A passagem secreta



-Essa noite foi das bravas. –Comentou Tiago limpando o rosto. Eram cinco e meia da manhã, o único horário que eles puderam deixar a casa dos gritos: quando o sol começou a nascer.


-Pobre Aluado, deve estar morto de cansaço. –Falou Rabicho


-Coitado do Aluado? Ta zaundo né? Pelo menos ele pode ficar lá na casa dos gritos a semana inteira, dormindo e sei lá o que, agente tem que voltar todo dia e ficar acordados assistindo as aulas. –Disse Tiago sacudindo os cabelos.


-Essa noite foi das bravas. –Comentou Tiago limpando o rosto. Eram cinco e meia da manhã, o único horário que eles puderam deixar a casa dos gritos: quando o sol começou a nascer.


-Pobre Aluado, deve estar morto de cansaço. –Falou Rabicho


-Coitado do Aluado? Ta zaundo né? Pelo menos ele pode ficar lá na casa dos gritos a semana inteira, dormindo e sei lá o que, agente tem que voltar todo dia e ficar acordados assistindo as aulas. –Disse Tiago sacudindo os cabelos.


-Para de reclamar Pontas, você adora as semanas de lua cheia. –Concluiu Sirius. Tiago abriu um sorriso concordando com o amigo.


Os três marotos acabaram de lavar o rosto no banheiro do primeiro andar e voltaram para a Grifinória sem que ninguém os visse (usando a capa e o mapa do maroto). Não que isso tenha sido difícil, há essa hora a escola estava deserta. Ao chegar ao quadro da mulher gorda ela insistiu para que eles dissessem o que estavam fazendo a essa hora, mas eles apenas a ignoraram como de costume. Sirius levou a mão aos bolsos para conferir se não tinha deixado nada para trás e felizmente encontrou sua varinha segura no bolso direito. Mas então...


-O espelho!


-Que espelho? –Perguntou Rabicho


-Nosso espelho Pontas! O espelho de dois lados!


-O que? Você perdeu?-Perguntou Tiago preocupado.


-Devo ter deixado cair quando agente corria do Apolíneo... Que droga!


-Calma. Agente recupera o espelho. Vamos fazer o seguinte: Amanhã, antes da aula de transfiguração, eu dou um jeito de distrair o Apolíneo e você vai até a sala dele e pega. São só dez minutos antes de a aula começar, vamos ter que ser rápidos.


-Ta bom, agente consegue. –Não era a primeira vez que eles faziam isso e nunca tiveram problemas em entrar na sala do zelador para recuperar (ou encontrar) objetos mágicos. O espelho de dois lados era um espelho enfeitiçado que tinha um par. Um espelho ficava com Sirius e o outro com Tiago, assim, podiam se comunicar através deste, já que os dois espelhos revelavam a imagem um do outro.


Ao entrarem no salão da Grifinória, Pedro foi direto para o dormitório, aproveitar a única hora de sono antes das aulas do dia começarem. Tiago o seguiu, desabando na cama do jeito que estava - de sapatos e tudo. Sirius, porém não estava com sono. Sentia-se cansado é claro, mas não iria conseguir dormir naquela única hora, estava realmente preocupado com o espelho... E se ele tivesse caído quando ele trombou com Lyra? E também tinha Lyra... O que será que ela estava fazendo lá fora naquela hora? Será que ela tinha visto Sirius e Tiago se transformarem? Ele teria que descobrir tudo isso hoje e o mais rápido possível.


Os alunos foram se levantando aos poucos, a partir das sete horas. Sirius, sentado no sofá de frente a lareira, assistiu todos os alunos se retirarem para o café da manhã vagarosamente. Quando Tiago saiu, ele se levantou e os dois desceram juntos para o salão comunal. Ao chegarem Tiago começou a devorar algumas torradas, mas Sirius observava as garotas do outro lado da mesa, e no meio delas estava Lyra – completamente entediada mexendo o café com uma colher flutuante, controlada por sua varinha. Ela tinha pequenas olheiras sobre os olhos, os cabelos soltos balançando de vez em quando com a brisa suave que entrava pela porta de carvalho. O teto enfeitiçado do castelo revelava um céu cinza tempestuoso, completamente nublado, que combinava perfeitamente com os olhos cinzentos de Lyra.


