Meu quase-final feliz
Já era o dia do baile, 18h13min. Eu e Ellen deformamos total o vestido – deformamos para melhor, é claro. O baile começaria às sete e eu já estava quase pronta. Bom, só faltava o vestido, a sandália, a maquiagem, o cabelo, os acessórios e me sentar no sofá para eliminar toda a tensão. Sim, eu estava nervosa, eu ia ao baile com o Dylan, meu melhor amigo. Eu não devia estar nervosa, ele num é nenhum estranho, eu praticamente cresci com ele.
Eu saí do banho ainda de cabelos molhados e fui para o meu quarto, enrolada na toalha.
Eu quase dei um pulo para trás.
- O que você ta fazendo aqui? – disse sobressaltada.
Dylan estava sentado na beira da minha cama, em suas mãos estavam uma foto de nós dois juntos.
- Esperando você – respondeu ele – Er... – ele olhou para mim de cima a baixo – Desculpe – disse ele devagar.
Eu suspirei.
- Tudo bem, mas por que aqui?
Ele suspirou e fingiu pensar.
- Eu não sei – murmurou ele de cabeça baixa.
Eu continuei olhando para ele com minha expressão perplexa até ele se tocar.
Ele ergueu a cabeça e olhou para mim.
- Ah, claro! Eu te espero lá fora – balbuciou ele.
- No baile – corrigi – Me espera no baile.
Ele abriu a boca parecendo tomar oxigênio.
- Por quê? – indagou ele.
Eu sorri maliciosamente.
- Surpresa.
Ele retribuiu o sorriso – um pouco tímido até – e se virou para a janela – por que se ele podia usar a porta? –, mas antes de pular ele se virou para mim e jogou beijinho. Eu suspirei e tombei minha cabeça para trás, por um momento eu fiquei fora de órbita e não sabia o que prendia meus pés no chão.
- O que foi isso? – perguntei ao vazio depois que voltei para Terra.
Como ele conseguia me enfeitiçar desse jeito? Me hipnotizar, me fraquejar... Eu sacudi a cabeça e voltei ao que eu tinha que fazer. Desta vez eu não teria a ajuda de Ellen – ela já devia estar no baile com Jeremy – então teria de me virar sozinha. Isso soa tão triste.
Eu deixei o vestido por último. A propósito, ele ficou tão lindo, agora ele estava esticado em cima da minha cama esperando por mim1.
A começar pelo cabelo... Dei um jeito nele com o baby-liss – tirei minha franja, ela também estava grande e eu estava usando-a para todos os lados menos do jeito que ela era para estar. Quando eu terminei que me surpreendi. Quem diria que eu me dava ta bem assim com meu cabelo! Ele ficou com os cachinhos perfeitos e angelicais estilo Taylor Swift, só que castanhos claros.
Maquiagem! Esse era um termo que me assustava. Eu não gostava de usar maquiagem, mas também não podia ir para o baile com aquela cara pálida de vela derretida. O blush pêssego que me deixou coradinha. Lápis de olho, ele é essencial para destacar o olhar. E uma sombra preta que deixou meus olhos em evidência. E para a boca, um batom rosa claro e para finalizar o nosso glorioso e idolatrado gloss.
Eu estalei os lábios ainda de frente para o espelho.
- Prontinho! Agora só falta o vestido e a sandália.
Primeiro eu me enfiei no vestido e depois fui procurar uma sandália. Rasteirinha? Pelo amor de Deus! Eu vou ao baile e não à feira. Salto alto era uma boa opção. Talvez eu me rendesse ao salto plataforma, mas, jamais, em nenhuma hipótese da minha vida eu usaria um salto agulha. Se eu atropeçava em qualquer coisa com o meu all star o que seria de mim sobre um salto agulha?
Certo. Eu já estava pronta.
Eu respirei fundo. E desci. E sentei no sofá. Fala sério, eu não tenho tempo para isso! Eu subi de volta parando na soleira da porta do escritório do meu pai. Ele estava ali sentado, encarando o notebook, coçando o queixo e murmurando alguma coisa – devia ser os pensamentos dele.
- Pai – sussurrei para não acabar de vez com sua concentração.
Mas ele estava tão centralizado no projeto que não me ouviu chamar, e continuou murmurando para o notebook.
- Pai – sussurrei um pouquinho mais.
Ele ergueu o rosto para mim, mas não desgrudou os olhos do notebook.
- Pai! – me exaltei.
Ele quase deu um pulo da cadeira.
- Oi, oi – respondeu ele imediatamente – Fale filha.
- Pode me levar ao baile? – agora eu falava mais calma – É no ginásio da escola mesmo.
- Claro, claro – disse ele afirmando com a cabeça.
Ele deu mais uns cliques no mouse e uma última olhada no notebook até sair da saleta. Pegou seu casaco que estava na sala jogado em cima do sofá e saímos.
Antes de fechar a porta de casa ele olhou para mim, não era um olhar qualquer. Talvez um olhar que eu nunca recebera do meu pai. Era exatamente o jeito que eu imaginava que ele olhava para a minha mãe. Com admiração.
Seus queixo caiu um pouquinho, depois ele desviou o olhar e trancou a porta.
