Facing Some Truths, Finding Ne
Disclaimer: It's all yours, dear J.K.
Have you met Miss Jones?
Fanfic by Nalamin
Chapter 20: Facing Some Truths, Finding New Ones
- Chega, Narcissa!
A exclamação de Daphne sobressaltou Cissa, que se encontrava de olhos fechados, serenamente deitada de barriga para baixo em cima do piano, passando os dedos da mão esquerda suavemente pelas teclas.
- Queres que pare de tocar?
- Não, não quero saber da orquestra estúpida que crias cada vez que vimos para a Sala das Necessidades! – respondeu, exaltada, andando de um lado para o outro da sala. Cissa sentou-se, olhando-a preocupada.
- O que se passa contigo, Daphne? TPM?
- Qual TPM, qual quê! Eu quero é que fales comigo, Cissa!
- Sobre o quê? – questionou, confusa.
- Não te faças de parva, Narcissa! Sabes perfeitamente do que estou a falar.
- Garanto-te que não estou a ver qual é o motivo para estares tão irritada comigo.
- Draco, Cissa, Draco é o motivo! – Cissa desviou o olhar.
- Ah.
- Ah? Não tens mais nada a acrescentar ao 'ah'? – perguntou, cruzando os braços e sentando-se no banquinho do piano
- Não quero falar sobre isso, Daph. – retrucou Cissa, tornando a deitar-se.
- Mas porquê! Eu sou a tua melhor amiga, sabes perfeitamente que podes confiar em mim. – a morena suspirou.
- Por Merlin, Daphne, não tem nada a ver com confiança. Só não quero falar sobre o assunto. Aconteceu, já passou, e não se vai tornar a repetir.
- Mas como é que aconteceu? Eu estava lá em cima a escrever aos meus pais, nem me dei conta de que o Jack se tinha materializado ou que tinhas saído.
- Já te expliquei, Daph. – disse, suspirando. – Jack apareceu, discutimos, e a meio da discussão, o Malfoy aparece a fazer piadinhas. O Jack irrita-se, vai para bater no teu primo, mas o Tom aparece e impede-o. Ele acaba por se ir embora, Tom volta para casa, mas o Malfoy ficou comigo lá fora e pronto, aconteceu.
- A sucessão de acontecimentos que levaram ao beijo já eu sei, Cissa. Só quero compreender como é que duas pessoas que supostamente se odeiam acabam na marmelada, debaixo de chuva torrencial, e depois de uma delas ter tido um momento, digamos, pouco gracioso! – Narcissa tornou a dedilhar as teclas do piano, sorrindo ligeiramente.
- 'Marmelada' não é um termo que, de todo, faça jus àquele momento.
- Seja qual for o termo adequado, eu continuo a querer saber. – Cissa suspirou, cansada da insistência da loira.
- Daphne, não foi nada de especial, foi só um beijo. – afirmou, plenamente consciente de que o que estava a dizer não era verdade. – Eu estava vulnerável e deixei-me levar. – admitiu. - Quero esquecer que aconteceu, logo, não me apetece falar sobre o assunto. Não é que esteja a fazer segredo, senão nem sequer te tinha dito que tinha acontecido.
'Well she never was the best
Yeah at following the trends
Stayed one step above the rest
And even though it seemed
- Não percebo. – respondeu Daphne, levantando-se e tornando a andar de um lado para o outro. - Falaste-me do Dom horas depois de me conheceres, mas para me contares de um beijo que trocaste com um rapaz – e já nem menciono que o odeias – num cenário extremamente romântico, é este suplício!
- Daph… - Narcissa saltou do piano e dirigiu-se à amiga, agarrando-a pelos ombros e olhando-a nos olhos. – Basta. Só estás a fazer todo este drama porque aconteceu com o teu primo. – fez uma pausa, afastando-se em direcção à porta. – Não achas que há coisas mais importantes para te preocupares neste momento?
- Como o quê? – perguntou Daphne, abrindo os braços, exasperada. Cissa voltou-se imediatamente, olhando-a verdadeiramente zangada.
- Oh, sei lá, Daphne, como o facto de Lord Voldemort nos querer matar a todos! Ou como ele mandou os seus fiéis lacaios para Hogwarts para o livrar dessa tarefa! – Daphne olhava o chão, corada. – Ou, melhor ainda, como eu tenho de ir suportar mais uma sessão de tortura mais logo, depois de me esfalfar no Quidditch, depois de aturar as dicas estúpidas do teu primo sobre aquele beijo, depois de ver a Claire mais assustada do que nunca, só porque decidiste que devias contradizer o Carrow e eu, como sempre, fui em tua defesa! – A loira olhou-a, de lágrimas nos olhos, ligeiramente furiosa.
