OITO
Oito
Chego ao trabalho na manhã seguinte com exatamente um objetivo. Evitar Harry Potter. Deve ser bem fácil. A Corporação Panther é uma empresa gigantesca num prédio gigantesco. Hoje ele vai estar ocupado em outros departamentos. Deve ficar preso em um monte de reuniões. Deve passar o dia inteiro no sétimo andar, ou sei lá o quê.
Mesmo assim, enquanto me aproximo das grandes portas de vidro, meu passo fica mais lento e eu me pego espiando para dentro, tentando ver se ele está por ali.
- Tudo bem Hermione? – pergunta Dave, o segurança, vindo abrir a porta para mim. – Você parece perdida.
- Não! Tudo bem, obrigada! – Dou um risinho relaxado, com o olhar saltando pelo saguão.
Não o vejo em lugar nenhum. Certo. Vai ficar tudo bem. Ele nem deve ter chegado. Talvez nem venha hoje. Jogo o cabelo para trás, cheia de confiança, atravesso rapidamente o piso de mármore e começo a subir a escada.
- Harry! – ouço de repente enquanto me aproximo do primeiro andar. – Você tem um minuto?
- Claro.
É a voz dele. Onde, afinal de contas...
Viro-me, perplexa, e o vejo no andar acima, conversando com Graham Hillingdon. Meu coração dá um pulo gigantesco e eu agarro o corrimão de latão. Merda. Se ele olhasse para baixo agora iria me ver.
Por que ele tem de ficar parado ali? Ele não tem alguma sala importante para visitar?
Deixa para lá. Não importa. Eu só vou... fazer um caminho diferente. Muito devagar recuo alguns degraus da escada, tentando não fazer barulho com os saltos dos sapatos no mármore nem me mover de repente, para não atrair a atenção dele. Moira, da contabilidade, passa enquanto eu desço de costas e me lança um olhar estranho, mas não me importo. Tenho de sair.
Assim que estou longe da vista dele, relaxo e desço mais rapidamente até o saguão. Vou de elevador. Sem problema, atravesso o piso cheia de confiança, e estou bem no meio daquela vastidão de mármore quando congelo.
- Isso mesmo.
É a voz dele de novo. E parece estar ficando mais próxima. Ou será que só estou paranóica?
-... acho que vou dar uma olhada...
Minha cabeça gira. Onde ele está agora? Em que direção está indo?
-... realmente acho que...
Merda. Ele está descendo a escada. Não há onde me esconder!
Sem pensar duas vezes, eu quase corro até as portas de vidro, empurro-as e saio correndo do prédio. Desço os degraus rapidamente, corro uns 100 metros pela rua e paro, ofegando.
Isso não está indo bem.
Fico parada na calçada durante alguns minutos, ao sol da manhã, tentando avaliar quanto tempo ele vai ficar no saguão, depois me aproximo de novo cautelosamente das portas de vidro. Nova tática. Vou andar até minha sala tão incrivelmente depressa que não vou atrair o olhar de ninguém. De modo que não importará se eu passar por Harry Potter ou não. Vou simplesmente caminhar sem olhar para a direita ou a esquerda e ah, meu Deus, ali está ele, falando com Dave.
Sem pensar direito, pego-me correndo de novo escada abaixo e pela rua de novo.
Isso está ficando ridículo. Não posso ficar aqui fora na rua o dia inteiro. Tenho de chegar à minha mesa. Qual é, pense. Deve haver um modo. Deve haver...
Sim! Tenho uma idéia totalmente brilhante. Isso vai, com certeza, dar certo.
Três minutos depois me aproximo outra vez das portas do edifício Panther, totalmente absorvida numa matéria do The Times. Não consigo ver nada em volta. E ninguém pode ver minha cara. É o disfarce perfeito!
Empurro a porta com o ombro, atravesso o saguão e subo a escada, tudo sem levantar a cabeça. Enquanto sigo pelo corredor em direção ao departamento de marketing, sinto-me isolada num casulo, segura, enterrada no meu Times. Eu deveria fazer isso com mais freqüência. Ninguém pode me pegar aqui. É uma sensação realmente tranqüilizadora, quase como se eu fosse invisível ou...
