Capítulo 3



25/JANEIRO – 11:06h – SÁBADO - CASA
Desde criança eu tenho várias manias. Manias necessárias para a minha sobrevivência (eu sou capaz de escovar meus dentes até 10 vezes por dia. Tenho uma obsessão por eles desde sempre) e manias que são somente rotina, por exemplo, meu hábito de acordar – seja o horário que for – e escutar música. Parece que não consigo enfrentar o dia sem uma musiquinha para me dar forças. Minha mãe sempre me olha, todas as manhãs, e diz: “Lily, quer fazer o favor de tirar esses fones e prestar atenção no que está fazendo?”, mas quando tento explicar o quão esse hábito me deixa disposta, ela me olha com mais autoridade ainda, e eu acabo cedendo, com um suspiro. Porém, não é somente minha mãe que acha que sou uma louca logo pela manhã, porque D. Julia também resolveu controlar o que não devo fazer assim que acordo. 


Eu estava bem bela babando no meu travesseiro, quando alguém entrou no meu quarto. Até pensei que tivesse perdido a hora e que já passava das dez ou que a polícia estava de novo batendo na nossa casa por causa da cabeça avoada da minha mãe de nunca se lembra de colocar o carro na garagem e deixa-o no meio-fio, não respeitando o sentido da rua. Entretanto, assim que ouvi aquela voz que não era a de minha mãe, constatei que aquilo era bem pior.


- Até que horas você acha que vai ficar dormindo, Lily? Levante-se e vista uma roupa decente para praticarmos o nosso cooper da manhã – seu tom não parecia o da avó de Taylor. Isso, porque a avó de Taylor é um amor de pessoa e não fez pacto com o Coisa Ruim.


- Aff, bom-dia para a senhora também, D. Julia. Pelo visto, acordou bastante animada – eu falei, com o travesseiro agora no meu rosto. 


- Eu sempre acordo disposta – frisou ela, com veemência – Então, como vai ser? Vai levantar agora, por livre e espontânea vontade, ou vai esperar eu arrancá-la daí?


Hahaha. Ela quis dizer: “Vai levantar daí por livre e espancada vontade”, afinal, não duvido que ela possa me bater para conseguir tudo o que quer de mim.


- Humm, eu tenho outras alternativas? – perguntei, olhando-a.


- Se tivesse, eu já as teria lhe dito – sentenciou. Ela me olhava com cara de Buldogue.


- Argh! Eu não preciso fazer cooper. E eu poderia muito bem interpretar esse seu convite como uma ofensa, porque acho que estou muito satisfeita com o meu corpo, no momento. – falei, franzindo as sobrancelhas.


- É porque você ainda continua largada nessa cama. Parece que está tudo bem, mas não está, porque você não ingere comida há algumas horas e isso sempre nos leva a crer que estamos magras – uia, da onde minha avó tirou essa explicação tão formal? Será que ela está freqüentando algum tipo de seita para tentar ficar com o corpo da Madonna ou algo assim?


- Tá bom, D. Julia, melhorou muito me chamando de gorda – estreitei os olhos.


- Além do mais, fazer exercícios faz bem à circulação, e você não vai querer morrer sedentária, não é? – minha avó tornou a me explicar.


Oooh, que medo de morrer sedentária.


- Que horas são? – perguntei.


- É a hora perfeita para sair debaixo das cobertas e explorar as ruas da cidade, fazendo cooper e respirando ar puro – ela levantou uma de suas sobrancelhas.


Odeio quando ela faz isso, porque eu não consigo fazer.


- Humm, o ar não é tão puro assim, D. Julia. A senhora não está no campo, não – eu falei irônica.


- Não tente se achar mais esperta do que eu, Lily. Se retrucar mais uma vez nessa vozinha de sabe-tudo, faço-a lamber sabão – ela me disse, praticamente gritando. – Saia da cama, agora!


- Mããããe – Berrei. Minha mãe não pode deixar essa mulher fazer o que quiser dentro da nossa casa, como se fosse a dona de tudo.


- Ah, por favor, quantos anos você tem? Cinco? – desdenhou minha avó, revirando os olhos.


- Não interessa! Eu quero dormir! Você não pode entrar aqui quando bem entende e dar as suas ordens como se eu fosse um cachorrinho mal-educado! – retruquei com uma violência um tanto desnecessária, era verdade, mas, poxa!, é o meu quarto, o meu mundo, portanto, sou eu quem faço as regras. Bem, pelo menos deveria ser assim, não é?


- Meu Deus, Lily, eu realmente tinha esperanças de que você estivesse um tanto mais madura, mas vejo que talvez isso seja impossível – ela balançou a cabeça dramaticamente, como se estivesse com vergonhar de mim.


- É, eu continuo a mesma criança de sempre – ironizei.


Ouvi passos no corredor e segundos depois, minha mãe colocou a cabeça para dentro do meu quarto. Assim que viu minha avó parada perto de mim, fechou a cara.


- Ah, mãe, o que foi que eu lhe pedi? – sua voz estava cansada, mas ao mesmo tempo muito aborrecida.


- Kristen, você não pode me proibir de falar com a minha neta – D. Julia falou.


- Ela estava dormindo. E eu não estou lhe proibindo nada, somente estou implorando que se comporte – mamãe explicou, como se estivesse tentando ensinar a Taylor entender estequiometria.


- Então não implore. Implorar não é nada honroso nem bonito – aconselhou minha avó.


Eu e minha mãe suspiramos em causa perdida.


Combater fogo com fogo não é uma atitude muito inteligente.


- Certo, então dê uns minutinhos a Lily, que ela vai levantar, ok? – minha mãe falou, lançando-me um olhar de cachorrinho faminto, como se dissesse: “Por favor, Lily, não comece uma guerra logo pela manhã”. Presumi que não tivesse saída e que era melhor mesmo sair da cama, afinal, até parece que iria conseguir dormir de novo, e se sonhasse, não seria um sonho, seria um pesadelo, que provavelmente envolveria minha avó correndo atrás de mim com mini-vestidinhos brilhantes.