-Já volto. –Disse ele para Tiago, que só ergueu os olhos com curiosidade e voltou a devorar seu café da manhã.


Sirius deu a volta por trás, passando ao lado da mesa de Corvinal e chegando a outra ponta da mesa de Grifinória. Ele parou bem atrás de Lyra –que ainda não tinha o visto- e com uma mão, tampou seus olhos. Na mesma hora Lílian revirou os olhos. Alexandra Bell fez menção de exclamar o nome de Sirius com um pequeno “Si...” interrompido quando ele levou a mão livre à boca em um gesto de silêncio.  Lyra se endireitou no banco com os olhos tampados e perguntou:


-“SI”? O que você quer dizer com “Si”?... PELAS BARBAS DE MERLYN SIRIUS BLACK TIRA ESSA MÃO NOGENTA DO MEU ROSTO AGORA! –Ela gritou para ele chamando a atenção de inúmeros alunos.


-Calma lindinha, não era pra ficar nervosa, ok?-Disse ele rindo e tirando a mão dos olhos de Lyra.


-O que você quer? –Perguntou ela secamente enquanto uma nuvem negra pareceu surgir em seus olhos, que escureceram instantaneamente.


-Conversar com você... Sobre nosso segredinho de ontem à noite. –Respondeu Sirius sorrindo mais ainda agora que despertara a curiosidade de todos, principalmente das garotas presentes.


-Calma Lily, você sabe que eu nunca faria o que você está pensando. –Falou Lyra olhando a cara de choque e repulsa da amiga ruiva. –Não temos nada pra conversar Black.


-Então eu posso contar pro Tiago e os outros? –Insinuou Sirius fingindo desinteresse. –Se é o que você quer então...


-Não! Er... Droga. Eu já volto meninas... –Ela lançou um olhar assassino a Sirius e se levantou indo para o canto do salão, onde ninguém pudesse ouvi-los apesar de todos estarem olhando.


-O que você quer Black? –Perguntou ela novamente.


-Saber o que você estava fazendo lá fora àquela hora, como eu não consegui te ver até trombar em você e porque ficou tão aflita que Tiago descobrisse.


-Feitiço da desilusão. –Respondeu ela sustentando o olhar de Sirius. Ele deu passo pra frente diminuindo a distancia entre os dois para poucos –e perigosos- centímetros.


-E as outras duas perguntas? –Sussurrou ele no ouvido de Lyra enquanto via a pele do pescoço dela arrepiar.


-Não vou responder. –Disse Lyra dando um passo pra trás.


-Ah você vai sim, porque você não quer que ninguém fique sabendo não é? –Chantageou ele. Ela o olhou com a mais absoluta indignação e depois sorriu - um sorriso sexy e travesso simplesmente irresistível. Ela se aproximou novamente de Sirius e sussurrou em seu ouvido.


-E nem você quer que todos fiquem sabendo que você e seus três amiguinhos estavam do lado de fora na hora do jantar... E então, chegou a tempo de assistir a transformação? –Insinuou ela com seu sorriso sedutor se afastando um pouco para ver a expressão de Sirius. Dessa vez ele sentiu os pêlos da própria nuca se arrepiarem com a proximidade de Lyra e ao sentir sua respiração em seu pescoço. Ele precisou de um momento para recuperar a consciência e entender o que Lyra tinha dito.


-Você... Você viu? –Perguntou ele com o cenho franzido.