- Ai, desculpe!
Dei uma trombada em alguém. Merda. Baixo o jornal e vejo Paul me olhando, coçando a cabeça.
- Hermione, que porra você está fazendo?
- Só estava lendo o Times – respondo debilmente. – Desculpe.
- Certo. Bom, e onde você estava? Quero que faça chá e café para a reunião do departamento. Dez horas.
- Que chá e café? – digo perplexa. Em geral, nada é servido nas reuniões do departamento. Na verdade, só aparecem umas seis pessoas.
- Hoje teremos chá e café. E biscoito. Certo? Ah, e Harry Potter vem.
- O quê? – encaro-o consternada.
- Harry Potter vem – repete Paul, impaciente. – Então ande logo.
- Eu preciso ir? – falo antes que consiga me controlar.
- O quê? – Paul me encara com a testa franzida.
- Eu só estava pensando se eu... tenho de ir ou se... – paro debilmente.
- Hermione, se você conseguir servir chá e café por telepatia – ironiza Paul -, pode perfeitamente ficar na sua mesa. Se não, poderia fazer a gentileza de mexer esse rabo e ir à sala de reuniões? Sabe, para alguém que quer subir na carreira... – Ele balança a cabeça e se afasta.
Como esse dia já pode ter dado tão errado se eu ainda nem me sentei?
Largo a bolsa e o casaco na mesa, volto depressa pelo corredor até os elevadores e aperto o botão de subir. Um instante depois um deles solta um ping na minha frente e a porta se abre.
Não. Não.
Isso é um pesadelo.
Harry Potter está parado sozinho no elevador, vestindo jeans e um suéter de caxemira preto.
Antes que eu consiga me impedir, dou um passo assustado para trás. Harry Potter guarda o celular, inclina a cabeça para o lado e me dá um olhar interrogativo.
- Você vai entrar no elevador? – pergunta em tom afável.
Estou entalada. O que posso dizer? Não posso dizer: “Não, eu só apertei o botão de brincadeirinha, hahaha!”
- Vou – respondo finalmente, e entro no elevador com as pernas rígidas. – Vou sim.
A porta se fecha, e nós começamos a subir em silêncio. Estou com um nó de tensão no estômago.
- Hmm, Sr. Potter – digo sem jeito, e ele levanta os olhos. – Eu só queria pedir desculpas por meu... pelo, é... episódio do outro dia. Isso não vai acontecer de novo.
- Agora você tem um café bebível – observa Harry Potter, levantando as sobrancelhas. – Não precisa mais ir ao Starbucks.
- Eu sei. Sinto muito, de verdade – digo com o rosto quente. – E posso garantir que foi a última vez que eu fiz uma coisa dessas. – Pigarreio. – Eu me sinto totalmente comprometida com a Corporação Panther, e estou ansiosa por servir a essa empresa do melhor modo possível, dando cem por cento, todo dia, agora e no futuro.
Quase quero acrescentar “Amém.”
- Ah sim. – Harry me olha, com a boca se repuxando. – Isso é... ótimo. – Ele pensa um momento. – Hermione, você consegue guardar um segredo?
- Sim. – respondo, apreensiva. – O que é?
Harry chega perto e sussurra:
- Eu também costumava dar umas escapadas.
- O quê? – encaro-o.
- No meu primeiro emprego – continua ele em voz normal. – Eu tinha um amigo com quem gostava de ficar conversando. A gente tinha um código também. – Seus olhos brilham. – Um pedia ao outro para trazer a pasta do Leopold.
- O que havia na pasta do Leopold?
- Ela não existia. – Ele ri. – Era só uma desculpa para sair da mesa.
- Ah. Ah, certo!
De repente me sinto um pouquinho melhor.
Harry Potter dava umas escapadas? Eu achava que o cara era ocupado demais sendo um gênio criativo dinâmico, ou sei lá o que ele é.
