Surpresa
Lavei o meu rosto e fiquei me encarando no espelho, estava muito pálida e com duas olheiras enormes. Já não bastava ter acordado tarde, ainda tinha esse enjôo horrível, já era a quinta vez que eu vomitava só nessa manhã. Durante a noite eu também passei mal, por isso não dormi direito.
Suspirei pesadamente e sai do banheiro. Comprei uma garrafa de água para ver se isso melhorava o meu estomago antes de voltar para a minha sala. Um pouco depois o meu telefone tocou.
- Senhorita Granger! – Gina disse do outro lado da linha – A senhorita Brown está aqui fora. Posso deixá-la entrar?
- É claro! – respondi na mesma hora.
Eu e Lilá no conhecemos quando estávamos na faculdade e não demoramos muito par virarmos amigas. Ela também trabalha aqui na Hogwarts Magazine e já fizemos várias matérias juntas (principalmente quando ainda éramos estagiarias).
- Mione! – ela disse quando entrou na sala.
- Oi Lilá – a abracei, nesse momento eu senti o cheiro do seu perfume e um enjôo subiu pela minha garganta – Eu já volto.
Corri pra o banheiro e vomitei mais uma vez. Eu realmente não entendo o que está acontecendo comigo.
- Desculpe! – disse depois que voltei – Eu estou um pouco enjoada desde ontem. E esse perfume que você está usando é um pouco forte.
- Forte? – estranhou enquanto cheirava o cabelo – Eu gostei desse perfume justamente por que ele é fraco. É da mesma marca que aquele que eu te dei no seu aniversário.
- Sério! – sentei na minha cadeira indicando a da minha frente para que ela fizesse o mesmo – Acho que ando muito sensível.
- Vai ver que você está grávida – comentou brincando, mas isso me assustou um pouco – A sua menstruação está atrasada?
- Na verdade está – fiz as contas na minha cabeça, não pode ser verdade – Mas eu nunca fui muito regular.
- Então acho que não precisa se preocupar com isso – é o que eu espero também – Mas imagina um bebê seu e do Comárco, ia ser muito fofo. Sem contar que, ele ficaria muito feliz.
- Eu me esqueci de comentar com você – comecei – Eu e Comárco terminamos.
- Sério? – pareceu bem triste – Quando isso aconteceu? E por quê? Pensei que vocês estavam bem sérios.
- Há um mês – respondi e me espantei com as minhas próprias palavras, não tinha visto o tempo passar – Foi uma grande besteira, mas não se preocupe que eu já superei isso tudo.
- É mesmo uma pena! – Lilá sempre disse que eu e Comárco formávamos um casal legal (acho que ela era única pensava assim) – Pensei que vocês dois fosse acabar se casando.
- Mas vamos parar de falar de mim! – aquelas lembranças estavam me deixando deprimida – Quando foi que você voltou de viagem?
- Ontem! – respondeu – As minhas férias só terminam na segunda-feira, mas eu tinha que vir aqui te contar a novidade,
- Novidade! – ela estava me deixando curiosa – Conta logo.
- O Dino me pediu em casamento – estava pulando de alegria – E eu quero muito que você seja a minha madrinha.
- É claro que eu aceito ser sua madrinha de casamento – respondi – Estou muito feliz por você amiga.
- Obrigada! – me abraçou – Quem sabe você não é a próxima para se casar.
- Acho meio difícil! – ri levemente – Nem pretendente a marido eu tenho.
- Você parece estar com cara de apaixonada! – comentou me observando – Depois você vai ter que me contar exatamente tudo que aconteceu.
- Está bem! – Harry foi a primeira coisa que veio na minha cabeça, mas eu não estava apaixonada por ele, pelo menos, eu acho.
- Eu ainda tenho que passar no mercado – disse olhando o relógio de pulso – Não tem nada em casa.
- Está bem! – me levantei – A gente se fala depois.
Sentei novamente na minha cadeira depois dela ir embora, a conversa com Lilá não saia da minha cabeça. Ainda não tinha pensado nessa possibilidade, mas eu podia estar mesmo grávida, só tinha uma maneira de descobrir e precisava fazer isso rápido.
