atrasados.
– Vai na frente que já te apanho. – Prometeu o moreno. – Só preciso de dar uma palavra ao meu primo.
Remus assentiu e seguiu em frente, acelerando o passo para se juntar a Bellatrix e a Lilian. Vendo os amigos afastar-se, Prongs voltou-se para trás a tempo de ver Sirius sair da sala de aula cabisbaixo, de algum modo, sabia-o perdido em pensamentos.
– Hey, Sirius. – Potter chamou à atenção do Black, fazendo com que o último erguesse a cabeça rapidamente. – Está tudo bem?
Sirius balançou a cabeça ligeiramente, tentando afastar os pensamentos que se dispersavam pela sua mente. – James, o que posso fazer por ti?
Olhando desconfiado para o primo, James despenteou o cabelo sorrindo ligeiramente. – Eu só queria saber como estavas, vi o que aconteceu na aula e como ficaste depois.
O Slytherin sorriu ligeiramente, apreciava a preocupação do primo, mas não podia deixar que mais niguém percebesse isso, nem o quanto apreciava a presença e companhia dos dois Salteadores. Mas para além da satisfação causada pelo “afecto” do Salteador, a pergunta afectou Sirius de outra maneira, fazendo-o pensar na pergunta: como estava Sirius? Reconhecia que havia muito pouco a dizer para responder àquilo, sentia-se dividido, não sabia se entre o magoado ou o zangado.
– Estou bem. – Sirius disse. – Dentro dos possíveis.
– Se precisares de alguma coisa, já sabes que podes contar comigo e com o Remus.
– Eu sei. Obrigado.
Com um ligeiro sorriso, Sirius Black afastou-se de James Potter, retirando do bolso o pequeno frasco que recebera como prémio na aula de poções, deixando que a sua mente fizesse planos nos quais faria uso da poção empática.
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