- Ótimo – decretou D. Julia toda empertigada, como se tivesse ganhado a 2ª Guerra Mundial, e então, finalmente se retirou.


Esperei não escutar mais seus saltos ecoarem o som de toc toc toc, para ir para cima de minha mãe.


- Você devia prendê-la no lavabo e jogar a chave fora – atirei com seriedade. Mamãe fez cara de quem estava sendo obrigada a conviver com a Amy Winehouse e então disse:


- Tenha paciência com ela, Lily, por favor. É só por um tempinho. Logo ela volta para aquela maldita cidade.


- Sei, e durante esse tempinho ela vai acabar com a nossa coerência e me fazer surtar. Como se eu já não tivesse outros problemas na cabeça muito maiores. – falei com tom ofendido.


Então, minha mãe não estava mais interessada em me convencer em ser mais legal com a bruxa do mal da minha avó, mas sim, com meus problemas. 


- O que está acontecendo? Que problemas são esses? – ela sentou ao pé da cama.


Argh. Não posso admitir para a minha mãe que a Taylor acabou comigo na frente da escola inteira. Apesar de mamãe não gostar taaanto assim da T, ela ficará totalmente decepcionada comigo por eu não ter reagido à altura. Minha mãe leva Eleanor Roosevelt muito a sério. E se contar que almocei com outras pessoas, pessoas que não têm o consentimento de Taylor para andar comigo, teria de explicar o motivo de tal ação, e, novamente, voltaria a minha ex-melhor amiga.


- Humm, terei de tocar uma música da qual não gosto na apresentação de guitarra, daqui a um mês – achei melhor somente mencionar isso.


- Uh, mas você não pode escolher as músicas a serem tocadas? Pensei que era assim que tudo funcionava – ela apertou os lábios.


- Não, mãe. Nunca foi assim que tudo funcionou – balancei a cabeça.


- Sabe, na minha época, as coisas eram assim. Os professores decretavam as regras e se não estávamos satisfeitos em realizá-las não tínhamos saída, mas, depois de tanto tempo, achei que a didática tinha mudado - minha mãe deu de ombros com uma cara não muito feliz.


Bem, naquela época, na época de mamãe, as aulas de música eram obrigatórias. Mas acho que isso se devesse ao fato de que sua escola era cristã. A minha escola não está nem aí para a religião.


- Ah, é que o Sr Martin é mais das antigas, sabe? Ele gosta daquelas bandas que não fazem mais influência hoje em dia. Quero dizer, que não são mais os maiores sucessos – eu dei de ombros, pretendendo defender o Sr Martin, porque, apesar de tudo, ele não é o pior professor do mundo e achou que a melodia de My Hero é encantadora.


- Bem, é somente por isso que você dormiu em casa? Você não deveria ter ido para a casa da Taylor após o trabalho? Na verdade, fiquei muito surpresa quando você apareceu ontem à noite – minha mãe ergueu as sobrancelhas como se estivesse me ironizando.


Eu corei. Droga. O que poderia responder?


- Taylor tinha festa, e eu não estava muito a fim de ir junto com ela – falei. Odeio mentir para a minha mãe, mas agora era altamente necessário.


- Ah. Sei. Então à tarde você vai me deixar sozinha para se divertir com a TV de plasma da casa dela? – ela me indagou em um tom ofendido, mas notei que não falava à sério.


- Humm, acho que não vai dar. Tenho que treinar guitarra e violão, sem contar os trabalhos da escola – falei. Tudo bem, aquilo era mesmo verdade e minha mãe engoliu, porque sabe que eu sou do tipo de nerd musical que não dispensa seus instrumentos nem por um único dia.


- Você está certa. Faça o que lhe é prioridade – mamãe sorriu e levantou-se da cama – Agora, é melhor você se arrumar rápido, antes que eu tenha de fingir que estou muito indignada com você, só para fazer a minha mãe não ser capaz de balançar minhas tacinhas de cristal marroquino no armário com seus gritos – ela saiu do quarto, fechando a porta.


Alonguei-me preguiçosamente e fui para o banheiro. Em poucos minutos – depois de ouvir um sonoro “Essa menina foi fabricar as roupas que vai usar ou se afogou na privada?” -, eu estava descendo as escadas com meu conjunto de moletom roxo favorito e All Stars. Assim que adentrei na cozinha, pretendendo comer algum tipo de cereal, minha avó apareceu em minha frente com a boca contorcida e me disse:


- Roxo não combina com você.


- Ah, é, esqueci que vou sair na capa da Nova desse mês – atirei, sem humor algum. Acordar e dar de cara com minha avó é quase tão ruim quanto ter de almoçar ovos de formiga. D. Julia suspirou e sussurrou alto:


- Não sei o que vou fazer com você – ela balançou a cabeça loura como se tivesse acabado de perder uma maratona.


- Simples: não faça nada – respondi e dei bom-dia ao meu avô, que preparava um ovo no fogão.


Minha mãe estava na sala, no telefone, conversando com um de seus pacientes. Não precisei pensar muito para adivinhar que era o Charlie. Esse gordinho careca tem tantos problemas que faz a minha vida se transformar em um conto de fadas. Ele procura mamãe praticamente todos os dias para lhe contar qual é a sua nova paranóia, como se fosse um diário ou algo assim. Charlie, às vezes, aparece aqui em casa quando não encontra minha mãe no consultório e sempre me recomenda novos filmes do Nicholas Cage.


- Você acha que... – era claro que ela iria retrucar.


- D. Julia, por favor, eu acabei de acordar. Não vai começar com as críticas agora, não é? – eu a atropelei.


Ela estampou uma expressão inocente e espantada.


- Tudo bem, teremos muito tempo durante o passeio para brigarmos por conta disso – ela se conteve.


- Exato – eu fiz um sinal de positivo com a mão direita.