- Ninguém te pediu que o fizesses, Narcissa! Eu sei defender-me sozinha! – A morena riu amargamente.
Like the world was crashing on her
Didn't let it hold her down
Didn't hold her back oh no
-A sério, ninguém me pediu? Como se eu preferisse ouvir as tuas lamúrias depois, Daphne! Como se eu quisesse ouvir-te a dizer o quanto dói, como se eu não soubesse, como se eu não sofresse muito mais! – Fez uma pausa. – Mas ainda bem que te sabes defender sozinha. Porque eu estou farta. Farta de me importar demasiado e depois sofrer demasiado.
There's a fire in your eyes
And I hope you'll let it burn
- Claro, tu é que és a vítima! Coitadinha de ti, que sofres tanto pelos outros e que tens de suportar o fardo imenso que é poderes fazer qualquer feitiço e andares invisível quando te apetece! – Cissa olhou-a, num misto de espanto e raiva.
There's a scream in your voice
And I hope you will be heard
- Como é que podes dizer uma coisa dessas! Como é que podes sequer insinuar que… - não conseguia raciocinar. Não esperara aquilo de Daphne. Suspirou e, sem mais, voltou-se para sair da sala.
There's a fire in your eyes
And I hope you'll let it burn
Until you're heard, you're heard
- Vais fugir, Narcissa? – a morena estacou mas não se virou. – Vais, não vais? Como sempre fazes sempre que alguém se tenta aproximar de ti.
Seventeen is just a test
Yeah and I would recommend
That you live with no regrets
And even if it seems
- Desculpa? O que é que queres dizer com isso? – perguntou, voltando-se muito lentamente.
Like the world is crashing on you
You shouldn't let it hold you down
Shouldn't hold you back oh no, woah oh
- Exactamente o que disse. Com excepção dos teus irmãos e de James, não deixas que ninguém se aproxime de ti. Nem sequer te permites pensar que existem pessoas que possam gostar de ti para além do teu Dom! – A morena não respondeu. Daphne suspirou e deslizou calmamente para o banco em frente ao piano. – O Edwin, Cissa, ele gosta mesmo de ti. Não me parece que fosse deixar de o fazer só porque és mais poderosa que todos nós juntos. E o Jack! Merlin, o Jack é o exemplo perfeito: tem plena consciência do teu Dom e ainda assim, amou-te desde o início. – fez uma pausa. – E o Draco, Narcissa… Eu conheço-o desde sempre, quase melhor do que a mim mesma. Na noite da festa do Slughorn, ele não te beijou só para te irritar. E no ano novo, Ci, o beijo que vocês trocaram foi…perfeito. Vocês dois são tão parecidos. Nem fazem ideia.
Relax girl, turn down the lights
No one can see you shining
Relax girl, it'll be alright
No one can stop you if you try
- Onde é que queres chegar, Daph? – perguntou Cissa, mais calma.
- Deixa-o aproximar-se de ti, Narcissa. Se não o Jack, se não o Edwin, se não eu, pelo menos o Draco. – Daphne levantou-se e seguiu até à janela, colocando os braços à volta o corpo, abraçando-se. – Quando dizes que todos os dias te custa carregar o peso do Dom e tudo o resto aos ombros, eu não consigo sequer imaginar a tua dor porque sei que é mais intensa e mais real do que aquilo que eu concebo nos meus pensamentos. Mas sei o quanto te custa viveres sem Cecília. – Cissa desviou o olhar para o piano. – Sei que te é mais difícil sobreviver sem alguém que te compreenda do que sobreviver a horas e horas seguidas de tortura com os Carrow. Acredita que sei. Mas também sei que não és a única, Cissa.
Point of rhythm is to follow it in time
To listen to the beating in your mind
Remember if you seek then you shall find
- Draco. – deduziu a morena, sentando-se ela ao piano e começando a tocar uma peça de Debussy, um famoso compositor muggle. Daphne riu. – O que foi?
- Essa música…ele ouve isso o tempo todo, quando não estamos em Hogwarts.