O elevador pára no terceiro andar e a porta se abre, mas ninguém entra.
- Então, seus colegas parecem ser uma turma bem agradável – comenta Harry enquanto começamos a subir de novo. – Uma equipe muito amigável e trabalhadora. Eles são assim o tempo todo?
- Sem dúvida! – confirmo prontamente. – Nós gostamos de cooperar mutuamente, num esforço integrado, de equipe... hmm... operacional... – Estou tentando pensar em outra palavra comprida quando cometo o erro de captar seu olhar.
Ele sabe que isso é babaquice, não sabe?
Ah meu Deus. De que adianta?
- Certo. – Encosto-me na parede do elevador. – Na vida real a gente não se comporta nem um pouco assim. Em geral Paul grita comigo seis vezes por dia, e Zach e Pansy se odeiam, e em geral a gente não fica sentado discutindo literatura. Todos nós estávamos fingindo.
- Impressionante. – A boca de Harry se repuxa. – A atmosfera no departamento administrativo também me pareceu muito falsa. Minhas suspeitas cresceram quando dois empregados começaram espontaneamente a cantar a música da Corporação Panther. Eu nem sabia que havia uma música da Corporação Panther.
- Nem eu. – exclamo surpresa. – Ela é boa?
- O que você acha? – Ele ergue as sobrancelhas comicamente, e eu dou um risinho.
É bizarro, mas a atmosfera entre nós nem de longe é incômoda. Na verdade quase parece que somos velhos amigos ou sei lá o quê.
- Que tal esse Dia da Família na Empresa? Está ansiosa por ele?
- Tanto quanto por extrair um dente – digo, na bucha.
- Foi o que eu achei. – Ele balança a cabeça, parecendo achar divertido. – E o que... – Harry Potter hesita. – O que as pessoas acham de mim? – Ele desalinha casualmente o cabelo. – Não precisa responder, se não quiser.
- Não, todo mundo gosta de você! – Penso alguns instantes. – Se bem que... algumas pessoas acham seu amigo meio assustador.
- Quem, Neville? – Harry me encara um minuto, depois vira a cabeça para trás e dá uma gargalhada. – Posso garantir, Neville é um dos meus amigos mais antigos e mais íntimos e não é nem um pouco assustador. Na verdade...
Ele pára quando a porta solta um ping. Nós dois retomamos as expressões impassíveis e nos afastamos ligeiramente. A porta se abre, e meu estômago dá uma cambalhota.
Draco está parado do outro lado. Quando vê Harry Potter, seu rosto se ilumina, como se não pudesse acreditar na sorte.
- Oi – digo, tentando parecer natural.
- Oi – responde ele, com os olhos brilhando de empolgação, e entra no elevador.
- Olá – cumprimenta Harry em tom agradável. – Para que andar você vai?
- Nove, por favor – Draco engole em seco. – Sr. Potter será que posso me apresentar rapidamente? – Ele estende a mão, ansioso. – Draco Malfoy, da Pesquisa. O senhor vai visitar nosso departamento mais tarde, hoje.
- É uma prazer conhecê-lo, Draco. – retribui Harry com gentileza. – A pesquisa é vital para uma empresa como a nossa.
- O senhor está certíssimo! – Draco se empolga. – Na verdade, eu estou ansioso para discutir com o senhor as últimas descobertas da pesquisa sobre as roupas esportivas Panther. Nós chegamos a alguns resultados fascinantes relativos às preferências dos clientes sobre a espessura dos tecidos. O senhor vai ficar pasmo!
- Tenho... certeza que sim – diz Harry. – Estou ansioso.
Draco me dá um riso empolgado.
- O senhor já conhece Hermione Granger, do nosso departamento de marketing? – pergunta ele.
- Sim, nós já nos conhecemos. – Os olhos de Harry brilham para mim.
Seguimos por alguns segundos num silêncio incômodo.
Isso é esquisito.
Não. Não é esquisito. Está tudo bem.
- Que horas devem ser? – indaga Draco. Ele olha para o relógio e, num ligeiro horror, vejo o olhar de Harry acompanhando-o.