Minha mãe entrou na cozinha com uma cara em tanto feliz demais e nos comunicou:


- Tenho de atender o Charlie – ela fazia um esforço para fingir que aquilo não seria nada agradável.


- Humm, perdi um pouco as coisas e esse é o seu novo marido? – minha avó indagou com uma hesitação na voz.


- Não, mãe. Charlie é um de meus pacientes na clínica – mamãe respondeu com os olhos semicerrados. Ela nunca mais teve outro marido, mas D. Julia estava se fazendo de esclerosada.


- Ah, você trabalha com fisioterapia, não é? – o cabeção perguntou, com voz de quem estava começando a se recordar dos fatos.


- Não, claro que não. Eu sou psiquiatra, está lembrada? – minha mãe ficou em choque.


- Ah, claro. Sempre confundo – assinalou ela. Aham, como se fosse fácil demais confundir as duas profissões.


- Francamente, só a senhora para não saber qual é a profissão da sua única filha – minha mãe balançou a cabeça que se estivesse cogitando a possibilidade de mandar D. Julia para a mais próxima clinica de reabilitação mental. O que, sinceramente, nem é uma má idéia. – Bem, sinto muito, mas não poderia acompanhá-los na corrida. Fica para a próxima. – ela já estava juntando sua bolsa e seu casaco.


- Não é uma corrida, meu bem. É cooper. Bem, sempre soube que você é uma preguiçosa, mesmo. Que faz de tudo para adiar um exercício; nem sei como você é minha filha – disse minha avó.


- Certo, mãe, diga o que quiser; nada fará diferença, ok? Além de tudo, só para você saber, trabalho vem antes de tudo. Até mesmo de uma porcaria de uma corridinha pelo quarteirão. Tudo bem, tenham uma ótima manhã, volto quando puder – minha mãe retrucou, mostrando-se impaciente e apressada.


- Kristen... – D. Julia até mesmo tentou uma revanche, mas minha mãe já estava nos jardins, pronta para entrar no carro. Então se virou para mim: - Você é igualzinha a ela.


Não quis responder, porque sei que se o fizesse era bem capaz de ela jogar alguma coisa que estivesse perto demais dela em mim.


- Ande logo, vamos perder a hora perfeita do Sol para caminharmos – alertou-me D. Julia, cutucando-me com a colher que roubara um pedaço do ovo frio do prato de meu avô.


- Acha mesmo necessário obrigar Lily a isso? – vovô perguntou.


- Oras, você acha que eu fico satisfeita em ter uma neta acomodada? E não se meta, Robert! – ela ralhou.


Quinze minutos após minha mãe ter me deixado nas mãos de D. Julia, estávamos saindo de casa. Minha avó com sua roupa Pink de corrida arrancou risos de Patrick, nosso vizinho da frente, mas ela somente se aprumou como se tal ação tivesse sido um elogio. Não sei como meu avô não tem vergonha de sair com essa loura obcecada por cores berrantes. E depois ela reclama da cor do meu cabelo!


E vou contar uma coisa a você: fazer cooper logo pela manhã não é algo muito prazeroso. Não é como ir ao Mcdonalds devorar um hambúrguer de frango ou ir ao show de uma banda de que gostamos. Se mal aprecio praticar Educação Física com o Sr R, não é de surpreender que eu tenha odiado aquilo. Quero dizer, acho que se o Sr R tivesse me obrigado a acordar às 08:35h, em um sábado,  para fazermos cooper, não teria sido tão ruim, porque correr ao lado de D. Julia é traumático. Além de ela ter detonado com o meu conjunto de inverno para praticar atividades físicas – ei, é a minha melhor roupa de Educação Física! -, conseguiu berrar o percurso inteiro, atraindo todos os olhares do parque para nós.


- Mais rápido, Lily! Você está parecendo uma garça desengonçada correndo! – ela assinalava.


Ou então:


- Corra direito, menina! Não quero que a vizinhança aponte para você e diga que parece um avestruz bêbado!


Na maioria das vezes eu fingia que não a conhecia, mas outras dava vontade de retrucar. E ei!, eu não pareço uma garça nem um avestruz!


Acho que, de verdade, deveríamos chamar aqueles caras especializados em colocar camisas-de-força e dizer que podem levá-la para onde quiserem, mas para o local mais longe da nossa residência.


 25/JANEIRO – 15:23h – SÁBADO – CASA
Desde que chegamos do nosso “cooper da manhã” eu tenho saído do meu quarto sempre que D. Julia tem vontade de berrar o meu nome. Parece que ela ama muito meu nome, realmente. Acho que eu deveria mudá-lo para Clotilde da Silva Sauro. Será que ainda assim ela me procuraria? Ela me chama para procurar bolachas nos armários, para eu ver algo idiota na Tv, para lhe alcançar copos de água, para abrir ou fechar as janelas da sala ou para mudar o tapete de lugar. Qualquer coisa é motivo para gritar: “Lily, venha aqui! Rápido!”. Sempre que penso que é porque ela está se sufocando ou tendo uma queda de pressão ou que o Flame está tentando atacá-la, é só para fazer algo besta que ela mesma podia estar fazendo. Quero dizer, ela tem duas pernas e dois braços. Existem pessoas que nem ao menos tem isso e vivem sozinhas sem o auxílio de ninguém, mas, claro, minha avó, não. É como se ela fosse uma bebezona incapaz de se tirar o traseiro da poltrona.


Toda hora que eu tento lhe comunicar, com muita educação, devo acrescentar, que não sou sua babá e tenho a o que me dedicar – tipo fazer os exercícios de geometria ou ler o livro de literatura -, D. Julia somente me lança aquele olhar de serpente e diz:


- Eu sou sua avó! Você deve fazer com que eu me sinta amada e acomodada! Pare de ser tão mal-agradecida e arrogante! Ninguém quer se casar com meninas rebeldes como você!


E eu só respondo:


- Eu não quero me casar – mas isso nem resolve os problemas, pelo contrário, somente faz que com ela comece a monologar sobre o quão importante é um casamento na vida das pessoas.


