Capítulo 4



27/JANEIRO – 09:27h – SEGUNDA-FEIRA – COLÉGIO (AULA DE GEOMETRIA)
- Tome, leva mais 10 libras – falou minha mãe, estendendo-me o dinheiro.


- Obrigada. Você não acha que D. Julia vá conseguir incendiar a casa com a fumaça do cigarro, não é? – Peguei a nota e abri a porta do carro.


- Ela não mataria aquele gato problemático – ela me respondeu. E ela tem razão. O gato é tudo para minha avó, até mesmo vem antes de meu avô, só para você imaginar.


- É verdade. Tchau, mãe – e saí do carro. Ela deu partida com o carro assim que avistei Alex e Sirius entrando no grande corredor. Apressei-me para alcançá-los.


- Oooi – falei ofegando e não me importando com os encontrões que alguns alunos me davam, pelo abarrotamento de pessoas ali contidas.


James, Alex e Sirius se viraram para me olhar. Todos sorriram.


- Ó, vou logo avisando, fica longe de mim, porque não posso mais pegar nenhuma detenção até o final do semestre – Sirius me disse com uma voz muito séria. Corei. Eu sou sinônimo de problemas, agora.


- Ah, sinto muito – falei.


- Ele só está brincando – riu James, esmurrando o amigo – Então, preparada para o período da morte? – ele me perguntou.


Ok, Geometria. Hahaha.


- Acho que sim – ri.


Que coisa mais esquisita. Eles estão falando comigo na frente de todo mundo. E não é para me perguntarem se vi o novo episódio de Gossip Girl ou se soube que o Robert Pattinson fará um filme o qual não é o vampiro romântico vegetariano.


- Você já está comendo bolinhos, Peter! – exclamou Sirius, olhando para o recém-chegado com um olhar assombrado.


- Eu estou com fome, oras! – disse-lhe ele.


- Ei, Lily, se você não quer engordar, passe bem longe do Peter aqui. Ele tenta levar todo mundo para o mau caminho – Sirius colou em mim, com aquele humor genial que eu tinha detectado na sexta-feira.


- Mentira dele. Ele é que vive no meu pé e tem inveja porque eu sei comer bem – Peter falou cuspindo pedacinhos de bolinho de chocolate em mim.


- Vê se fala sem cuspir, seu comedor de bolinhos – Sirius bateu nele – Ah, sim, tenho muita inveja dele, você nem acredita – ele me disse. Eu me contive e não ri. Pobre Peter.


- Ei, por que vocês estão falando comigo? – perguntei de repente, enquanto Sirius e Peter seguiam para o final do corredor para qualquer aula menos sonolenta do que Geometria, e eu, James e Alex entrávamos na sala de aula do Sr. Hollan.


Eles me olharam como se eu fosse um extraterrestre ou um polvo gigante.


- Você não quer falar conosco? – James ergueu as sobrancelhas. No canto da janela de sempre, avistei a Taylor conversando com uma das cheerleaders parecendo bastante animada para alguém que acabou de perder a melhor amiga. Ela fizera dois pompons na cabeça, exatamente como a Britney Spears no clipe de “Baby One More Time”, mas provavelmente sua mini-saia rosa plissada e seu top azul por baixo do casaquinho de lã fina eram muito mais provocativos do que qualquer roupa que a Britney já usou naquela época.


- O quê? Não, não é isso – sentei-me ao lado de Alex e atrás de James. Taylor nem ao menos se importou em fingir que estava a fim de me lançar um olhar maldoso – É que eu pensei que, sabe... o que rolou na sexta-feira tinha ficado na sexta-feira – dei de ombros, observando a Taylor com a minha visão periférica.


- Bom, pensamos também que você fosse fazer as pazes com a Taylor e isso não rolou. Então, acho que estamos quites – Alex me disse, atirando-me uma piscadela.


Pensei um pouco. Será que não avisaram aos pais de Taylor sobre o novo hobbie dela? Quero dizer, se ela continua aqui e ainda não veio até aqui na minha nova dupla para me informar que se ferrara muito e que acabará comigo, é porque talvez a Diretora Rings preferiu encaminhá-la para a psicóloga da escola antes de tomar alguma providência. Será que ainda morro hoje? Ou Taylor vai me torturar a cada dia um pouco mais para eu morrer com ela terminantemente em meus pensamentos?


- Bom, pelo jeito a Taylor não quer nem mesmo ouvir o meu nome – falei.


- Sabemos que a culpa não é sua. Sirius disse que você é ainda mais legal longe da Taylor – James estava virado para a nossa direção e pegava os livros da matéria de dentro da bolsa.


- Haha, seu amigo é meio... – não encontrei a palavra adequada e deixei a frase no ar.


-... Doidão? – complementou Alex, rindo. Ha, era isso mesmo o que eu iria dizer.


- Humm... só um pouquinho... mas as melhores pessoas são piradas, não é? – comentei.


- Se você diz – James deu de ombros, rindo; então, virou-se para frente por alguns minutos.


- E aí, Evans, já está se misturando com a panelinha dos impopulares, é? – Jamie Latoy parou ao lado da nossa mesa com aquele ar de boazinha falsa.


- E você? Já está se misturando com as sem cérebros estúpidas? – devolvi. Ouvi Alex e James rirem sonoramente. Woo, da onde tirei aquilo? Eu mal tenho coragem de retrucar para a Taylor, como eu tive coragem de fazer isso com a Jamie? Que hilário, acho que vou apanhar no meio da aula, agora.


- Sua... – ela começou, mas o Sr. Hollan entrou na sala com sua barriga universal e molenga.


- Bom-dia, turma – cumprimentou-nos ele, com aquela voz de morsa ferida.


- Você vai ter o troco – Jamie sussurrou para mim, afastando-se de nós como se somente estivesse ali para me dizer um “oi, como foi seu fim de semana?”.


Enquanto o Sr. Leão Marinho Hollan explicava alguma coisa sobre a questão do último teste que tínhamos feito antes do recesso de inverno (questão 18, área e perímetro da circunferência dada pelo teste), eu só conseguia pensar: será mesmo que as pessoas têm que ter medo uma das outras? Que doença será que meus colegas que se acham superiores têm? A Síndrome do Ego Inflado? Ou somente a Síndrome de Asperger? Quero dizer, Alex é toda expansiva e fácil de lidar, e James é todo irônico e expressivo, mas ninguém – exceto todos que andam com eles – sabe disso tudo porque nunca os notaram ou nunca deram alguma chance a eles. Para os populares ricos do colégio, Alex somente é uma esquisitinha CDF, e James, o cara mudo que ninguém quer por perto. E não é porque fui expulsa eternamente do grupinho falso da Taylor que estou fingindo gostar de todos eles somente para não ter mais amigos. Eu percebi que gosto deles. De cada jeito que cada um é, porque, no final de tudo, quem vai se importar se você não tem as meias da moda ou acesso às boates mais estranhas da cidade? O que faz uma pessoa ser melhor do que outra apenas porque tem as roupas da marca da moda ou porque tem o tom do batom que a celebridade tal usou no mês passado ou então porque tem dinheiro o suficiente para não se preocupar com os ursos polares morrendo? É triste constatar que sair na rua pode se transformar em críticas alheias porque você vestiu a sua blusa preferida de gatinhos ou exibindo o nome da banda da sua vida. É incrível como existem olhos que rotulam pessoas sem ao menos as conhecer, como por exemplo: "Bermuda assim é coisa de mendigo" ou então "Roupa preta é coisa de emo". Será mesmo que pessoas como a Taylor e a Jamie têm total direito de agir como agem?