- Adoro esta peça. É tão dramática, tão sofrida, como se ele estivesse a ser torturado quando a escreveu. – Cissa olhou para a cara que Daphne fazia e riu. – Sei que é uma comparação horrível, mas é isso que me transmite, e é por isso que gosto dela. Faz-me…
- …esquecer. – A morena anuiu. – Ele diz o mesmo.
- O que é que ele precisa de esquecer? – Daphne aproximou-se da amiga e sentou-se a seu lado no banco.
- 17 anos de negligência e sofrimento. – disse, tristemente. – Para mais informações terás de contactar a fonte. – acrescentou, numa nota mais alegre.
There's a fire in your eyes
And I hope you'll let it burn
- Mesmo que eu o quisesse fazer, não me parece que ele fosse cooperar comigo.
- Interessas-te genuinamente por saber aquilo por que ele passou? Se sim, não vejo por que não te contaria ele. – Cissa riu.
There's a scream in your voice
And I hope you will be heard
- Não vês? Daphne, nós não somos propriamente bons amigos.
- Isso é fácil de mudar, não achas? Nada que uma ou duas longas conversas não resolvam.
There's a fire in your eyes
And I hope you'll let it burn
Until you're heard, you're heard'
(Seventeen Ain't So Sweet – The Red Jumpsuit Apparatus)
- Sim, pois, logo se vê. – Olhou para o relógio. – São 14h55, perdemos o almoço. Queres ir até à cozinha petiscar qualquer coisa?
- Não, ainda estou cheia do pequeno-almoço. E que horas é que disseste que eram? – perguntou, meio alarmada.
- Faltam 5 minutos para as três, Daph. Porquê?
- Por Merlin, estou atrasadíssima! Disse a Erika que me encontrava com ela às 14h30 para fazer o trabalho de transfiguração! – respondeu, levantando-se e andando rapidamente para a porta. – Vemo-nos ao jantar? – perguntou apressadamente antes de sair.
- Sim, vai lá.
Daphne sorriu e saiu da Sala das Necessidades, fechando a porta atrás de si. Esfomeada, e desta feita sem companhia, Cissa decidiu imitar a amiga e, dando um último olhar ao seu adorado piano, saiu da sala. Seguiu calmamente pelos corredores, dizendo o ocasional 'olá' aos seus conhecidos que passavam por ali. Estava um dia radioso para inícios de Janeiro, e parecia que toda a Hogwarts tinha aproveitado o facto de o sol ter derretido a maior parte da neve que se formara nos dias anteriores e se tinha dirigido aos campos. Olhando pela janela, Cissa conseguia ver os terrenos de Hogwarts cobertos de colegas seus, estudando à beira do lago ou conversando no pátio.
Decidida a também aproveitar um pouco daquele fabuloso dia, apressou o passo em direcção à cozinha. De modo a tornar as coisas mais fáceis e mais rápidas, achou por bem tornar-se invisível. E em menos de 5 minutos já se encontrava a fazer cócegas à pêra. Voltando a ficar visível, entrou na cozinha e espantou-se por não se deparar com a comum azáfama dos elfos que a caracterizava. Na verdade, a cozinha estava completamente silenciosa. E vazia. Dirigiu-se calmamente ao centro da divisão, onde se encontrava uma grande mesa de madeira onde os elfos preparavam os banquetes de Hogwarts. 'O que é que se passa aqui?'
- Freya? – chamou. – Merlin, estou esfomeada. Freya, estás por aqui? – repetiu, um pouco mais alto.
- Cala-te, Jones, não está aqui elfo nenhum. – comentou uma voz entediada atrás de si. De novo, Cissa nunca, jamais, em tempo algum teria de se voltar para reconhecer aquela voz.
- Suponho então que a tua presença seja…intoxicante. – retorquiu, dando-lhe um sorriso amarelo e passando por ele para chegar à enorme fruteira, de onde tirou uma maçã vermelha.
- Espanta-me como é que ainda não caíste morta, Jones. – Cissa riu e mordeu a maçã.
- Devo ter algum poder que tu desconheces, Malfoy. – ele sorriu de lado e sentou-se no enorme banco, em frente a uma taça de cereais.
- Talvez, Jones. No entanto, não me parece que sejas assim tão dotada. – disse ele, começando a desapertar a capa. 'Oh Merlin. Respira Cissa, ninguém consegue fazer do desapertar de uns botões um gesto totalmente sensual…'.
