Complicity
Disclaimer: It's all yours, dear J.K.
Have you met Miss Jones?
Fanfic by Nalamin
Chapter 30: Complicity
A semana passou muito depressa. Parecia que à medida que o entusiasmo das pessoas com o baile aumentava, mais rápido passava o tempo. Mas eu até estava contente com isso, porque quanto mais rápido chegasse o dia do baile, mais rápido ele se realizava e as pessoas deixavam de falar sobre isso. Parecia que não tinham outro assunto. Não se podia andar pelos corredores sem ouvir discussões acerca da cor dos sapatos, do batom e da roupa interior, do penteado e da maquilhagem, e de um sem número de coisas que eu me esforçava por ignorar.
Raramente via Daphne porque ela estava tão empenhada naquele baile como se do próprio casamento se tratasse. Então eu passava os meus dias com Adam, a quem acabei por me revelar. Ao contrário do que eu esperava, ele não pareceu de todo surpreendido, e aceitou tudo maravilhosamente bem, prometendo guardar segredo e oferecendo-se até para um juramento inquebrável. Foram quatro dias fantásticos que fizeram com que me esquecesse da situação em que vivíamos e daquele baile estúpido e, acima de tudo, com que formasse uma sólida amizade com Adam.
Perto do fim da tarde de 6ª feira, despedi-me de Adam e segui para o meu quarto, onde eu sabia estar a decorrer qualquer coisa parecida com um desfile de moda. No dia anterior, ouvindo Daphne, Erika e Anna guincharem e queixarem-se que as camaratas eram terrivelmente pequenas para uma pessoa se arranjar, ofereci o meu quarto como opção, mais para elas se calarem do que por outra coisa qualquer. Aceitaram imediatamente, agradecendo-me como se eu fosse Merlin.
Não estava com muita vontade de lá entrar, mas infelizmente era ali que a minha própria máscara se encontrava. Exigindo apenas que me emprestassem a casa de banho por alguns momentos, tomei banho, vesti-me, calcei-me e penteei-me à velocidade da luz e deixei que ocupassem a divisão à vontade, saindo sorrateiramente no quarto e tornando-me invisível, descendo depois para a sala comum – completamente vazia, já que as pessoas estavam todas a arranjar-se – e sentando-me numa poltrona. Faltavam 45 minutos para o início do baile, portanto, se tinha de esperar, mais valia fazê-lo sentada.
À medida que os minutos passavam, os meus colegas de equipa iam passando por mim e saindo da sala comum. Vi Edwin passar com uma rapariga bastante feia pelo braço, não fazendo a menor ideia de que casal pretendiam eles ser. Blaise também passou, sozinho, no seu fato de Casanova. Eve Hammett desceu a seguir, vestida – vá-se lá imaginar porquê, porque era dia dos namorados e não Páscoa – de coelhinho, com uns calções (se é que se podiam chamar assim, de tão curtos que eram) que tinham um pompom na parte de trás, a imitar o rabiosque dos coelhos. Gargalhei tanto que até as lágrimas me vieram aos olhos. Em seguida, Erika e Will saíram, alegres, e tenho de admitir que Erika estava bastante bonita, tendo em conta que estava na pele de Miss Warbeck. Daphne desceu pouco depois, no seu fato de cupido, acompanhada por Anna, que trajava de princesa. Sorri. 'Afinal Blaise não conseguiu demovê-la'.
Faltando apenas cinco minutos, decidi segui-los, saindo da sala comum e rumando ao salão. Quedei-me no corredor, atrás de uma armadura, esperando que todos entrassem para poder ficar visível de novo. Tive de esperar algum tempo, porque as pessoas não paravam de chegar. Finalmente, depois de 15 minutos, tornei-me visível e atravessei as portas duplas, para entrar no salão.
Ou melhor dizendo, para entrar no mundo cor-de-rosa.
Assim que pus pé naquele salão, abri e fechei os olhos várias vezes, fazendo com que o meu olhar se habituasse rapidamente. 'Meu Merlin. Quem terá sido o responsável pela decoração? Snape?'. O salão estava exageradamente decorado. E o mau gosto era mais do que evidente.
O chão de mármore que toda a Hogwarts possuía e que, obviamente, também existia no salão, estava pintado de cor de rosa. As paredes, idem, sendo que estas tinham, por toda a parte, corações de várias formas e feitios. Mesmo ao centro, existia uma pequena plataforma ligeiramente elevada, pintada de forma abstracta de cor de rosa e vermelho, e que fazia de pista de dança. Em redor desta, mesas redondas com toalhas cor-de-rosa e cadeiras vermelhas albergavam os alunos. O tecto apresentava um céu nocturno sem nuvens, de onde, no entanto, choviam rosas vermelhas, que desapareciam 3 metros antes de tocarem no chão. E no local onde normalmente se situava a mesa dos professores, encontrava-se um palco, onde as Blondy Veelas preparavam os seus instrumentos. 'Ao menos acertaram com a música'.
