SETE



Sete


 


Enquanto ando pela rua com Luna, metade de mim está entorpecida de horror, e metade quase quer explodir numa gargalhada histérica. Todo mundo está no escritório, tentando ao máximo possível impressionar Harry Potter. E aqui estou eu, saindo numa boa, debaixo do nariz dele, para tomar um cappuccino.


- Desculpe ter interrompido você – diz Luna animada enquanto empurramos as portas do Starbucks. – Com Harry Potter lá e tudo. Eu não fazia idéia de que ele ia estar sentado ali! Mas sabe, eu fui bem sutil – acrescenta ela, de modo tranqüilizador. – Ele nunca vai saber o que a gente estava aprontando.


- Com certeza – consigo dizer. – Ele não vai adivinhar, nem em um milhão de anos.


- Você está legal, Hermione? – Luna me olha com curiosidade.


- Estou ótima! – respondo com uma espécie de alegria aguda. – Estou absolutamente ótima! E então... por que a reunião de emergência?


- Eu  tinha de contar. Dois cappuccinos, por favor – Luna ri para mim, empolgada. – Você não vai acreditar.


- O que é?


- Marquei um encontro. Conheci um cara novo!


- Não! – exclamo, encarando-a. – Verdade? Foi rápido.


- É, aconteceu ontem, como você disse! De propósito, eu andei até mais longe na hora do almoço e achei um lugar bem legal, onde estavam servindo o almoço. E ali estava um sujeito legal, na fila perto de mim. E ele começou a conversar comigo. Depois a gente dividiu uma mesa e ficou batendo papo... e eu estava indo embora quando ele perguntou se eu gostaria de tomar uma bebida uma hora dessas. – Ela pega os cappuccinos com um sorriso de orelha a orelha. – E a gente vai sair esta noite.


- Que fantástico! – digo deliciada. – E aí, com ele é?


- Um amor. O nome dele é Phillip! Tem uns olhos lindos, brilhantes, e é realmente charmoso e educado, e tem um enorme senso de humor...


- Ele parece incrível!


- Eu sei. Eu tenho uma sensação realmente boa com relação a ele. – O rosto de Luna reluz enquanto nos sentamos. – Tenho mesmo. Ele é diferente. E eu sei que isso parece estúpido, Hermione... – Ela hesita. – Mas eu sinto que, de algum modo, você o trouxe para mim.


- Eu? – Encaro-a boquiaberta.


- Você me deu confiança para falar com ele.


- Mas eu só disse...


- Você disse que sabia que eu ia conhecer alguém. Você teve fé em mim. E eu conheci! – Seus olhos começam a brilhar. – Desculpe – Ela sussurra e enxuga os olhos com um guardanapo. – Eu estou meio abalada.


- Ah, Luna.


- Realmente acho que minha vida vai dar uma virada. Acho que vai melhorar. E tudo por sua causa, Hermione!


- Que é isso, Luna – digo sem jeito. – Não foi nada.


- Não foi nada! – Ela toma um gole. – E eu queria fazer uma coisa por você, em troca. – Ela remexe na bolsa e pega um grande pedaço de crochê laranja. – Fiz isso aqui ontem à noite. – Ela me olha cheia de expectativa. – É uma faixa de cabeça.


Por alguns instantes não consigo me mexer. Uma faixa de cabeça, de crochê.


- Luna – consigo falar por fim, virando-a nos dedos. – Verdade, você... você não precisava!


- Eu quis! Para agradecer. – Ela me olha, séria. – Especialmente depois de você ter perdido o cinto de crochê que eu lhe dei no Natal.


- Ah – digo sentindo uma pontada de culpa. – É, sim. Foi... uma pena! – Engulo em seco. – Era um cinto lindo. Eu fiquei realmente chateada por ter perdido.


- Ah, que coisa! – Seus olhos se enchem de novo. – Vou fazer um cinto novo também.


- Não! – digo alarmada. – Não, Luna, não faça isso.


- Mas eu quero! – Ela se inclina para a frente e me dá um abraço. – Para isso é que servem os amigos!


 


Passam-se mais de vinte minutos antes de terminarmos o segundo cappuccino e voltarmos para o escritório. Quando chegados ao prédio da Panther eu olho o relógio e vejo, com um susto, que ficamos trinta e cinco minutos fora.


- Não é incrível que a gente vai ganhar máquinas de café novas? – exclama Luna enquanto subimos correndo a escada.


- Ah... é. Fantástico.


Meu estômago começou a se revirar, só de pensar em olhar para Harry Potter de novo. Não me sinto tão nervosa desde que fiz a prova de clarinete na primeira série e quando o professor perguntou meu nome, eu caí no choro.


