O jardim de Julieta



Capítulo 3 – O jardim de Julieta

        Ginny andava, distraída, com seu caderno na mão, observando as pessoas ao seu redor, a casa de Julieta, facilmente reconhecida, não só por que tinha uma mulher na varanda fingindo ser Julieta aclamando por seu Romeu, mas também porque era onde se passa toda a trama da história de Romeu e Julieta, do famoso escritor trouxa William Shakespeare. Ginny era fanática por escritores. Pensava em sua história, sobre o muro de Julieta que era visitado por mulheres de diversos países para deixarem suas cartas para serem respondidas por “Julieta”, quando passou por uma mulher que havia acabado de deixar sua carta no muro. A mulher estava aos prantos.

        - Moça ? Está tudo bem ? – Ginny perguntou cuidadosa, penalizada pelo sofrimento da estranha.

        Em resposta, a moça respondeu em um italiano muito rápido, andando de costas para poder falar com Ginny e de vez em quando pondo as duas mãos fechadas em seu coração.

        Ginny estava assustada pela reação dela, mas com pena da jovem garota que acabara de conhecer. O amor às vezes era muito cruel. Tão jovem e já sofrendo assim.

        Ela resolveu continuar sua história, sentada em um banco de frente ao muro.

        Ficou horas escrevendo e se dedicando ao seu futuro livro. Estava tão absorta que não percebeu que todas as pessoas já haviam ido embora. Só percebeu a hora, quando uma mulher morena apareceu e começou a retirar todos os papeizinhos e cartas do muro, colocando-os em uma cesta, sem perceber que todos os seus movimentos eram observados por uma Ginny curiosa. Após terminar, a mulher foi andando a passos largos, seguida por Ginny, que depressa guardou seu caderno na bolsa que trouxera consigo e começou a correr atrás da mulher. Chegaram ambas a um restaurante, com uma placa que dizia: Restaurante e Cartas para Julieta. Viu a mulher subir as escadas e assim fez. Chegando lá, viu a moça que seguira, e uma mesa com mais três senhoras, rodeadas de cartas.

        - Com licença. – Disse Ginny, tímida. Quando as quatro mulheres olharam para ela, ela disse em italiano: - Vocês falam em inglês ?

        - Oh, graças a Deus! – Disse a morena que foi seguida. – Venha, pode começar por aqui. – E mostrou uma pilha de cartas ?

         Após ver a cara de confusão de Ginny, a mulher disse:

        - Você não é a nossa intérprete ? Estamos esperando há duas semanas! – Disse ela num tom levemente desapontado.

        - Não, na verdade – Disse com certa vergonha pelo que havia feito. – Eu te segui até aqui, pois a vi retirando as cartas do muro e... quis saber o  motivo. A propósito, sou Ginevra Weasley, mas pode me chamar de Ginny.

         - Ué, mas de que outro jeito as responderíamos ?- Exclamou a mulher confusa. – Ah, prazer querida.

         - Mas isso não seria como roubar moedas de um poço dos desejos ? – Perguntou curiosa.

         - As moedas não pedem para serem respondidas não é mesmo ? – Disse sábia, a mulher.

        - Então... vocês são Julieta ? – Perguntou com certa admiração pelo trabalho daquelas mulheres.

        - As secretárias dela, por assim dizer. – Respondeu às perguntas curiosas de Ginny com um sorriso.

        - E vocês respondem a todas ? – Ela exclamou surpresa.

        - Só as com endereço. Venha querida, vou te mostrar como trabalhamos. – Falou a mulher, conduzindo Ginny para o outro lado da mesa. – Esta é Donatella – Apontou para a senhora idosa de óculos. – Foi casada por 51 anos, sua especialidade: Casamentos.

        - Homens são como vinho, demora para se acostumar. – Respondeu a bondosa senhora, sorrindo de volta para Ginny.

        - Esta, - Falou apontando para a morena com ar de inteligência, pelos olhos sábios. – É Francesca, enfermeira, lida com casos de enfermidades e mortes.

        - Olá. – Disse Ginny.

         - E está, - Apontou para a senhora de cabelos vermelhos tingidos e óculos. – É Maria.  – E suspirou com admiração.

         - Por que você sempre suspira ao pronunciar meu nome ? – Perguntou Maria sorridente.

        - Doze filhos, vinte e nove netos e dezesseis bisnetos. Lida com casos de família.