Ah meu Deus.
“...eu dei a ele um relógio lindo, mas ele insiste em usar um negócio digital laranja...”
- Espera um minuto! – diz Harry, com a percepção baixando no rosto. Ele encara Draco como se o visse pela primeira vez. – Espera um minuto. Você é o Ken.
Ah, não.
Ah não, ah não, ah não, ah não, ah não...
- É Draco – corrige Draco, perplexo. – Draco Malfoy.
- Desculpe! – Harry bate o punho na testa. – Draco. Claro. E vocês dois... – ele sinaliza para mim - ...são namorados?
Draco parece desconfortável.
- Posso garantir, senhor, que no trabalho nosso relacionamento é estritamente profissional. Mas, num contexto particular, Hermione e eu estamos... sim, tendo um relacionamento pessoal.
- Maravilhoso! – exclama Harry em tom encorajador, e Draco ri de orelha a orelha, como uma flor se abrindo ao sol.
- De fato – acrescenta com orgulho -, Hermione e eu acabamos de decidir que vamos morar juntos.
- É mesmo? –Harry me lança um olhar de surpresa genuína. – É... uma ótima notícia. Quando tomaram essa decisão?
- Só há dois dias – revela Draco. – No aeroporto.
- No aeroporto – ecoa Harry Potter depois de um curto silêncio. – Muito interessante.
Não posso olhar para Harry Potter. Estou encarando desesperadamente o chão. Por que essa porcaria de elevador não vai mais rápido?
- Bem, tenho certeza de que vocês serão muito felizes juntos – diz Harry Potter a Draco. – Vocês parecem muito compatíveis.
- Ah, nós somos! – confirma Draco imediatamente. – Para começar, nós dois adoramos jazz.
- É mesmo? – diz Harry, pensativo. – Sabe, não consigo pensar numa coisa mais legal no mundo do que compartilhar o amor pelo jazz.
Ele está de sacanagem. Isso é insuportável.
- Verdade? – diz Draco ansioso.
- Sem dúvida. Eu diria que o jazz e... os filmes de Woody Allen.
- Nós adoramos os filmes do Woody Allen! – empolga-se Draco, num deleite fascinado. – Não é, Hermione?
- É – digo, meio rouca. – É sim.
- Bom, Draco, diga – começa Harry em tom confidencial. – Algum dia você já achou...
Se ele disser “o ponto G de Hermione” eu morro. Eu morro. Eu morro!
-... que a presença de Hermione aqui pode ser uma distração? Porque eu acharia! – Harry dá a Draco um sorriso amigável, mas Draco não ri de volta.
- Como eu disse, senhor – responde ele, meio rígido -, no trabalho Hermione e eu atuamos numa base estritamente profissional. Nós nunca sonharíamos em abusar do tempo da empresa com... objetivos pessoais. – Ele fica vermelho. – Quero dizer, com objetivos, eu não quero dizer... eu quis dizer...
- Fico feliz em ouvir isso – diz Harry, parecendo se divertir.
Meu Deus, por que Draco tem de ser um cara tão bonzinho?
O elevador solta um ping, e eu sinto o alívio jorrar em mim. Graças a Deus, finalmente posso dar o fora...
- Olha, parece que vamos todos para o mesmo lugar – observa Harry Potter com um riso. – Draco, não quer ir na frente?
Não agüento isso. Simplesmente não agüento. Enquanto sirvo xícaras de chá e café para os membros do departamento de marketing, estou calma por fora, sorrindo para todo mundo e até batendo papo de um modo agradável. Mas por dentro estou atordoada e confusa. Não quero admitir, mas ter visto Draco pelos olhos de Harry me abalou.
Eu amo Draco, fico repetindo e repetindo. Nada que falei no avião foi a sério. Eu o amo. Passo o olhar pelo rosto dele, tentando me reconfortar. Não há dúvida. Draco é bonito segundo qualquer padrão. Reluz de saúde. O cabelo é brilhante, os olhos são quase prateados e ele tem uma covinha lindíssima quando ri.