Ao final da aula (que mal copiei metade do que estava escrito no quadro, mas Alex me disse que me passaria qualquer outro dia, se eu quisesse), meu olhar cruzou com o de T e ela me olhou tipo: “O que você quer, sua fracassada?”.


- Ah, relaxa – James me disse, assim que notou o olhar de cão raivoso de Taylor em mim – Vocês sempre se deram tão bem, uma hora vocês fazem as pazes.


- Ah, sei – resmunguei. Quero dizer, eu estou muito, muito cética quanto a essa afirmação de James. Se sempre nos demos tão bem (e, por conseqüência, pessoas que se dão bem, adoram-se), por que não estou sentindo sua falta? Ou, por que, na verdade, estou com um sentimento de libertação nas veias?


AhmeuDeus, o que está acontecendo comigo? Será que peguei a doença da vaca-louca?


 27/JANEIRO – 12:39h – SEGUNDA-FEIRA – ALMOÇO
Eu deveria escrever de uma vez por todas na minha testa: “Lesada Forever”. Mas acho que não preciso, acho que todos já me vêem desse jeito sem a escrita ridícula na cara. E vou falar, estou com tanto medo de pisar no refeitório. Não por conta de todos os meus colegas que apontam para mim e cochicham algo bem pior de que “Olha, acho que essa daí se esqueceu de pentear os cabelos ao acordar”. Eu olho para os lados com pânico só para averiguar se a Jamie está perto demais de mim, porque se estiver, é melhor eu correr (ainda que o Sirius tenha me dito que ela nunca sairia correndo atrás de mim por causa dos saltos-agulha). Porém, eu deveria é ter tido pânico da Taylor, porque a primeira coisa que ela fez ao nos ver sentando-se à mesa do refeitório foi marchar com aquele ar de princesa até mim.


- Quer saber da última novidade, Lily? – ela me perguntou com uma voz alta demais, visivelmente de propósito. Todos nós olhamos para ela.


- Hum, acho que não – falei.


- Claro que quer – ela apertou os olhos minuciosamente maquiados – Sabe quem foi expulsa do time das cheerleaders?


Respirei fundo e gelei. Uh, sério?


- Não – sussurrei, tentando enrolar o macarrão em meu garfo.


- Acho que sabe, sim: eu. Satisfeita? Sem contar que a diretora Rings telefonou aos meus pais e agora estou sob olhar de um psicólogo para todo o sempre.


- Sério que só agora seus pais arranjaram um psicólogo para você? Achei que era muito mais seguro você ir a um desde que nasceu – Sirius lhe disse, tirando os cabelos dos olhos.


- Cala a boca, seu vermezinho, não estou falando com você – os pompons de T estremeceram. Sirius sorriu irônico.


- Cara, você vai pagar cada segundo do que está me fazendo passar – Taylor me prometeu.


- Você prefere em libras ou euros? – Sirius perguntou – Porque isso faz muita diferença.


- Você vai calar a boca agora ou prefere que eu meta a mão na sua cara? – ela perguntou com uma selvageria típica.


- Uia, não acredito que a princesa da escola é capaz de meter a mão na cara de alguém – Sirius fingiu assombro.


- Pode apostar que sou – assinalou ela.


- Uh, que decepção – ele balançou a cabeça. Ela rolou os olhos e abriu a boca para falar mais, porém alguém muito colorida esbarrou nela.


- Puxa, desculpe, Taylor. Machucou? – Zora perguntou com uma voz de “tomara que tenha machucado”, com sua bandeja nas mãos. Ela usava sobreposições de blusas coloridas, saia jeans curta, meia preta grossa e botas militares também negras.


- Vá se catar, seu arco-íris ambulante – Taylor disse, esfregando o cotovelo.


- Nossa, isso, vindo de você, foi até mesmo um elogio – ela falou.


- Pense como quiser, até parece que me importo – retrucou a outra, olhando-a feio.


- Ei, você já se olhou no espelho hoje? Acho que tem uma coisa muito esquisita no seu nariz – Zora revidou. Taylor apertou os olhos claros e levou os dedos até o nariz, instintivamente.


- Nossa, é verdade, Arco-Íris. Acho que é um tomate, McGrow, corre para o banheiro – Sirius concordou.


Taylor nos olhou com cara de bebê querendo chorar, mas recuperou a pose no mesmo segundo, lançando-nos um olhar de “morram agora”, enquanto fazia uma saída estratégica, oferecendo-nos um gesto indecente. Rimos ao vê-la praticamente correr para fora do refeitório com o resto das outras meninas de sua mesa.


- E aí, acham que a mesa abriga mais uma alma perdida nesse mar de louras raivosas? – Zora nos perguntou, ainda rindo.


- Pode apostar que você é a nossa nova segunda mascote, Arco-Íris – Sirius lhe disse, afastando a cadeira ao seu lado para ela se sentar.


- Se isso é uma tentativa de apelido, pode esquecer – Zora lhe falou.


- Uau, que gatinha mais arisca, hein? A Lily não é nada assim. Lily, quer um apelido? – ele me olhou.


- Não aceita, não aceita – Zora me alarmou – De certo, ele vai criar algo como “Estrela Cadente” ou “Bolinha de Fogo” – eu a olhei querendo rir, mas não entendendo nada – Por causa do seu cabelo, Lils.


- Hahahahaha – todos riram, até mesmo Sirius.


- Não, iria criar algo mais tipo “Encrenca”, porque, sem querer ofender, nem nada, mas bem que você é uma baita de uma encrenca, hein, ruiva? – Sirius me falou.


- Eu posso lhe dizer ou lhe fazer algo para impedi-lo de me chamar disso? – perguntei, rindo.


- Humm... deixa eu pensar – ele segurou o queixo, fingindo pensar – Hum, não.


- Porcaria – brinquei e lhe atirei uma bolinha de guardanapo.


- Ei, Black, se você adora apelidos, posso lhe arranjar um também – Zora lhe disse enquanto escolhia um tomatinho.


- Uh, não. Acho que você é mais bem-humorada do que eu. Sabe-se lá o que você irá inventar – Sirius falou.


- Pode deixar que irei pensar em um com carinho – Zora lhe piscou de modo sapeca.


- Nãão, não faça isso – ele lhe deu tapinhas no braço, levemente.


Zora e Sirius discutiram até o final do almoço e pelo o que posso analisar acho que eles já se conhecem há algum tempo. Mas, claro, conviver com qualquer um dos dois é muito fácil, o que torna as relações dentro do grupo mais livres (não que Zora e Sirius sejam os únicos bem-humorados, porque até mesmo Remus consegue ser, apesar de toda a seriedade que carrega).


- Jamie parece uma vampira sedenta de sangue olhando para você – Zora me cutucou nas costelas, enquanto entrávamos na aula do Sr. Kran, de Física.


- É, de sangue e de raiva – complementei, evitando olhar para aquela loura de farmácia (porque ela pinta os cabelos, não nasceu realmente loura, hahaha), e Zora riu.


- Au, acho que se ela pudesse, voava até aqui e acabava com você. Pode deixar, dou cobertura a você – disse-me ela, socando meu ombro, amigavelmente (se é que pode descrever qualquer soco da Zora de “amigável”)


- Haha, acho que vou precisar. Qualquer coisa, pegue os cabelos: eles são sagrados – informei.