        - Legal, mas – Ginny olhou confusa para a moça que lhe apresentara todas. – E você ? Não ajuda com as cartas também ?

         - Isabella responde as cartas que mal dá para ler. – Falou Donatella, lhe entregando uma das cartas para Ginny.

        A carta, era quase ilegível. Tinha vários borrões, causados por lágrimas, supôs Ginny, que por onde pingavam, borravam o conteúdo.

        - Eu cuido das traições, separações, brigas com namorados... É difícil, mas alguém tem que fazer...

CARTAS PARA JULIETA

        Depois de muita conversa, Ginny começou a se preparar para ir embora, seu noivo, Harry, já devia ter chegado, visto que já se passava das 11 da noite.

        - Bem, obrigada por tudo. Mesmo. Pela tarde maravilhosa e pelas respostas! Adorei conhecer a todas, mas eu realmente tenho que ir... – Disse já se levantando e procurando pela bolsa.

         - MAS COMO ASSIM ?!?! – Gritou uma mulher com uma colher de pau na mão, avental sujo de molho rosèe e um chapéu de chef.  – Isso é um insulto! Pessoas viajam do mundo inteiro para provar meu tagliarinni e nem ficar ela quer! Nunca fui tão ultrajada! – Respondeu a mulher escandalosa chacoalhando a colher de pau na mão e pondo a outra mão teatralmente na testa.

        - Aiai. Ginny querida, essa é a minha mãe e nossa chef de cozinha, Angelina. – Respondeu Isabella cansada, com cara de quem já estava acostumada com o drama da mãe. – Mamãe, não é insulto, não começa, a moça tem que ir.

        Ao contrário de Isabella, Ginny estava totalmente assustada, não tinha ideia do que ia fazer. – É que eu tenho que voltar para o meu noivo. Ele me espera.  – Tentou explicar, sendo novamente surpreendida pela reação da mulher.

         - Seu noivo ? Oh, felicidades querida! – Disse Angelina, dando um abraço caloroso, típico de Molly Weasley. A lembrança da família a deixou momentaneamente triste, ao se lembrar de seu irmão mais velho, Gui.

- Obrigada! – Sorriu amarelo. Tchau meninas, obrigada mais uma vez.

         - Ah espere! Ao menos leve isso ao seu noivo, sim ? – Angelina lhe entregou uma sacola, que exalava um cheiro maravilhoso de nozes.


        - Obrigada! Hmm... O cheiro é ótimo! Tenho certeza que Harry vai adorar! – Falou Ginny com um sorriso sincero.

        - Traga ele aqui então! Vou adorar conhecê-lo! – Disse Angelina, antes de se retirar para seu refúgio, digo, cozinha.

 - Isso mesmo Ginny, todas gostaremos de conhecer o amor da sua vida, aquele que te faz gemer! – Falou Maria, recebendo um olhar de reprovação por parte de Isabella. – O que ? – Falou ela se fazendo de inocente.

        E foi rindo que Ginny saiu de lá.
       
        Caminhava pela rua, desatenta, olhando as pessoas que passavam, passara o dia inteiro longe de Harry e só lembrara-se dele na hora de ir embora. Não podia ser normal isso.

        Subiu as escadas do hotel, abriu a porta do hotel e encontrou Harry sentado em uma poltrona, lendo um livro.

        - Ah, Ginny!  120 km ida e 120 km volta e eu ainda chego antes de você hein ? – Comentou Harry risonho. – Como foi seu dia ? – Disse, se levantando e a abraçando.

        Ela começou a contar partes do seu dia incrível e das pessoas que conhecera, ficara com uma cara tão sonhadora que se fosse uma criança, poder-se-ia facilmente imaginar que teria ido para a Disney.

        - O que é isso ? – Interrompeu Harry ao ver que o cheiro maravilhoso que sentira vinha da sacola.

        - Ahn ?  - Voltou à realidade. - Ah, não sei. – E continuou sua história, até ser novamente interrompida pelo noivo.

        - Hm! Você tem que provar isso. Sério. Uma delicia! – E a fez morder um pedaço da torta que Angelina havia lhe dado.

         - Ah, as meninas querem que você vá lá vê-las amanhã. – Falou com um suspiro de derrota ao ver que o noivo não a escutaria mesmo.

CARTAS PARA JULIETA

        Ginny estava sentada na mesa das mulheres que havia conhecido no dia anterior. Isabella servia um chá para ela.