Harry Potter, por outro lado, parece meio cansado e desarrumado. Tem um pouco de olheiras e o cabelo se espalha por todo canto. E há um buraco nos jeans dele.
Mas mesmo assim. É como se ele tivesse algum tipo de ímã. Estou sentada aqui, com toda a atenção no carrinho de chá, e, no entanto não consigo afastar os olhos dele.
É por causa do avião, fico dizendo a mim mesma. É só porque nós estivemos juntos numa situação traumática; é por isso. Não outro motivo.
- Nós precisamos de mais pensamento lateral, gente – está dizendo Paul. – A Barra Panther simplesmente não está tendo o desempenho que deveria. Draco, você tem as últimas estatísticas da pesquisa?
Draco se levanta e eu sinto um tremor de apreensão por ele. Dá para ver que ele está realmente nervoso, pelo modo como fica repuxando os punhos da camisa.
- Isso mesmo, Paul. – Draco pega uma prancheta e pigarreia. – Na nossa última pesquisa, mil adolescentes receberam perguntas sobre aspectos da Barra Panther. Infelizmente os resultados foram inconclusivos.
Draco aperta seu controle remoto. Um gráfico aparece na tela atrás dele, e todos olhamos obedientemente.
- Setenta e quatro por cento dos jovens entre dez e quatorze anos acham que a textura poderia ser mais macia – recita Draco, sério. – Mas sessenta e sete por cento dos jovens entre quinze e dezoito anos acham que a textura poderia ser mais crocante, ao passo que vinte e dois por cento acharam que poderia ser menos crocante...
Olho por cima do ombro de Pansy e vejo que ela escreveu “macia/crocante??” em seu caderno.
Draco aperta o controle remoto de novo, e outro gráfico aparece.
- Bom, quarenta e seis por cento dos jovens entre dez e quatroze anos acharam o sabor muito ácido. Mas trinta e três por cento dos jovens entre quinze e dezoito anos acharam que não era suficientemente ácido, ao passo que...
Ah meu Deus. Eu sei que é o Draco. E eu o amo e tudo. Mas ele não pode fazer com que esse negócio pareça um pouquinho mais interessante?
Olho e vejo que Harry Potter está percebendo isso, e ele levanta as sobrancelhas para mim. Imediatamente fico vermelha, sentindo-me desleal. Ele vai pensar que eu estava rindo do Draco. E não estava. Não estava.
- E noventa por cento das adolescentes prefeririam que o conteúdo de calorias fosse reduzido – conclui Draco. – Mas a mesma proporção também gostaria de uma cobertura de chocolate mais grossa. – Ele dá de ombros, desamparado.
- Eles não sabem o que querem – comenta alguém.
- Nós entrevistamos uma ampla gama de adolescentes – informa Draco. – incluindo caucasianos, afro-caribenhos, asiáticos e... é... – ele olha o papel. – Cavaleiros Jedi.
- Adolescentes! – exclama Pansy, revirando os olhos.
- Lembre-nos brevemente de quem é nosso público-alvo, Draco – pede Paul franzindo a testa.
- Nosso público-alvo... – Draco consulta outra prancheta. – tem idade entre dez e dezoito anos, freqüenta escola em horário integral ou parcial. Bebe Panther Cola quatro vezes por semana, come hambúrgueres três vezes por semana, vai ao cinema duas vezes por semana, lê revistas e histórias em quadrinhos, mas não livros, provavelmente concorda com a opinião de que “é mais importante ser maneiro do que rico”... – Ele ergue os olhos. – Devo continuar?
- Ele come torrada no café da manhã? – pergunta alguém, pensativamente. – Ou cereal?
- Eu... não tenho certeza – responde Draco, folheando rapidamente suas páginas. – Nós poderíamos pesquisar mais um pouco.
- Acho que temos o quadro geral – conclui Paul. – Alguém tem alguma idéia sobre isso?
Esse tempo todo eu estive juntando coragem para falar, agora respiro fundo.
