Pain & Shadows
Disclaimer: It's all yours, dear J.K.
Have you met Miss Jones?
Fanfic by Nalamin
Chapter 39: Pain & Shadows
'Enquanto a dor ecoa, habituado a que ela doa,
Porque quem amamos mais é quem mais nos magoa.'
(Hereditário – Sam The Kid)
Porque quem sente, sente até ao fim.
'I can take the rain on the roof of this empty house
That don't bother me
I can take a few tears now and then and just let them out
I'm not afraid to cry every once in a while
Even though going on with you gone still upsets me
There are days every now and again I pretend I'm ok
But that's not what gets me
Naquela altura, cheguei a questionar-me como seria viver num mundo sem dor. Claro que eu sempre soubera, desde nova, que isso não era possível. No entanto, estava tão no fundo, tão sem vida, tão a leste de tudo, que essa possibilidade se me afigurava como uma estrela cadente num céu completamente negro. E quanto mais pensava sobre isso, mais brilhante me parecia. Como seria perfeito! Quando caíssemos e nos magoássemos, mesmo que não estivesse lá ninguém para nos ajudar a levantar, sorriríamos, em vez de chorar. E quando uma pessoa querida passasse para lá do véu, celebraríamos e honraríamos a sua vida, e não a sua morte. E quando nos partissem o coração, seríamos capazes de o reconstruir, pedacinho a pedacinho, e estar dispostos a correr um novo risco. Sorri amargamente. Estava tão iludida! Se pensava que algum dia veria isso acontecer, era mais ingénua do que pensava. Mas na verdade, aquele pensamento era o único que me fazia levantar de manhã, alimentar-me, tomar banho e estudar. Era assim desde o dia da batalha e não me parecia que fosse acabar em breve.
It's hard to deal with the pain of losing you everywhere I go
But I'm doin' It
It's hard to force that smile when I see our old friends and I'm alone
Still Harder
Getting up, getting dressed, livin' with this regret
But I know if I could do it over
I would trade give away all the words that I saved in my heart
That I left unspoken
Acordei cedo, numa qualquer manhã de um qualquer mês (pelas minhas contas, estávamos perto do meio de Junho), devido à luz forte que vinha da minha janela. Daphne ainda dormia. Olhei para o relógio para constatar que ainda faltavam um par de horas para os despertadores começarem a tocar. Suspirei. De nada valia voltar a deitar-me, sabia que não conseguiria dormir. As minhas noites eram horríveis, os meus pesadelos ainda pior. Por isso, fiquei feliz por poder acabar com aquilo um pouco mais cedo. Levantei-me, tomei banho, vesti o habitual uniforme e desci, rumo à cozinha. Não sabia se os elfos estariam a dormir, mas não me importava. Só queria andar, esquecer por momentos tudo aquilo que me ocupava a mente a todas as horas, minutos, segundos…Não sabia por quanto mais tempo iria aguentar.
What hurts the most
Is being so close
And having so much to say
And watching you walk away
Àquela hora da manhã o castelo encontrava-se deserto, mergulhado numa paz há muito desejada. Segui calmamente por um corredor à direita, ficando em frente ao quadro da pêra. Fiz-lhe cócegas e esta abriu-se para me mostrar uma cozinha muito atarefada. Mas mesmo no meio daquela confusão, uns olhinhos verdes conseguiram-me sorrir à distância.
- Mestra Jones! – gritou uma vozinha aguda, fazendo-me sorrir.
- Freya, quantas vezes já te disse para me chamares Narcissa? – disse eu, carinhosamente, sentando-me numa pequena mesa. – Arranjas-me qualquer coisa para comer? Estou esfomeada.
- Claro que sim, menina! Que tal uma fatia de bolo de chocolate e um sumo de abóbora? – Ri-me.
- Só tu sabes como me animar, Freya.
E feliz com a missão que lhe atribuíra, Freya rapidamente colocou à minha frente uma generosa fatia de bolo de chocolate e um sumo de abóbora acabadinho de espremer. Agradeci-lhe, deixei-a voltar para as suas tarefas habituais e comecei a comer. Não demorei muito para acabar, tanto o bolo como o sumo estavam deliciosos. Acenei a Freya e saí da cozinha.