- Parece-me óbvio que não me conheces bem, doninha. – respondeu a morena, avançando e sentando-se no mesmo banco que ele, à distância de dois lugares. Ele sorriu e, depois de tirar a capa e a pousar a seu lado, virou-se para ela, de braços cruzados.
- Então fala-me sobre ti, Jones, conta-me tudo sobre a tua fantástica pessoa! – disse ele, irónico. Cissa hesitou por um momento, ficando a fixar a sua maçã parcialmente comida, facto que não escapou ao loiro. – Esquece, Jones, longe de mim desviar a tua atenção da tua preciosa maçã. – disse ele, começando a levantar-se. 'Pára-o, Narcissa!'
'Tell me a secret (I want it)
Tell me a story (I need it)
I'll listen intensively
I'll stay awake all night
- Não, espera. – ele parou, já em pé, ao lado do banco, e olhou-a com uma sobrancelha arqueada. Passados alguns segundos em silêncio, o loiro deu um suspiro exasperado, pegou na capa e voltou-se para sair.
All of me is a whisper (So don't leave)
There's nothing left in me (Please help me)
Not even my body is strong enough to fight (Let's make this right)
Please help me make this right'
(Suppose – Secondhand Serenade)
- O meu nome completo é Narcissa Prince Barclay Jones. – começou Cissa, fazendo o loiro parar com a mão na maçaneta. – Nasci no último dia de Julho de 1982. Como deves ter descoberto na véspera de Natal, tenho dois irmãos, o Thomas e a Claire, e ambos frequentam Hogwarts neste momento. – Olhou-o, com um pequeno sorriso. – E são ambos Gryffindor.
Este último pedaço de informação pareceu interessar Draco de sobremaneira. Com o seu típico sorriso de lado, virou-se calmamente e, ainda com a capa no braço, colocou as mãos nos bolsos e encostou-se à porta. Cissa tomou isso como uma indicação para continuar.
- Vivi toda a minha vida em Londres, numa mansão enorme, com portões gigantes com a insígnia dos Barclay. Nunca gostei dela. Sempre a achei demasiado grande para cinco pessoas, e demasiado pequena para todas as manias dos meus pais. Por isso, passava – e tento passar – o menor tempo possível lá. Sempre que podia ia para a casa da minha avó, uma pequena casa com jardim nos arredores da cidade. Como te disse naquele dia, no Expresso, foi ela quem me educou. A minha mãe estava demasiado ocupada em tentar fazer da Claire a sua boneca de porcelana e o meu pai…Bom, tenho quase a certeza de que o meu pai não sabe que existo. – Draco olhou-a como se compreendesse exactamente ao que ela se referia. Ela devolveu-lhe o olhar, sem saber se devia ou não continuar a sua história.
- Continua, Jones. – disse-lhe ele, fazendo as suas dúvidas evaporarem-se.
- Não posso realmente dizer que tive uma infância, simplesmente porque existiam certas coisas que nunca me deram a possibilidade de ser criança. São poucos os momentos que me lembro que podem ser comparados a uma infância normal de uma criança que não possuía as mesmas…- hesitou. – condicionantes que eu. – ele olhou-a de sobrancelha franzida.
- Como assim, 'condicionantes'? – Cissa suspirou. 'Não lhe posso contar.'
- Digamos apenas que eu sempre fui uma criança diferente das outras.
- Diferente em que sentido? – insistiu ele.
- Diz-me tu. – desafiou ela. – Para ti devo ser uma espécie de Harry Potter no feminino e, no entanto, estás aqui a conversar civilizadamente comigo. Porquê?
Ele não respondeu logo, optando antes por pousar a capa junto a Narcissa e dirigir-se à dispensa tirando de lá um muffin de chocolate. Depois, seguiu para os armários de onde tirou um pires e um copo. No pires colocou o muffin, e o copo encheu-o de leite. Pegou em tudo e colocou em frente a Narcissa, que o olhou espantada.
- Para mim? – ele encolheu os ombros e sentou-se junto dela.
- Disseste que estavas esfomeada, Jones.
- Obrigada, Malfoy.
- E preciso que te cales enquanto falo. – acrescentou. Cissa riu, mas perante o olhar dele, ergueu as mãos em rendição e começou a comer o muffin. – Em primeiro lugar – começou ele, depois de um curto silêncio. -, não és nenhuma 'espécie de Harry Potter no feminino'. Ele irrita-me porque se acha superior por ter aquela cicatriz na testa.