- Sabe, meu avô gosta á beça das Barras Panther! – exclamo. Todo mundo gira as cadeiras para me olhar, e eu sinto o rosto esquentando.
- Que relevância ele tem? – indaga Paul franzindo a testa.
- Eu só pensei que poderia... – engulo em seco. – Talvez poderia perguntar o que ele acha...
- Com todo o respeito Hermione – comenta Draco, com um sorriso que beira o paternalismo -, seu avô não está na nossa população-alvo!
- A não ser que ele tenha começado muito novo – zomba Pansy.
Fico vermelha, sentindo-me estúpida, e finjo estar arrumando os saquinhos de chá.
Para ser honesta, estou me sentindo meio magoada. Por que Draco precisou dizer aquilo? Sei que ele quer ser todo profissional e certinho quando está no trabalho. Mas isso não significa ser mau, não é? Eu sempre o defendo.
- Meu ponto de vista – propõe Pansy – é que, se a Barra Panther não está tendo um bom desempenho, nós deveríamos acabar com ela. É obviamente uma criança-problema.
Ergo os olhos em ligeira consternação. Eles não podem acabar com a Barra Panther! O que vovô vai levar para os torneios de boliche?
- Sem dúvida uma reforma de marca totalmente baseada nos custos... – começa alguém.
- Discordo. – Pansy se inclina para a frente. – Se quisermos maximizar nossa inovação de conceito de modo funcional e logístico, certamente precisamos nos concentrar em nossas competências estratégicas...
- Com licença – Harry Potter levanta a mão. É a primeira vez que ele fala, e todo mundo se virar para olhar. Há um tremor de expectativa no ar, e Pansy fica toda presunçosa.
- Sim, Sr. Potter?
- Não faço a mínima idéia do que você está falando – observa ele.
Toda a sala reverbera em choque, e eu dou um risinho, mesmo sem querer.
- Como vocês sabem, eu estou fora da arena dos negócios há um tempo. – Ele sorri. – Poderia traduzir o que você disse para o inglês normal?
- Ah – exclama Pansy, desconcertada. – Bem, eu estava simplesmente dizendo que, segundo um ponto de vista estratégico, não obstante nossa visão corporativa... – ela vai parando, diante da expressão dele.
- Tente de novo – sugere Harry Potter com gentileza. – Sem usar a palavra estratégico.
- Ah – repete Pansy, e coça o nariz. – Bem eu só estava dizendo que... nós deveríamos... nos concentrar no... que fazemos bem.
- Ah! – Os olhos de Harry Potter reluzem. – Agora entendi. Por favor, continue.
Ele me olha, revira os olhos e ri, e não consigo evitar um risinho de volta.
Depois da reunião, as pessoas vão saindo da sala, ainda falando, e eu rodeio a mesa, pegando xícaras de café.
- Foi bom conhecê-lo Sr. Potter – posso ouvir Draco dizendo ansioso. – Se quiser uma transcrição de minha apresentação...
- Sabe, não creio que será necessário – devolve Harry naquela voz rouca e enigmática. – Acho que mais ou menos captei o sentido geral.
Ah meu Deus. Draco não percebe que está pegando pesado?
Equilibro as xícaras em pilhas precárias sobre o carrinho, depois começo a recolher as embalagens de biscoito.
- Bom, eu tenho de ir ao estúdio gráfico daqui a pouco – está dizendo Harry Potter.
– mas não lembro onde é...
- Hermione! – diz Paul rapidamente. – Pode mostrar o estúdio gráfico ao Harry? Mais tarde você pode limpar o resto da mesa.
Congelo, segurando uma embalagem laranja.
Por favor, chega.
- Claro – consigo dizer finalmente. – Será um... prazer. Por aqui.
Sem jeito, eu saio com Harry Potter da sala de reuniões e começamos a andar pelo corredor, lado a lado. Meu rosto está pinicando ligeiramente enquanto as pessoas tentam não nos encarar, e percebo que todo mundo no corredor se transforma em robôs sem graça assim que o vê. Pessoas nas salas adjacentes se cutucam empolgadas, e eu ouço pelo menos uma pessoa sibilando:
- Ele está vindo!