Logo depois de me chocar com a decoração horrenda do local , recriminei-me pela escolha da minha indumentária. Toda a gente escolhera máscaras – adivinhe-se! – cor-de-rosa ou semelhante. Alguns, como Blaise e Daphne, tinham peças de roupa bege, mas não eram claras o suficiente para fazerem contraste com as peças cor-de-rosa. Já eu, que estava vestida de branco imaculado praticamente da cabeça aos pés, ia com certeza destacar-me da multidão. O que, por sinal, eu odiava.
Bem dito, bem certo. Assim que avancei um pouco mais rumo à minha mesa, toda a gente cravou os olhos em mim. Tenho de admitir que estava bastante bem. Tinha escolhido viajar até à Grécia antiga e fazer o papel de deusa Afrodite, a deusa do amor. O meu vestido era exactamente como o dos gregos daquela época, de um só ombro, até aos pés e bastante pregueado. Tinha uma pequena fita dourada a apertar o vestido na zona da cintura, de modo a fazê-lo moldar-se ao meu corpo. E pela primeira vez, em todos os bailes a que já fora, os meus sapatos eram verdadeiramente confortáveis: de salto raso, também dourados e com atilhos que apertavam mais acima na minha perna.
Mas o que mais me agradava era o meu penteado. Apesar de estar vestida como os gregos antigos, decidi que os seus penteados eram demasiado complicados para eu executar sozinha. Então avancei no tempo e descobri que a era vitoriana, também dos muggles, obviamente, possuía os mais belos penteados que eu já alguma vez tinha visto. Portanto, arranjei o meu cabelo de modo a ficar parecido com os dessa época: uma pequena tira dourada fazia de fita, assentando na minha cabeça 4 ou 5 dedos depois da linha de cabelo e tirando-me os cabelos dos olhos; em seguida, encaracolara todo o meu cabelo e fizera algumas tranças, montando depois tudo de forma a ficar harmonioso com a ajuda de muitos (milhares) de ganchos. Dera algum trabalho, mas ficara verdadeiramente magnífico. E quanto à maquilhagem, essa estava simples, como sempre. Acrescentara sombras douradas e um pouco de blush ao meu habitual gloss e ficara pronta.
- Estás tão bonita, Ci! Ainda bem que vieste. – disse Daphne, quando me sentei a seu lado, na nossa mesa.
- Obrigada, Daph, tu também estás magnífica. A Erika e a Anna não se sentam connosco? – perguntei, uma vez que a nossa mesa estava vazia.
- A Anna sim, com o par dela, mas a Erika fica com o Will. E o Blaise também fica connosco. Ele foi buscar o James.
- O James? Mas ele disse que não vinha.
- Exacto, por isso é que o Blaise o foi buscar. E acho que o Draco também vem. Mas gostava que eles se despachassem, estou a morrer de fome.
Entretanto Blaise aparecera, arrastando um James Barclay extremamente irritado e vestido de cor-de-rosa escuro atrás de si. Quando finalmente serviram o jantar, não pude deixar de revirar os olhos. Até a comida era cor-de-rosa. Estava a começar a ganhar uma enorme aversão àquela cor.
Findado o jantar, as Blondy Veelas começaram o seu concerto e a maior parte das pessoas foi para a pista de dança, o que me permitiu ver bem os seus trajes. A primeira pessoa em que reparei foi sem dúvida Eve Hammett, com o seu pornográfico traje à coelha, dançando de forma ainda mais pornográfica. Jack tentava acompanhá-la, com um smoking cor-de-rosa – horrível, horrível, horrível! – e olhando e sorrindo descaradamente para mim. Não me contive e gargalhei. James, que estava sentado ao meu lado, reparou para onde olhava e riu também. Não levou nem 5 segundos para que Jack deixasse de sorrir.
Finalmente conseguindo convencer James a dançar uma balada, fui para a pista de dança. O meu primo era um exímio dançarino, mas o facto de eu não estar de saltos dificultava-nos a tarefa, porque ele era muito mais alto do que eu. Era mais alto que Tom, Blaise e até que o Malfoy. Desatámos a rir quando percebemos a figura triste que estávamos a fazer. Mas Blaise veio roubar-me para uma dança e James foi, aliviado, dar uma volta pelo salão. Dancei também com Tom, que eu não fazia ideia que planeava ir ao baile e com Neville, que, bastante assustado, respondeu afirmativamente quando o convidei.