- E eu irrito-te porque…
- Era suposto estares calada, Jones.
- Mil perdões! – disse, dramática. – Continua.
- Tu irritas-me exactamente pela razão oposta. – Cissa olhou-o, confusa. – Porque és muito mais daquilo que aparentas, Jones, e finges que não. – A morena ruborizou ligeiramente. 'Será que ele sabe, que faz sequer uma pequena ideia?' – E também porque és uma pirralha extremamente irritante que me roubou o lugar de seeker aos 12 anos. – acrescentou ele, de cara fechada. Cissa riu, mas não o contradisse. Ele arqueou uma sobrancelha. – Não vais contra-argumentar, Jones? Nem parece teu.
- Tudo o que disseste é verdade, Malfoy. – respondeu, com um encolher de ombros. – Sou realmente um pouco mais do que deixo as pessoas verem e também é verdade que te roubei a posição de seeker. Quanto a chamares-me pirralha, estás à vontade, chamarem-me nomes não é algo que eu tenha algum problema em suportar. – acrescentou, bebendo um pouco de leite.
- Porque é que os provocas, Jones? – perguntou ele, depois de uma pausa, olhando-a. – Porque é que os fazes querer torturar-te? – ela desviou o olhar para ele, sem deixar de beber. – Por Merlin, Jones, podes pensar que sou cobarde e assassino se quiseres, é-me indiferente – 'Mentiroso.' -, mas não sou estúpido. Sei que te referias aos Carrow. Além disso, eles falam de ti quase todas semanas, nas reuniões. – admitiu ele.
- Não é certamente por gosto, Malfoy. – disse, pousando o copo. - A tua namorada não te disse que eu afinal não sou 'tipo, sei lá, masoquista'? Só acho que tenho de defender aquilo em que acredito. E não sou o tipo de pessoa que fica impávida a ouvir aquelas amostras de ser humano atacar os meus amigos, ou dizer barbaridades do tipo 'todos os muggles deviam morrer', e não faz nada. – Ele começou a rir-se. – Tem piada o que eu acabei de dizer, Malfoy? – questionou, irritada.
- Para começar, Jones – disse ele, ignorando a pergunta. -, já te expliquei que a Hammett não é minha namorada. Aliás, e para que fiques totalmente esclarecida, não a vejo desde o dia em que lhe dei com os pés, no período passado. Achas que ia ter aquele…momento contigo estando envolvido com outra rapariga? Por quem me tomas, Jones? Eu sou um gentleman. – Cissa limitou-se a dar-lhe um sorriso amarelo. - Quanto ao teu alegado masoquismo, digo apenas que és louca por lhes fazer frente, Jones. Quanto mais discreta fores, mas hipóteses tens de sair ilesa quando as coisas começarem a piorar. – Disse ele, num tom mais sério. 'Porque é que ele me está a avisar destas coisas?' – E a piada, Jones… - disse ele, aproximando-se um pouco mais da morena e, depois de pegar num guardanapo, esticando a mão na sua direcção. – A piada é que ficaste com um bigode branco do leite. – terminou, rindo e limpando lentamente a boca a Narcissa.
'Draco Malfoy a limpar-me a boca. O que raio está a acontecer aqui?'. O loiro passava suavemente o guardanapo por cima da boca de Cissa, deixando o polegar passar nos seus lábios. 'Oh Merlin, isto é pior que a tortura dos Carrow'. Quando o loiro terminou, pousou o guardanapo na mesa mas deixou-se ficar àquela distância de Narcissa.
- Desviámo-nos do assunto. - Ele olhou para ela, confuso. – Estávamos a falar sobre as memórias de Narcissa Barclay Jones. – fez uma pausa. – Há quanto tempo conheces a minha família? - Perguntou curiosa.
- Não muito. - Disse ele, sincero. Narcissa sorriu levemente. Ele estava a ser honesto. Podia contar pelos dedos das mãos (e ainda sobravam alguns) as vezes que o tinha visto a falar (e a agir) com sinceridade. – Conheci o teu pai umas semanas antes daquela festa de Natal.
- E o que é que achaste? – perguntou, trincando o muffin. Ele encolheu os ombros e revirou os olhos.
- Vocês são como todas as outras famílias de sangue puro: ricos, poderosos e têm uma família numerosa. - Respondeu ele. – Mas fiquei espantado por seres uma Barclay, Jones. – acrescentou.