- Como se aquela peruca falsa fosse sagrada – ela rolou os olhos castanhos. Rimos e nos sentamos lado a lado. Jamie apareceu, mas não para me atazanar. Dirigiu-se à Zora, com uma voz nojenta.


- Uau, Zorinha, você está de mal a pior, hein?


- Zorinha é a sua mãe – respondeu ela.


- Veja como fala, sua pestinha colorida – Jamie lhe disse. Hahaha, pestinha colorida


- Jamie, você está me irritando – Zora cantou – Que tal ir latir em outro terreno?


Jamie estava pronta para retrucar, mas eu a interferi:


- Sai daqui, Jamie, antes que você acabe perdendo de vez.


- Eu? Perdendo? Tem certeza de que não está falando de si mesma? – Ela riu em um tom agudo.


- Bem, pelo menos não sou eu que fico falando a noite inteira como uma bebezona quando vejo filme de terror – atirei.


- Foi só aquela vez, sua idiota! – Jamie me disse entre dentes, olhando ao redor para notar se alguém mais ouvira. Zora riu.


- Nossa, Jam. Precisou da mamadeira também? – Zora lhe perguntou.


- Calem a boca, suas fracassadas – a loura nos disse e saiu rapidinho de perto de nós.


- Você mandou muito bem, Zo – fizemos um “bate aí” com nossos dedos fechados.


- Então, você entendeu o último exercício que o Sr. Kran nos passou? Tenho total certeza de que nasci burra para física, cara – Zora me disse.


Eu ri e peguei o livro e o caderno para tentar lhe explicar alguma coisa.


 27/JANEIRO – 15:25h – SEGUNDA-FEIRA – SAÍDA
No pátio da frente da Bedford High School, eu, Zora, Sirius, Peter, Remus, Alex e James nos encontramos depois das aulas.


- Humpf, acho que vou começar a matar todos os últimos períodos de segunda. Não dá para agüentar a Sra. Prince no meu pé dizendo o que devo e o que não devo fazer nas redações e na sala de aula – Sirius nos disse, com um ar de quem tinha passado metade do período dormindo.


- A Sr. Prince reclama de tudo. Ganhei zero na última redação só porque discordei da opinião dela e escrevi o meu ponto de vista – Zora falou, parecendo indignada – Agora tenho que fazer outro texto.


- Passa lá em casa que eu posso ajudá-la. Não sei por que, mas a Sr. Prince adoro tudo o que escrevo, até mesmo se diserto sobre o visual da Gwen Stefani – Alex lhe disse.


- Haha, que hilário – Zora riu.


- Ei, estive pensando enquanto fingia ouvir a Sra. Ali, que talvez vocês – Alex apontou para mim e para Zora - pudessem passar o fim de semana lá em casa. Nós podíamos fazer cookies e assistir a uns filmes da Angelina Jolie. Quero dizer, se vocês não tiverem o que fazer – Ela emendou rapidinho.


- Feito. Adoro a Angelina – Zora comemorou. Alex olhou para mim.


- Por mim, tudo bem. Também gosto da Angelina – sorri, dando de ombros. Passar dois dias longe da D. Julia? É tudo o que quero, depois de não ser mais odiada pela grande maioria dos meus colegas. Quero dizer, isso se D. Julia ficar até o fim de semana lá em casa. Tomara que ela já vá embora hoje, tomara que tenha se enchido das proibições de mamãe e alugado um quarto de hotel até o final das transformações de sua casa.


- Ha, perfeito – Alex nos abraçou. Eu e Zora nos olhamos tipo: “que menina louca, cara”.


- Opa, sem mais demonstrações de afeto. Vou indo – Zora disse, apontando para o carro de seu pai, logo ali perto, buzinando – Não liguem, meu pai acha que ainda vive na década de 80 – ela comentou, saindo correndo com uma cara um pouco aborrecida.


- Ele não era hippie naquela época, não, não é? – Sirius berrou, antes que ela entrasse no carro. Zora se virou e riu, mas não respondeu.


- Sirius, como você consegue ser tão chato? – Alex lhe perguntou.


- Me formei na Escola dos Chatos-Mór do Mundo – respondeu ele.


- Hahahaha, aposto como sim – concordei.


- Encrenca, não concorde, hein, posso ser muito mais baixo do que isso – ele me falou e todos nós caímos no riso.


- Mais? Hahaha, sério? Isso não deveria ser proibido? – revidei, brincando.


- Se é, não faço a menor idéia – ele respondeu.


Ri e olhei para Taylor ali perto fofocando com Jamie. Fiquei surpresa: as duas nunca se deram bem, sempre praticamente se odiaram, então, como, do nada, estão conversando e rindo juntas? Será mesmo que me importo? Voltei para a rodinha dos meus novos amigos. Logo encontrei a resposta: não estou mais aí para Taylor, tenho pessoas melhores ao meu lado agora.


 27/JANEIRO – 23:13h – SEGUNDA-FEIRA - CASA             
Sempre volto de ônibus do meu emprego de meio período. Leva uns dez minutos para o ônibus chegar à parada e mais uns quinze a vinte para eu chegar em casa. Na maioria das vezes, tudo o que quero é dormir.


- Oi, Lily. Como foi no trabalho? – minha mãe me perguntou, sentada no banco de jardim que balança. Vovô estava ao seu lado e sorriu para mim ao me ver.


- Normal. Cães chorando e latindo, gatos miando e pulando nos meus cabelos e canários canariando – resumi – Cadê a D. Julia? – estranhei. O que ela estaria fazendo?


- Lá na sala assistindo a um musical antigo – ela me disse e abaixou a voz: - Ela está cantando junto.


- Eeeca, sério? – arregalei os olhos e fiz cara de susto.


- Um terror – mamãe disse.


Sorri, beijei meu avô e entrei no hall. Meus ouvidos se encheram de uma voz arranhada e rouca cantando no último volume alguma canção velha. Era minha avó.


- Meu Deus, a Christina Aguilera iria querem enfiar uma faca em você se a ouvisse agora – falei a ela.


- Ela deveria primeiro parar de andar com uma como uma prostituta para depois vir me criticar – revidou D. Julia. Eu ri. – Shhh, que eu estou ocupada. Vai para lá – mandou-me.


Quando eu ia subir para meu quarto vi minha mãe perto de mim e logo ela me perguntou:


- Lily, eu notei que você passou o fim de semana aqui e a Taylor nem ao menos lhe ligou uma única vez. Tenho certeza de que não escolheu ficar em casa por conta da sua avó ou pela canção da aula de guitarra. Você e a Taylor brigaram?


Engoli em seco e senti corar. Porcaria. No mesmo segundo em que minha mãe proferiu “Você e a Taylor brigaram?”, o som da TV sumiu e ouvi minha avó fez um “O quê?”, olhando para mim.


- Humm, não, claro que não – sabia que as duas podiam ver a minha cara toda vermelha, mas menti mesmo assim.


- Você está mentindo – assinalou D. Julia, com a cara um pouco retorcida (o máximo que suas plásticas lhe permitiam) e insatisfeita.


- Hum. Você não queria ver o filme? – perguntei-lhe.


- O que você fez para aquela menina tão adorável? – sua voz, de repente, estava muito dura.


O QUÊ? A TAYLOR? ADORÁVEL? Estamos falando da mesma Taylor? Eu quis rir, mas fiquei aborrecida. Por que ela sempre acha que sou eu que faço o mal para as pessoas? Por que sempre as outras pessoas é que são inocentes e boazinhas?