- Gina! – comecei me aproximando da mesa dela, estava muito receosa – Será que você podia me fazer um favor.
- É claro! – balançou a cabeça afirmativamente – O que a senhorita quer?
- Quero que você vá até a farmácia – comecei enquanto entregava o dinheiro para ela – E compre três testes de gravidez.
- Teste de gravidez? – gritou um pouco alto demais.
- É! – sussurrei para que ela abaixasse a voz também – Mas ninguém pode ficar sabendo.
- Não vou contar para ninguém! – garantiu, mas eu tinha certeza de que ela estava muito curiosa, Gina sempre gostou de uma boa fofoca.
- E vai rápido, por favor! – disse – Quanto mais rápido eu tirar essa dúvida melhor.
Eu não conseguia prestar atenção em nada. Andava de um lado para o outro da sala e olhando para janela. Também fiquei olhando para o relógio a cada cinco segundos. Suspirei aliviada quando ouvi duas batidas na porta.
- Pode entrar! – disse me sentando, não podia parecer tão desesperada assim.
- Aqui está senhorita Granger! – ela disse colocando a sacola em cima da minha mesa.
- Obrigada Gina! – respondi.
Fui diretamente para o banheiro e fiz os três testes de uma vez e fiquei esperando o resultado. Os três deram “positivo”, acho que agora não tinha mais dúvida.
- Gina! – fui falar novamente com a minha secretária – Você acha que esses testes de gravidez são 100% confiáveis?
- Eu nunca fiquei grávida para saber! – riu levemente, mas depois ficou séria – Mas acho que, se deu positivo, é melhor você fazer um exame de sangue também.
- Tem razão! – concordei com a cabeça.
Voltei para a minha sala e fui fazer uma pesquisa, encontrei um laboratório de exames que ficava no meio do caminho entre a minha casa aqui. Também fui procurar alguma coisa sobre o exame de gravidez, era muito simples, nem precisava ficar em jejum, poderia ir lá hoje mesmo.
Consegui terminar de revisar os textos que eu recebi antes do almoço. Decidi ir fazer esse exame, já que se demorasse muito, eu não tinha nada para fazer mesmo. Avisei para Gina antes de sair.
Eu tinha verdadeiro horror de tirar sangue, mas isso era extremamente necessário. Para minha sorte, foi tudo muito rápido, o resultado só sairia no dia seguinte, o jeito era esperar.
Passei o resto da tarde tentando me distrair, estava muito nervosa com as expectativas. Será que eu estava grávida? Isso vai mudar toda a minha vida.
Às seis da tarde, como todos os dias, encontrei Lizzie na recepção do prédio para podermos voltar para casa.
- Oi Mione! – ela me abraçou – Vamos?
- É claro! – balancei a cabeça afirmativamente – Eu estou cansada.
- Hoje é sexta-feira! – me lembrou – Nós temos que sair para nos divertir.
- Hoje não! – suspirei pesadamente – Estou com vontade de ficar em casa.
- Você está sempre com vontade de ficar em casa! – comentou – Mas eu sempre acabo te convencendo.
- Mas dessa vez não! – garanti.
Passamos mais da metade do caminho em profundo silêncio. Quando Lizzie parou em um sinal vermelho, ela ficou me encarando.
- O que foi? – perguntei quando percebi que ela estava me olhando.
- Você está estranha hoje Mione! – disse – O que houve?
- Não é nada! – engoli em seco – Só estou cansada por que tive muito trabalho hoje.
- Nós duas somos amigas há tanto tempo – me lembrou – Sabe que pode confiar em mim com qualquer coisa.
- É claro que eu sei! – confirmei – Mas eu não vou falar nada, porque não aconteceu nada.
Ela suspirou pesadamente antes, mas não disse mais nada, pois o sinal abriu. Lizzie está desconfiando de mim desde aquele dia em que cheguei de manhã cedo da casa do Harry.
- Acho que eu vou deitar um pouco! – avisei assim que chegamos em casa.
- Está bem! – deu de ombros, mas ainda estava me olhando com aquele olha acusador – Quer que eu faça o jantar hoje?