É assim em todo lugar aonde Harry Potter vai?
- Então – ele me dirige em tom casual depois de um tempo. – Você vai morar com o Ken?
- É Draco – corrijo. – E vou, sim.
- Está ansiosa por isso?
- Sim. Sim, estou.
Chegamos aos elevadores e eu aperto o botão. Posso sentir seu olhar enigmático em mim. Posso sentir.
- O que foi? – pergunto na defensiva, virando-me para olhá-lo.
- Eu disse alguma coisa? – Ele ergue as sobrancelhas. Quando vejo a expressão em seu rosto, me sinto picada. O que ele sabe?
- Sei o que você está pensando – digo, levantando o queixo em desafio. – Mas está errado.
- Eu estou errado?
- Está! Você... apreendeu mal.
- Apreendi mal?
Parece que ele quer rir, e uma vozinha na minha cabeça me manda parar. Mas não consigo. Tenho de explicar como é.
- Olha. Eu sei que posso ter feito alguns... comentários no avião – começo, apertando os punhos com força ao lado do corpo. – Mas o que você precisa saber é que aquela conversa aconteceu numa situação difícil, em circunstâncias extremas, e eu disse um monte de coisas que não eram verdade. De fato, um monte de coisas!
Pronto! Agora está claro.
- Sei - responde Harry, pensativamente. – Então... você não gosta de sorvete Häagen-Dazs duplo chocolate com pedacinhos de chocolate.
Olho-o aparvalhada.
- Eu... – Pigarreio várias vezes. – Algumas coisas, obviamente, eram verdade...
O elevador solta um ping, e nós dois levantamos a cabeça bruscamente.
- Harry! – exclama Cyril, parado do outro lado da porta. – Eu fiquei me perguntando onde você estava.
- Eu estava tendo uma boa conversa com a Hermione, aqui. Ela teve a gentileza de me mostrar o caminho.
- Ah. – O olhar de Cyril passa sobre mim, sem dar importância. – Bem, eles estão esperando você no estúdio.
- Então... hmm... eu vou indo – respondo sem jeito.
- Vejo você mais tarde – diz Harry rindo. – Foi bom conversar com você, Hermione.
N/A: Cinco comentários = Capítulo novoooo!!! *-* E esse é um dos capítulos mais engraçados! Amo a parte dos dois no elevador com o Draco! "Você é o Ken?" Huashuahsahsua! Obrigada a todos os leitores novos que comentaram! Espero que continuem acompanhando! O melhor ainda está por vir... :D
Ah, no sábado estarei viajando, então não teremos atualização! Vou postar o capítulo 9 na sexta-feira, provavelmente à tarde. E se não for possível, posto dois no domingo à noite ou na segunda de manhã. Ok?
Rosana Franco: O Rony morreu mesmo. Infelizmente. Mas, como eu disse, o personagem dele é essencial para o desenvolvimento da história. Você entenderá porque mais pra frente. Por que o Harry não quer saber que ele estava na Escócia?? Hummm... esse é um dos elementos principais da fic! Ah, vc queria ver Hary, Hermione e Draco frente a frente! Então deve ter gostado desse capítulo! ;D
Felipe_Rodrigues: A Lilá é uma chata, insuportável! Huahushausa! E todo mundo tem uma Lilá na família, tenho certeza! Os comentários tinham que ser de pessoas diferentes sim! E eles aconteceram! :D Continue lendo e comentando!
may33: Huummm... Vamos dizer que o segredo da Ginny não tem nada a ver com o Draco! Huahsuahsua! Gente, o Draco é um bom moço nessa fic! Um homem pra casar! :D
Nina Granger Potter, Gabriela Rocha e Rejane Nunes: Um mega obrigada pelos comentários! Continuem lendo, deixando comentários, fazendo perguntas! Eu amo responder! Valeu mesmo!
Bjo a todos e até a próxima atualização!
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