- A Taylor não está tão adorável assim, D. Julia – informei-lhe – E eu não fiz nada a ela. Só... bom, tá, eu ferrei com ela. Mas não é nada de mais.


- Desenrole isso, Lily – mandou D. Julia.


- Como assim, filha? – minha mãe quis saber.


- Ah, não. Não quero falar sobre isso agora. Só preciso de um banho e da minha cama – falei.


- Mas Lily! – berrou minha avó assim que me viu começar a subir as escadas.


- Amanhã, quem sabe, eu falo. Beijos e boa-noite – abanei a mão.


- Você não vai comer nada? Não quer que eu faça um lanchinho? – minha mãe me perguntou.


- Quem sabe, depois de tomar banho eu desço para comer algo.


- Você sabe que se não me contar, vou ficar no seu pé até você se irritar – D. Julia me disse.


- Aham, pare de cantar, por favor. Já já os vizinhos irão chamar o Instituto dos Animais porque pensarão que estamos maltratando um golfinho – falei e sumi da visão dela.


- Como é que é, Lily? – ouvi-a berrar. Ri baixinho e entrei em meu quarto. Enfim paz!


 28/JANEIRO – 00:27h – TERÇA-FEIRA – CASA
Eu não desci para comer alguma coisa, porque se fizesse isso, totalmente D. Julia iria focar atrás de mim como um cachorrinho pedindo comida. E ela pode ser mais chata do que um cachorrinho faminto. Então, liguei o laptop e entrei online no MSN. Exclui toda a galerinha antiga e acho que só permaneci com uns três contatos antigos (a Zora, a Emelim e o Chris), mas somando com os da nova galera resulta em mais de dez, pelo menos. Não posso reclamar que estou sem amigos, mesmo sendo odiada pela maioria da escola.


*Zora* - Trying to forget love cause love's forgotten me says:
Eu queria não estar entediada ¬¬ O que você está fazendo?


 Lily :) says:
Eu estou quase babando aqui em cima no teclado, haha. Não estou fazendo nada de mais. E você?


 *Zora* - Trying to forget love cause love's forgotten me says:
Ouvindo NeverShoutNever e tremendo de frio (;


 Lily :) says:
Haha, que noite especial. Você acha que a Taylor e a Jamie irão tentar fazer alguma coisa comigo? Tipo me perdurar de cabeça para baixo em uma corda, tirar uma foto e postar no Twitter?


 *Zora* - Trying to forget love cause love's forgotten me says:
HAHAHAHA³ Essa doeu, hein. Nãão, acho que farão bem pior (x Mas elas estão sob supervisão agora, não podem tentar fazer algo contra você. Pelo menos, não DENTRO do colégio. Então, vamos torcer para que eu sempre esteja com você, caso você esteja sozinha tentando pegar um ônibus :B


 Lily :) says:
Ah, levantou minha auto-estima agora, Zora ¬¬ Opa, acho que vou dormir. Minha vó está atrás de mim, acho que vai pegar uma faca no meio da noite e cortar meus cabelos, hahaha. Naan, brincadeira. BjoBjo ;*


 *Zora* - Trying to forget love cause love's forgotten me says:
HAHAHA. Que medãão. Tranca a porta, sua maluca ;~ Bjiim:*


 Lily :) parece estar offline.


 Desliguei tudo, porque ouvi os passos pesados da D. Julia no corredor e achei que talvez ela pudesse querer entrar no meu quarto para usar o banheiro, ela somente disse ao meu avô: “Suba logo, Robert, como você é lento! Acho que precisa de uma hora a mais de cooper aos fins de semana, hein?”. Coitado do meu avô. Deitei na cama, enrolei-me nas cobertas (Zora tinha razão de me dizer que estava tremendo de frio) e fingi estar dormindo quando minha mãe abriu a porta um pouquinho para averiguar se eu ainda estava acordada. Não me lembro o que pensei depois de o silêncio da casa me engolir porque acho que o sono me pegou em questões de minutinhos. E acho que nem ao menos sonhei que Taylor me perseguia com uma faca de açougueiro pelos corredores da Bedford High School.


 28/JANEIRO – 11h – TERÇA-FEIRA – CASA
Sabe aqueles dias em que é muito mais fácil você bater na sua avó (no meu caso. Não façam isso, crianças) do que levantar da sua cama quentinha, trocar o pijama por roupas de escola e ir para aquele manicômio que todos a forçam chamar de colégio? Não que a primeira coisa que fiz ao ver D. Julia foi socá-la (bem que eu queria, mas somente a ignorei), entretanto quando minha mãe entrou no meu quarto quase às 8h, perguntando-me se eu iria para a aula hoje, somente respondi:


- Não – e virei para o outro lado da cama.


- Está doente? – ela indagou.


- Ela está doente? Deixe-me vê-la – ouvi a voz da minha avó ali perto, afobada.


- Não, mãe, volte para a sala. Seu mingau deve estar esfriando – minha mãe disse, irritada.


- Kristen! – exclamou ela.


- Tire ela daqui, por favor? E, não, não estou doente. Só estou cansada demais para ir para a aula – falei.


- Certo. À tarde você irá ao trabalho?


- Não. Eu pedi à Dra que me liberasse de terça, quarta e quinta. Acho que é muita coisa para mim – contei.


- Ah, faz bem. Você trabalha muito, mal tem tempo para o Jason – mamãe disse.


- Aham. Coitado do Jason – eu falei, totalmente alienada.


- Bom, vou ao consultório por causa do Charlie. Se a sua avó se trancar novamente em algum banheiro para fumar, ligue-me que vou acionar a polícia.


- Hahaha, ok. Bom trabalho – desejei.


- Boa manhã aí dormindo – ela riu e fechou a porta – O que é, mãe? – ouvi-a perguntar lá do corredor.


Escutei-as reclamando uma com a outra, feito um casal de maritaca preso em uma gaiola. Com o tempo, os berros de D. Julia cessaram e eu chaveei minha porta. Adormeci em pouco tempo.


 28/JANEIRO – 12:14h – TERÇA-FEIRA – CASA
Despertei com uma música muito alta ecoando em meu quarto. Assim que reconheci a voz, percebi que era meu celular. Afastei as cobertas de mim e agarrei o aparelho, com os olhos turvos e com uma sensação de susto nos ossos.


- Alô – falei. Ouvi muitas vozes juntas em uma cacofonia interminável.


- Lily? – berrou uma das vozes.


- Humm. Zora? – perguntei.


- Não, o Papai Noel – riu ela. Ok, era Zora.


- Oi, Papai Noel. O que foi?


- Onde você está?


- Em casa, dormindo. Bom, agora estou acordada.


- Que folga, hein? Só babando no travesseiro, não é? – ela riu e berrou: - SAI DAQUI, BLACK, QUE CARA MAIS CHATO – e então voltou para mim: - Ei, você não vai vir para as aulas da tarde?


- Não. Agora pode me deixar voltar a dormir? – ai minha cabeça.


- Sim, sim. Mas antes você precisa saber que a Taylor chutou você da seleção de fotos para o anuário da escola. Colocou a Jamie no seu lugar, então, prepare-se para ver aquela sua foto mais horrenda no livro – Zora me disse.


- Ah. Bom, tanto faz. Escolher fotos é o maior saco – respondi.


- Totalmente. Tá, vou desligar aqui. A Alex disse que amanhã passa para você os conteúdos que você perdeu hoje – ela me disse, com aquela vozinha de sino alegre.


