TREZE
Treze
Chegamos a um restaurante em Mayfair, no qual nunca estive antes. Na verdade nem sei se já estive em Mayfair. É tão completamente chique, por que eu teria ido lá?
- É uma espécie de lugar privativo – murmura Harry quando passamos por um pátio com colunas. – Não são muitas pessoas que conhecem.
- Sr. Potter. Srta. Granger – diz um homem com terno estilo Nehru, aparecendo do nada. – Por favor, venham por aqui.
Uau! Eles sabem o meu nome!
Deslizamos por mais algumas colunas e entramos numa sala ornamentada em que uns três outros casais estão sentados. Há um casal à nossa direita e, quando passamos, uma mulher de meia-idade com cabelo platinado e casaco dourado me encara.
- Ah, olá! – exclama ela. – Rachel!
- O quê? – olho em volta, perplexa. Ela está olhando para mim?
A mulher se levanta e, cambaleando ligeiramente, vem e me dá um beijo.
- Como vai, querida? Nós não nos vemos há séculos!
Certo, dá para sentir cheiro de álcool a cinco metros. E, quando olho para seu parceiro de jantar, ele parece igualmente mal.
- Acho que a senhora se enganou – digo educadamente. – Eu não sou Rachel!
- Ah! – A mulher me encara por um momento. Depois olha para Harry e seu rosto entende rapidamente. – Ah! Ah, sei. Claro que não é. – Ela me dá uma piscadela.
- Não! – digo horrorizada. – A senhora não entendeu. Eu realmente não sou Rachel. Sou Hermione.
- Hermione. Claro! – Ela assente de modo conspirador. – Bem, tenha um jantar maravilhoso. E me ligue uma hora dessas.
Enquanto ela cambaleia de volta à cadeira, Harry me dá um olhar interrogativo.
- Há alguma coisa que você queira me dizer?
- Sim. Aquela mulher está extremamente bêbada. – Quando encontro seu olhar, não consigo evitar um risinho, e a boca de Harry esboça um também.
- Então, vamos nos sentar? Ou você tem mais algum amigo antigo que quer cumprimentar?
Olho a sala em volta, avaliando.
- Não, acho que é só ela.
- Dá mais uma olhada. Tem certeza de que aquele senhor idoso ali não é seu avô?
- Não creio...
- Além disso, você deve saber que, para mim, pode usar pseudônimos. Eu mesmo costumo usar o nome de Egbert.
Dou um riso fungado e contenho-o rapidamente. Esse é um restaurante chique. As pessoas já estão olhando para nós.
Somos levados a uma mesa no canto, perto da lareira. Um garçom puxa a cadeira para mim e abre um guardanapo sobre meus joelhos, enquanto outro serve água e mais um me oferece um pãozinho. Exatamente o mesmo está acontecendo no lado de Harry. Temos seis pessoas dançando para nos servir! Quero atrair o olhar de Harry e rir, mas ele não parece preocupado, como se isso fosse perfeitamente normal.
Talvez seja normal para ele, percebo. Ah meu Deus. Talvez ele tenha um mordomo que lhe prepare chá e passe o jornal a ferro todo dia.
Mas e se tiver? Não devo deixar que nada disso me incomode.
- Então – digo quando todos os garçons se dissolvem no ar. – O que vamos beber? – Eu já olhei a bebida que a mulher de dourado está tomando. É cor-de-rosa e tem pedaços de melancia decorando o copo e parece absolutamente deliciosa.
- Já foi providenciado – diz Harry com um sorriso, quando um dos garçons traz uma garrafa de champanhe, abre e começa a servir. – Lembro de você ter dito no avião que seu encontro perfeito começaria com uma garrafa de champanhe aparecendo à mesa como se por mágica.
- Ah – exclamo refreando uma minúscula sensação de desapontamento. – É... é! Disse mesmo.
- Saúde! – Harry bate de leve na minha taça.
- Saúde. – Tomo um gole, e é um champanhe delicioso. Realmente. Todo seco e delicioso.
Imagino como é o gosto da bebida de melancia.
Pára com isso! Champanhe é perfeito. Harry está certo, é o início perfeito para um encontro.
- A primeira vez que tomei champanhe foi quando eu tinha seis anos... – começo.