Agora mesmo ela me chamou para ir buscar a escova rosa cravejada de brilhantes do Flame. Eu ri e disse que se quisesse, ela que fosse buscá-la, mas isso só fez com que ela atirasse em mim suas pantufas brancas de plumas. Fiquei pensando o que um daqueles sapatos Jimmy Choo faria comigo. Provavelmente, eu teria um olho inchado ou um nariz quebrado, neste instante.


Quer saber? Vou deixar cair acidentalmente um daqueles comprimidos Tarja Preta de minha mãe, que ela toma para dormir quando tem insônia, na próxima xícara de chá que preparar para esse cabeção louro. Qualquer coisa, se minha mãe chegar e encontrar D. Julia desmaiada na poltrona, digo que não vi nada e não sei de nada. Posso também tentar apelar para as drogas. Se minha avó é capaz de fumar cigarros, é totalmente apta a experimentar qualquer outra coisa degradante.


Não é ela que sempre diz que não tenho princípios? Pois muito bem, D. Julia.


 25/JANEIRO – 17:18h – SÁBADO – CASA
Só não digo que estou entediada porque tenho muito o que praticar com a minha guitarra, mas, ainda assim, é muito estranho passar o fim de semana em casa, porque geralmente estou na casa da Taylor. Minhas mãos estão se coçando para ir pegar o telefone e ligar para ela e lhe pedir milhões de desculpas, mas é claro que não vai adiantar nada, porque Taylor não é o tipo de pessoa que se abala e se comove com um pedido de desculpas. É de se surpreender que ela não consiga enxergar que a babaca da história é ela mesma, mas, bom, T nunca veria isso. Ela é sempre a perfeita, a linda, a tudo. Mas acontece que a perfeita, a linda e a tudo é completamente insana e drogada. E ela não pode atirar pedras em cima só porque não quero me aliar ao seu grupinho drogados.com nem porque não aceito fazer o que ela faz atrás de algum muro da escola quando deveria estar na sala de aula aprendendo sobre os coeficientes de solubilidade ou sobre as bactérias.


Quer saber, acho que ninguém deva interferir na vida de alguém, porque pode ser que não saibamos nem mesmo o que é melhor para nós e ficamos julgando o que os outros deveriam fazer. Aliás, essa coisa de tomar conta da vida do outro é muito coisa de revista de fofoca dos famosos. E eu não estou nem aí para o que os meus ídolos fazem, afinal, se eles têm cérebros é porque têm a perfeita capacidade de decidir o que fazer, o que agir e o que falar. Não cabe a mim ser responsável por tudo isso.


Bem, apesar de tudo, eu me preocupo com a T. Ela é minha amiga desde que tínhamos 7 anos. Já faz praticamente 10 anos de amizade. Desde a tarde em que eu bati a boca no balanço que o Robbie Stuart brincava. Eu saí chorando do playground e a Taylor me levou até a professora da turma. Tudo bem que ela começou a chorar comigo assim que vi todo o sangue que pingava de meus lábios partidos, mas ela foi bastante boazinha. Então, depois disso nunca mais nos separamos.


Claro que Taylor seguiu por um caminho de maior glamour, mas nem por isso me largou; continuou ao meu lado como sempre fez. Bem, exceto no dia em que meu pai saiu de casa (ela tinha que comparecer à festa de Nicki Stevens, que segundo seus berrinhos ao telefone, era a festa do ano – e nós só tínhamos 10 anos), e na manhã em que Billy, meu canário de estimação, morreu (“Fala sério, Lily, é só uma ave, não é a sua mãe”).


Mas, olha só, o fato da T não saber o que quer da vida não pode mudar os desejos dos que estão o seu redor. Ela sempre age como se fosse a rainha do país, como se todo mundo tivesse que beijar seus pés ou acatar seus pedidos. Ela não pode me impedir de agir de acordo com meus princípios (mesmo que esses princípios a ferre no final), e eu já devia ter agido do meu próprio modo há muito tempo. Não fui eu que decidi que T fosse uma deles. Foi ela mesma que experimentou e disse: “Hummm, isso é bom”.


Agora D. Julia está reclamando que a Hayley está cantando alto demais. Bom, está mesmo, porque prefiro mil vezes a voz dela no volume máximo do que os berros da minha avó irmã do Satã. Ela diz (berra) que não escuta o que o Gerard Butler está dizendo em Encurralados. E eu com isso?


25/JANEIRO – 18:43h – SÁBADO – CASA
Minha mãe já voltou do consultório e está brigando com D. Julia lá na sala.


D. Julia está acusando mamãe de ser preconceituosa contra o Flame por ele ser um gato. Eu deveria contar para minha mãe que minha avó anda fumando no jardim de inverno e que me fez de escrava a tarde inteira. Mas não quero ser apontada de traidora mais uma vez.


E muitas vezes me pergunto o que meu avô fumou para propor um casamento à minha avó.


 26/JANEIRO – 11:23h – DOMINGO – CASA
Quando eu era criança, adorava me sentar com meu avô na escada da casa da fazenda para ouvi-lo contar suas histórias de pescaria (como a vez em que ele e o Sr. Amantino quase foram comidos por jacarés) ou do exército. Ficávamos rindo ali até D. Julia aparecer de robe para nos colocar para dentro, dizendo que estava muito tarde e que deveríamos levantar com as galinhas, na manhã seguinte, para ver se elas teriam botado ovos. Naquela época (eu tinha uns sete ou oito anos, porque depois disso nunca mais fomos para lá, porque minha avó descobriu as cirurgias plásticas e dizia que odiava o mato) era uma diversão despertar com o galo e correr até o galinheiro para contar ovos. Naquela época, também, D. Julia conseguia ser menos reclamona, tanto é que a primeira coisa que eu fazia ao vê-la era pular em seu pescoço. Hoje em dia, se eu fizer isso, ela joga o sofá em cima de mim.


