Contando a Harry




Comecei a andar de um lado para o outro do meu quarto. Amanhã terminaria o meu prazo para contar a verdade para Harry e isso me deixava, a cada segundo, mais apavorada.


Fiquei na frente do espelho me encarando profundamente.


- Harry! – resolvi treinar – Eu estou grávida.


Fiz uma careta, acho que não ficou muito bom.


- Harry! Eu tenho uma novidade para te contar – comecei de novo – Você vai ser papai!


Também não foi muito bom. Talvez fosse melhor eu escrever, desse jeito seria muito mais fácil. Peguei uma folha branca e me sentei frente a mesa.


 


Harry,


Eu sei que prometemos nunca mais comentar a respeito daquela noite que passamos juntos. E, acredite em mim, eu não estaria fazendo isso se não fosse extremamente necessário.


Espero que nossa amizade não fique abalada. Ainda mais nesse momento, vou precisar muito de sua ajuda.


Eu estou grávida. Isso mesmo vamos ter um bebê daqui há, mais ou menos, oito meses.


Isso é tudo que eu queria dizer. Espero que você possa me entender. E saiba, também, que eu não fiz nada de propósito.


Com carinho,


Mione.


 


Tive que reescrever essa carta milhares de vezes. Mas, acho que essa está perfeita. Só preciso descobrir uma maneira de entregar essa carta para o Harry.


Fui dormir com a certeza de que a minha vida mudaria drasticamente no dia seguinte. Se para melhor ou para pior? Só o tempo vai dizer.


Acordei bem cedo, mas, diferente dos outros dias, decidi não ficar na cama até a hora do relógio tocar, estava muito ansiosa com a expectativa daquele dia.


Estava com muita vontade de comer panquecas no café da manhã, então decidi preparar. Não demorou muito para Lizzie aparecer com dois cabides na mão.


- Você acha que essa blusa combina com essa calça? – ela perguntou mostrando uma blusa rosa e uma calça jeans.


- Combina sim! – concordei com a cabeça – Vai querer panqueca?


- Não tenho certeza se combina – observou as duas peças de roupa – Vou procurar outra coisa.


- Lizzie! – a chamei – Você ouviu o que eu disse?


- Panqueca engorda – observou com uma careta – Mas acho que uma vez não faz mal.


- Certo! – concordei.


Assim que ela saiu da cozinha o telefone começou a tocar.


- Atende ai! – ela pediu – Eu estou ocupada.


Suspirei pesadamente e fui atender ao telefone.


- Alô – disse.


- Mione! – ouvi a voz de Harry do outro lado da linha – Ainda bem que você está acordada.


- Aconteceu alguma coisa? – fiquei apavorada, ele não costumava ligar a essa hora da manhã.


- Só queria saber se eu posso ir aí tomar café da manhã – ele pediu.


- O que aconteceu com você? – comei a rir levemente – Você nunca liga para perguntar se pode vir. Sempre vem por conta própria.


- Da última vez vocês duas reclamaram tanto – lembrou – Então achei melhor avisar.


- Isso é mesmo um milagre – falei.


- Nunca é tarde para mudar os meus hábitos – riu levemente – E então. Eu posso ir?


- É claro que pode – respondi – Você está com sorte hoje. Estou fazendo panquecas.


- Fico feliz – respondeu – Já estou aqui embaixo do seu prédio. Em cinco minutos estou ai em cima.


- Acho que certos hábitos nunca mudam – suspirei pesadamente – O que você ia fazer se eu não deixasse você subir?


- Sabia que você iria deixar – revirei os olhos, embora soubesse que ele não estava vendo – Mas, qualquer coisa, eu teria que ir para a padaria.


- Certo!- concordei – Estou te esperando aqui.


Eu o ouvi desligar o telefone e corri para o meu quarto. Fiquei algum tempo encarando papel dobrado na minha frente, era a carta que eu tinha escrito para Harry, esse era o momento perfeito para eu entregá-la a ele.


- Mione! – Lizzie apareceu na porta e eu, imediatamente, coloquei a carta no bolso da calça – Quem era no telefone?


- O Harry! – respondi enquanto caminhava para a cozinha, ela ia me seguindo – Já está vindo para cá.


- Certo! – balançou a cabeça.


Comecei a preparar as panquecas e a campainha tocou e eu ouvi que Lizzie abriu a porta. Logo, ouvi passos em direção a cozinha.


- Mione! – ele passou as mãos na minha cintura e sussurrou no meu ouvido, senti um arrepio percorrer o corpo – Obrigada por me deixar vir.