- Na casa da sua tia Sue – completa Harry com um sorriso. – Você tirou a roupa toda e jogou no laguinho.
- Ah sim – respondo parando no meio da frase. – É, eu contei, não foi?
Então não vou incomodá-lo com essa história de novo. Tomo um gole de champanhe e tento rapidamente pensar em alguma coisa para dizer. Alguma coisa que ele já não saiba.
Existe alguma coisa?
- Eu escolhi uma refeição especial, e acho que você vai gostar – anuncia Harry com um sorriso. – Tudo foi pedido antes, só para você.
- Nossa! – exclamo pasma. – Que... maravilhoso.
Uma refeição pedida especialmente para mim. Uau. É incrível.
Só que... escolher a comida é metade da diversão quando se come fora, não é? É quase minha parte predileta.
Tudo bem. Não importa. Vai ser perfeito. Está perfeito.
Certo. Vamos começar uma conversa.
- Então, o que você gosta de fazer em seu tempo livre? – pergunto, e Harry dá de ombros.
- Saio. Assisto beisebol. Conserto meus carros...
- Você tem uma coleção de carros antigos! Isso mesmo. Uau. Eu realmente... é...
- Você odeia carros antigos. – Ele sorri. – Eu lembro.
- Eu não odeio os carros em si – tento consertar rapidamente. – Odeio as pessoas que... que...
Merda. Isso não saiu direito. Tomo um gole rápido de champanhe, mas desce pelo lado errado e eu começo a tossir. Ah, meu Deus, estou engasgada. Meus olhos lacrimejam.
E agora todas as outras seis pessoas na sala se viraram para olhar.
- Você está bem? – Harry se alarma. – Tome um pouco d’água. Você gosta de Evian, certo?
- Hrm... é. Obrigada.
Ah, que inferno. Odeio admitir que Cho pode estar certa em alguma coisa. Mas seria muito mais fácil se eu pudesse ter dito toda animada: “Ah, eu adoro carros antigos!”
Tudo bem. Não faz mal.
Enquanto estou tomando a água, um prato de pimentões assados se materializa não sei como na minha frente.
- Uau! – digo deliciada. – Adoro pimentão assado.
- Eu lembrei. – Harry parece sentir orgulho de si mesmo. – Você disse no avião que sua comida predileta era pimentão assado.
- Disse? – Encaro-o, meio surpresa.
Nossa. Eu não lembro disso. Quero dizer, eu gosto de pimentão assado, mas não diria...
- Então eu liguei para o restaurante e mandei fazer especialmente para você. Eu não posso comer pimentão – acrescenta Harry, quando um prato de escalopinho aparece na frente dele. – Senão acompanharia você.
Olho boquiaberta para o prato dele. Ah meu Deus. Aqueles escalopes parecem fantásticos. Eu adoro escalopes.
- Bon appetit! – diz Harry animado.
- Hrm... é! Bon appetit.
Como um pedaço de pimentão assado. Está delicioso. E foi muito sensível ele ter lembrado.
Mas não consigo deixar de olhar seus escalopes. Estão me dando água na boca. E olha aquele molho verde! Meu Deus, aposto que estão suculentos e cozidos à perfeição...
- Quer um pedacinho? – oferece Harry, seguindo meu olhar.
- Não! – respondo, dando um pulo. – Não, obrigada. Esses pimentões estão absolutamente... perfeitos! – Sorrio para ele e como outro pedaço enorme.
De repente Harry bate com a mão no bolso.
- Meu celular – exclama ele. – Hermione, você se importaria se eu atendesse? Pode ser alguma coisa importante.
- Claro que não. Vá em frente.
Quando ele se afasta, eu não consigo evitar. Estendo a mão e garfo um dos seus escalopes. Fecho os olhos enquanto mastigo, deixando o sabor jorrar pelas minhas papilas gustativas. Isso é divino. É a melhor comida que já comi na vida. Só estou imaginando se conseguiria comer um segundo sem dar bandeira, se remexesse os outros no prato, quando sinto um cheiro de gim. A mulher de casaco dourado está perto da minha orelha.
- Fala, rápido! – pede ela. – O que está acontecendo?
- Nós... estamos jantando.
- Isso eu estou vendo! – impacienta-se. – Mas e Jeremy? Ele faz alguma idéia?