Pensei durante alguns minutos. Era eu quem sempre cozinhava em casa (eu tive que aprender vários pratos diferentes morando com um pai e uma irmã que não sabiam nem ferver água), mas hoje eu, realmente, não conseguia nem pensar em entrar naquela cozinha.
- Esta bem! – concordei.
Deitei na minha cama e fiquei encarando o teto. Inconscientemente eu passei a mão na minha barriga e sorri.
- Será que tem mesmo alguém ai dentro? – eu sei que parecia uma idiota falando sozinha, mas eu estava meio boba com a idéia de ser mãe – Se, realmente, tiver, me de um sinal.
Eu me arrependi dessas palavras logo em seguida. Comecei a sentir enjôo e corri até o banheiro. Consegui voltar para o quarto sem que Lizzie percebe-se alguma coisa.
- Será que isso foi um sinal? – sentei na cama e abracei as minhas pernas – Só devo estar impressionada. É bobagem minha ficar pensando isso.
Cerca de meia hora depois eu estava quase dormindo quando Lizzie entrou no local.
- Mione! – ela sussurrou me fazendo abrir os olhos bem devagar – Eu fiz uma salada que parece estar maravilhosa. Vamos jantar?
- Pode ir você – avisei – Eu não estou com fome.
- Tem certeza? – me olhou em dúvida.
- Sim! – concordei com a cabeça – Eu estou um pouco enjoada.
- É isso que acontece quando se vive comendo besteira – revirou os olhos – Eu já te disse isso milhares de vezes, mas você parece que não quer me ouvir.
- Não estou com vontade de ouvir sermão hoje – suspirei pesadamente.
- Está bem! – concordou – Espero que você melhore.
Um pouco mais tarde, fui até a cozinha tomar um copo de leite e dormi logo em seguida. Como no dia seguinte era sábado, eu não precisava acordar cedo, mas eu estava tão ansiosa para saber o resultado do exame, que não consegui ficar muito tempo na cama.
Para a minha grande surpresa, quando eu cheguei na sala, Lizzie já estava acordada.
- Caiu da cama? – ri me sentado ao lado dela no sofá.
- Tive algumas idéias e não conseguiria descansar enquanto não colocasse no papel – explicou enquanto me mostrava um bloco de notas em que ela desenhava um vestido – Não é lindo?
- Muito! – concordei, ele sempre desenhou roupas maravilhosas.
- Quando você se casar com o Harry – começou enquanto pegava rabiscava mais um pouco – Você poderia usar esse vestido.
- Você é impossível Lizzie – revirei os olhos – Já disse milhões de vezes que eu não tive nada com o seu irmão e nunca terei.
- Nunca diga nunca Mione – completou – Mas e você? Por que acordou cedo.
- Preciso fazer uma coisa! – respondi – E quero ir logo.
- Então está bem! – deu de ombros.
Fui até a cozinha peguei uma torrada, que eu comi rapidamente antes de sair de casa.
Peguei a minha picape. Não demorou muito para eu chegar ao laboratório. O local estava praticamente vazio, exceto por uma mulher sentada atrás do balcão.
- Bom dia! – a cumprimentei – Eu vim aqui pegar o resultado e um exame de gravidez.
- O seu nome? – perguntou enquanto mexia em alguma coisa no computador.
- Hermione Jane Granger! – eu disse ao mesmo tempo que a mulher digitava no teclado a sua frente.
- Aqui está! – falou um minuto depois – Eu já volto.
Ela saiu passando por uma porta. Não demorou muito para ela voltar com um envelope na mãe e me entregou.
- Obrigada! – respondi antes de sair do local.
Entrei no meu carro e fiquei encarando o papel em minhas mãos, que estavam tremendo.
- Vamos lá Mione! – disse tentando criar coragem – É só você abrir.
Consegui abrir, mas, logo depois, eu o fechei novamente.
- Por que eu estou com tanto medo – fiquei me encarando pelo espelho retrovisor – O pior que pode acontecer é dar mesmo positivo. E eu vou ter que aprender a conviver com isso.