Já tinha a barriga cheia e como ainda era cedo, decidi aventurar-me e ir dar uma volta pelos jardins do castelo. Cheguei ao Hall e saí pelas enormes portas duplas, parando no final das escadas. Para onde ir? Pensei durante um momento e, de repente, fez-se luz. Iria ver os Thestrals. Tal como a maior parte de Hogwarts, nunca os vira. Mas agora, depois da batalha, duvidava que houvesse alguém em Hogwarts que não os conseguisse ver.
Segui então pela ponte e depois desci até à entrada da Floresta. Entrei nela sem medos, sabendo que o pior que poderia encontrar ali seria talvez alguma erva daninha que me arranhasse as pernas nuas. Após algum tempo, dei por mim em frente ao lago. Suspirei, sentei-me num dos enormes pedregulhos que lá se encontravam e olhei a água. Estava calma, límpida e reflectia os primeiros raios de sol que começavam a surgir no horizonte. Mesmo não estando habituada nem gostar de chorar, deixei cair uma lágrima. Pensei em como gostava de me sentir assim. Calma, livre de preocupações, feliz. Oh, só Merlin sabia como eu gostava de sentir algo que não fosse dor, abandono…aquele vazio. Lembrei-me de uma coisa que a minha avó me dissera pouco antes de morrer: o coração precisa encher-se de alegrias ou de dores; umas e outras o alimentam. O que não pode suportar é o vazio.
And never knowing
What could have been
And not seeing that loving you
Is what I was trying to do
Olhei para os pés. O que é que eu estava ali a fazer? Porque é que me tinha levantado da cama, saído do castelo? O sítio onde estava não ia fazer diferença nenhuma. Eu sabia que quando não conseguimos encontrar tranquilidade dentro de nós mesmos, de nada serve procurá-la noutro lugar. De qualquer modo, de que é que me servia ser forte, naquele momento? A batalha já acontecera, vencêramos, estávamos em paz. Ou pelo menos, alguns de nós estavam. Porquê?
Not seeing that loving you
That's what I was trying to do'
(What Hurts The Most – Rascal Flatts)
Porque quem sente, sente até ao fim.
'Mornings after
Still lingers
Just waking up
I see a shadow of you
Anoitecia. Só me dei conta que acontecia porque deixei de conseguir ouvir os risos dos alunos, lá fora. 'Ainda bem que alguém está feliz', pensei, desviando de novo o meu olhar para o caderno à minha frente. Passara a tarde fechada na torre de astronomia a compor. Claro que não conseguira criar nada de valor, a minha cabeça estava demasiado cheia dele para que eu conseguisse pensar em mais alguma coisa. Mas eu recusava-me a admitir esse facto e, portanto, tentava a todo o custo evitar tocar nesse assunto.
I'm not gonna tell ya
I'm not gonna say that I'm okay, no
I'm tryin' to get over
I'm tryin' to get far away from our mistakes
'Vamos lá, Ci, esforça-te!'. Dedilhei as cordas da guitarra, tentando formar uma melodia. Ia bem até certo ponto, mas não era capaz de arranjar um final. Suspirei. Aquela música tinha de estar pronta até às 10 horas do dia seguinte, pois o memorial era dali a 2 dias. 'Se não fosses tão descuidada, isto não acontecia!'. Deixara o velho Sluggy ouvir-me tocar numa qualquer das suas festas e parecia que ele não se esquecera do que ouvira, visto que poucos dias depois da batalha viera ao meu encontro e pedira-me que escrevesse uma música para o memorial em honra das vítimas. De certo modo, eu também era uma delas, mas não podia recusar aquele pedido ao pobre professor. Se ele soubesse o quanto me custava escrever para a Tonks, para Lupin, para Jack, para todas aquelas pessoas que tinham perecido por um bem maior! Tornei a olhar para o céu, que mudava o seu tom para mais escuro, pensando que o mundo simplesmente ignorava o valor do sacrifício escondido e silencioso.