-Não, ouvi Tiago falar quando você “tropeçou”. Mas tenho certeza que posso descobrir o que era. E onde está o Lupin? Não o vi no salão da Grifinória e ele obviamente não está tomando café. –Ela ergueu uma sobrancelha enquanto sorria para Sirius. –Eu não faço perguntas, você também não e nós dois ficamos satisfeitos. –Concluiu ela se virando para voltar à mesa, mas Sirius segurou seu pulso e falou:


-Mas você me deve uma por eu ter te acobertado ontem à noite. E eu não vou me esquecer. –Os dois trocaram mais um olhar de entendimento e Lyra livrou seu braço da mão de Sirius com repulsa, juntando-se novamente a suas amigas.


Sirius caminhou para a outra ponta da mesa tentando tirar o sorriso de Lyra de sua cabeça e também a sensação de sua respiração quente em seu pescoço. Ele sacudiu a cabeça com força. O que estava acontecendo com ele? Então se sentou novamente ao lado de Tiago que o encarava com curiosidade e meteu um biscoito inteiro na boca.


Logo depois do café da manhã eles rumaram para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. O professor Stylin já aguardava na sala com as janelas abertas e uma leve brisa entrando por elas. Tiago rumou para o fundo da sala, seguido por Sirius e eles se sentaram nas últimas carteiras.


-Não acham melhor agente sentar um pouco mais a frente? –Sugeriu Pettigrew.


-Rabicho, deixa de ser chato e senta logo. –Respondeu Tiago. E assim ele sentou na frente de Sirius com um olhar de arrependimento. Sirius tirou um pedaço de pergaminho da mochila juntamente com sua pena favorita (vermelha de ponta dourada, dada por Tiago) e um tinteiro. Ele molhou a ponta da pena e começou a escrever.


Caros Pontas e Rabicho,


Tenho inúmeras razões para suspeitar de nossa belíssima colega de sala, Lyra Dellabatti. Não pelo fato de ela ter vindo de uma família de frios assassinos e comensais da morte (se essa fosse a razão, teria de suspeitar de mim mesmo), mas por um estranho encontro que tive com ela. Prometi a Lyra não dizer nada nem sequer a Pontas, então finjam não saber de nada.


Ontem à noite, enquanto caminhávamos para o salgueiro lutador, eu trombei em algo. (Você deve se lembrar disso Pontas). Mas quando observei melhor, ninguém menos que Lyra surgiu a minha frente, antes coberta por um feitiço da desilusão. Eu não podia entregar-lhe se quisesse realmente saber o que ela estava fazendo, então fiquei calado e pretendia usar esse sigilo como chantagem para descobrir o que era. Porém, devido a alguns fatos, o feitiço se virou contra o feiticeiro e agora eu não só continuo curioso, mas também tenho um enorme problema: ela está prestes a descobrir sobre Aluado.


Tive de escrever tais acontecimentos já que eles não podiam ser escutados por ninguém.


Preciso do conselho de vocês marotos, sobre como apagar essa informação da mente de Lyra e como arrancar-lhe seu segredo.


 


Ele passou o pergaminho primeiro a Rabicho, já que tinha medo da resposta de Tiago. Rabicho foi arregalando os olhos a cada linha, virou o pergaminho e escreveu pouco. Passou o papel a Tiago. Tiago leu com desaprovação, e diferente de Rabicho, escreveu muitas palavras antes devolver o pergaminho ao remetente. A primeira letra era a de Rabicho.


 


Almofadinhas,


Isso não é nada bom. Suponho que um feitiço da memória. Esqueça, péssima idéia. Talvez um... Ah, não sei o que fazer. Pontas?


 


A resposta de Tiago vinha logo abaixo.


 


Almofadinhas,


Estou extremamente desapontado. Como pode ser chantageado por ela? De todos nós, eu só não esperava algo do gênero de você. Você foi seduzido almofadinhas, e como eu sou experiente nessa área, sei como te ajudar. Ela tem poder sobre você então o único jeito de reverter à situação é encontrar algo realmente valioso sobre ela (um grande segredo, por exemplo) com o qual possa se aproximar de nossa querida amiga e manter o jogo da chantagem. Só que desta vez, você tem que ganhar.