Bem, pelo menos hoje ninguém me acordou para fazer cooper da manhã e pude dormir até às 10:30h. Para falar a verdade, quando desci até a sala comecei a achar que minha avó já tinha voltado para a grande casa de Londres.


- Ué, cadê todo mundo, mãe? – perguntei, olhando em volta.


- Eles saíram – minha mãe me disse, com a última edição da Nova nas mãos.


- E onde foram?


- Não sei. Mas espero que ela demore a voltar até a semana que vem. Só tenho pena do seu avô.


- Coitado, aposto como está de cabide ambulante de sacolas de lojas de grife.


- Certamente – concordou ela.


Balançando a cabeça, fui para a cozinha, onde encontrei Flame em cima do micro-ondas.


- Saia daí, seu gato malvado – falei, estendendo minhas mãos até ele. Flame ronronou de um modo arisco e desceu do aparelho. Foi para o jardim dos fundos, provavelmente observar os pássaros da fonte do vizinho. Abri a geladeira e peguei um copo de batida de frutas – que já estava no fim, o que provavelmente quer dizer que além da D. Julia ser viciada em cigarros, roupas rosa e chapéus estranhos, está se viciando também na vitamina da minha mãe. Voltei para a sala e liguei a TV na MTV (porque é praticamente o único canal, além dos canais de filmes e do Home & Health, que assisto).


- Você acha que eles irão demorar muito? – quis saber.


- Desde quando você se importa?


- Só estou perguntando, não estou nem aí para ela - encolhi os ombros, enquanto acompanhava a Shakira em mais um de seus clipes.


- Hum – minha mãe virou mais uma folha da revista.


 26/JANEIRO – 18:45h – DOMINGO – CASA
AHMEUDEUS. Falando sério, agora. Será que alguém os raptou? Porque meus avós ainda não voltaram. Sei que sempre que minha avó resolve fazer compras demora bastante, mas acho que já está na hora de ela aparecer. E sei também que vovô foi de acompanhante, porque ela sempre diz que é deselegante uma mulher andar desacompanhada.


Minha mãe está no jardim cortando a grama e eu fui lá para ver se ela precisa de alguma ajuda.


- Não precisa, sou eu mesma que sei o que fazer. Obrigada, Lily. Já acabou com seus estudos de guitarra?


- Humm, não. Não estou nem perto de terminá-lo – falei – Humm, você acha que aconteceu alguma coisa com eles?


- Com quem? – minha mãe desenrolou o fio de seu pé.


- Com D. Julia e vovô, mãe!


- Ah. Claro que não – ela olhou para a grama à caça de falhas.


- Como você tem tanta certeza?


- Porque, provavelmente, sua avó só quer nos provocar e o seu avô acaba pagando de pato em todas as idéias dela – ela me falou.


- Mas e se não for verdade? Quero dizer, são quase sete na noite, mãe! E se eles foram atropelados ou seqüestrados?


- Se tivessem sido atropelados, já estariam em algum hospital e alguém já teria nos telefonado para nos informar. E até parece que seriam seqüestrados com a sua avó de vítima: ela teria dado bolsadas nos ladrões, até enxergarem duendes coloridos dançando pelados na frente deles – ela me respondeu impaciente.


- Bom, é verdade – concordei.


- Pare com isso, Lily. Você sabe como sua avó é, gosta de causar, de nos ver morrer por ela. Você lembra que ano passado, no aniversário dela, eu a presenteei com um celular e ela recusou, dizendo ter fobia de tecnologia. O que posso fazer? Ir atrás dela? É para isso que existem os telefones públicos, minha filha. Esqueça a sua avó, daqui a pouco ela aparece com mais roupas rosa e sapatos de marca – ela voltou a andar com a máquina de cortar grama pelo jardim.


Voltei para meu quarto, ansiosa. COMO minha mãe consegue ficar tão tranqüila?


 26/JANEIRO – 19:38h – DOMINGO – CASA
Não sei por que me preocupei tanto com ela.


Agora ela conseguiu tudo o que planejava desde o segundo que chegou aqui. Quero dizer, como ela ousa? Eu nem pedi. Eu nem quero.


Eu estava em meu quarto, adiantando alguns tópicos da aula da Sra Anif, quando ouvi os berros felizes de uma D. Julia feliz ecoar meu nome pelas paredes da casa.


- Deixe as sacolas aqui, Rob, e prepare para mim um chá de ervas, por favor, meu bem – ela dizia para meu avô, no instante que pisei na sala. Meu avô, submisso como sempre, piscou para mim e me perguntou se eu queria um chá também; eu lhe disse que não.


- D. Julia, o que são essas... – eu tentei finalizar minha pergunta, mas, à medida que meus olhos caíam sobre as peças de roupas que ela ia espalhando pelo sofá e pela poltrona, perdi minha voz, chocada.


- São roupas, oras. Para você, é claro – ela sorriu de um modo que acho que só a vi o fazendo quando criança.


- Eu percebi, não sou retardada – bufei.


- Ande, Lily, comece a experimentá-las. Acha que fico contente de vê-la desfilando por aí com essas roupas de liquidação?


- Qual é o problema com as roupas de liquidação? – eu perguntei, irritada, enquanto tocava em um vestido metálico curtíssimo e fazia cara de nojo.


- São erradas, é isso. Vamos, menina. Pegue esse, ficará divino em você – ela agarrou um casaquinho brilhante de capuz e enfiou em meus braços.


- Meu Deus. Isso parece algo que a Demi Lovato usaria, e não eu. D. Julia, tem certeza de que sou mesmo da sua família? – encarei o casaquinho, horrorizada.


- Quem é essa menina? – ela encarou o casaco também.


- Alguém que não tem nada a ver comigo e que você adoraria ter como neta – disse-lhe.


- Não interessa, agora você pode ser como essa tal de Demi sei-lá-das-quantas. Não é ótimo? – ela me empurrou até a frente do espelho em cima da lareira e me sorriu, como se tivesse acertado em sua resposta. Ah, sim, é muito ótimo. Eu quero mesmo começar a namorar um dos Jonas Brothers ¬¬


- Não é nada ótimo, D. Julia. Não sou de Hollywood nem quero parecer ser.