- Ah sim? Porquê? – perguntou, curiosa, bebendo o resto do leite.
- Tal como eu disse, os Barclay são riquíssimos e da mais alta classe. Tu nunca foste assim. - Observou ele.
- Simplesmente porque não queria ser assim. Eu sabia perfeitamente que se dissesse que era uma Barclay, muitas portas se abririam sozinhas, e isso foi uma coisa que eu nunca quis. Atingir os meus objectivos e sonhos sozinha, sem precisar de recorrer ao meu nome, era uma das minhas ambições. Como podes ver, sempre consegui. - Explicou ela. 'Claro que também foi para não saberem do meu Dom, mas isso já é informação a mais'.
- Mas porquê? Tu podias, e podes, ter tudo o que quiseres, sem precisar mexer um dedo! Para que dares-te a tanto trabalho? – Cissa ao ouvir isto, olhou para ele com desprezo.
- Porque, ao contrário de ti, Malfoy, eu fui educada duma maneira que sempre me mostrou o mundo como ele realmente é, sem ilusões. Sei que nada se consegue sem trabalho. Mas tu, como estás habituado a ter tudo de mão beijada, dependes disso. Se por alguma razão as coisas mudarem...Acredito que esse deve ser um dos teus piores pesadelos. – Cissa fez uma pausa, nunca deixando de olhar para ele que, face a esta última observação, olhou para ela irado. - Pois bem, Malfoy, eu quero que a minha vida dependa de mim, não de outra pessoa ou coisa. Quero ser livre, fazer o que quero e, o mais importante de tudo, ser respeitada por isso e não pelo nome que tenho ou pelo sangue puro que me corre nas veias.
Ela terminou de falar e desviou o olhar. Não sabia porque tinha dito tudo aquilo, principalmente a ele, mas, de alguma maneira, tinha-a deixado aliviada. Passaram-se minutos, e eles ali, sentados, olhando para o nada. De repente, Cissa lembrou-se.
- Disseste que as coisas iam começar a piorar. – disse Cissa, retomando a conversa. – Tens alguma ideia de quando é que vai acontecer?
- Não. Isso não é discutido nas reuniões. Pelo menos, não naquelas em que estou presente. – Cissa sorriu levemente.
- Mas parece que eu sou.
- Eles começam a suspeitar de ti, Jones. Os Carrow principalmente. Os pais do Crabbe e do Goyle também. E o Nott, por extensão.
- E tu, Malfoy? Suspeitas de mim?
- Não, Jones. Eu não sou idiota como eles. Tenho plena consciência de que és perigosa. – Cissa riu amargamente. 'Claro. Tu é que és uma idiota, Cissa. Ele só te está a sacar informações'.
- Sabes, Malfoy, pensei que fosses mais subtil. – ele franziu o sobrolho. – Se querias informações sobre mim, podias simplesmente ter perguntado a Daphne. Ela dava-te todo o meu historial familiar, hobbies, comidas favoritas e tudo o resto que quisesses saber.
- O que é que estás para aí a dizer, Jones?
- Eu sou tão idiota! Vou nas conversas na tua prima e depois sai-me o tiro pela culatra! – Olhou-o, irritada. – Sabes o que é que ela me disse há pouco? Que eu não deixo as pessoas aproximarem-se de mim, e que, de toda a gente, a única pessoa que eu devia mesmo deixar entrar na minha vida eras tu. – Ele olhou-a, intrigado. – Eu respondi-lhe que mesmo que eu quisesse, tu não ias cooperar comigo, ao que ela me respondeu que uma ou duas conversas resolviam o assunto. Então, quando me pediste para te contar sobre mim, eu baixei a guarda, exactamente como ela me disse para fazer, e deixei-me levar. – suspirou. – Contei-te parte da minha vida, Malfoy, e tu vais usar isso contra mim, não é?
- Claro, Jones, porque aqui à tua frente tens o terrível assassino Draco Malfoy, que falhou em matar Dumbledore e em tudo o resto, basicamente! – disse ele irritado, levantando-se. – Eu não te estava a sacar informações, Jones, porque se quisesse fazê-lo, a minha táctica não seria oferecer-te muffins e leite. Estava a tentar entender-te. E, para que conste, pirralha impetuosa, já estou farto dessas tuas deduções estúpidas, começam seriamente a irritar-me.
- A sério? Então prova-o. Prova que não me estavas a sacar informações. – retorquiu Cissa, levantando-se também.