But I see shadows
Everywhere that I go
It's you, reminding me
Of how we were
Of how it was
Esperava sinceramente que tudo o que aquelas pessoas tinham feito pelo mundo da feitiçaria fosse lembrado para sempre. Eternamente. De repente, tudo se tornou claro na minha mente. Peguei no caderno e comecei a escrever freneticamente. Quando acabei, pousei a pena e sorri. Estava feito. Treinei uma dúzia de vezes a melodia na guitarra e depois passei a arranjar os vocais. Aquela música era verdadeira, sentida. Tinha posto nela tudo o que restava do meu despedaçado coração.
I see shadows
Everywhere they follow
It's you and memories
Of how we loved
Passava da meia-noite quando saí da torre. Tornei-me invisível, mais por hábito do que por outra coisa qualquer. Já não havia perigo, a não ser que contássemos com o velho Filch e a sua gata zarolha. Virei para a esquerda, descendo as escadas rumo às masmorras. No fim da escadaria encontrava-se um vulto, sentado, brincando com a varinha. Desci o degrau devagar, sem fazer barulho. Parecia-me um rapaz. Ao olhar melhor, reparei que tinha tranças no cabelo. Blaise. Voltei a ficar visível e desci as escadas ao seu encontro. Ele sorriu quando me viu.
- Finalmente, princesa! Pensava que tinha de ficar aqui toda a noite à espera de sua majestade! – disse ele, erguendo-se. Ergui uma sobrancelha.
- Porque é que estavas à minha espera? – ele encolheu os ombros.
- Ouvi dizer que tu é que ficaste encarregue de escrever a música para o memorial e queria saber se já a acabaste. Sou o responsável pela música e tenho de entregar isso à McGonagall para aprovação.
- Sim, já a acabei. – respondi, recomeçando a descer as escadas com ele no meu encalço. – Amanhã entrego-ta. – Ele riu.
- Querida, já é amanhã. O prazo era a meia-noite de ontem, lembras-te? – Era? Por Merlin, já nem sabia em que dia estava!
- Oh, pois. Desculpa. Se vieres comigo, eu trato disso agora. – ele sorriu.
- Não é preciso. Desde que amanhã apareças nos ensaios. Não vai estar lá a McGonagall, mas o Slughorn também serve. – encolhi os ombros.
- Tudo bem, lá estarei.
Ele nada respondeu. Eu sabia que ele me olhava. Conseguia sentir na minha nuca. Passado alguns segundos e já chegados ao átrio, ele passou a mão esquerda pelos meus ombros.
- Estás bem? - POR MERLIN! A pergunta da semana! Porque é que as pessoas não paravam com aquilo? Jack morrera, Hogwarts estava parcialmente destruída e o meu coração feito em pedaços por um certo loiro! É claro que não estava bem!
I've had enough of your shadows
Four months gone
I can't feel you
I don't understand it
Where did you go?
I hate that you're all that I know
- Perfeitamente. – respondi, olhando-o. – Não te preocupes comigo, Blaise.
- Como se isso fosse possível. – respondeu, revirando os olhos.
Everywhere that I go
It's you, reminding me
Of how to love
I've had enough
I see shadows
Everywhere they follow
It's you, the memories
Seguimos em silêncio até à sala comum. Ele não tirou o braço dos meus ombros e eu não lhe pedi que o fizesse. Despedimo-nos, ele entrou para a camarata dos rapazes e eu segui em frente, até ao fim do corredor. Entrei no quarto devagar, troquei o uniforme pelo pijama e deitei-me no divã, a olhar o tecto. Não tinha sono. Para dizer a verdade, não queria adormecer. Porquê?
I've had enough
Your shadows
It's you, the memories
Of how we loved
I've had enough of your shadows
Your shadows.'
(Shadows – Westlife)
Simplesmente por não saber se conseguiria acordar.
O relógio da torre batia as nove horas, naquela manhã de sábado. Eu corria desenfreadamente em direcção ao salão, já estava atrasada para os ensaios. Finalmente alcancei as portas duplas e entrei de rompante. Havia tanto movimento que ninguém se deu conta da minha chegada tardia. 'Menos mal', pensei. Furei pela multidão, tentando alcançar Blaise, que se encontrava no palco, falando com os alunos do coro.
- …percebem? Não sabemos ainda se a música necessita de vocais extra.
- O quê? A música ainda não está pronta? Mas o memorial é hoje à noite!