- Humm, é uma boa. Diga que eu agradeço – sorri um tanto bêbada.


- Ok. Câmbio, desligando. Beijo – agora sua voz era urgente.


- Beijo – retribuí. Olhei ao redor. Apurei os ouvidos: silêncio. Silêncio demais. Onde está D. Julia? Por que não está esmurrando a minha porta, esperando que eu me levante e grite com ela? AHMEUDEUS, será que foi às compras novamente? Não, não. Acho que não, pelo menos. Oh, eu deveria sair da cama e dar uma olhadinha pela casa. Mas... não sei se consigo me obrigar a largar minhas cobertas e o meu sono. Ok, depois eu penso em minha avó. Olá, soninho! Que bom vê-lo de novo.


28/JANEIRO – 13:37h – TERÇA-FEIRA - CASA
Tá bem, admito, não consegui dormir. O silêncio me deixou agoniada e temi que estivesse sozinha em casa. Não que eu tenha problemas com isso, eu até gosto (se algo estiver ligado, tipo a TV ou o meu i-pod), mas onde estava a mulher do cabeção? Então eu fiquei ouvindo um pouco de Taylor Swift (porque ela é ótima para me fazer dormir :B), porém sua voz meiga não surtiu o efeito desejado e me levantei, apesar do frio e da dor de cabeça.


Desci as escadas um pouco mais adaptada a caminhar e a pensar do meu modo habitual (que é xingando a D. Julia, haha), mas assim que vi meu avô sentado na poltrona que minha avó se apossou desde sexta-feira, fiquei espantada e me perguntei o que estava errado.


- Hum, ei, vovô – grunhi.


- Boa tarde, minha pequena. Você perdeu o almoço, mas guardei tudo na geladeira. Pode atacar. Sua avó pediu comida chinesa – ele sorriu daquele jeito bondoso e cansado.


- Ah, legal. E cadê ela?


- Saiu. O empreiteiro que está comandando a reforma da nossa casa está com alguns problemas lá e veio conversar pessoalmente com sua avó. Acho que pelo o que ela me disse não tem como erguer a segunda parede do pátio porque não há sustentação no terreno e parece que estamos invadindo a área do vizinho. E você sabe que se a parede não for erguida, ela mesma vai lá para Londres construí-la sozinha.


- Nossa, que problemão, hein? – comentei e nem usei o meu sarcasmo. Isso é mesmo um problema.


- Pois é. Vai lá comer, meu bem. Você parece estar tão magra!


- Eu sou magra raquítica, lembra? – levantei as sobrancelhas.


- Quando criança você era mais gordinha.


- Ah, hahahaha. É verdade, mas vou indo ali comer – apontei para a cozinha. Odeio a minha magreza. Eu até mesmo posso estar pior do que a Lady Gaga no clipe de “Telephone”. E eu que pensei que ela fosse a mais seca.


A geladeira estava apinhada das caixinhas da China In Box  e eu enchi o meu prato com todas as comidas ali contidas. Eu não sou nada sem um café da manhã. Estava até mesmo me tornando o Hulk, de tão faminta. Sentei-a no sofá da sala e fiquei acompanhando o novo capítulo de House com meu avô. Era ainda um episódio da primeira temporada que eu já vi umas quatro vezes, mas entre o House e o silêncio, prefiro o House. Sem contar que sou um pouco viciada nessa série, assim como sou em Tree Rivers, Law and Order e Skins. Mas tanto faz. Quando eu tinha já acabado de lavar as louças que sujei e House já tinha acabado e encontramos Edward Mãos de Tesoura quase na metade, em um dos canais de filmes, D. Julia chegou da rua. Carregava algumas sacolas, mas nada muito significativo.


- Arre, você não vai acreditar no enxame de pessoas na rua. Eu mal conseguia um táxi, até parece que esse lugar se tornou Londres da noite para o dia – ela entrou carregando sua bagagem, aborrecida. Então me viu: - Ah, finalmente, não é, Lily? Estava pensando o quê, que iria passar o dia todo na cama? Só não fui chamar você, porque sua mãe disse que você está doente. O que você tem, afinal? – ela despejou as sacolas ao meu lado, no sofá, e me olhou de um jeito todo tipo “Inspetor-Bugiganga”.


- Não tenho nada, não estou doente. Só estou um pouco cansada – respondi com a expressão indiferente.


- Hum, sei. Bom, ainda temos de conversar sobre o que você nos disse ontem, mas, primeiro, vou guardar as novas saias Calvin Klein – ela abanou as mãos e a sala se encheu com o barulho do seu salto abrindo caminho até o andar de cima.


- É nessa hora que eu a aconselho a correr ou é cedo demais? – vovô me perguntou com a testa franzida.


- Não tenho escapatória desta vez – resumi.


- Humm... Acho que eu deveria preparar menos chás para ela. Os chás são o culpado.


- Qualquer coisa pode ser tomada como culpada se está muito perto dela – pisquei e ri.


- Bom, vou procurar o Flame, ele sempre consegue sumir. Acho que uma hora o perderemos – ele se levantou da poltrona e foi para os jardins com os olhos muito atentos. Eu sempre soube que os gatos trocam a casa pelos donos. Talvez ele tenha tentado voltar para a casa de Londres e se perdido pelas ruas. Tudo bem, por que teria pena desse gato mal-humorado?


Voltei a minha atenção ao Johnny Depp. Não demorou muito para D. Julia voltar e querer recomeçar a me atormentar.


- Então... vai me contar qual é o seu problema? – ela me perguntou, enquanto ignorava o meu protesto por mudar de canal e sintonizar em um programa chamado “So You Think You Can Dance”, tipo o American Idol, só que elegem dançarinos e não cantores.


- Não tenho problema – falei.


- Lily, eu já tive a sua idade. Pode ser que nossa relação não seja a das melhores, mas sou sua avó – ela me disse com um tom baixo, como se implorasse para que eu contasse a ela o que quer que gostaria de ouvir.


- Olha, você adora a Taylor e certamente não vai ficar satisfeita com o que eu fiz a ela.


- Oh, não. Então é mesmo verdade? Você fez alguma coisa ruim àquela menina? – minha avó se exaltou, pesarosa.


- Bom... para começo de conversa, ela é que se fez mal antes mesmo de eu pensar em fazer o que fiz, mas, em todo caso, deixa para lá, nunca mais seremos amigas novamente.


- O que você fez a ela?


Olhei para a TV. A Avril Lavigne estava cantando no programa.


- A Taylor faz uma coisa que não deveria fazer e eu contei à escola toda – respondi, sentindo-me péssima.


- O que é? Ela anda sem roupa pela casa?


- Nãão, D. Julia! Até parece, se fosse isso, tudo bem, nem brigaríamos.


- Humm... ela escuta aquelas músicas estranhas que você adora? Qual é mesmo o nome daquela banda que você me fez comprar um CD no último Natal? – ela fez uma expressão de quem estava se esforçando para se lembrar, de verdade. Eu fechei a cara.


- Paramore, mas não é isso. Não tem a ver com música nem com roupa ou sei lá.


- Ela está fazendo tatuagens? Colocando aqueles pinos na cara? Ah, meu Deus, é isso? – minha avó surtou.


- Não! Ela... se droga. Igualzinha à Tracy de “Aos Treze”, lembra daquele filme?


- Lembro – ela olhou para as paredes – Ah, não. Ela... está se tornando essas meninas que eu não suporto?