- Queres usar a Legilimência, Jones? – disse ele, aproximando-se e cruzando os braços sobre o peito.
- Não vai ser necessário. – respondeu a morena, aproximando-se também um pouco mais. – Basta que olhes para mim, doninha. – Ele riu.
- Achas que me consegues ler os pensamentos, Jones? – 'Claro que consigo. Mas tu não sabes disso, pois não, Malfoy?'
- Porquê, estás com medo de olhar para mim e te apaixonares perdidamente? – comentou, sarcástica. Ele apenas sorriu e aproximou-se ainda mais da morena, descruzando os braços e colocando as mãos nos bolsos.
- Preferes que fique mais perto, Jones?
- Assim está perfeito, Malfoy.
E, com um sorriso maroto, Cissa olhou directamente naqueles olhos magníficos do loiro e invadiu a sua mente. Ficou surpresa ao reparar que era uma das mentes mais organizadas que alguma vez perscrutara (nenhuma mente era mais organizada do que a de James). Conseguia diferenciar diferentes assuntos que faziam parte do pensamento do loiro naquele instante. Mas, tal como Jack, era o assunto 'Narcissa' que mais destaque possuía na mente de Draco. 'Nem sei por que raio ainda me dou ao trabalho de tentar. Quando acabar com esta fantochada de me olhar nos olhos, vai simplesmente virar costas e julgar-me sem ouvir a verdadeira explicação, como toda a gente. Apenas pensei, por um momento, que ias ficar, Jones, que ias tentar compreender, porque, afinal, Daphne tinha razão. Somos mais parecidos do que pensamos. - 'Oh meu Merlin…' - 'E era mais fácil se eu conseguisse parar de pensar naquele beijo. - 'OH MEU MERLIN!' Cissa sentiu-o pestanejar. – 'Controla-te, já não és uma criança. Ela é que é'.
Ao ouvir esta última frase nos pensamentos do loiro, Cissa retirou-se completamente da sua mente e desviou o olhar do dele, dando um passo atrás.
- Esclarecida, Jones?
- Perfeitamente, Malfoy. – respondeu, ligeiramente irritada. – És realmente um santo.
- Ora, Jones, ainda bem que estamos entendidos. – disse, vendo a morena a olhar para algum ponto acima do seu ombro direito. – Para onde é que estás a olhar?
- Para o relógio. São quase 17h. Temos treino. – respondeu, voltando-se, pegando no pires e no copo e colocando-os no lava-louça.
- Os treinos são às seis, Jones.
- Hoje não. Pedi ao Graham para adiantar umas horas. Tenho encontro marcado com o adorável Amycius hoje à noite. - respondeu, dirigindo-se para a porta.
- Jones. – chamou ele, antes que Cissa saísse. – Quero cobrar a dívida.
- Que dívida? – perguntou Cissa, confusa.
- Aquela que o teu namoradinho Sloper não me deixou cobrar. – Cissa revirou os olhos.
- Ok, Malfoy, o que é que queres?
- Quero que colabores comigo numa coisa. – A morena olhou-o desconfiada.
- Que seria...
- Quando acontecer, vais perceber, Jones. Vamos para o treino? – perguntou, sorrindo de lado e passando por ela, saindo para o corredor.
- Não gosto de enigmas, Malfoy, especialmente vindos da tua parte. – respondeu Cissa, saindo também e apressando-se para o apanhar.
- Jones… -disse ele, voltando-se e fazendo Cissa parar a poucos centímetros do seu peito. – Confia em mim. Só desta vez. Prometo que não te vais arrepender.
E mesmo tendo ele um daqueles sorrisos torcidos na cara, Cissa acreditou nele. Contra todas as expectativas, e mesmo depois de ter dito a si própria que estava a ser uma idiota por sequer se permitir a trocar mais do que insultos com Draco Malfoy, estava a deixar-se levar por ele, a confiar nele, mesmo sem ter qualquer ideia do que o loiro se referia quando falava em coisa.
- Tudo bem, doninha, ganhaste. Vou acreditar em ti. Mas se por acaso estás a gozar com a minha cara…vamos apenas dizer que a tua Nimbus 2001 vai ficar linda enfiada por esse c…
- Draco? Cissa? O que é que estão aqui a fazer? – perguntou Edwin, vindo de um corredor à direita, interrompendo o discurso de Narcissa.