- Eu sei, houve um pequen… - Blaise olhou na minha direcção. – Oh esperem, vêm aí a compositora. - Subi o palco e peguei numa das guitarras que lá se encontravam.
- Peço desculpa pelo atraso. – disse a Blaise, que sorriu. Comecei a afinar a guitarra.
- Pronto, aqui a têm. Eu tenho outras coisas a tratar. Ficas bem? – perguntou-me. Sorri-lhe.
- Claro que sim. Vai. – ele beijou-me a testa e saiu do palco apressado. Olhei para as pessoas à minha frente. Eram, pelo menos, quinze. E eu só precisava de uma.
- Então? – perguntou uma rapariga à minha esquerda. - Vais-nos mostrar a música ou nem por isso? – Ergui uma sobrancelha e olhei para o uniforme. Gryffindor, claro. Revirei os olhos.
- Nem por isso. – pousei a guitarra. - Gostava de fazer um teste primeiro.
- Que tipo de teste? – perguntou um Hufflepuff.
- Do tipo vocal. Vocês são quinze e a música que eu escrevi não tem backups vocais. Foi feita para uma, no máximo duas vozes. Portanto, tenho de descobrir qual das vossas vozes melhor se adequa à música. – Fiz uma pequena pausa. – Quem é que quer começar? – Ninguém se voluntariou. Sorri e apontei para a Gryffindor. – Podes ser mesmo tu.
- O que é que queres que cante? – perguntou, raivosa.
- O que tu quiseres. – respondi, encolhendo os ombros.
E foi assim que passei o que restava da manhã. Ouvindo os meninos e meninas do coro a cantarem Celestina Warbeck, The Weird Sisters e Blondy Veelas. Eu estava a ficar com uma enorme dor de cabeça. O que raio faziam aquelas pessoas no coro? Nenhuma delas tinha realmente a noção da voz que possuía e, por isso, faziam coisas que não cabia na cabeça nem a um troll da montanha. Quando o último rapaz fez a sua exibição, eu suspirei de alívio.
- Graças a Merlin! – murmurei eu. Tinha de falar com Blaise sobre aquele potencial problema. – Dêem-me uns minutos. Preciso de dar uma palavrinha ao Blaise. - Saltei do palco e fui até Blaise, que falava com o professor Flitwick.
- Desculpem interromper, Blaise, professor. Preciso mesmo de falar contigo. – disse.
- Não tem problema, Ms. Jones, eu e Mr. Zabini já tínhamos acabado a nossa conversa. Vão lá, crianças.
- O que se passa? – perguntou Blaise, afastando-se para um canto mais silencioso. Segui-o.
- Nenhum deles serve, Blaise. Nenhum deles tem a voz para cantar a música. Para dizer a verdade, não sei como entraram no coro.
'Looking back at the beginning of this
And how life was
- Narcissa, de certeza que há um que…
- Não há, Blaise. – interrompi eu. – A minha cabeça está prestes a explodir porque tive de os ouvir durante toda a manhã a assassinar músicas! – Ele não respondeu. Suspirei, tentando lembrar-me se conhecia alguém que tivesse uma voz razoável.
- Já sei! – disse ele, de repente. – Já solucionei o problema.
- Óptimo! – respondi eu, contente. – Qual é a solução?
Just you and me loving all of our friends
Living life like an ocean
- Fácil. Vais ser tu a cantar a música. – respondeu ele, calmamente, cruzando os braços. Ri sem vontade.
- Isso não é opção.
- Claro que é. Ainda para mais foste tu que escreveste a música. Ninguém melhor para a interpretar. – Olhei-o mortalmente.
- Já te disse que isso não vai acontecer.
- Cissa…
- Não. – respondi, terminantemente.
But now the current's only pulling me down
It's getting harder too breath
- Cissa, vá lá! Não há mais ninguém, tu própria disseste! – disse ele, exasperado. – E eu sei que tu cantas bem.
- Não, Zab, lamento muito. Isso não vai acontecer. – Suspirei. Já chegava de deixar mais de mim naquela escola. – A Gray e o McLaren são razoavelmente bons, vão dar perfeitamente conta do recado. – respondi, voltando para o palco.