Ah meu Deus.
- Olha – digo, desamparada. – Eu não sou quem a senhora acha...
- Dá para ver! Nunca imaginei que você teria coragem para isso. – A mulher aperta meu braço. – Bem, que bom para você. Divirta-se um pouco, é o que eu digo! Você tirou a aliança de casamento – acrescenta, olhando minha mão direita. – Garota esperta... oops! Ele está vindo! É melhor eu ir!
Ela cambaleia para longe de novo, enquanto Harry se senta em seu lugar e eu me inclino para a frente, já meio rindo. Harry vai adorar isso.
- Adivinha só! Eu tenho um marido chamado Jeremy! Minha amiga ali veio me dizer. O que você acha? Será que Jeremy também anda tendo encontros escusos?
Há um silêncio, e Harry levanta os olhos, com uma expressão tensa.
- Perdão?
Harry não ouviu uma palavra do que eu disse.
Não posso falar tudo de novo. Vai parecer estúpido. Na verdade já estou me sentindo estúpida.
- Deixa para lá – forço um sorriso.
Há outro silêncio e eu procuro alguma coisa para falar.
- Então, é... eu tenho uma confissão a fazer – eu aponto para o prato dele. – Roubei um dos seus escalopes.
Espero que ele finja estar chocado, ou com raiva. Ou qualquer coisa.
- Tudo bem – diz ele distraído, e começa a enfiar o resto na boca.
Não entendo. O que aconteceu? Para onde foram as brincadeiras? Ele mudou completamente.
Quando terminei o frango ao estragão com salada de rúcula e batatas fritas, todo o meu corpo está tenso de sofrimento. Este encontro é um desastre. Um desastre completo. Eu fiz todo o esforço possível para bater papo, brincar e ser divertida. Mas Harry recebeu mais dois telefonemas e no resto do tempo ficou pensativo e distraído, e, para ser honesta, é como se eu não estivesse aqui.
Sinto vontade de chorar de frustração. Simplesmente não entendo. Estava indo tão bem. Nós estávamos nos entrosando. O que deu errado?
- Vou retocar a maquiagem – resolvo quando os pratos principais são retirados, e Harry só concorda com a cabeça.
O toalete feminino mais parece um palácio do que um banheiro, com espelhos dourados, poltronas fofas e uma mulher de uniforme para entregar uma toalha. Por um momento me sinto meio tímida em telefonar para Ginny na frente dela, mas ela já deve ter visto de tudo, não é?
- Oi – exclamo quando Ginny atende. – Sou eu.
- Hermione! Como está indo o encontro?
- Medonho – respondo arrasada.
- Como assim? – diz ela num horror. – Como pode estar medonho? O que aconteceu?
- Isso é que é o pior. – Deixo-me afundar na poltrona. – Tudo começou superbem. Nós estávamos rindo e brincando, o restaurante é incrível, ele pediu um menu especial para mim, todo cheio das minhas coisas prediletas...
Engulo em seco. Agora que falei assim, tudo parece perfeito.
- Maravilhoso – Ginny está perplexa. – Então como...
- Então ele recebeu um telefonema no celular. – Assôo o nariz. - E desde então praticamente não me disse uma palavra. Fica desaparecendo para atender ao telefone e eu fico sozinha, e quando ele volta, a conversa está toda tensa e esquisita, e ele nem presta atenção direito.
- Talvez ele esteja preocupado com alguma coisa, mas não queira incomodar você com isso – propõe Ginny depois de uma pausa.
- É verdade – respondo lentamente. – Ele parece bem abalado.
- Talvez tenha acontecido alguma coisa horrível e ele não queira arruinar o clima. Tente conversar com ele. Compartilhar as preocupações!
- Certo – concordo, um pouco mais animada. – Certo, vou tentar. Obrigada, Ginny.
Volto à mesa me sentindo ligeiramente mais positiva. Um garçom se materializa para me ajudar com a cadeira, e quando me sento, dou a Harry o olhar mais caloroso e mais simpático que consigo.
- Harry, está tudo bem?
Ele franze a testa.
- Por quê está dizendo isso?
- Bem, você fica desaparecendo. Eu imaginei se haveria alguma coisa... sobre a qual você quisesse falar.