- Shhh, não retruque. Vista-o e aprecie – ela mandou.


Pensei que o espelho fosse se partir em milhões de caquinhos assim que me analisei no espelho. Eu estava muito Demi Lovato.


- Ei, vocês chegaram. Meu Deus, Lily, você está brilhando! – minha mãe começou a rir assim que entrou na sala. Olhei-a torto.


- Estou me sentindo enrolada em papel laminado, socorro – gemi.


- Achei a sua cara – minha avó me informou. Eu quis vomitar.


- Ah, claro, exatamente do jeito que eu amo. Como foi que adivinhou? – zombei.


- Eu sei o que está se usando, oras. O que você acha que fico fazendo? Assando bolinhos? – ela me respondeu. Bem que eu gostaria que ela ficasse assando bolinhos ao invés de ficar caçando revistas de moda e roupas estranhas.


- Haha. O que é isso? – apontei para um tecido que mais parecia um saco, enquanto jogava o casaco brilhante para longe de meus olhos.


- Um sobre-tudo.


- Humm, de que década? Da dos alienígenas? – perguntei.


- Tá bom, e esse vestido? Hum? – ela balançou o vestido de zebrinha perto de mim.


- Ah, meu Deus, mataram uma pobre de uma zebrinha para fazerem isso? –olhei-o desgostosa. Aquilo não era para mim.


- Claro que não! Isso é imitação – ela rolou os olhos.


- D, Julia, olha é, não preciso de roupas novas. É muito... hum, legal da sua parte me... presentear com tudo isso, mas não é necessário gastar seu dinheiro comigo, afinal é por isso que tenho um emprego – tomei fôlego e encarei a fera. Tentei fazer com que minha mãe me ajudasse, mas ela estava ocupada demais fazendo caretas para as roupas.


Não era como se eu tivesse odiado tudo, mas a grande maioria daquilo tudo. Quero dizer, não quero me transformar em uma modelo nem em alguém assim. Não quero me fantasiar de Taylor McGrow nem de Paris Hilton. Só quero ser a mesma Lily de sempre. A Lily que nunca suportou salto alto e que despreza um vestido para usar camisetas de bandas e calças customizadas. Não acho que só porque a moda esteja no corpo de outras pessoas, eu deva me comportar como todas essas pessoas. Acho ridículo ter de me adaptar a esse novo modelo de meninas, mas claro que esse não é o pensamento de minha avó. Ela quer totalmente que eu me transforme em alguém que nunca fui por fora só para dizer que sou legal. E, sinceramente, ninguém precisa usar vestidinho curto para ser aceita pela sociedade. Bem, do que importa minha opinião? D. Julia só faz essas coisas para jogar na minha cara o quanto eu sou ingrata. E quer saber? Talvez eu seja mesmo ingrata.


Mas o que posso fazer se não quero ser uma daquelas participantes do programa “Mude o seu Look” que às vezes assisto no canal Home & Healt? Definitivamente aprecio muito a coragem daquelas mulheres, mas gosto de mim do jeito que sou. Não preciso que minha avó doidona me mande o que vestir. E se existe alguém que está pedindo urgentemente um S.O.S em seu visual é D. Julia. Será que ela sabe que há outros tons de rosa além do pink?


- Sua ingratinha! Você deveria estar beijando os meus pés calejados por tal ajuda! Você seria muito menos imatura se vivesse comigo, porque comigo não tem moleza alguma – ela teve um ataque e se voltou contra minha mãe: - Kristen, como você pode ser tão péssima educadora? Eu ensinei a você tudo o que não vejo em Lily. A disciplina, a atitude, as coisas que devem e não devem ser apreciadas, o traquejo social... Tudo. E então por que chego aqui e a encontro nesse estado deprimente de sempre? Passar a mão na cabeça dela não contribuirá com nada. Quantas vezes já disse que... – a língua da minha avó já estava quando se enrolando de tanto falar com raiva, mas minha mãe a calou com uma voz praticamente normal, mas muito, muito explosiva:


- AGORA CHEGA, MÃE! – sua boca estava comprimida e seu olhar não era dos mais amigáveis. Ela chegara ao limite. D. Julia se calou por um momento, um tanto desconsertada.


- Como é que é, Kristen? – a voz da minha avó estava muito perigosa, como na tarde em que eu a mandei calar a boca, há uns três anos, mas juro que foi sem querer. Eu estava querendo assistir 24 Horas e ela não parava de tagarelar sobre os jovens emos que andavam circulando em seu bairro lá em Londres.


- Agora chega – repetiu mamãe – Você está na minha casa, usufruindo dos meus confortos, portanto não me venha dizer como devo educar a minha filha.


D. Julia piscou e pressionou o maxilar, entes de retrucar:


- Ah, muito bem. Então você acha que isso é o seu melhor? Deixá-la fazer o que quer, à hora que quer? Pois irei lhe dizer uma coisa: se eu a tivesse deixado viver como você deixa Lily viver, você nunca teria sido alguém na vida. Nunca teria tido perseverança ou esperança. E você acha que a sociedade aprecia pessoas apáticas? Não, minha querida, porque não existe alguém que se sinta bem diante da ignorância – minha avó disse, assim que meu avó tornou à sala com a xícara de chá.


- Humm... Seu chá, querida – meu avô lhe disse, estendendo-lhe a xícara.


- Depois eu tomo, Robert, agora não, você não está percebendo? – retrucou ela, ainda inflada de raiva.


- Caramba, mãe, a senhora sabe o quanto já lutei para transformar a Lily em uma menina melhor, mas agora ela já tem dezessete anos e já está apta a fazer suas próprias escolhas. Não quero que ela esteja infeliz com as minhas regras. Não quero que ela olhe para trás, no futuro, e pense que se criou em um ambiente sufocante e militarizado. Não quero aterrorizá-la, assim como você o faz – minha mãe estava tão séria que pensei que pudesse perder para sempre o senso de humor.