It won't be to long and I will be going under
Can you save me from this?'
(It's Not My Time - 3 Doors Down)
Doía negar aquele pedido ao Blaise por saber o que significava para ele e para todos os sobreviventes e as suas famílias. Ele era um dos meus melhores amigos e os sobreviventes tinham lutado a meu lado na batalha, partilhando os meus ideais. Mas eu já estava tão habituada à dor, andava tão profundamente 'anestesiada' nas últimas semanas que não sequer senti nada quando não acedi ao seu pedido.
'Roaming through this darkness
I'm alive but I'm alone
Part of me is fighting this
But part of me is gone'
(When I'm Gone– 3 Doors Down)
Nada. Nem culpa, nem tristeza, nem raiva, nem alívio e muito menos alegria. Apenas…
…dormência.
Depois de mais um par de horas, uma visita de Daphne e Adam e muita discussão, empenhei-me em treinar os dois cantores para o evento daquela noite. Aquele seria o ensaio geral, porque depois teriam de começar a decorar o salão.
- Vamos lá, uma última vez? – perguntei, colocando-me a postos.
- Ouve, Jones…- principiou a rapariga Gryffindor. – A música é lindíssima. É uma honra para nós poder cantá-la. – disse. Eu olhei-a, um pouco surpresa.
- Obrigada, Gray. - Respondi, sorrindo.
- Narcissa! – chamou uma voz, atrás de mim. Virei-me para descobrir o professor Slughorn, já nas suas vestes negras.
- Professor?
- A professora McGonagall deseja ver-te no seu gabinete.
Olhei Slughorn um pouco surpresa mas assenti, mostrando que entendera a mensagem. Pousei a guitarra, mandei os meus colegas esperarem um pouco e saltei do palco, palmilhando Hogwarts rapidamente até ao gabinete da actual Directora. A gárgula, com certeza previamente avisada da minha chegada, deixou-me passar sem senha. Subi as escadas e bati à porta suavemente. 'Entre!'. Entrei, fechei a porta atrás de mim e segui até à secretária onde McGonagall se encontrava, altiva, com as mãos pousadas elegantemente sobre o colo. Não pude deixar de dar um pequeno sorriso. O coração daquela professora tinha amolecido muito depois da batalha. O seu porte rígido e aparência severa não a tinham abandonado, mas todos sabíamos que Minerva McGonagall era uma feiticeira diferente.
- Queria falar comigo, professora? – perguntei, sentando-me na cadeira em frente a ela.
- Assim é. – suspirou. – Como deve saber, Miss Jones, antes de eu assumir o posto de Directora, era o professor Snape que ocupava esse cargo. – desviei o olhar. Ouvir aquele nome era como pôr o dedo na ferida. - Portanto – continuou McGonagall -, foi ele que recebeu e tomou conhecimento dos termos no testamento do professor Dumbledore. - ' Dumbledore tinha deixado um testamento?', pensei, surpresa. – Uma vez que o professor Snape já não se encontra entre nós, serei eu a pôr em prática um dos últimos desejos do professor Dumbledore.
Olhei-a, espantada, enquanto ela me explicava o tal desejo que Dumbledore deixara por escrito: no memorial daquela noite, eu lançaria Fawkes, em memória de Dumbledore e de todas as outras vítimas. Quando ela me perguntou se concordava, eu anui. Não sabia o que dizer. Porque é que Dumbledore me escolhera a mim? Sim, eu tinha um Dom, mas e então? Isso não me tornava diferente de ninguém, até porque ninguém sabia que eu o possuía.
- Esta parte da cerimónia terá lugar antes do meu discurso, ou seja, será perto do fim. O que significa…
Nunca soube o que significava. A minha mente estava cheia de informação que eu ainda não tinha tido tempo de processar. Compusera uma canção que agora ia ser interpretada perante toda a escola. Depois, tinha sido informada de que iria lançar Fawkes e que esse tinha sido um dos derradeiros pedidos de Dumbledore. Já para não falar que a minha fútil mamã ainda não me mandara o meu vestido para aquela noite.
- Ms. Jones? Ms. Jones, ouviu alguma coisa do que eu lhe disse? – perguntou a professora, despertando-me das minhas divagações.