Acho que não me surpreendi muito quando vi que o resultado era mesmo positivo e não me abalei tanto quanto pensei também. Minha primeira reação foi colocar a mão na barriga, agora com 100% de certeza de que tinha alguém ali dentro.
- Não se preocupe meu filho, a mamãe não vai deixar nada te acontecer – disse de uma maneira tranqüilizadora – E se o seu pai não te quiser, eu vou te criar sozinha.
Tenho certeza de que Harry não vai me deixar na mão quando souber que vamos ter um bebê, mas eu não sei quando vou ter coragem de contar para ele. Ainda preciso de um tempo para me preparar. Resolvi voltar para casa.
- Oi Mione! – Lizzie ainda estava trabalhando no seu desenho de vestido de noiva – Conseguiu resolver o seu problema?
- Resolvi! – não conseguia retirar os olhos daquele papel nas minhas mãos.
- O que é isso? – retirou o objeto, eu não pude dizer mais nada.
Ela leu atentamente o exame e depois ficou me olhando sem dizer mais nada.
- Você está grávida Mione? – ela praticamente gritou, ainda em choque.
- É o que diz ai não é? – dei de ombros me sentando no sofá – O que eu ganharia falsificando um exame.
- Mas você me disse ainda era virgem – lembrou – Ou, por acaso, você e o Comárco fizeram alguma coisa antes de terminarem,
- Esse bebê não é do Comárco! – balançou a cabeça negativamente – É do Harry.
- Eu sabia! – ela tinha um sorriso vitorioso nos lábios – Sabia que estava acontecendo alguma coisa entre vocês dois.
- Nós não estamos juntos! – suspirei pesadamente – Será que você me deixa explicar.
- Tudo bem! – colocou a mão no meu ombro – Pode contar.
- Naquele dia em que você estava desconfiada de mim e do Harry e eu disse que não estava acontecendo nada? – ela balançou a cabeça afirmativamente – Você estava certa. Realmente estava acontecendo alguma coisa.
Então eu contei para ela tudo que aconteceu naquela noite no apartamento do Harry e no dia seguinte também.
- Uau! – ela disse logo depois que eu terminei a história – Nunca poderia imaginar que era isso que estava acontecendo,
- Pois é! – concordei – Mas isso não vai mais acontecer. Somos só amigos mesmo.
- E o que você vai fazer agora? – quis saber – Você não está pensando em tirar o bebê, não é?
- É claro que não! – fiz uma careta só de pensar nessa possibilidade – Essa criança não tem culpa por eu e o Harry termos sido irresponsáveis.
- Ainda bem! – suspirou aliviada – E quando você vai contar para o Harry.
- Eu sei que tenho que fazer isso logo – concordei – Mas eu ainda não estou preparada.
- Sabe que ele tem o direito de saber – eu detestava quando ela falava desse jeito, principalmente por estar certa.
- Eu e o Harry combinamos que não iríamos mais conversar sobre aquela noite - lembrei – O que ele vai pensar quando eu voltar a comentar sobre o que aconteceu?
- É lógico que ele vai entender – respondeu – Você está esperando um filho dele.
- Deixa-me pensar um pouco! – pedi – Preciso de umas duas semanas, nada mais que isso.
- Duas semanas! – concordou bem séria – Depois disso, se você não contar para o Harry, eu conto.
Nesse momento a campainha tocou e nós duas ficamos em silêncio nos encarando. Então Lizzie foi abrir a porta.
- Harry! – dissemos ao mesmo tempo.
- O que vocês vão contar para mim? – ele quis saber – Ouvi a Lizzie falando quando eu saí do elevador.
Nos encaramos novamente, não sabíamos o que diríamos para ele.
- É que a Lizzie fez uma salada deliciosa ontem – comecei a falar a primeira desculpa que veio na minha cabeça – E ela queria que você provasse também.
- Certo! – não sei se ele acreditou nisso, mas eu tentei – Então pode fazer, eu estou bem aqui.
- Então está bem! – ela disse antes de ir para a cozinha.
Harry sorriu para mim antes de se sentar no sofá. Eu retribui o gesto e fui para o seu lado.
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