Eu sentir meu corpo todo tremer quando meu pai tirou o carro da garagem, eu não podia botar a culpa no carro por que seu motor estava em perfeito estado. Eu me segurei no banco, meu corpo rígido e reto tentando me conter.
- Você está bem, Anny? – perguntou meu pai me espiando pelo cantinho do olho.
- Estou ótima, pai – disse rindo de nervoso – Obrigado por perguntar.
- Se quiser nós podemos voltar daqui – propôs ele.
- Não precisa pai, eu estou bem.
- Tudo bem então – disse ele dando de ombros.
Seu pé afundou devagarzinho no acelerador já que agora ele estava despreocupado.
A cada esquina que ele virava era um nó que meu estômago dava.
O portão do colégio estava sendo iluminado pelos postes da rua, mas o caminho para o ginásio – que ficava do lado esquerdo atrás da escola – estava iluminado por pequenos holofotes pregados no chão.
Eu suspirei.
- É a minha deixa – disse meu pai atrás de mim.
Eu me virei e sorri para ele. Estiquei meu corpo para dentro do carro e dei um beijo em sua testa.
- Tchau pai.
- Tchau abelhinha.
Antes que eu pudesse dar meu primeiro passo ele disse:
- A propósito... Você está linda, minha filha – disse ele sorrindo, admirado.
Eu sorri de volta. Queria jurar que o brilho no canto dos olhos de meu pai não era uma lágrima do tipo “minha filhinha ta crescendo”.
Ele arrancou com carro e sumiu na esquina.
Eu obriguei às minhas pernas a caminharem até o ginásio. A música estava alta, mesmo assim dava para ouvir os múrmuros de tagarelice. Eu entrei com o coração martelando.
Quando entrei no salão, a primeira coisa que vi foi Katie dentro do seu vestido tomara-que-caia, justo e curto rosa berrante falando com um grupinho de garotos pervertidos que não tiravam os olhos dos seus peitos. Era uma cena repugnante. Do outro lado do salão estava Ellen sentada em uma mesa com Jeremy e... Dylan? Ele estava meio amuado brincando com o copo descartável.
Assim que Ellen me avistou ela acenou animada com um sorriso largo no rosto. Jeremy apenas sorriu. E o Dylan deixou o copinho cair abrindo um sorrisinho bobo. Percebi que as pessoas à minha volta que estavam cochichando, estavam comentando sobre minha pessoa. Acho que eles ainda não se acostumaram em me ver de vestido.
Ellen empurrou Dylan para ele se levantar da cadeira – ele ainda estava lá estatelado olhando para mim. Quando ele chegou mais perto ele pegou minha mão e deu beijo na palma dela sentindo o cheiro do meu perfume no meu pulso. Ele sorriu e abriu a boca pra dizer alguma coisa. Ele parecia estar escolhendo palavras.
- Não sei o que dizer – disse ele por fim.
Eu sorri tímida encolhendo os ombros.
- Então não diga nada – disse baixinho, sabia que ele era bom em leitura labial.
E por falar em leitura labial, ao longo do baile ele me fez dar muitos beijinhos. Acredite! Depois de vários selinhos no rosto e no cantinho da boca... Desculpe, porém não sou de ferro e não resisti. Sem falar que ele me fez dançar muito, mas na quinta música eletrônica eu já estava exausta.
Nós procuramos uma mesa e ficamos ali um tempinho, comendo salgadinhos, bebendo refrigerante e conversando assuntos tolos. Até tocar a maldita da música romântica.
Dylan olhou para mim, aqueles olhos azuis brilhando...
Eu mordi o lábio inferir e balancei a cabeça. Sem chance de eu dançar com o Dylan, e se eu pisasse no pé dele, que desastre! Eu sou uma derrota na dança.
- Ah, Angie – resmungou ele se levantando. – Vem comigo – Ele sorriu e estendeu a mão para eu segurar.
Às vezes, sinceramente, acho que meu corpo age por conta própria, ou talvez seja alguma coisa nos olhos do Dylan que faz isso comigo. Eu segurei sua mão.
Nós já estávamos na metade do salão quando pensei que ele iria parar, se virar, colocar a mão na minha cintura e tal. Mas não.
Ele continuou andando até sairmos do ginásio.
Eu não acredito!
- Você não vai me levar...
- Não – disse ele entre um sorriso – Pode ficar tranqüila.
Ele contornou o ginásio. Eu não conhecia esse pedaço do colégio. Sempre ficava no pátio da frente, nunca me interessei em ir para trás do ginásio.
Havia um jardim ali, e no meio do jardim havia um chafariz ativado. As águas do chafariz dançavam uma dança graciosa, e eram iluminadas pelos mesmos holofotes que estavam pregados no chão da entrada. Só que estes eram coloridos e se moviam.
Ainda dali dava para ouvir a música lá de dentro. E adivinha qual música era...
Lifehouse, You and Me. A mesma música que o Dylan tocara para mim no violão.
Ele fez um gesto formal seguido das palavras:
- Me concede esta dança, senhorita?
Eu perdi o fôlego, por algumas horas eu acho. O tempo simplesmente parou. Depois quando dei por mim estava com a cabeça pousada em seu peito, dançando agarradinha com ele. E ele tinha um cheiro tão, mas tão bom que me deixava embriagada. Juro que não bebi nada alcoolizado na festa.
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