- Está tudo bem – diz ele peremptoriamente. – Obrigado. – Seu tom é muito tipo “assunto encerrado”, mas não vou desistir tão fácil.
- Você recebeu alguma notícia ruim?
- Não.
- É... uma coisa de negócios? – insisto. – Ou... é algo pessoal...
Harry levanta a cabeça, com um súbito clarão de raiva no rosto.
- Eu já disse, não é nada. Deixa para lá.
Ótimo. Isso me coloca no meu lugar, não é?
- Vocês vão querer sobremesa? – Uma voz de garçom me interrompe, e eu lhe dou um sorriso tenso.
- Acho que não.
Por mim, esta noite chega. Só quero que isso acabe e ir para casa.
- Muito bem. – O garçom sorri. – Café?
- Ela quer sobremesa – anuncia Harry, por cima da minha cabeça.
O quê? O que ele disse? O garçom me olha hesitando.
- Não, não quero – rebato com firmeza.
- Qual é, Hermione – insiste Harry, e agora seu tom caloroso e provocante está de volta. – Você não precisa fingir comigo. Você contou no avião que sempre fala isso. Diz que não quer sobremesa, quando na verdade quer.
- Bem, dessa vez não quero mesmo.
- Foi criada especialmente para você. – Harry se inclina para a frente. – Merengue de Häagen Dazs, com molho de Bailey’s...
De repente estou me sentindo totalmente complacente. Como ele sabe o que eu quero? Talvez eu só queira fruta. Talvez não queira nada. Ele não sabe de nada sobre mim. Absolutamente nada.
- Não estou com fome. – Empurro a cadeira para trás.
- Hermione, eu conheço você. Você quer, de verdade.
- Você não me conhece! – exclamo com raiva, antes de me controlar. – Harry, você pode conhecer alguns fatos aleatórios sobre mim. Mas isso não significa que me conheça!
- O quê? – Harry me encara.
- Se me conhecesse – minha voz está trêmula. – teria percebido que, quando saio para jantar com alguém, eu gosto que ouçam o que estou dizendo. Gosto que me tratem com um pouco de respeito e que não me digam para “deixar para lá” quando o que estou tentando é manter a conversa...
Harry está me olhando, pasmo.
- Hermione, você está bem?
- Não. Não estou bem! Você praticamente me ignorou a noite inteira.
- Isso não é justo.
- Ignorou sim! Você está no piloto automático. Desde que seu celular começou a tocar...
- Olha – Harry coça o rosto. – No momento há algumas coisas acontecendo na minha vida, elas são muito importantes...
- Ótimo. Bem, deixe que elas continuem sem mim.
Lágrimas estão pinicando meus olhos quando me levanto e pego a bolsa. Eu queria tanto que esta fosse uma noite perfeita! Tinha esperanças tão grandes! Não acredito que deu tão errado.
- Isso mesmo! Assim que se faz! – a mulher de dourado grita dando apoio, do outro lado da sala. – Sabe, essa garota tem um marido adorável – exclama ela para Harry. – Ela não precisa de você!
- Obrigada pelo jantar – digo, olhando fixamente para a toalha, enquanto um dos garçons aparece magicamente ao lado, com meu casaco.
- Hermione – Harry levanta incrédulo. – Você não está indo de verdade.
- Estou.
- Dê outra chance. Por favor. Fique e tome um café. Eu prometo que vou conversar...
- Eu não quero café – rebato, enquanto o garçom me ajuda a vestir o casaco.
- Chá de hortelã, então. Chocolate! Eu pedi uma caixa de trufas Godiva... – Seu tom é suplicante, e só por um instante eu hesito. Adoro trufas Godiva.
Mas não, eu decidi.
- Não me importa. – Engulo em seco. – Estou indo. Muito obrigada – acrescento ao garçom. – Como você sabia que eu queria o casaco?
- Nosso dever é saber – responde ele discretamente.
- Está vendo? – falei a Harry. – Eles me conhecem.
Há um instante em que nos entreolhamos.
- Ótimo – Harry finalmente dá de ombros, resignado. – Ótimo. Daniel vai levá-la em casa. Ele deve estar esperando lá fora, no carro.
- Eu não vou para casa no seu carro! – digo horrorizada. – Eu me viro, obrigada.