- Acha mesmo que iria te deixar com fome – ri levemente, me senti um pouco perturbada da nossa proximidade.


- Deixa eu te ajudar – se aproximou do armário e retirou alguns pratos.


Não demorou muito para estarmos sentados na mesa comendo panquecas. Ainda não tinha tido oportunidade de falar com Harry ou entregar a carta para ele, precisava que estivéssemos sozinhos para que Lizzie não focasse falando.


- A comida está um delicia Mione – ele disse algum tempo depois – Já fazia muito tempo desde a última vez que você fez panquecas.


- Isso é verdade Mione – Lizzie concordou com o irmão – Você já pode casar.


- Certo! – revirei os olhos, detesto quando ela ficava jogando indiretas.


- O cara que se casar com você vai ter muita sorte – Harry comentou – Espero que ele saiba te dar valor.


Fiquei ligeiramente vermelha enquanto olhava para baixo sem encarar os dois.


- Mas Mione – Lizzie começou em seguida – Por que você resolveu fazer panquecas hoje?


- Fiquei com vontade! – dei de ombros.


- Vontade! – ela estava rindo divertida – Parece até que você está grávida.


Olhei atravessada para ela que continuou rindo.


Cerca de dez minutos depois, já estava tudo arrumado em casa e nos preparávamos para sair de casa.


- Harry! – chamei – Será que você pode me dar uma carona até a revista?


- É claro! – respondeu.


- Mas por que você quer ir com ele Mione? – Lizzie perguntou parecendo confusa – Eu estou indo para o mesmo lugar que você.


- Mas eu preciso que conversar uma coisa com o Harry – tinha certeza de que ela entendeu o que eu quis dizer.


- Certo! – concordou com a cabeça. Ela, realmente, entendeu.


Saímos do elevador e nos despedimos de Lizzie, que iria para a garagem. Logo chegamos ao Volvo prata e ele abriu a porta para que eu entrasse.


- Pode começar a falar o que você precisa falar comigo – pediu assim que se sentou no banco do motorista – Estou doida para saber o que é.


- Espera um pouco! – pedi, acho que ainda não estava pronta para falar – Você é muito curioso.


- Eu sei disso! – riu levemente – Parece que você não me conhece.


Passei o caminho todo em silêncio pensando o que eu iria dizer. Harry olhou para mim várias vezes, mas não disse nada. Retirei a carta do meu bolso e fiquei olhando para ela, essa era mesmo a melhor maneira de contar para ele.


- Chegamos! – avisou assim que parou o carro na frente do prédio – E você não me falou nada.


- Eu sei! – fiquei olhando para o lado de fora da janela - Não sei como te falar isso.


- É só falar – colocou a mão no meu ombro – Não precisa ficar nervosa.


Suspirei pesadamente e entreguei a carta para ele.


- O que é isso? – me olhou confuso.


- Eu escrevi para você – expliquei – Desse jeito era mais fácil de falar.


Deu de ombros e se preparou para desdobrar o papel, mas eu segurei a mão dele o impedindo.


- Espera! – falei – Lê só quando estiver no seu escritório.


- Está bem! – ficou mais confuso ainda – Mas por quê?


- É melhor assim! – deu de ombros.


- Tudo bem! – deu um beijo na minha bochecha – Depois a gente se fala.


- Depois a gente se fala – concordei com a cabeça, tinha certeza de que isso seria bem antes do que ele imaginava.


Fui diretamente para a minha sala, tinha muita coisa para fazer hoje. Não conseguia me concentrar direito no trabalho, não conseguia parar de pensar em Harry. Será que ele já tinha lido a carta? Qual será que foi a reação dele? Não sei se conseguiria esperar por muito mais tempo.


Já havia pesquisado grande parte do material para a minha matéria quando o telefone tocou. Não precisava atender para saber do que se tratava. Respirei fundo algumas vezes antes de retirar o telefone do gancho.


- Alô! – não seu por que, mas eu estava de olhos fechados.


- Senhorita Granger – ouvi a voz de Gina – O senhor Potter está na outra linha. Posso transferir a ligação?


- É claro! – respondi. Meu coração estava muito acelerado naquele momento.


- Está bem! – respondeu antes de eu perceber que a linha ficou muda.


Demorou alguns segundos para que eu voltasse a ouvir algum barulho no telefone.


- Mione? – ouvi a voz de Harry.


- Oi Harry! – sorri, ele não parecia chateado, isso era um bom sinal.