- Sim sim, professora. Não se preocupe, entendi tudo. – ela olhou-me desconfiada, mas assentiu.
- Muito bem. Pode voltar para os ensaios, Miss Jones.
- Obrigada, professora.
Saí da sala e assim que pude, tornei-me invisível. Não queria voltar já para o salão, necessitava de parar e organizar as ideias. Depois daria uma desculpa qualquer, eles não se importariam. Corri até ao sétimo andar e entrei na sala das necessidades, fechando rapidamente a porta atrás de mim. Respirei fundo. Ali estava em segurança, podia acalmar-me e começar a pensar melhor nas coisas. Olhei em volta, reparando que a sala tinha um aspecto circular e estava completamente vazia à excepção de uma pequena poltrona voltada de lado para a enorme janela. Fui até lá e sentei-me, olhando para lá do vidro. O sol elevava-se alto, estava um dia bonito. No entanto, não se via ninguém nos jardins. 'Devem estar todos a preparar-se para logo', pensei.
'I feel these four walls closing in
My face up against the glass
I'm looking out...
Is this my life I'm wondering?
It happened so fast
How do I turn this thing around?
Is this the bed I chose to make?
Its greener pastures I'm thinking about
Wide open spaces far away
Queria tanto poder sentir-me como eles! Ser como eles! Não ter aquele Dom que, apesar de dar jeito na maior parte das vezes, trazia consigo responsabilidades maiores, fardos mais pesados; não ter tido de mandar a minha irmã embora dali porque as coisas se estavam a tornar demasiado complicadas; não ter de acordar todos os dias com a sensação de que, apesar de a guerra ter acabado, a minha batalha interior continuava a decorrer; não ter de estar apaixonada por alguém que me mentira e abandonara, só para salvar a sua pele.
All I want is the wind in my hair
To face the fear but, not feel scared
Suspirei. Só queria poder fugir do meu corpo e voar por aí, sem destino, só apreciando a sensação do vento a roçar na minha face. Sentia um peso tão grande dentro de mim, como se estivesse a combater comigo mesma para me conseguir elevar.
Wild horses I wanna be like you
Throwing caution to the wind
I'll run free too
Wish I could recklessly love, like I'm longing to
Run with the wild horses, run with the wild horses!
Não podia continuar a remoer todos aqueles assuntos. Sabia que iam continuar na minha mente para sempre. Talvez com o tempo se fossem apagando cada vez mais. Mas naquele momento e naquele lugar, não podia fazer nada em relação a isso. Só tinha de continuar a viver, redefinindo prioridades, concentrando-me no que era verdadeiramente importante: os meus irmãos, os meus amigos e a felicidade de todos eles.
I see the girl I wanna be
Riding bare back, care free along the shore
If only that someone was me
Jumping head first headlong without a thought
To act and damn the consequence
How I wish it could be that easy
But fear surrounds me like a fence
I wanna break free'
(Wild Horses – Natasha Bedingfield)
Quanto à minha felicidade? Bom, teria de esperar. Mas eu não ia deixar ninguém se aperceber disso. Ia empurrar todos os meus verdadeiros sentimentos para o fundo do meu coração e deixar a amizade e a compaixão ficarem no topo. Assim ninguém saberia de nada. Porque como a minha avó costumava dizer…
O fundo do coração está mais longe que o fim do mundo.
'Narcissa,
Claire gostaria que te avisasse que já se encontra a caminho de Hogwarts para o memorial e que não te escreveu porque, infelizmente, o Mungus morreu.
Como já deves saber, eu e o teu pai não vamos poder estar presentes esta noite. Eu preciso de organizar as coisas para o vosso regresso a casa e o teu pai está ocupadíssimo no Ministério.
Espero que o vestido chegue em segurança e que a coruja não lhe cause nenhum dano.
Julie Barclay
P.S: Uma das últimas coisas que a tua avó teve oportunidade de me ensinar foi que, quando os que são queridos nos deixam, se deve celebrar a sua vida, e não a sua morte. Lembrar os seus sorrisos, a amizade e amor que dispensaram, as suas qualidades, os seus momentos felizes.
Espero que te lembres disto e que aches que o vestido que te mandei consegue fazer jus a esta premissa.'