Quanto ao problema de Aluado temos pouquíssimas soluções:



  • Podemos contar tudo a ela e explicar como é importante que a mesma mantenha segredo.

  • Podemos convencê-la de que ela se confundiu.

  • Podemos usar um feitiço da memória como disse Rabicho, mas não acho que seja uma boa idéia porque se ela esquecer isto também esquecerá que você se esbarrou com ela e será dificílimo chantageá-la diante disso.


Decepcionado e inconsolável – Pontas.


 


Sirius não pode conter o riso ao ler as últimas palavras de Tiago. O Prof. Stylin se virou imediatamente e lançou um olhar de desgosto a Sirius.


-Senhor Black, o que é isso em suas mãos?


-Um pergaminho professor. –Respondeu ele tentando conter o riso.


-E porque este pergaminho está escrito, se ainda não ditei nada para os alunos?


-Porque eu estava escrevendo uma carta professor.


-Se importa de lê-la para toda a classe, senhor Black?


-Na verdade, me importo sim.


-Então eu farei isso para o senhor. –Stylin atravessou a sala com seus passos curtos de pernas pequenas que combinavam perfeitamente com sua estatura baixa e barriga saliente. Todos os alunos –inclusive Lyra- encaravam Sirius agora. Tiago gargalhava silenciosamente e gostosamente na carteira ao lado. Ao ver o professor se aproximando Sirius pegou a varinha e murmurou “Incêndio” para o pergaminho a sua frente, que com a mesma velocidade que entrou em chamas, essas se apagaram e o pergaminho se reduziu a cinzas antes mesmo que o professor pudesse alcançar a carteira.


-Como ousa? –Rugiu o professor espantado enquanto os outros alunos continham risadinhas.


-Ah... –Começou Sirius.


-E se você não conseguisse conter o fogo Black? O que pretendia fazer? Incendiar todos nós? –Continuou Stylin gritando.


-Ah eu tinha certeza que conseguiria conter. –Mais risadinhas. Quatro carteiras à frente Lyra revirou os olhos e Lílian murmurou “Metido”.


-Ah claro, você tem certeza. –Stylin semicerrou os olhos. –Apesar da minha certeza de que nem você nem seus amigos estavam prestando atenção a minha explicação, quero que prove que é assim tão capaz. Porque você e o senhor Potter não vêm à frente e fazem uma pequena demonstração de um duelo silencioso? –Sugeriu o professor com um olhar presunçoso. Sem dúvida ele pensava que Sirius iria se desculpar e dizer que não era capaz de realizá-lo. Mas ele estava enganado.


-Com prazer. –Respondeu Sirius pondo-se de pé. Assim também fez Tiago com um sorriso travesso.


Os dois caminharam até a frente da sala e Sirius foi até o ouvido de Tiago e com agilidade murmurou o feitiço que iria realizar e com a mesma velocidade escutou o que feitiço que o amigo iria se proteger. Sirius erguer a varinha, o mesmo fez Tiago. Em seus pensamentos, Sirius disse “Expelliarmus” e um jato de ar saiu de sua varinha, mas não teve efeito, já que diante de Tiago surgiu imediatamente um campo protetor esbranquiçado. Os dois se viraram para a turma e, sorridentes, fizeram uma reverência teatral. Os alunos riram e aplaudiram (com exceção de Lyra e Lílian) e o professor encarou-os com severidade.


-Pettigrew, uma hora de detenção amanhã por alienação ao processo educativo. Potter, duas horas pela mesma razão e por impertinência. Quanto a você Black, acho que tirar a sua noite de sábado será suficiente para aprender como tratar a autoridade. –Vociferou Stylin indicando com um gesto os lugares de Sirius e Tiago para eles se sentarem antes de continuar a aula. Os dois não reclamaram, apenas caminharam para o fundo da sala.