Já o baile ia a meio quando decidi fazer uma pausa para beber qualquer coisa. Saí da pista e encaminhei-me até à mesa das bebidas, servindo-me de um pouco de sumo de abóbora, e sentando-me depois na primeira cadeira livre que encontrei, no fundo do salão. Fiquei algum tempo a observar os meus colegas. Estavam todos excepcionalmente felizes, dançando com as suas caras metades. Não pude deixar de sorrir, contente por eles.
- É tanta felicidade que até enjoa. – comentou uma voz, sentando-se na cadeira ao lado da minha. Revirei os olhos.
- És mesmo miserável, Malfoy. – respondi, olhando-o.
Mas quando o fiz, não consegui deixar de ficar surpreendida. Tal como eu, ele destacava-se da multidão, embora eu apostasse que ninguém reparara quando ele entrara no salão, senão, já todos os olhares estariam recaídos sobre nós dois. Envergava um vulgar smoking preto, uma camisa também preta e uma gravata imaculadamente branca. A sua pele parecia ainda mais pálida em contraste com aquela indumentária. E ele estava indubitavelmente sexy.
- E quem és tu? – perguntei, apontando em seguida para o seu fato, em resposta ao ar de confusão com que ele me presenteou.
- Sou eu, Jones. – ri-me.
- Isso é que é narcisismo! Vieste mascarado de tu mesmo?
- Não, Jones, pelo contrário. – respondeu-me ele, com um sorriso. – Hoje decidi tirar a máscara.
Bom, não estava nada a espera daquela resposta. E, sinceramente, não sabia o que devia dizer, porque tinha a sensação de que fosse o que fosse que eu dissesse, provavelmente ia soar estúpido depois de uma afirmação daquelas.
- Queres dançar? – questionei, pousando o copo e levantando-me. Foi realmente a única coisa que me ocorreu. 'Narcissa Jones, o que raio estás tu a fazer?'
- Prometes que não ficas invisível a meio da dança, Jones? – disse ele, levantando-se também. Ri-me.
- Prometo, Malfoy. – 'Porque é que estás a fazer promessas a Draco Malfoy?'
Dito isto, ele estendeu a mão direita, sobre a qual eu pus a minha esquerda, levando-me depois para o centro da pista. Como ele não era tão alto como James, as coisas correram melhor. Ele enlaçou-me pela cintura e eu deixei as minhas mãos pousarem no pescoço dele. Mantivemos uma distância segura até ele me puxar para mais perto, as suas mãos agora a deslizarem livremente pelas minhas costas.
- Comporta-te, Malfoy. – admoestei eu, fazendo-o rir.
- Já estiveste bem mais perto de mim, Jones. – respondeu ele, ao meu ouvido.
Arrepiei-me. E tenho a certeza que ele se apercebeu, porque os seus lábios estavam tão perto da minha orelha que eu o senti sorrir. Eu queria responder-lhe alguma coisa extremamente inteligente e perspicaz, mas o cérebro não conseguiu articular nada. Ficámos em silêncio e quando a música finalmente acabou, olhámo-nos e fomos cada um para seu lado. 'Não tenho a certeza do que acabou de acontecer aqui…'
Ainda deambulei mais uma boa meia hora pelo salão, mas depois decidi que aquele baile já dera o que tinha a dar. Despedi-me dos meus amigos e saí do salão. Queria ir até aos jardins, mas até os corredores estavam gelados, portanto, não me ia aventurar lá fora. Apressei então o passo até à sala comum, desfazendo o meu penteado pelo caminho. Parando em frente à porta, disse a senha e entrei, verificando que esta estava vazia e deixando-me cair numa das poltronas em frente à lareira, descalçando os sapatos e pondo os pés em cima da mesinha que se encontrava no centro.
Mas não fiquei sozinha por muito tempo. O Malfoy, que com certeza me seguira até ali, entrou, e depois de tirar a capa e a pousar no braço da poltrona, sentou-se ao meu lado.
- Jones. – disse ele, cruzando os braços e deitando a cabeça para trás, de olhos fechados.
- Seguiste-me, Malfoy? – perguntei, olhando para ele.
- Não é óbvio, Jones?
- Mas porquê?
Ele não me respondeu, limitando-se a sorrir. Bufando, exasperada, abanei a cabeça e desviei o olhar para a lareira. Minutos passaram e o silêncio reinava. Começando a ficar farta de estar ali sem fazer nada, fiz, silenciosamente, um feitiço de chamamento de um dos meus livros. Ele apareceu quase imediatamente e, sorrindo, comecei a ler. Provavelmente ouvindo-me a virar as páginas, o Malfoy mexeu-se a meu lado, inclinando-se para ver o que eu estava a ler.
- Orgulho e Preconceito, Malfoy. De Jane Austen. Escritora muggle. – elucidei eu, sem levantar os olhos do livro.
- Eu sei, Jones. – disse ele, revirando os olhos. – Já leste Sensibilidade e Bom Senso? – olhei-o, surpresa.