- Bem, vejo você depois – despede-se Luna quando chegamos ao primeiro andar. – E, obrigada, Hermione.


- Tudo bem – respondo. – Até logo.


Quando começo a andar pelo corredor na direção do departamento de marketing, percebo que as pernas não estão se movendo tão rapidamente quanto o normal. Na verdade, à medida que a porta se aproxima, elas vão ficando mais lentas, e mas lentas... e mais lentas.


Uma das secretárias da contabilidade me ultrapassa com passos rápidos, de salto alto, e me dá um olhar estranho.


Ah meu Deus. Não posso entrar aí.


Posso sim. Vai estar tudo bem. Só vou me sentar muito quieta e continuar com o trabalho. Talvez ele nem me note.


Qual é. Quanto mais eu demorar, pior vai ser. Respiro fundo, fecho os olhos, dou alguns passos para dentro do departamento de marketing e os abro.


Há um tumulto em volta da mesa de Pansy, e nenhum sinal de Harry Potter.


- Bom, talvez ele vá repensar toda a empresa – está dizendo alguém.


- Ouvi um boato de que ele tem um projeto secreto...


- Ele não pode centralizar completamente a função do marketing – está dizendo Pansy, tentando levantar a voz acima da dos outros.


- Onde está Harry Potter? – pergunto, tentando parecer casual.


- Foi embora – anuncia Zach, e eu sinto um jorro de alívio. Foi embora! Ele foi embora!


- Vai voltar?


- Acho que não. Hermione, você já fez aquelas cartas para mim? Porque eu passei para você há três dias...


- Eu faço agora – digo, e rio para Zach. Quando me sento à mesa, sinto-me leve como um balão de gás. Chuto os sapatos para longe, animada, estendo a mão para a garrafa de Evian... e paro.


Há um pedaço de papel dobrado sobre o teclado, com “Hermione” escrito numa letra que não reconheço.


Perplexa, olho em volta. Ninguém está me olhando, esperando eu achá-lo. Na verdade, ninguém parece ter notado. Estão todos ocupados demais falando de Harry Potter.


Lentamente eu o desdobro e olho o recado.


 


Espero que sua reunião tenha sido produtiva. Os números sempre me dão um tremendo barato.


                                                                                                          Harry Potter


 


Poderia ter sido pior. Poderia estar escrito “libere sua mesa”.


Mesmo assim, pelo resto do dia fico totalmente tensa. Toda vez que alguém entra no departamento eu sinto um pequeno espasmo de pânico. E quando alguém começa a falar alto do lado de fora da porta sobre como “Harry disse que pode voltar ao Marketing”, eu considero seriamente a hipótese de me esconder no banheiro até ele sumir.


Às cinco e meia em ponto, paro de digitar no meio de uma frase, desligo o computador e pego o casaco. Não vou esperar que ele reapareça. Praticamente corro escada abaixo, e só começo a relaxar quando estou em segurança do outro lado das grandes portas de vidro.


Pela primeira vez, o metrô é milagrosamente rápido, e eu chego em casa em menos de vinte minutos. Quando abro a porta da frente do apartamento ouço um som estranho vindo do quarto de Ginny. Umas pancadas. Talvez ela esteja mudando os móveis de lugar.


- Ginny – grito quando entro na cozinha. – Você não vai acreditar no que aconteceu hoje. – Abro a geladeira, pego uma garrafa de Evian e encosto na testa quente. Depois de um tempo abro a garrafa e tomo alguns goles, depois vou para o corredor de novo e vejo a porta de Ginny se abrindo.


- Ginny! – começo. – O que você estava...


E paro, quando, em vez de Ginny, um homem sai pela porta.


Um homem! Um cara alto e magro, com calça preta chique e óculos de aço.


- Ah – digo perplexa. – É... oi.


- Hermione! – exclama Ginny, seguindo-o para fora. Ela está usando uma camiseta sobre uma calça de malha cinza que eu nunca vi antes, está tomando um copo d’água e parece espantada em me ver. – Chegou cedo.


- Eu sei. Estava com pressa.


- Este é Jean-Paul – acrescenta Ginny. – Jean-Paul, esta é minha colega Hermione.


- Olá, Jean-Paul – digo com um sorriso amigável.


- Prazer em conhecê-la, Hermione – responde Jean-Paul, com sotaque francês.


Meu Deus, o sotaque francês é sensual. Puxa, é mesmo.


- Jean-Paul e eu estávamos... é... examinando algumas anotações de um processo – balbucia Ginny.