- Estamos à porta da cozinha, Fowles. O que é que achas? – perguntou Draco, revirando os olhos.
- Viemos lanchar, Ed. Íamos agora para os campos. Vens connosco? – Edwin parecia desconfiado.
- Não, estou lesionado, lembram-se? – respondeu, mostrando a mão esquerda com algumas ligaduras. – Hoje é o teu primeiro treino como chaser, Draco. O Graham disse que ias substituir-me por uns tempos.
- Substituir-te? – perguntou Draco, indignado. – Como chaser? – acrescentou, enquanto Cissa ria alegremente.
- Vês, Malfoy, conseguimos-te pôr de volta na equipa. Mesmo que seja apenas temporário…
- Cala-te, Jones, ou eu arranjo maneira de te tirar esse sorriso da cara. – respondeu ameaçador, voltando-se para ela.
- Oh Malfoy, não conheces aquele ditado que diz 'quanto mais me bates, mais eu gosto de ti'? – retorquiu Cissa.
- Se isso fosse verdade, Jones, estavas apaixonada por mim há muito tempo. – disse ele, sorrindo de lado.
- De qualquer forma – interrompeu Edwin, colocando-se entre os dois, não dando oportunidade a Cissa para ripostar. -, vocês estão atrasados. E todos sabemos o que o Graham sente em relação a atrasos. É melhor irem. – advertiu.
- Tens razão, Ed. Vemo-nos ao jantar?
- Claro que sim. Até logo!
Acenando a Edwin, Cissa passou rapidamente por Draco e, em passos largos, atravessou o castelo, rumo aos campos de treino de Quidditch. Claro que em menos de segundos, o loiro já estava na sua peugada.
- Ora, Jones, não gosto quando foges assim de mim.
- Cala-te, Malfoy, ou eu arranjo maneira de te tirar esse sorriso da cara. – respondeu Cissa, ecoando as palavras do loiro. Ele riu, mas nada disse durante todo o resto do caminho.
Quando se separaram, cada um para o seu balneário, Cissa teve a hipótese de, enquanto trocava a roupa pelo uniforme de treino, pensar realmente sobre toda aquela conversa na cozinha.
Em primeiro lugar, e como não podia deixar de ser, tinham havido os insultos. Depois, ele quisera saber mais sobre si. E ela dissera. Contara-lhe algumas coisas que ele já sabia, como quem era a sua família. Mas quando mencionou o que achava acerca deles, ele limitou-se a olhá-la, como se soubesse exactamente ao que se referia. Tinha sido a primeira pessoa, em muito, muito tempo, a reagir daquela maneira. 'Normalmente a reacção que recebo é: 'estás a exagerar, Narcissa, não pode ser assim tão mau'. Ele agiu como se soubesse, como se já tivesse vivido aquilo. Será que era a isso que Daphne se referia quando falou nos 17 anos de negligência?'. E quando lhe disse que era diferente? Ele parecia genuinamente interessado em saber em que consistia essa diferença. A referência a Harry Potter também fora interessante. 'Ele disse que o irritava porque sabe que eu sou algo mais, algo que não deixo ninguém saber que sou. Sou assim tão transparente? Ou só ele é que vê isso? Será que afinal somos mesmo parecidos? Ele parece achar que sim…'. Oh sim. Aqueles pensamentos. O desejo de ser compreendido, acima de tudo, por ela. E a referência ao beijo trocado no ano novo. 'O que é que significou realmente aquele beijo?'. E, claro, aquela espécie de pedido, de colaborar com ele numa 'coisa'. 'O que raio é a coisa?'
- Narcissa! Estamos à tua espera! – ecoou a voz de James, do outro lado da porta.
Por agora, aquela e todas as outras perguntas iriam ficar sem resposta. Avizinhava-se um treino bastante intenso e Narcissa ia precisar de toda a sua concentração. E depois do jantar, ainda havia a visitinha aos Carrow. Fechou o semblante. Por muito que lhe custasse, teria de se controlar um pouco mais, porque tal como dissera Malfoy…
…as coisas iam piorar.
N/A: Outro gigante :o Quando escrevi este capítulo, nem eu sabia muito bem o que era 'a coisa'. Mas don't worry, descobri entretanto e ficou tudo bem. Btw, tenho de agradecer 'a coisa' a A.R, por há uns tempos ter escolhido para vermos o pior filme de sempre, The Host. Thanks a lot! :D
Love,
~Nalamin
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