Cissa releu aquele pequeno bilhete não querendo acreditar que tinha sido a mão da sua mãe a escrevê-lo. 'Quer dizer, a primeira parte é típica da mãe, mas este P.S... Inacreditável! ' No entanto, aquela letra elaborada e elegante pertencia mesmo a Julie Barclay. Sorriu fracamente. Afinal, lá no fundo, a mãe conseguia deixar as futilidades e lado e compreender, nem que fosse muito pouco (e provavelmente porque Claire a informara), a dor que Cissa sentia. Pousou o bilhete na secretária e virou-se para abrir a caixa onde estava o vestido. Retirou lentamente o laço, depois a tampa e não pode deixar de abrir a boca de espanto quando viu o vestido que lá se encontrava. Tirou-o suavemente, pendurou-o num cabide e colocou-o no dossel, para o poder ver melhor.
- Meu Merlin. É lindo. - disse, encostando-se à secretária.
Era, de facto, uma das coisas mais lindas que Cissa já tinha visto até à data. Ao invés da habitual cor preta dos vestidos de memoriais, aquele era de um branco magnífico, puro, celestial. Os pequenos cristais negros que adornavam o generoso decote tornavam-no ainda mais brilhante. Era bastante justo na cintura mas depois alargava, caindo até pouco depois do joelho. Quanto às alças, atavam no pescoço. Mas eram tão compridas que Cissa suspeitava que depois lhe cairiam pelas costas. Sorriu. Viu que dentro da caixa também se encontravam umas sandálias simples, de salto baixo, pretas. Olhou o relógio. Faltava uma hora. Devia começar a arranjar-se.
Enquanto abria a água do duche e tirava o uniforme, lembrava-se que desta vez não iria ter a ajuda de Daphne, já que esta prometera a Anna que lhe trataria do penteado. Encolheu os ombros. Faria um feitiço simples e estava tudo tratado. Entrou na box e deixou-se ficar durante uns minutos debaixo da água fria, só relaxando. Quando decidiu que já era suficiente tratou de tomar o dito banho.
Dez minutos depois encontrava-se de novo encostada a secretária, enrolada na toalha de banho, olhando o vestido. Nem queria imaginar quanto aquilo tinha custado, mas isso não era um problema para os Barclay. Suspirou e foi até à mesa-de-cabeceira. Tirou a roupa interior, vestiu-a e olhou o relógio. 45 minutos. Tirou o vestido do cabide e começou a vesti-lo devagar, não queria rasgar nada. Atou o vestido e olhou-se ao espelho. Mesmo com o cabelo embaraçado, já estava linda. Deu meia volta para ver a parte de trás. O que restava das alças caía-lhe suavemente pelas costas nuas, tal como suspeitara.
Sentou-se ao toucador e, com um estalar de dedos, o cabelo ficou imediatamente seco. Decidiu que ia deixá-lo solto. 'Hum, mas não queria ir como sempre'. Passado uns momentos, sorriu ao seu reflexo. Com mais uns quantos movimentos manuais, Cissa esticou todo o seu cabelo castanho. 'Óptimo!'. Com aquele assunto tratado, passou à maquilhagem. Não gostava muito de a usar, mas como era uma cerimónia, teria de fazer um esforço. A sua pele não tinha imperfeições e, portanto, não precisava de usar base. Mas estava muito pálida. Decidiu por um pouco de blush, só para lhe animar um pouco a face. Colocou o seu gloss favorito, muito discreto e um pouco do perfume de Daphne, que adorava. 20 minutos. Calçou as sandálias e ergueu-se, colocando-se em frente ao espelho.
Estava pronta.
N/A: ' O coração precisa encher-se de alegrias ou de dores; umas e outras o alimentam. O que não pode suportar é o vazio' - Alphonse Karr
A titúlo de curiosidade, a música que Cissa escreveu para o memorial é a I'm Already There, dos Westlife. Era a que estava a tocar quando eu escrevi o capítulo e eu achei que encaixava na perfeição. Se estiverem intrigados, dêem uma olhada no youtube 8D
(e pela última vez nesta fic digo: ) Keep reading !
Love,
~Nalamin
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