- Ah, certo – respondo animada. – Que bom!


Anotações de processos. É, certo. Porque isso faria realmente um tremendo som de batidas no quarto.


Ginny é uma tremenda sortuda!


- Preciso ir – desculpa-se Jean-Paul, olhando Ginny.


- Eu levo você até a porta – responde ela, ruborizada.


Ela desaparece pela porta da frente e eu ouço os dois murmurando no patamar.


Tomo mais uns goles de Evian, depois vou para a sala e me deixo cair pesadamente no sofá. Todo o meu corpo está dolorido por ficar sentada rígida de tensão o dia inteiro. Isso é muito ruim para a minha saúde. Como é que vou sobreviver a uma semana inteira de Harry Potter?


- E aí! – exclamo quando Ginny volta para a sala. – O que está havendo?


- O que você quer dizer? – responde ela, esquivando-se.


- Você e Jean-Paul! Há quanto tempo vocês estão...


- Nós não estamos! – reage Ginny, ficando vermelha. - Não é... nós estávamos examinando anotações de processo. Só isso.


- Claro que estavam.


- Estávamos sim! Era só isso!


- Certo – levanto as sobrancelhas. – Se você diz...


Algumas vezes Ginny fica assim, toda tímida e sem jeito. Vou fazer com que ela encha a cara uma hora dessas, e ela vai admitir.


- E então, como foi o seu dia? – devolve ela, sentando-se no chão e pegando uma revista.


Como foi o meu dia?


Nem sei por onde começar.


- Meu dia... – digo finalmente. – Meu dia foi uma espécie de pesadelo.


- Verdade? – Ginny levanta os olhos, surpresa.


- Não, retire isso. Foi um pesadelo completo.


- O que aconteceu? – A atenção de Ginny está totalmente captada.


- Certo. – Respiro fundo e aliso o cabelo, imaginando como posso começar. – Certo, lembra que eu tive aquele vôo medonho de volta da Escócia na semana passada?


- Lembro! – O rosto de Ginny se ilumina. – E Draco foi pegar você e foi tudo muito romântico...


- É. Bem. – Pigarreio. – Antes disso. No vôo. Havia um... um homem lindo sentado perto de mim. E o avião ficou realmente turbulento. – Mordo o lábio. – E o negócio é que eu achei que todo mundo ia morrer, e que ele era a última pessoa que eu ia ver na vida, e... eu...


- Ah, meu Deus! – Ginny aperta a mão na boca. – Você não fez sexo com ele...


- Pior. Contei a ele todos os meus segredos.


Estou esperando que Ginny fique boquiaberta, ou que diga alguma coisa simpática como “Ah, não!”, mas ela só está me olhando com o rosto vazio.


- Que segredos?


- Meu segredos. Você sabe.


Pela cara de Ginny, parece que eu falei que tenho uma perna artificial.


- Você tem segredos?


- Claro que eu tenho segredos! – exclamo. – Todo mundo tem alguns segredos.


- Eu não tenho! – diz ela imediatamente, parecendo ofendida. – Eu não tenho nenhum segredo.


- Tem sim!


- Tipo o quê?


- Tipo... tipo... certo. – Começo a contar nos dedos. – Você nunca contou ao seu pai que foi você que perdeu a chave da garagem naquela vez.


- Isso foi há séculos! – reclama Ginny cheia de desprezo.


- Você nunca contou a Dean que esperava que ele pedisse você em casamento...


- Eu não esperava! – desmente Ginny, ficando vermelha. – Bem, certo, talvez eu estivesse esperando...


- Você acha que aquele vizinho sem graça é a fim de você...


- Isso não é segredo! – impacienta-se ela, revirando os olhos.


- Ah, certo. Então posso dizer a ele? – Inclino-me para a janela aberta. – Ei, Mike – grito. – Adivinha só. Ginny acha que você...


- Pára! – grita Ginny freneticamente.


- Está vendo? Você tem segredos. Todo mundo tem segredos. O papa provavelmente tem alguns segredos.


- Certo. Tudo bem, você me convenceu. Mas não entendo qual é o problema. Então você contou seus segredos a um cara no avião...


- E agora ele apareceu lá no trabalho.


- O quê? – Ginny me encara. – Sério? Quem é ele?


- É... – Estou para dizer o nome de Harry Potter quando me lembro da promessa que fiz. – É só um... um cara que foi lá para observar – digo vagamente.


- Ele tem cargo alto?


- Ele é... tem. Pode-se dizer que o cargo é bem alto.