Então no meio do caminho Sirius sentiu uma mão fria e delicada segurar-lhe pelo pulso. Ao se virar Lyra puxou o braço de Sirius para si e fazendo-o se aproximar, sussurrou em seu ouvido:


-Acho que vai perder a transformação de sábado. Tenho certeza que Lupin sentirá sua falta. –Ela sorriu e fez beicinho, fingindo ter pena de Black.


-Ah, obrigada pela lembrança minha linda. –E se inclinou para beijá-la. Ela empurrou-o para trás e fez cara de nojo enquanto Sirius voltava para seu lugar com um sorriso confiante.


Porém, quando se sentou as palavras de Lyra o chicotearam. “Acho que vai perder a transformação de sábado... Lupin sentirá sua falta.”. Merda. Sirius não tinha falado com ela nada sobre sábado, nem Tiago havia mencionado na noite anterior e não havia nenhum meio dela ter descoberto que a transformação se repetiria sábado. Há não ser que ela soubesse... Sábado era a última noite de lua cheia. Merda. Merda. Merda. Se Lyra suspeitava de alguma coisa, Sirius tinha acabado de confirmar tudo.


-Merda.


-O que? –Sussurrou Tiago tentando evitar outra detenção.


-Ela sabe.


-Tudo?


-Sobre Aluado sim, sobre nós ainda não.


-Cara como deixou isso acontecer? –Censurou Tiago. Mas eles pararam de conversar para copiar o que Stylin tinha começado a ditar. Sirius espiou a garota quatro carteiras a sua frente que sorria satisfeita. Ela o manipulara pela segunda vez em um dia. Será que tinha algo errado com Sirius? Ou ela simplesmente era uma manipuladora nata que só se revelara agora? A segunda opção era mais provável já que em termos gerais (meninas babando por ele, amigos inseparáveis, inteligência...) ele continuava o mesmo.


O cenho de Sirius se enrugou com esse pensamento. Apesar de ela estar causando muitos problemas, Sirius não podia deixar de admirá-la por um trabalho tão bem feito. Lyra era muito inteligente, ele já sabia, mas nunca tinha percebido como ela era realmente única. Desde o momento em que ela pisou na escola (no terceiro ano) Sirius ficou impressionado - tanto com sua beleza quanto com o fato de que ela não dava a mínima para ele e exatamente por ser ignorado ele nunca se interessou muito por persistir em uma paixonite, temendo ficar igual Tiago. Mas agora tudo mudara: o fato dela o ignorar completamente só a deixava mais e mais irresistível.


O resto do dia passou quase monótono. Tiveram mais um horário de Defesa Contra asa Artes das Trevas, um horário de Poções com o Prof. Jones –Slughorn era só para os alunos do N.I.E.M’s- herbologia, adivinhações e uma aula teórica de astrologia. Assim que as aulas terminaram Pettigrew e Potter foram para a sala de Stylin cumprir a detenção e Black –pela terceira vez na vida- foi para a biblioteca. Se existisse algum segredo sobre Lyra era mais provável que fosse um segredo familiar, o que ele esperava encontrar na quase-não-visitada biblioteca.


-Dellabatti... –Murmurou ele para si mesmo enquanto vasculhava as estantes.


-Chamou? Ah... É você. –Sirius quase deu um pulo de susto quando Lyra surgiu na ponta do corredor carregando alguns livros. Mas assim que viu Sirius, ela se virou para ir embora.


-Lyra, eu... Não sabia que você... É... Estava aqui. –Gaguejou ele.


-Não sabia? Então porque estava me chamando? –Ela encarou Sirius por um momento, semicerrou os olhos e depois correu o olhar para o alto da estante onde Sirius procurava um livro, a estante de letra “D”. –Você por acaso estava tentando descobrir algo sobre mim?


-Eu? Tsc. Claro que não... Porque eu iria...