- Eu li a carta – foi direto ao ponto – Isso é mesmo verdade?


- Claro! – respondi simplesmente – Por que eu brincaria sobre uma coisa dessas?


- Acho que você tem razão – percebi que ele suspirou pesadamente.


- Você está chateado comigo? – resolvi perguntar logo – Sei que nós não estávamos esperando, mas eu não vou abortar.


- Eu nem quero que você faça isso – garantiu – O que faz você pensar que eu estou bravo com você?


- Tenho certeza de que você não estava planejando ser pai tão cedo – continuei, algumas lágrimas escaparam dos meus olhos.


- Você também não deve estar preparada para ser mãe, mas aconteceu – limpei um lágrima que caia da minha bochecha – Então nós vamos criar esse bebê juntos.


- Obrigada! – disse.


- Você não precisa me agradecer – garantiu – Eu também tenho 50% de culpa nisso.


Ficamos alguns minutos em silêncio.


- Será que eu posso te ver? – pediu – Agora?


- Eu estou um pouco ocupada aqui – expliquei – Preciso fazer a reportagem que vai ser capa da próxima edição da revista.


- Então está bem! – percebi que ele ficou ligeiramente chateado – Eu queria tanto te ver.


- Você acabou de me ver! – não pude deixar de rir – Me deixou aqui há menos de uma hora.


- Eu sei! – concordou – Mas eu não sabia que você estava grávida.


- Tudo bem! – dei de ombros – O que acha de almoçarmos juntos?


- Ótima idéia! – concordou – Abriu um restaurante aqui perto e a comida é maravilhosa.


- Eu adoro comida italiana – aquela conversa estava me deixando com fome – Adorei a idéia.


- Ótimo! – concluiu – Eu estarei ai para te buscar na hora do almoço.


- Vou estar te esperando – garanti – Até lá.


- Tchau Mione – disse antes de desligar o telefone.


Eu estava bem mais aliviada depois daquela conversa, mesmo assim, estava um pouco temerosa.


Meu maior medo era que Harry quisesse se casar só por que teríamos um bebê juntos, não queria ter o mesmo destino dos meus pais.


Quando a minha mãe engravidou era um pouco mais nova do que eu (ela tinha 19 anos) e a família dela a obrigou a se casar com o meu pai. Apesar dos dois serem namorados, não tinham certeza se queriam mesmo passar o resto da vida. O resultado foi que os dois acabaram se separando seis anos depois, e quem sofreu mais com isso fui eu e a Julie.


Eu não quero esse mesmo destino para os meus filhos, além disso, o casamento sem amor pode acabar com a nossa amizade.


Passei a mão pela minha barriga. Se o Harry quisesse me pedir em casamento, eu teria que dizer não.


O resto da manhã passou lentamente. Estava quase contando os segundos para chegar a hora do almoço.


Quando Gina avisou que estava indo almoçar resolvi arrumar as minhas coisas e ir também. Foi quando a porta da minha sala foi aberta, era Harry.


Ficamos nos encarando em silêncio por, cerca de, um minuto. Depois, ele se aproximou mais de mim sorrindo.


- Você está bem? – colocou a mão no me ombro.


- Estou ótima! – sorri junto com ele.


- Que bom! – colocou a mão sobre minha barriga – E não está sentindo nenhum enjôo?


- Já estou até acostumada! – dei de ombros – E o médico disse que logo vão passar.


- Não acredito que você foi ao médico e não me chamou – suspirou pesadamente – Queria muito ter ido com você.


- Eu ainda não estava preparada para contar a verdade para você – resolvi contar logo de uma vez – Mas terão outras consultas. E você vai poder ir em todas até que os bebês nasçam.


- Bebês? – acabei de me lembrar que não tinha contado para ele.


- É que! – me soltei dele e fui andando em direção da janela – São gêmeos.


- Gêmeos! – ele sorriu mais ainda – É melhor ainda do que imaginava. Dois bebês.


Ficamos mais alguns minutos em silêncio e nos abraçamos. Esse era um daqueles momentos em que não se precisava dizer nada.


- Você não precisava ter ficado com medo de me contar! – sussurrou no meu ouvido – Eu nunca ficaria com raiva de você.


- Eu sei disso! – respondi – Sei que fui idiota.


Ele segurou o meu rosto e passou o polegar levemente pela minha bochecha. Foi aproximando o rosto do meu, sabia muito bem o que ele queria fazer. Então eu desviei rapidamente o fazendo me beijar no rosto.


- Vamos almoçar? – pedi tentando desviar o assunto – Eu estou com fome.