        - seu noivo me parece muito apaixonado. – Falou ela se referindo aos comentários, quase tão escandalosos quanto os de Angelina, dados por Harry, enquanto eles conversavam sobre comida. A segunda paixão de Harry Potter, o menino-que-sobreviveu: Cozinhar.

        - É... desde que estamos aqui, Harry acha que é italiano, mas... ele não é sabe ?

        Nessa hora, veio Harry querendo falar com Ginny. Isabella sutilmente os deixou a sós.

        - Você pode me dizer não se quiser. Sério. Basta falar e eu não faço. – Falou ele com olhar de cachorro pidão.

        - Certo. Fale-me.

        - Angelina quer me ensinar uns truques. Essa mulher é uma lenda! Cada receita dela deve existir a uns 300 anos!

        - Tudo bem Harry.

        - Sério ? Obrigado. Mesmo. – Deu um selinho rápido nela e saiu, fazendo Ginny suspirar com certo tom de tristeza.

CARTAS PARA JULIETA
 
Ginny e Isabella caminhavam lado a lado pela rua de pedra, repletas de casais aos beijos e abraços e lotada de pessoas do mundo inteiro.

        - Sabe Ginny – Disse Isabella calmamente – Não pude deixar de notar, mas você não usa aliança certo ? Aconteceu alguma coisa ? – Perguntou cautelosa. Era experientes em brigas de namorados, portanto sabia o suficiente para deduzir que se alguém não usasse aliança, no mínimo eles brigaram.

        - Na verdade... Foi escolha minha sabe ? – Comentou a ruiva levemente desconcertada. – Não queria abrir mão da minha liberdade, acho eu... Todos os meus relacionamentos anteriores eu nunca quis usar aliança, apesar de este ser o mais sério, o único que chegou a noivado.

        - Bom, se você se sente bem assim... Admito que é estranho, mas... O que importa é o amor. Está na hora de recolher as cartas, vamos. Me ajuda ?

        - Claro.

        E as duas se dirigiram para o Muro de Julieta. Destino que se repetia todas as tardes para Isabella desde quando ela se lembrava.

        Começaram agilmente a retirar todas as cartas presas entre as pedras do muro e a colocá-las na cesta de vime, quando uma das cartas que Ginny retirou derrubou a pedra do muro em que estava presa. Ao tentar colocar a pedra no lugar novamente, Ginny percebeu que havia um envelope dentro da cavidade que a pedra deixara. Envelope este, amarelado pelo tempo, datado há mais ou menos 50 anos e com um endereço de Oxford Shire. Ginny o abriu e nele, encontrou uma carta com a mesma aparência gasta do envelope, que dizia:

       
Eu não fui, Julieta.
Não sei exatamente o por que. Covardia talvez.
 Conheci Lorenzo durante minha estadia aqui e posso dizer que estamos completamente apaixonados. Ou pelo menos eu ainda estou, já que não posso dizer o mesmo dele, sendo que o deixei esperando na frente da nossa árvore.
Lorenzo e eu tínhamos combinado de fugir, já que meus pais nunca me deixariam abandonar meus estudos na Inglaterra e morar aqui.
Marcamos o encontro perto da fazenda dele, mas não tive coragem de ir. Não tive coragem de simplesmente largar minha vida. Falei para Lorenzo do meu temor, tentei lhe explicar que meus pais me deserdariam caso isso acontecesse, mas ele me dizia para não me preocupar, que meus pais me perdoariam. Não pude me convencer, ele não conhece minha família como eu, então o larguei me esperando.
Estou muito arrependida. Volto para Inglaterra amanhã pela manhã e não sei se devo voltar e pedir desculpas pela minha covardia.
Por favor, me ajude.

                                                       Com carinho,
                                                          Claire.

        Ao terminar a leitura, Ginny  podia dizer que estava simplesmente chocada. Não podia acreditar que a carta estava lá haviam 50 anos. Seu queixo pendia mole e seu olhos abriam mais cada vez que lembrava do que lera. De repente a única coisa em sua mente era que precisava urgentemente responder a carta.
       


CARTAS PARA JULIETA

N/A: Mais um capítulo... Bom, críticas, sugestões, comentários... Qualquer coisa. Por favor comentem. É muito importante ouvir a opinião dos leitores para a fic ser melhorada!

Beijos

Gabi W. Malfoy

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