Minha avó pareceu se inchar de indignação.


- Eu não a aterrorizo, só tento impor limites! É somente uma operação necessária. A ignorância não pode ser um recurso habitual – ela respondeu em uma voz dramática.


- Não somos ignorantes, só vivemos de um modo diferente de seu. Lily sabe o que quer e aonde quer chegar. Pare de importuná-la – falando isso, minha mãe se retirou para o jardim dos fundos, onde meu avô estava apreciando, mais uma vez, as estrelas.


Minha avó rolou os olhos e olhou para mim.


- Aonde eu errei com a sua mãe? Ah, aposto que isso teve dedo do seu avô, aquele molenga... Ele sempre deixou Kristen quebrar as regras... Uma vez, eu tinha dito a sua mãe que devia ficar em casa antes das três da tarde por causa dos cães selvagens e, simplesmente, ela e o bobalhão do seu avô foram fazer um piquenique no riacho, logo após o almoço. Acabou que ela permaneceu de castigo por um mês. Você acredita? É essa droga de liberdade que os jovens de hoje têm... Acham que podem colocar calças coloridas e sair pelas ruas como se fossem... – ela começou a falar e não parou mais. Comecei a recolher as roupas. Quando ela finalmente se calou, ajudou-me a enfiar aquelas coisas de volta para as sacolas e foi para o jardim da frente fumar um cigarro.


Acho, realmente, que D. Julia é um alienígena que está fazendo um estudo sobre o comportamento humano. Acho que, se ela não sabe lidar com as pessoas de uma forma tranqüila e civilizada, deveria se socializar com abacaxis. Pelo menos, abacaxis não devem ser “rebeldes”, como ela sempre me descreve.


 26/JANEIRO – 21:35h – DOMINGO – CASA
Entre minha avó ainda zangada com a minha mãe e a TV emanando aqueles filmes esquisitos de guerra que D. Julia adora, somente porque aqueles atores das antigas participam deles, liguei meu laptop e entrei no Messenger só para ver se podia me distrair um pouco. E daí que descobri que provavelmente a Taylor me excluiu de seu círculo de amigos online. Sei disso, porque Taylor não é liberada para sair para festas aos domingos à noite e sempre está online conversando ou com a Kelly Tholy ou comigo (quando estou em casa aos domingos à noite, o que é um pouco raro considerando que eu e ela vamos para a aula juntas às segundas-feiras, porque durmo lá na casa dela). Mas a Zora estava online e veio falar comigo.


 *Zora* - Trying to forget love cause love's forgotten me says:
Wooo, fala aí, Lily! Domingo com pizza, de novo? Sei que não está na casa da Tay.


 Lily :) says:
Ah, oi, Zo. Pelo menos VOCÊ quer falar comigo : ) Aham, pizza, DE NOVO! E com uma bagagem extra: minha avó OO:


 *Zora* - Trying to forget love cause love's forgotten me says:
Bom, você sabe que por mais que eu suporte a Taylor, ela não é a minha amiga preferida e parece que não faço mais parte do grupinho dela também, já que eu não quis excluir você do meu MSN. Todo mundo já excluiu :/ Iiiirc, o que a sua avó está fazendo aí? Meedo ;~


 Lily :) says:
Imaginava isso ¬¬ Ah, aparentemente minha avó está derrubando a casa de Londres e fazendo uma nova e precisa de um lugar para ficar ¬¬


 *Zora* - Trying to forget love cause love's forgotten me says:
Boa sorte com a vovó do mal, aí. Ei, amanhã nos falamos na aula. Quem sabe eu sento com você e com o seu novo grupinho no almoço. Vou assistir “Meu novo amor”. Bjiiim ;*


 Lily :) says:
Ook. Bjobjo :*


 Como mais ninguém quis começar outra conversa comigo, saí do MSN. Em pouco tempo, também deixei meu laptop de lado e fui comer um pedaço de pizza que minha mãe tinha encomendado como sempre faz aos domingos. Milagrosamente, D. Julia estava tão centrada em seu prato de comida que não atirou nenhuma crítica em mim. Eu até mesmo quis agradecer aos Deuses, mas tive medo que o feitiço perdesse o efeito.


 26/JANEIRO – 23:47h – DOMINGO – CASA
O Flame acha que pode ficar miando em frente à porta do meu quarto. Eu deveria chutar esse gato para os jardins. Por que D. Julia não vem buscá-lo? Eu quero dormir, seu gato fedorento!


 27/JANEIRO – 02:06h – SEGUNDA – CASA
Estava pensando em uma coisa: e se a Taylor e todo mundo do grupinho viciados.com forem expulsos da escola? Minha mãe vai acabar descobrindo tudo e eu vou me ferrar mais ainda. A Taylor nunca mais vai me perdoar. Olha, está passando uma maratona de Star Wars. Não, Lily, vá dormir!


 27/JANEIRO – 02:51h – SEGUNDA - CASA
Será que a Zora estava falando sério quando disse que quer sentar comigo e com James, Alex e todo mundo? Tudo bem que eu já sei que por mais que ela e a Taylor mantinham uma relação de cordialidade, aquilo nunca foi bem uma amizade. A Zora é toda colorida exatamente do jeito que a Alex é, por isso Taylor sempre desdenhava dela, apesar de fingir ser sua amiga. Sabe o que estou pensando? A Taylor é muito falsa, cara.


 27/ JANEIRO – 08:37h – SEGUNDA – CASA
Seria maravilhoso se minha avó parasse de gritar. Parece que ela e minha mãe já se estranharam mais uma vez, agora porque minha mãe a pegou fumando no lavabo.


- Você quer que eu congele o meu traseiro lá fora? – D. Julia berrou.


- Não quero vê-la fumando dentro de casa, mãe! É só isso! – mamãe retrucou.


Eu desci as escadas, totalmente bêbada de sono, ainda vestindo meu pijama.