- Cacete. – Ginny franze a testa, pensando por alguns instantes. – Bem, isso importa mesmo? Ele saber algumas coisas sobre você?


- Ginny, não foram só algumas coisas. – Sinto-me ruborizar ligeiramente. – Foi tudo. Eu disse a ele que menti sobre uma nota no currículo.


- Você mentiu sobre uma nota no currículo? – ecoa Ginny, chocada. – Está falando sério?


- Eu contei que ponho suco de laranja na planta de Pansy, contei que acho calcinha fio-dental desconfortável...


Paro quando vejo Ginny me encarando abestalhada.


- Hermione – exclama ela finalmente -, você já ouviu a expressão “em boca fechada...”?


- Eu não pretendia dizer nada disso! – retruco na defensiva. – A coisa foi saindo! Eu tinha tomado três vodcas e achei que a gente ia morrer. Honestamente, Ginny, você faria a mesma coisa. Todo mundo estava gritando, tinha gente rezando, o avião pulava feito um doido...


- Então você contou todos os seus segredos para o seu chefe.


- Mas no avião ele não era o meu chefe! – exclamo frustrada. – Só era um estranho. Eu nunca mais iria vê-lo!


Há um silêncio enquanto Ginny absorve tudo.


- Sabe, é como o que aconteceu com minha prima – comenta ela finalmente. – Ela foi a uma festa, e ali, bem na frente, estava o médico que tinha feito o seu parto há dois meses.


- Aah. – Faço uma careta.


- Exato! Ela disse que ficou tão sem graça que teve de ir embora. Puxa, ele tinha visto tudo! Ela disse que, quando estava no hospital, isso não teve importância, mas quando o viu ali parado, segurando uma taça de vinho e conversando sobre preços de casas, foi diferente.


- Bem, é a mesma coisa – continuo, desamparada. – Ele sabe todos os meus detalhes mais íntimos, mais pessoais. Mas a diferença é que eu não posso simplesmente ir embora! Tenho de ficar ali sentada e fingir que sou uma boa funcionária. E ele sabe que não sou.


- Então o que você vai fazer?


- Não sei! Acho que só posso tentar evitá-lo.


- Quanto tempo ele vai ficar?


- O resto da semana – respondo, em desespero. – A semana inteira.


Pego o controle remoto, ligo a televisão, e por alguns instantes as duas olhamos em silêncio para um punhado de modelos dançando com jeans da Gap.


O anúncio termina, eu ergo a cabeça de novo e vejo Ginny me olhando com curiosidade.


- O que é? O que é?


- Hermione... – Ela pigarreia sem jeito. – Você não esconde nenhum segredo de mim, esconde?


- De você? – repito, ligeiramente desprevenida.


Uma série de imagens relampeja rapidamente na minha cabeça. Aquele sonho estranho que eu tive uma vez, de que Ginny e eu éramos lésbicas. Aquelas vezes em que eu comprei cenouras no supermercado e jurei que eram orgânicas. A vez em que nós tínhamos quinze anos, ela foi para a França e eu saí com Mike Appleton, por quem ela era totalmente louca, e nunca contei a ela.


- Não! Claro que não! – respondo, e rapidamente tomo um gole d’água. – Por quê? Você esconde algum segredo de mim?


Dois pontos cor-de-rosa aparecem nas bochechas de Ginny.


- Não, claro que não! – repete ela numa voz falsa. – Eu só estava... imaginando. – Ela pega o guia da TV e começa a folheá-lo, evitando meu olhar. – Você sabe. Só por curiosidade.


- É, bem. – Dou de ombros. – Eu também.


Uau. Ginny tem um segredo. Qual será?


Claro. Como se ela realmente estivesse examinando anotações de processos com aquele cara. Será que ela me acha uma imbecil completa?


 


N/A: Huuummm... Qual será o segredo da Ginny??? Gente, eu amooo o Harry dessa fic! Ele é engraçado demais e fica fazendo a Hermione de boba... Huahuahua! Então, eu sei que tá todo mundo triste porque o Brasil saiu da Copa e tal. Por isso, resolvi fazer o seguinte: postarei o capítulo 8 assim que conseguir 5 comentários sobre esses dois que postei. Ou seja, se eu tiver 5 comentários ainda hoje, antes do fim do dia, já terá capítulo novo, se conseguir até quarta-feira, posto na quarta. E se não conseguir, posto no sábado mesmo, ok? Se esforcem! ;D


Obrigada a todos que leram e comentaram, eu amo feedbacks! E obrigada a quem leu e não comentou tbm, mas eu espero que você ainda vá comentar!


 


Beijos e boa semana para todos!

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