-Então está olhando na seção errada. –Ela o interrompeu. –Dellabatti é o sobrenome de minha mãe, que é Francesa, então não vai encontrar quase nada sobre ele aqui. Mas Moriarty é Inglês, do meu pai, então talvez encontre mais informação. Mas eu sugiro que procure na seção de Biografias, em bruxos estrangeiros e vá até a prateleira Suíça, morei lá até os treze. –Ela sorriu e voltou para sua escrivaninha. Sirius, boquiaberto e espantado com a reação de Lyra ficou encarando a garota por um momento. Então, correu até ela, puxou uma cadeira e se sentou ao seu lado, fazendo a garota soltar um suspiro de tédio.


-Quer dizer que você é Suíça? –Perguntou Sirius.


-Não seu idiota. Sou Inglesa. Minha mãe estava no país para resolver alguns assuntos e conheceu meu pai. Dois puros-sangues de famílias famosas e poderosas, da pra imaginar não é? Tiveram um casamento muito feliz na França, onde nasceu meu irmão, Craig. Mas quando ele tinha seis anos meus pais acharam melhor trazê-lo para a Inglaterra e nesse meio tempo eu nasci. Mas então os Moriarty começaram a ser caçados por alguns assassinatos e eles acharam melhor ir para bem longe. Foram para a Suíça, onde eu cresci e vivi até dois anos atrás.


Lyra falou tudo isso sem despregar os olhos do livro e com uma naturalidade assustadora para quem admite ter uma família de assassinos procurados. Sirius a encarou por alguns segundos antes de perguntar:


-E porque voltaram pra Inglaterra?


-Voltaram não, voltei. Eu vim sozinha.


-Como assim veio sozinha? Sua família ainda mora na Suíça?


-Isso. –Respondeu ela virando a página e continuando a leitura.


-Por quê? Seus pais mandaram ou você quis?


-Não é da sua conta.


-Ah qual é lindinha, não custa nada me contar... –Disse Sirius acariciando o rosto de Lyra. Ela afastou a mão dele com um tapa e o olhou nos olhos pela primeira vez desde que Sirius se sentara ali –seus olhos negros tinham um brilho maligno que fez Sirius pensar nas pobres pessoas mortas pelos Moriarty.


-Não me chame de lindinha. –Depois de uma pequena pausa ela continuou. –Já não está na hora de juntar seus amiguinhos e ir ver o Lupin? Dizem que a segunda noite é tão ruim quanto à primeira.


Isso fez Sirius retornar a realidade. Realmente o sol já começara a se pôr e sem dúvida Tiago e Pedro já tinham saído da detenção.


-Temos que conversar sobre isso mais tarde. –Disse Sirius seriamente. Ela sorriu para ele antes que ele deixasse a biblioteca e subisse para o salão da Grifinória o mais rápido que podia. Os amigos já o aguardavam.


Essa noite foi mais fácil que a anterior em vários sentidos: chegar à casa dos gritos era bem mais simples (Sirius e Tiago embaixo da capa e Pettigrew como um ratinho); Lupin estava sendo um lobisomem bem mais tranqüilo não só por causa da poção, mas também porque a lua se manteve encoberta por nuvens durante bastante tempo; não encontraram nem uma sombra humana durante toda a divertida noite perambulando pelo povoado e pela floresta; e por fim, a transformação só durou até as três da madrugada, quando os marotos –inclusive Lupin- voltaram exaustos ao dormitório e desabaram em suas devidas camas.


Na manhã seguinte os quatro se encontraram no café da manhã, ainda com olheiras profundas e Lupin com a aparência extremamente adoentada. Lílian foi até ele discutir alguns assuntos de monitor, mas se interrompeu e preocupada dizendo “Não acha que você deveria ir até a enfermaria?” Lupin agradeceu a sugestão e seguiu com os amigos para a aula de Trato das Criaturas mágicas, onde eles aprenderam um pouco sobre filhotes de unicórnio. No fim dessa aula Potter e Black correram pelos jardins da escola e com um sorriso confiante se separaram no segundo corredor do castelo.