- Já, mas gosto mais de Elizabeth e de Mr. Darcy. – ele sorriu.
- Ela é parecida contigo.
- E ele contigo.
- Deve ser por isso que gostas tanto dessa história, Jones.
- Sim, Malfoy, a verdade é que eu te amo secretamente e esta foi a minha maneira de te dizer que quero ficar contigo. – respondi-lhe, sarcástica, virando mais uma página.
- Eu realmente teria preferido um pouco de Shakespeare, Jones, mas Miss Austen também serve. – ri-me.
- Não te tomava por leitor deste tipo de coisas, Malfoy.
- Eu não diria que serias capaz de me roubar o lugar de seeker e olha no que deu. – disse ele, olhando irritado para mim.
- Pára de remoer sobre isso, Malfoy. Quando quiseres jogar, é só dizeres. – respondi eu, desinteressada.
- Vou cobrar-te isso, Jones.
- Estás a vontade. É da maneira que fico com mais tempo para o piano.
- Tocas, Jones? – perguntou, ligeiramente surpreendido.
- Sempre que tenho tempo. Porquê? Também tocas? – ele assentiu.
- Em casa.
- Não sei como consegues ficar tanto tempo seguido sem tocar.
- Não gosto de tocar na sala de música, Jones, toda a gente ouve. – argumentou ele.
- Nem eu, mas uso a sala das necessidades.
Ele não disse nada por um momento, e eu tornei a devotar toda a minha atenção ao livro. O silêncio manteve-se durante mais alguns momentos, até ele tornar a falar.
- Conheces Debussy?
- Claire de Lune é a minha peça favorita. Foi a primeira peça a sério que aprendi a tocar e a minha irmã recebeu o nome dela em honra dessa peça. – respondi, olhando-o. – Música muggle é infinitamente melhor.
- Por mais horrível que seja - e se algum dia disseres a alguém, eu desminto -, tenho de concordar contigo, Jones. – disse ele, dando um dos seus sorrisos.
'With every appearance by you, blinding my eyes,
I can hardly remember the last time I felt like I do
You're an angel disguised
- Merlin, achas que contaria a alguém? Isto é tão incrível que vou guardar só para mim! – disse eu dramática, fechando o livro e bocejando. – Acho que me vou deitar.
Levantei-me, peguei nos sapatos e ia passar pelo Malfoy para me dirigir às escadas, quando ele me segurou a mão, mas não como me tinha agarrado o pulso inúmeras vezes. Desta vez fê-lo suavemente, como se eu fosse de vidro e ele não me quisesse partir. E olhava para mim, sério, mas relaxado.
- Fica.
Will you stay awake for me?
I don't wanna miss anything
I don't wanna miss anything
I will share the air I breathe,
I'll give you my heart on a string,
I just don't wanna miss anything
Merlin, como é que eu era capaz de me ir embora quando ele me pedia daquela maneira para ficar? Quando ele olhava para mim com aqueles olhos irritantemente azuis que faziam parte daquela face irritantemente perfeita e que indubitável e irritantemente me atraía? Era uma missão impossível, e eu não estava nem sequer disposta a correr o risco.
And if it's a hero you want,
I can save you. Just stay here
Your whispers are priceless
Your breathe, it is dear. So please stay near
Portanto, a pedido do meu alegado inimigo, larguei os sapatos e tornei a sentar-me perto dele. 'Eu…Eu não consigo pensar.' Larguei-lhe a mão e desviei o olhar. Puxando os pés para cima do sofá, cruzei as pernas, ocultando-as com o meu vestido comprido. Estava virada para ele, de lado no sofá, e o meu joelho esquerdo roçava no dele. Não dissemos mais nada. Até porque não havia mais nada a ser dito. Limitámo-nos a sentir. A mão dele roçou a minha, fazendo o meu coração começar a bater descontroladamente.
Say my name. I just want to hear you
Say my name. So I know it's true
You're changing me. You're changing me
You showed me how to live
So just say. So just say…
- Malfoy… - sussurrei.
That you'll stay awake for me
I don't wanna miss anything
I don't wanna miss anything'
(Awake – Secondhand Serenade)
Ele não respondeu e, de forma tão natural quanto tudo o resto que acontecia entre nós, beijámo-nos. Foi o melhor beijo da minha vida.
E é claro que, minutos depois, ele estragou tudo.
N/A: Outro final de capítulo que é um dos meus personal favorites. A canção, apesar de eu só a ter inserido depois de acabar a fic, ajudou imenso para eu imaginar o ambiente desta cena. Secondhand Serenade forévááá! (L)
E agora, começa a contagem decrescente. Faltam 10 capítulos para o término da fic :o
Keep reading! :D
Love,
~Nalamin
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