- Vamos! – colocou a mão no meu ombro e fomos caminhando até a porta – Afinal, você e os bebês precisam se alimentar.


Ri levemente enquanto saiamos da sala.


Harry dirigiu por cerca de vinte minutos até chegarmos ao restaurante. Era um lugar maravilhoso. Assim que entramos, a recepcionista nos levou à nossa mesa.


- Aqui está o cardápio – disse colocando um na frente de cada um – O garçom já vem anotar o pedido de vocês.


- Concordamos com a cabeça antes de vê-la voltar para a porta do restaurante.


- Tem tanta coisa aqui – comentei enquanto passava os olhos pelo cardápio – Eu nem sei o que escolher.


- É verdade! – concordou com a cabeça rindo – Acho que eu vou pedir um Fettuccine com molho branco.


- Parece ser muito bom – comentei – E eu vou querer um Ravióli com cogumelos.


Menos de cinco minutos depois o garçom apareceu e fizemos os nossos pedidos. Ele anotou tudo e se retirou.


- Sabe Mione! – ele começou a falar enquanto olhava fixamente para a toalha da mesa – Eu andei pensando muito em como vai ficar a nossa situação agora.


- Eu também pensei muito sobre isso – respondi.


- Certo! – sorriu agora me encarando – Tenho certeza de que vai ser bom para os bebês terem a mãe e o pai por perto.


- E eles vão ter! – concordei com a cabeça – Eu nunca impediria você ver os nossos filhos.


- Nunca pensei que você pudesse fazer uma coisa dessas! – garantiu – Mas eu estava pensando em outra coisa. Quero dizer, eles merecem ter os pais morando na mesma casa.


- Morando na mesma casa! – engoli em seco – Você está me pedindo em casamento?


- Se você quiser! – deu de ombros, nós dois começamos a rir - Na verdade, eu só estava pensando em você ir morar lá em casa.


- Morar na sua casa? – tinha acabado de tomar um gole do meu refrigerante e engasguei – Você tem certeza? É isso mesmo que você quer?


- Nunca tive tanta certeza na minha vida – estava bastante sério enquanto encarava – Eu já planejei tudo. Você fica no quarto de hospedes e a gente pode arrumar o escritório e colocar os bebês lá.


- Você tem toda uma vida, eu não quero te atrapalhar – respondi – Além disso, eu divido o apartamento com a Lizzie. Ela precisa de mim com as despesas de casa.


- A gente conversa com ela – disse – Eu tenho certeza de que ela pode bancar o aparamento sozinha.


Concordei com a cabeça. Eu tenho certeza disso, mas eu estava querendo arranjar uma desculpa.


- Então Mione? – segurou a minha por cima da mesa – Você aceita ir morar comigo?


Respirei fundo tentando descobrir o que eu iria fazer. Nesse momento os nossos pedidos chegaram e isso iria me dar mais tempo para pensar.


O garçom foi embora e eu resolvi pegar um ravióli do meu prato. Percebi que Harry me olhava esperando uma resposta.


- É claro que isso não seria para sempre! – continuou – E quando você quiser, pode ir embora. Só acho que dessa maneira vai ser melhor para nós dois e para os nossos filhos.


- Acho que está tudo certo então – dei de ombros – Eu só queria uma semana para poder organizar tudo.


- Você terá a sua semana! – garantiu – Também vai ser bom para eu poder arrumar as coisas lá em casa.


- Ótimo! – concordei comendo mais um ravióli.


- Você não tem idéia do quanto estava me fazendo feliz – deu um rápido beijo na minha bochecha.


Terminamos de almoçar tranqüilamente. Logo depois, Harry pediu o cardápio mais uma vez.


- Vamos pedir a sobremesa? – perguntou.


- Eu preferi pular essa parte – pedi.


- Você sempre adorou doces – lembrou – Essa gravidez de deixou enjoada de doces.


- Não é isso, eu ainda adoro doces – ri levemente – Mas é que eu estou com um pouco de pressa, tenho tanta coisa para fazer no trabalho.


- Vai ser bem rápido – prometeu – Você precisa se alimentar direito. Está comendo por três agora.


- Por três? – arregalei os olhos espantada – Acho, que se depender de você, eu vou ficar uma baleia.


- Não é isso! – começou a rir – Só quero o bem para você e os bebês.


Acabamos pedindo dois sorvetes de chocolate. Então Harry me levou de volta ao trabalho e prometeu que estaria de volta na hora da saída para podermos ir juntos contar os novos planos para Lizzie.

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