- Hermione, não seja boba.
- Adeus. E muito obrigada – acrescento ao garçom. – Vocês foram muito atenciosos e gentis comigo.
Saio correndo do restaurante e descubro que começou a chover. E não tenho guarda-chuva.
Bem, não importa. Estou indo mesmo. Caminho pelas ruas, escorregando um pouco na calçada molhada, sentindo as gotas de chuva se misturando com as lágrimas no rosto. Não faço idéia de onde estou. Nem sei onde fica o metrô mais próximo, nem onde...
Espera. Ali está um ponto de ônibus. Olho os números e vejo um que vai para Islington.
Bem, ótimo. Vou pegar o ônibus para casa. E então vou tomar uma bela xícara de chocolate. E talvez um pouco de sorvete na frente da TV.
É um daqueles pontos de ônibus com teto e banquinhos, e eu me sento, dando graças a Deus porque meu cabelo não vai molhar mais ainda. Fico olhando com expressão vazia para um anúncio de carro, imaginando como seria o gosto daquele pudim Häagen Dazs e se o merengue era do tipo branco e duro ou daquele lindíssimo de caramelo, molinho, quando um grande carro prateado ronrona na calçada.
Não acredito.
- Por favor – pede Harry, saindo. – Deixe-me levar você em casa.
- Não – respondo sem virar a cabeça.
- Você não pode ficar aqui na chuva.
- Posso sim. Alguns de nós vivem no mundo real, você sabe.
Viro-me e finjo que estou examinando um cartaz sobre a Aids. No instante seguinte, Harry chegou ao ponto de ônibus. Senta-se no banquinho ao lado e por um momento os dois ficamos em silêncio.
- Eu sei que fui uma companhia terrível esta noite – revela, por fim. – E peço desculpas. Também lamento porque não posso falar nada a você sobre isso. Mas minha vida é... complicada. Alguns assuntos são muito delicados. Você entende?
Não, quero dizer. Não entendo. Eu lhe contei absolutamente tudo sobre mim.
- Acho que sim – dou de ombros.
A chuva está batendo com mais força ainda, trovejando no teto do abrigo e escorrendo para as minhas... para as sandálias prateadas de Cho. Meu Deus, espero que não manchem.
- Desculpe se a noite foi um desapontamento para você – continua Harry, elevando a voz acima do ruído.
- Não foi – retruco, sentindo-me um pouco mal. – Eu só... eu só tinha grandes esperanças! Queria conhecer você um pouquinho e queria me divertir... e que nós dois nos ríssemos... e queria uma daqueles coquetéis cor-de-rosa, e não champanhe...
Merda. Merda. Isso escapou antes que eu pudesse impedir.
- Mas... você gosta de champanhe! – exclama Harry, pasmo. – Você me disse. Seu encontro perfeito começaria com champanhe.
Não consigo encará-lo.
- É, bem. Na época eu não conhecia os coquetéis cor-de-rosa, não é?
Harry vira a cabeça para trás e gargalha.
- Bom argumento. Muito bom. E eu nem lhe dei opção, não é? – Ele balança a cabeça pensativo. – Provavelmente você estava ali sentada e pensando: que cara chato, será que ele não sabe que eu quero um coquetel cor-de-rosa?
- Não! – digo imediatamente, mas minhas bochechas estão ficando vermelhas, e Harry está me olhando com uma expressão tão cômica que dá vontade de abraçá-lo.
- Ah, Hermione. Desculpe. – Ele balança a cabeça. – Eu queria conhecer você também. E queria me divertir também. Parece que nós dois queríamos as mesmas coisas. E foi minha culpa não ter sido assim.
- Não é sua culpa – murmuro sem jeito.
- Não foi assim que eu planejei as coisas. – Ele me olha sério. – Você vai me dar outra chance?
Um enorme ônibus vermelho, de dois andares, troveja até o ponto, e nós dois levantamos os olhos.
- Tenho de ir – digo me levantando. – Este é o meu ônibus.
- Hermione, não seja boba. Venha no carro.
- Não. Eu vou de ônibus!
As portas automáticas se abrem e eu entro no ônibus. Mostro o cartão de viagens múltiplas ao motorista e ele assente.