- Ela faz isso desde aos quinze anos, então, já está assim, não está se tornando – corrigi.


- E por que você contou à escola inteira? – agora ela parecia enfurecida.


- Eu tenho uma coluna no jornal e a diretora me mandou fazer uma matéria sobre drogas, mas eu levei isso a fundo demais e acabei denunciando todos os meus colegas e amigos – expliquei.


- Bem, não posso lhe dizer não agiu corretamente por um lado... mas pelo lado da amizade... você deu um salto muito maior do que suas pernas – ela me disse.


- Só que agora todo mundo me odeia.


- Impossível. Não devem ser todos que adoram a sua amiga – ela rolou os olhos como se soubesse que eu estava mentindo. Ei, mas eu não estava mentindo, só estava exagerando um pouco, é verdade.


- Bom... tem umas pessoas que acham que eu fiz o certo e estou andando com elas – dei de ombros, como se fosse a maior vergonha estar admitindo isso. Mas somente agi assim, porque sei que se falar que meus novos amigos não usam a nova coleção da Dolce&Gabbana, possivelmente, ela me mandará afastar deles.


- Hum. Bem, agora que você já fez tudo errado mesmo, é melhor começar a acertar em companhias melhores – ela parou por um segundo e disse para si mesma: - Não acredito que aquela menininha tão bonita e adorável se tornou a Lindsay Lohan da sua escola.


- É, nem eu.


Ficamos em silêncio. Dava para praticamente ver seus neurônios entrando em colapso com a notícia.


- Bem... mudando de assunto... A nova casa vai ficar um horror. O Troy não conseguiu entrar em acordo com o Sr Delander, o meu vizinho enxerido, para avançar sobre o terreno, mas parece que não há sustentação suficiente para outro muro. E agora, o que faço sem a minha parede? – acho que isso a deixou mais surpresado que lhe ter contado sobre Taylor.


- Não construa a parede, oras. Simples. Não tem como fazer, então, não faça. E ainda poupará dinheiro – falei.


- Mas...eu quero a casa do jeito que planejei!


- Não posso fazer nada, posso? Tipo, ir lá e bater no seu vizinho para depois ver o muro desmoronar, não é? – falei irritada. Poxa, ela estava desesperada por causa de um monte de tijolos? Que porcaria é essa?


- Droga, não – respondeu-me – Mas farei alguma coisa. Eu preciso do meu muro lá!


- Tá bom. Humm, posso voltar a assistir Edward Mãos de Tesoura? – pedi.


- Não, eu estou vendo as pessoas dançarem! – ela fechou a cara.


Por que não tenho uma TV no meu quarto? Por quê?


28/JANEIRO – 19:04h – TERÇA-FEIRA – CASA
Quando se têm amigos, tudo não parece muito mais fácil? Quero dizer, você pode ligar para a casa da sua melhor amiga às duas da manhã que ela irá ouvi-la pelos quinze minutos de soluços que você foi rejeitada pelo cara da sua turma ou que a sua avó é pirada, é viciada em roupas e mais se parece com a chefa da personagem da Anne Hathaway, em “O Diabo Veste Prada” do que com qualquer vovozinha normal que assa bolos e lhe dá presentes toda vez que sai da cidade. Então, nesse sentido, ter uma amiga é conveniente, sem contar que manter relações muito próximas com alguém pode nos prevenir de ficar gripadas ou de ir muito mal na prova de matemática. Ainda assim, às vezes não é muito nítido saber quando é que alguém se tornou sua melhor amiga e vice-e-versa. Quero dizer, eu posso dizer que seja amiga da Lily Allen mesmo se ela me responder no Twitter todos os dias? Não tenho tanto certeza. Ainda assim, não foi a Lily Allen que apareceu na porta da minha casa com uma guitarra nas mãos e os deveres do dia dados pelos professores. Foi o James. Quero dizer, não fui eu que atendi a porta, mas foi a minha avó que me avisou que ele estava lá na sala.


- Lily, tem um menino bonitinho e estranho querendo falar com você – ela me disse, toda curiosa.


- Como assim? Ele está ao telefone?


- Não, está na sala. Ele disse que é seu colega de violoncelo.


- O quê? Eu não faço aulas de violonc... – eu parei e algo me deu um clique no cérebro – O James está aqui?


- Humm... acho que é esse o nome dele. Por que você não desce logo ao invés de deixar o coitadinho plantando batatas? – ela se retirou com um ar feliz.


- Já vou, só vou pentear os cabelos – falei, porque eu tinha acabado de sair do banho. Peguei uma das minhas escovas e passei-a rapidamente pelo meu cabelo, só para não aparecer lá embaixo com um ninho de passarinho na cabeça.


O James aqui? Sério?


Ele ergueu os olhos para o topo da escada quando me ouviu de lá.


- Ei, sei que não deve ser a melhor hora para eu aparecer, mas vim lhe entregar os deveres que a Alex e eu pegamos para você e achei também que pudéssemos... ensaiar a sua música da aula de guitarra – ele foi logo dizendo, como se eu tivesse lhe exigido explicações. Ah, isso. Awn, que bonitinho. Ainda bem que tomei banho e tirei o pijama.


Minha avó, que estava no começo da cozinha, totalmente parada, provavelmente se batendo internamente de curiosidade, pigarreou. James e eu olhamos para ela. Fui para o lado dele, um pouco ainda confusa.


- Essa é a minha avó – apontei-a.


- Olá, senhora – ele disse, sorrindo. Nossa, acho que minha avó se apaixonou. Jason nunca usa tanta simpatia e educação para com ela. É sempre “E aí, vó da Lily, você gosta de basquete? Não? Vou lhe ensinar, então” (com voz de mano do rapper, coisa que D Julia abomina terminantemente).


- D Julia, esse é o James, ele é minha dupla na aula de violão e somos colegas em algumas matérias – apresentei-o.


- Oh, olá, James. Você é o novo namorado da Lily? Porque aquele menino jogador de basebol é insuportável e fala de boca cheia. Jared, Josh, Jimmy. Não importa – lá foi ela dizer. Corei até as pontinhas dos dedos. D. Julia, que tal você em um foguete para Urano para nunca mais voltar? Pode ser?


- Meu namorado se chama Jason – falei entre dentes a ela e olhei para James: - Ah, hahahaha – fingi rir – Não liga para minha avó, não. De vez em quando ela cai no box do chuveiro enquanto está tomando banho. Acho que bateu a cabeça de novo, hoje, não é, D. Julia? – eu desejava agarrar o cabeção louro dela e fazer picadinho dele.


Ela me olhou como se eu tivesse lhe falando que os cientistas criaram uma célula sintética: como se eu fosse a maior babaca do mundo. Mas, considerando que eu sou isso mesmo na maior parte do tempo, não foi algo que me irritou tanto.


- Diga o que quiser – ela deu de ombros – Vou fazer biscoitos.


Arregalei os olhos. O QUÊ? D. JULIA ASSANDO BISCOITOS? Será que eu acordei em uma dimensão diferente? Tipo, no mundo de Nárnia ou no Planeta dos Macacos?


Então, ela se enfurnou na cozinha, e eu pude ouvi-la andando apressada à procura de ingredientes para os biscoitos. Olhei para James. Ele observava o interior da cozinha com uma cara totalmente engraçada, como se estivesse assistindo a um episódio de “A Corrida Maluca”.


- Uau, a sua avó corre rápido, hein? – ele comentou, agora olhando para mim e rindo.