O plano já estava bem decidido: Potter iria quebrar e derrubar o máximo de coisas possíveis no primeiro andar, atraindo o zelador e em seguida se esconderia sob a capa, enquanto Black corria até o segundo andar, invadia a sala de Apolíneo e recuperava o espelho. Sirius já estava na metade do segundo lance de escada quando começou a ouvir o barulho de coisas se espatifando. Ao alcançar o segundo andar seguiu por alguns corredores fazendo o som das coisas se quebrando se tornarem cada vez mais baixo. Ao chegar à sala do zelador Black espiou o mapa do maroto, encontrando o pontinho “Apolíneo” correndo pelo primeiro andar. Sirius tinha pouco tempo.


Ele empurrou apressadamente a porta de madeira da sala de Apolíneo e quase caiu pra trás ao ver alguém surgir de trás da escrivaninha do zelador. A pessoa, antes agachada, levou as mãos à boca, obviamente tão assustada quanto Black.


-Pense que fosse Apolíneo! –Exclamaram os dois ao mesmo tempo. A voz macia e sedutora encheu os ouvidos de Black e ele finalmente conseguiu focar os olhos naqueles lindos cabelos negros caídos sobre os ombros.


-Dellabatti! O que você está fazendo aqui? Pensei que fosse uma menina certinha...


-Ha ha. –Ela riu sarcasticamente se agachando novamente e voltando a vasculhar uma gaveta da escrivaninha.


- O que está procurando? –Perguntou Sirius.


-Um canivete. Apolíneo o confiscou de mim quando cheguei a Hogwarts.


-E porque ele confiscaria isso?


-Porque é um canivete mágico capaz de abrir qualquer porta. –Disse ela. –Alorromora. –Ela lançou o feitiço na próxima gaveta e recomeçou sua busca.


Sirius caminhou até o armário de gavetas no canto direito. Ele conhecia essa sala quase tanto quanto seu próprio quarto. Ele sabia, por exemplo, que os objetos encontrados ficavam na primeira gaveta.


-Alorromora. –Disse ele e quando a gaveta se abriu ele recuperou o espelho. Sirius também sabia que os objetos confiscados ficavam na última gaveta. –Alorromora. –Murmurou ele mais uma vez. Empurrou alguns objetos e logo encontrou um canivete antigo. Pegou-o e parou e se sentou na escrivaninha onde Lyra ainda procurava o canivete que ele tinha nas mãos. –Esse aqui? –Perguntou Sirius girando o canivete entre os dedos.


Lyra tomou-o das mãos de Sirius e o guardou no bolso interno das vestes.


-Obrigada. Como sabia onde estava? –Ela perguntou com intensa curiosidade. Sirius sorriu e abriu a boca para responder, mas antes que o fizesse ele escutou uma voz do lado de fora.


-Quebrando coisas, desmontando as armaduras... Agora já chega, Pirraça vai ter que sair desta escola. Dumbledore tem que saber...


Lyra arregalou os olhos cor de grafite e murmurou sem emitir som “Apolíneo”. Sirius olhou para os dois lados desesperado, mas antes que pudesse tomar uma decisão Lyra o puxou para dentro de um armário velho de madeira que mal couberam os dois - na verdade os dois tiveram de se espremer um de frente ao outro muito colados e evitar trocar olhares constrangedores. Assim que a porta do armário se fechou Apolíneo entrou na sala e Sirius se pegou agradecendo a Merlin por ter fechado todas as gavetas.


-... Aquele poltergeist vai ver comigo...


-Abaffiato –Sussurrou Lyra com a varinha apontada para a pequena fresta aberta do armário que exibia um pedaço do corpo de Apolíneo.


-Que feitiço é esse? –Sussurrou Sirius.


-Pode falar normalmente. Ouvi o Snape ensinar pra Lílian no ano passado, acho que entope o ouvido da pessoa enfeitiçada ou algo assim.


-Ah claro. –Disse Sirius fazendo uma careta ao ouvir o nome de Snape. –E como vamos sair daqui?