- Você está pensando mesmo em andar nessa coisa? – diz Harry, entrando atrás de mim. Ele espia em dúvida para os passageiros noturnos de sempre. – Isso é seguro?
- Você está parecendo meu avô! Claro que é seguro. Vai até o fim da minha rua.
- Depressa! – grita o motorista, impaciente, a Harry. – Se não tem dinheiro, saia.
- Tenho American Express – tenta Harry, tateando seu bolso.
- Você não pode pagar o ônibus com American Express! – eu reviro os olhos. – Você não sabe de nada? Tudo bem. – Olho meu cartão de viagem durante alguns segundos. – Acho que eu prefiro ir sozinha, se você não se importar.
- Sei – responde Harry numa voz diferente. – Acho que é melhor sair – diz ele ao motorista. Depois me olha. – Você não respondeu. Podemos tentar de novo? Amanhã à noite. E dessa vez vamos fazer o que você quiser. Você decide.
- Certo. – Tento dar de ombros sem muita importância, mas quando encontro seu olhar me pego sorrindo também.
- Oito horas de novo?
- Oito horas. E deixe o carro para trás – acrescento com firmeza. – Vamos fazer as coisas do meu jeito.
- Ótimo! Estou ansioso. Boa noite, Hermione.
- Boa noite.
Quando ele se vira para sair, subo a escada até o andar de cima do ônibus. Vou para o banco da frente, o lugar em que sempre me sentava quando era criança, e olho para a noite escura e chuvosa de Londres. Se olhar por tempo suficiente as luzes ficam borradas como um caleidoscópio. Como o reino das fadas.
Giram na minha mente imagens da mulher de dourado, do coquetel cor-de-rosa, do rosto de Harry quando eu disse que ia embora, do garçom trazendo o casaco, do carro de Harry chegando ao ponto de ônibus... não consigo saber o que estou pensando. Só consigo ficar ali sentada, olhando para fora, consciente dos sons familiares e reconfortantes em volta. Os rangidos e rugidos antiquados do motor do ônibus. O barulho da campainha de parada. Pessoas subindo a escada e descendo de novo.
Sinto o ônibus balançar quando viramos esquinas, mas mal percebo para onde vamos. Até que, depois de um tempo, visões familiares lá fora começam a penetrar na consciência, e eu percebo que estamos chegando na minha rua. Preparo-me, pego a bolsa e vou até o topo da escada.
De repente o ônibus vira bruscamente à esquerda e eu agarro a barra no encosto de um banco, tentando me firmar. Por que estamos virando à esquerda? Olho pela janela, pensando que vou ficar realmente puta da vida se terminar tendo de andar, e pisco, perplexa.
Certamente nós não...
Certamente isso não pode ser...
Mas sim. Olho pela janela, aparvalhada. Estamos na minha ruazinha.
E agora paramos do lado de fora da minha casa.
Desço a escada correndo, quase quebrando o tornozelo, e olho o motorista.
- Rua Ellerwood, 41 – anuncia com um floreio.
Não. Isso não pode estar acontecendo.
Pasma, olho o ônibus em volta, e dois adolescentes bêbados me olham de volta, inexpressivos.
- O que está acontecendo? – Olho para o motorista. – Ele pagou a você?
- Quinhentas pratas. – O motorista pisca para mim. – Quem quer que ele seja, minha querida, não deixe escapar.
Quinhentas pratas? Ah meu Deus.
- Obrigada – digo, tonta. – Quero dizer, obrigada pela viagem.
Sentindo-me num sonho, saio do ônibus e vou para a porta de frente. Mas Ginny já chegou e já está abrindo.
- Isso é um ônibus? – exclama ela, arregalada. – O que ele está fazendo aqui?
Aceno para o motorista, que acena de volta, e o ônibus ruge partindo para a noite.
- Não acredito! – diz Ginny devagar, olhando-o desaparecer na esquina. Ela se vira para me olhar. – Então... no final acabou sendo bom?
- Acabou. É. Foi... legal.
N/A: Só o Harry mesmo pra ainda fazer esse encontro que estava horrível ter um final bonitinho né... *-*
Quem quer capítulo 14 aí, levanta a mão! \o/\o/\o/ Então, tô pedindo aí humildemente, 5 comentários pra postá-lo. Só cinco! :D
Bjos e boa semana!
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