- É, só quando ela quer – sorri amarelo – Humm... vamos lá para o meu quarto? Aposto como você não quer ouvir a cantoria dela – falei, dando um passo incerto em direção à escada.


- Ah, claro. Tem certeza de que ela sabe mesmo fazer biscoitos? – ele se mexeu.


- Acho que sim.


- Sério? Então por que ela está pegando um vidro de orégano e outro de pimenta? – ele perguntou e eu ri.


- Então, é melhor corrermos logo, antes que ela resolva abandonar os biscoitos e preparar uma poção – falei. Ele riu e me seguiu pela casa.


- Bem-vindo ao meu quarto – gesticulei com as mãos, abrangendo as paredes vermelhas e o teto branco.


- Uau, você dorme no inferno – brincou. Eu ri novamente.


- Coloque a culpa no meu pai. Nunca tingi de outra cor desde aos meus cinco anos. Claro que ele poderia ter escolhido rosa, mas ele era fanático pelo Red Hot Chilli Papers – expliquei.


- Ah. Bem, combina com você – ele apontou para minha cabeça – O seu pai... morreu? – ele quis saber com voz de alguém que está entrando na caverna do dragão – Quero dizer, hoje no almoço você só ficou falando da sua mãe e fiquei imaginando se...


- Não, meu pai não morreu – eu ri – Ele foi embora quando eu tinha dez anos e nunca mais voltou.


- Sério? Nunca mais, nunca mais? – ele estava com aquela cara que todo mundo fica depois de eu contar sobre isso. Aquela cara surpresa demais misturada a um pouco de pena. Odeio quando as pessoas fazem isso.


- É. E ele parou de me ligar para desejar feliz aniversário aos treze.


Agora a pena transcendia a surpresa. Olhei para minha cama desfeita, satisfeita por encontrar algo para me distrair de sua expressão de quem quer me envolver em um abraço, como se eu tivesse cinco anos e estivesse com medo do Bicho-Papão.


- Hum, olá cama. Eu não costumo deixá-la apresentável às minhas visitas – falei um pouco acanhada.


- Não esquenta. Você deveria ver como é o quarto do Sirius ou do Peter. Você se sente como se tivesse entrado em uma meia gigante usada – ele riu e me deixou mais a vontade. Eu sorri.


- Eeeca – falei e olhei ao redor – Bom, você já fez os deveres ou algo assim?


- Não. Só passei em casa para pegar minha guitarra – ele me disse. Sua guitarra Fender Black reluzia em suas mãos. Lembrei-me da minha Fender Avril Lavigne, com uma parte quadriculada preta e branca, presa em sua casinha. Fiquei imaginando o que ele diria com todo esse sarcasmo.


- Ah – e então me perguntei uma coisa e achei melhor proferi-la: - Ei, como sabia onde eu moro? Acho que eu não disse isso hoje, durante o almoço.


- Zora – ele sorriu - Ela me deu o endereço. Na verdade, a Alex iria vir até aqui, mas aí eu disse sobre a sua aula de guitarra e que talvez você quisesse ajuda nisso, então, vim no lugar dela. Não é muito inconveniente, não é? – Ele me olhou com uma expressão esquisita.


- Não, claro que não - ri - Para falar a verdade, você me salvou. Se eu ficasse mais uma hora sozinha com a minha avó, eu iria começar a querer raspar meu cabelo ou sair por aí sem roupas, não sei.


Rimos.


- Bem, espero que você não se torne como a Paris Hilton – ele comentou, brincando.


- Não se preocupe, quase nunca uso vestidos – comentei, agora muito mais à vontade – Mas, bom, podemos fazer os deveres aqui, não é? A menos que você queira ir lá para baixo para observar a minha avó agindo feito uma maluca.


- A casa é sua.


- Ok, larga a guitarra aí. Pode se sentar; vou pegar outra cadeira no quarto da minha mãe, já volto – ofereci a cadeira da minha mesa a ele e fui buscar outra no quarto ao lado. Quando voltei, James analisava o meu quadro de fotos pendurado na parede. Tinha muitas fotos de mim e Taylor juntas e do time das populares. Esqueci de arrancá-la dali.


- Ei, nessa foto aqui você parece a Alyson Hannigan – ele me disse, apontando para uma das figuras antigas minha, quando eu tinha uns 11 ou 12 anos e meu cabelo estava na altura dos ombros e eu não tinha franja. Realmente, agora que ele a citou e eu a visualizei em minha mente, estávamos bastante parecidas mesmo. Mas considerando que àquela época eu ainda aparentava estar entre à fase infantil e à pré-adolescência, é mais provável que me assemelhasse a uma personagem de mangá.


- Ha, talvez. Mas eu não tenho nenhum talento perto da ótima atriz que a Alyson é – respondi, arrastando a cadeira emprestada até a bancada, ao lado da que cedi ao James.


- Pelo o que o Sr Martin diz, acho que você é, sim, boa em alguma coisa.


- Qualquer um pode aprender a tocar violão. Nem precisa de aulas – retruquei, sentando-me e puxando alguns papéis para perto.


- Se você acha que é assim... – ele deu de ombros, dando-se por vencido e se sentando à outra cadeira. Ele abriu o livro de literatura – Bom, temos literatura, redação e biologia por hoje.


- Ah, não. Não vá me dizer que a Sra. Prince quer outra redação? – gemi.


- Me diz quando ela não quer que lhe dou uma caixa de bombons – riu ele – Humm... Bom, biologia é só fazer os exercícios da página 5. Ah, mas literatura... temos de escolher um dos livros de Shakespeare e fazer uma resenha sobre ele.


- Uh, qual você escolheu? – perguntei.


-“A Comédia dos Erros”. Adoro o final. E você? Qual vai escolher?


- Bom, eu só li “Romeu e Julieta” e “Sonho de Uma Noite de Verão”. Acho que vou ficar com “Sonho de Uma Noite de Verão” para não cair muito no clichê – falei.


- É bem divertido – assinalou ele – Acho que a resenha e a redação não precisamos fazer agora; levaria a tarde e a noite inteira. Acho que fazemos os testes e aí podemos praticar na guitarra, se tiver tudo bem para você – de um jeito engraçado, parecia que James estava me ordenando as tarefas, mas somente concordei e sorri. Eu demoro muito para escrever qualquer coisa, então, provavelmente, realmente não daria para esboçarmos qualquer coisa ali juntos.


De um modo descontraído e normal demais, biologia ficou para trás. As questões foram realizadas com tanta rapidez que mal acreditei. Se eu estivesse sozinha em frente ao livro, levaria muito mais tempo, mas com James ali, qualquer obstáculo parece ridículo demais.


- Eu não tenho a mínima idéia de quais são as notas. Não sou movida à The Clash – falei, assim que achei a partitura da canção solicitada (“White Riot”).


- Bem, eu também não, mas não custa nada dar uma chance, não é? Quero dizer, quando eu tinha uns 10 anos eu mal sabia que Nirvana era o nome de uma banda e hoje a escuto praticamente todos os dias – disse-me ele.


- Ah. Certo, entendi – fiz sinal de positivo para ele. James olhou o papel impresso.


- Não é tão difícil – decretou.


- Gênio – xinguei. Eu se limitou a sorrir, um tanto desconfortável.