- Meu Deus, Lily, pensei que fosse um zumbi – minha avó me disse.


- Ha, é de se impressionar que não seja, não é? – rolei os olhos.


- Você vai precisar de muita maquiagem para esconder essa péssima cara – ela abanou a cabeça.


- Ah. Eca, você está fedendo a cigarro, saia de perto de mim – eu disse, sentando-me ao lado de vovô, que comia ovos mexidos e que me deu um beijo no topo da minha cabeça.


- Tá vendo o que dá fumar logo pela manhã? – minha mãe atacou.


- Kristen, mais um comentário seu sobre isso, eu compro uma focinheira para você – D. Julia disse, passando geléia de morango light na torrada.


- Ah, aproveite e me acorrente também – completou mamãe. Eu ri.


- Mude de canal, Lily. Como você pode acordar e ouvir música? – minha avó me disse, olhando com nojo para a TV, que estava na MTV. Minha mãe suspirou.


- Deixe aí. É o Coldplay. – minha mãe assinalou com voz ameaçadora. Minha avó se calou.


Os 15 minutos seguintes correram silenciosos e eu agradeci, porque estava morrendo de dor de cabeça.


- Vou me arrumar – eu falei, deixando o prato na pia e indo para as escadas, rumo ao meu quarto.


Depois de procurar a minha skinny favorita, fui procurar um dos meus moletons pretos na lavanderia. Quando voltei ao meu quarto para escovar os dentes e calçar um dos meus All Stars coloridos, encontrei D. Julia presa no meu banheiro.


- D. Julia, você está bem? – eu perguntei, porque comecei a pensar que ela estivesse com algum problema, já que eu estava sentada na minha cama a esperando sair de lá há quase vinte minutos.


- Claro que sim, que pergunta – foi o que ela me respondeu pela porta.


- Que cheiro estranho é esse, hein? Você está fumando maconha aí dentro?


- Não e cale a boca.


Cheirei o ar um pouco mais e tive um ataque silencioso.


- Ah, não! Mããããããe! D. Julia está fumando cigarros dentro do MEU banheiro! – eu berrei da escada.


Em um segundo ela abriu a porta espalhando aquele aroma terrível pelo meu quarto. Eu tossi.


- Vó! Você não pode fumar dentro de casa! E o meu banheiro continua dentro de casa, caso você não saiba! – eu praticamente gritei. Ela se aprumou toda e contraiu os lábios. Eu fui para o banheiro, prendendo a respiração, para finalmente escovar os dentes.


- Não me chame de avó ou eu a deserdo! – ela retrucou com muita raiva, saindo do meu quarto como se somente estivesse ali para me pedir o rímel emprestado.


- Ah, mãe! O que faço com você, caramba? – ouvi minha mãe falar lá da escada, onde provavelmente estava.


- Ai, como você são caretas – reclamou D. Julia – Eu fumo onde eu quiser.


- Não, não. Não é assim que as coisas funcionam aqui, Dona Evans – mamãe falou. 


- Ah tá. Lily! Já acabou, meu bem? – enquanto eu colocava os cadernos na mochila, ela gritou lá debaixo.


- Quase, por quê? – eu perguntei.


- Venha até aqui e prepare um chá de erva-doce bem quentinho para mim – mandou.


Fechei o zíper da mochila e comecei a descer as escadas.


- Ha, não mesmo. Estou atrasada – falei – Ah, droga, esqueci o relatório do Sr. Jones. Já volto, mãe. Só um minuto.


- O horário é seu, oras – minha mãe me falou – E pode esquecer, ela não fará chazinho algum para você. Ela não é sua empregada; você pode muito bem prepará-lo – isso foi dito para minha avó.


- Kristen! Você sabe o que o meu médico me disse na última consulta? Que não devo fazer esforços para não piorar a minha pressão alta! – ela retrucou.


- Ah é? E o que mais ele lhe receitou? Que comesse carne de filhotes de cachorrinhos? – desdenhou mamãe.


- LILY! VENHA AGORA PREPARAR O MEU CHÁ! – ela berrou e a ouvi correr. Logo ela apareceu na porta do meu quarto. – Vá preparar meu chá. – ela me disse.


- D. Julia, não dá. Já disse: estou atrasada e nem ao menos acho a porcaria do relatório do Sr. Jones – respondi, revirando meu quarto à procura dos tais papéis perdidos nos confins da minha bagunça.


- VÁ FAZER O MEU CHÁ, AGORA! – ela berrou e atirou um pé do meu All Star customizado quase em minha cabeça.


- Ai, que porcaria. Tá bom! Eu vou lá, certo? Agora pode sair daqui? – falei totalmente desesperada e preocupada com a minha coleção de rock stars em miniatura que comprei pelo e-bay há uns cinco anos.


- Claro, querida – ela falou em uma voz macia e totalmente falsa e desceu.


Após, finalmente, encontrar as anotações da última aula do Sr. Jones, desci para a cozinha e preparei a droga do chazinho de erva-doce que ela quanto queria. Qual é a dificuldade em pegar uma xícara no armário, enchê-la de água quente, pegar um pacotinho de chá da caixa dentro da dispensa e sacudi-lo por um minuto na água quente que está dentro da xícara? Até mesmo o Flame é capaz de fazer isso.


Que ótimo jeito de começar uma segunda-feira. Não que eu ame segundas-feiras, na verdade, não as suporto, porque temos geometria logo no primeiro período e eu sou tão péssima em calcular aqueles desenhos que é melhor nem comentar. Porém, por mais entediante e chato que seja acordar e dar de cara com o quadro repleto daquelas formas e fórmulas geométricas que ninguém entende por completas, faço de tudo para ficar algumas horas beem longe de minha avó. Quem sabe, quando eu chegar da aula, eu a encontre tentando atar fogo na casa. Weeeee ¬¬



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N/A: Oi, ainda estou escrevendo o 4º cap, mas até o final do mês prometo postá-lo. Beijos!

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