-Eu só tenho que me lembrar do resto da senha...


-Senha? Que senha?


- “Presa na sala do zelador...” Como é que era? “Presa na sala do zelador, quero sair com pudor...”


-O que é que você está fazendo? –Perguntou Sirius um pouco assustado.


-AH LEMBREI! –Exclamou ela de repente com um grande sorriso, e começou a declamar.


-Presa na sala do zelador,


Quero sair com pudor.


Me leve direto para as masmorras,


Não tenho tempo, vamos rápido, corra!


SIRIUS SE SEGURE EM MIM! –Gritou ela com pressa e Sirius teve apenas uma fração de segundos para agarrar sua cintura antes que os dois começassem a girar incrivelmente rápidos. Sirius só podia ver um borrão do que girava ao seu redor e então os dois caíram no chão, Black bem em cima de Lyra.


-Onde estamos? –Disse ele olhando ao seu redor ainda muito tonto, antes de notar que prendia Lyra no chão, mas quando percebeu, uma irresistível vontade de beijá-la se apoderou de seu corpo e a única coisa que o impediu de fazê-lo foi Lyra ter começado a falar.


-Nas masmorras, agora sai de cima de mim seu idiota! –Vociferou ela empurrando-o pelos ombros. Sirius rolou no chão enquanto Lyra se levantava e andava até a porta da masmorra vazia. Sirius se levantou de um salto e correu para se colocar entre ela e a saída.


-Uou, onde pensa que está indo mocinha?


-Para a aula de transfiguração, onde eu já deveria estar a cinco minutos. –Respondeu Lyra impaciente.


-Ah, desculpe, mas você não vai sair daqui até me dar umas respostas.


-Sirius, eu entendo que você esteja muito curioso sobre algumas coisas, mas McGonagall vai notar que eu e você não estamos em sua sala.


 -Entendo... Então me responde só uma coisa, como chegamos aqui? –Perguntou Sirius ainda tentando focalizar a visão depois de tantos giros.


-Passagem secreta. –Respondeu ela impaciente.


-Impossível, ela não está no... –E se calou de repente, percebendo que Lyra estava o manipulando de novo e que ele quase revelara sobre o mapa do maroto.


-No o que Sirius? Ela não está onde? –Insistiu ela. Mas quando viu que ele não iria responder, ela continuou. –Essa passagem é diferente das outras da escola, como as que levam à Hogsmeade ou a passagem para a cozinha. Essa é mais como uma aparatação interna...


-É impossível aparatar dentro de Hogwarts. –Interrompeu ele, se lembrando momentaneamente de Hogwarts: Uma história, um livro que Remo o indicou alguns anos atrás.


-Eu sei. Bem, alguns alunos, devidos a momentos desesperadores, criaram saídas desesperadoras, que são pequenas rimas e encantamentos que foram espalhados pela escola com o passar dos anos nos lugares que mais precisaríamos, como a sala do zelador, a sala dos diretores, tanto das casas como o de Hogwarts entre outros. São muito secretos entende? E só aparecem em mapas mágicos –Ela fez questão de olhar nos olhos de Sirius ao dizer isso- se você citar o encantamento para o mapa.


Sirius semicerrou os olhos.


-Como você sabe disso e eu não?


-São muito antigos e foram inventadas por um grupo específico de alunos, que não compartilhou as informações graças a um deles. Edward McNair. Ele apagou a memória dos amigos e passou o segredo apenas para os seus descendentes.


-Você é descendente de algum Macnair? –Perguntou ele curioso.


-Não, mas fiquei com um Macnair há um tempo, antes de descobrir que ele era um idiota. Agora saia da minha frente antes que eu o estupore.


E com isso, Sirius abriu espaço para a ex-ficante de ninguém menos que Walden Macnair, um amiguinho detestável de Severo Snape na Sonserina.


-Ah, só mais uma coisa. –Completou Lyra antes de ir embora. –Eu te tirei da sala de Apolíneo, não lhe devo mais nada. 

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