Não sei muito bem quantas horas ficamos lado a lado, sentados em minha cama. Sei que às vezes ele tirava meus dedos das cordas e os corrigia. Então eu repetia o erro e James ria. Lembra que eu disse (escrevi) que com James qualquer empecilho parece ridículo demais? É verdade. Aprender aquela música que eu não via com bons olhos, tornou-se, aos poucos, algo que não me entediou, pelo contrário, até mesmo causou certo fervor em minha auto-estima. E James é um ótimo professor. Tudo bem que algumas vezes eu me perdia em suas risadas ou sorrisos, mas nada que pudesse me desconcentrar demais.


- Tem certeza? Acho que essa nota é um pouco diferente desta. Ouça – eu disse e então toquei as duas notas a que me referi.


- O Mi de cima não é o mesmo do debaixo – continuou ele - Perceba que o primeiro é um pouco mais agudo do que o outro. O que está sendo pedido é o da primeira corda. Tenta agora.


Tentei de novo. O quê?


- Não ouço muita diferença, mas, ok, é só eu me lembrar que é a primeira corda – falei.


- Não é bem assim. Você tem de aprender a manter o ritmo sem pensar. Você pensa demais.


- Ah tá – rolei os olhos – Que guitarrista não pensa antes de tocar?


- Os que já são familiarizados com as melodias das músicas a serem tocadas, mas, relaxa, isso não é um exercício para hoje. Só estou lhe dizendo que você só tem de sentir a melodia e entrar no ritmo – ele me aconselhou.


- Quer saber? Um mês é muito pouco para aprender a tocar sentindo – falei aborrecida. Ele riu. – O que foi? Não ria, não. Não tenho culpa se você sabe tocar muito melhor do que eu – olhei-o torto.


- Certo, certo. Já parei – James levantou as mãos com as palmas para fora, em sinal de pacificação – Olha, você só precisa praticar mais.


- É o que estou fazendo – minha voz estava irritada.


- Eu sei, Lily – ele me deu um tapinha amigável nas costas.


Eu cruzei os braços e larguei a minha guitarra. Minhas costas estavam reclamando.


Alguém bateu à porta e um segundo após, vimos o cabeção se adentrar pela fresta que fora aberta.


- Oi. Querem biscoitos? Fiz também um bolo de chocolate – ela entrou se equilibrando naqueles saltos de costume.


Olhei-a perplexa. Minha avó cozinhou biscoitos de avelã e um bolo de chocolate? Espera, sério que essa é realmente a minha avó, a D. Julia? Será que o foguete rumo à Urano já voltou e me entregou outra D. Julia? O que estava acontecendo ali?


- Opa, vou aceitar. Estamos ensaiando a um tempão, já estou vendo bolinhas coloridas ao meu redor de fome – James estendeu a mão até a bandeja que D. Julia nos oferecera.


Peguei um biscoito, duvidosa.


- Hum, pode deixar tudo aí, D. Julia, que depois eu levo para baixo – falei para ela se mandar rapidinho dali. Mas ela ficou parada no meio do meu quarto, sorrindo como uma rainha fofa demais e olhando para nós.


- Sabe, eu ficaria muito mais feliz se você trocasse aquele menino fedorento e deseducado pelo seu amiguinho – Ela disse. Fiquei com vontade de atirar uma das fatias cortadas de bolo nela. Certo, essa é mesmo a minha avó, sem dúvida. Novamente senti o sangue subir para meu rosto, mas dessa vez além da vergonha havia também raiva. Ela não pode ficar falando essas coisas estúpidas na frente das minhas visitas.


- Eu ficaria mais ainda, se você voltasse lá para a cozinha ou para frente da TV – respondi entre dentes, mortificada.


- Nossa, eu estou elogiando o rapaz e você diz uma coisa dessas... – ela colocou as mãos na cintura - Não dê muita importância às esquisitices da minha neta, James, ela sempre foi um pouco rebelde e revoltada – virou-se para James, como se estivesse falando da Britney Spears.


- Ok, D. Julia, acho que agora ele já entendeu – atirei com muita raiva. Odeio essa mulher. Ela faz a avó da Mia Thermopolis, de ”O Diário da Princesa”, ser meiga e totalmente sociável.


- Hum... ótimo biscoito – James sorriu, levantando um dos cookies entre os dedos.


- Obrigada, meu bem – ela disse toda simpática e para mim: - Pelo menos ele sabe agradecer por algo – disse-me e saiu em um repelão.


Fiquei olhando para a bandeja que repousava em cima da minha bancada até criar coragem para falar alguma coisa.


- Eu e minha mãe estamos pensando em mandá-la para um asilo, sabe. Daqueles que dão choque elétrico – comentei.


Eu o ouvi gargalhar.


- Sério que isso existe? Não é muita crueldade com ela? – ele quis saber.


- É muito mais cruel ela permanecer aqui tentando destruir a minha vida – respondi.


- Ah, mas pelo o que você me contou, ela ficará por pouco tempo, só até a casa de Londres ficar reformada. E, tudo bem, tem toda a complicação com o muro que não pode se erguido, mas aposto como vai passar mais rápido do que você pensa – ele me disse.


- Hum, duvido – grunhi – Olha, é sério, ela é meio doidona, sabe. Às vezes eu penso que ela fuma maconha ou narguilé, de tão doidona que ela fica. Desculpe por isso.


- Pelo menos ela tem bom-humor.


- Só com você, pelo visto – comentei.


- Que tal pararmos por hoje?  - ele disse, olhando no relógio de pulso – Já são 18:25h. Quem sabe podemos ver um filme ou algo assim? Só para relaxarmos, depois da comida – sugeriu.


Ele ainda estava sugerindo as coisas como se fosse o dono da casa. Que engraçado (mas estranho).


- Bom, só tem TV lá na sala e no quarto da minha mãe – eu informei chateada. Eu totalmente queria ver um filme com ele.


- Ah – fez ele, mas aí: - Bom, em todo caso, acho que tenho que ir, porque combinei de me encontrar com o Sirius na casa dele para fazermos qualquer coisa, agora que estou me lembrando.


- Oh. Claro – eu pestanejei, sentindo um baque surdo no estômago. Levantei-me da cama; ele também e pegou seus materiais e sua guitarra.


- Quem sabe qualquer outro dia eu volto – James disse, quando já estávamos descendo as escadas rumo à porta.


- É, algum dia que minha avó não esteja mais aqui – complementei. E falando nela, D. Julia apareceu correndo no hall quando ouviu nossos passos.


- Você já vai, querido? – ela perguntou com voz lamentosa. Nem sabia que minha avó era capaz de fazer essa voz.


- Sim, combinei de sair com um amigo. Obrigado pelos biscoitos – James retribuiu simpático.


- Volte sempre. Adorei conhecê-lo – ela acenou de onde estava. Eu abri a porta, ignorando-a.


- Valeu pela ajuda – falei a James.


- Amanhã você vai à aula, não é?


- Espero que sim – respondi.


- Beleza. Até amanhã – ele sorriu de um modo meio torto, que me fez pensar o que havia de errado comigo, que não consegui disfarçar o sorriso sem propósito concreto em meus lábios.


- Tchau – falei e acompanhei-o desaparecer pelo quarteirão com sua bicicleta preta.


Sorte de D. Julia que tinha sido mais esperta e já desaparecera do hall. Ah, ela ouviria tanto, que nem conseguiria dormir com suas orelhas plastificadas entrando em combustão, praticamente. 



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N/A: Oii :)
Então, como prometido, estou postando mais um cap. Espero que estejam gostando ;~
Bjobjo e muito obrigada ;) 

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