Epílogo



Férias!



É uma palavra tão sublime que vou repetir bem devagar.



F-É-R-I-A-S!



Bom, eu não sabia para onde eu iria, mas nunca passava as férias em Jacksonville. Talvez eu fosse para a Califórnia. Simplesmente amo a Califórnia. As praias, o sol incandescente. Tudo isso era incrivelmente extraordinário. O barulho das ondas lambendo a areia, ou batendo nas pedras.



Tudo bem que aqui em Jacksonville faz um solzinho, mas lá na Califórnia tem os surfistas louros de pele bronzeada...



Eu deixei escapar um suspiro só de imaginar.



Já tava na hora de parar de sonhar e viver um pouco da realidade.



Eu me ofereci como voluntária para arrumar a escola: desmanchar o cenário que fora da festa de semana passada. Bom, depois daquela dança maravilhosa que tive com o Dylan ele simplesmente me levou para casa. Antes que eu abrisse a porta ele me deu um beijo seguido de um “boa noite” sussurrado melodicamente. É claro que naquela noite eu dormir nas nuvens.



Eu me levantei da cama trocando meu short por uma bermuda jeans.



- Pai! – gritei da porta do meu quarto mesmo – Eu já to indo lá.



Passei pelo seu escritório – ele trabalhava demais – e ele acenou para mim com um sorriso que eu logo retribuí.



Desci as escadas praticamente correndo como se estivesse muito animada para prestar serviço comunitário à minha querida escola. Peguei minha fiel bicicleta na garagem e parti.



Passei em frente à casa do Dylan o que me fez sentir uma ligeira saudade dele. Bom, desde aquela noite eu não tenho o visto muito. Poderia deduzir que ele já tinha viajado, mas estava cedo para isso e sua mãe seu padrasto ainda estavam lá. Mas o Dylan...



Será que ele está me traindo?



Ai que ridículo! Nós nem estamos namorando oficialmente e eu já estou dando uma de louca ciumenta. Caramba! E se ele voltou com a Katie? E se ele estiver saindo com a Rachel? Depois daquela noite tecnicamente isso seria traição sim!



Eu respirei fundo.



Se concentra na rua Angie, disse a mim  mesma, não vale se acidentar por causa disso. Garotos!



Quando cheguei na escola eu encostei minha bicicleta ao lado da escada que dava para as salas, era tipo uma varanda enorme e aberta.



Fui até o ginásio onde havia vários grupinhos de seis pessoas, cada grupo num canto do ginásio era destinado a uma tarefa – um varria o chão, outro coletava o lixo, outro tinha o cuidado de tirar todos aqueles enfeites.



- Angie! – gritou Isadora – Pegue uma vassoura no armarinho atrás das arquibancadas.



Eu assenti e fui lá pegar a vassoura no tal armarinho.



Eu não sabia em que lado ficava esse armarinho, então eu fui abaixada, quase engatinhando procurar pelo armarinho debaixo da arquibancada.



Reprimir-me de gritar quando levei um susto.



- Dylan! – sibilei – O que você está fazendo aqui?



- Procurando você – sussurrou ele.



- Ah, então agora você se preocupa em me procurar, né?



Dylan franziu as sobrancelhas.



- Ãhn? – Ele estalou a língua e me pegou pelo braço. – Vamos Angie!



- O que você quer? – Tentei tirar meu braço da mão dele... sem sucesso. A mão dele estava fechada no meu pulso. – Eu estou ocupada Dylan – Com a cabeça eu apontei para as pessoas do outro lado da arquibancada varrendo a quadra.



- Vem logo Angie! – sibilou ele já sem paciência.



- Me diz o que você quer.



- Não dá para dizer – murmurou ele.



- Por que não?



Ele sorriu malicioso pra mim.



- Porque você precisa ver.



Ele largou meu pulso, agora estendendo a mão para eu pegá-la. Eu hesitei um pouco, enfim minha mão pousou sobre a dele e eu não resisti ao um sorriso.



 



Nós riamos como se o vento que golpeava nossos rostos fizesse cócegas. Mais uma vez, nós dois correndo para o fascinante que só nós conhecíamos. Já estávamos bosque adentro, não fazia a mínima idéia da minha localização, mas ele parecia saber.



- Aonde você vai me levar? – perguntei quando nós diminuímos o ritmo.



Ele suspirou.



- Não é muito longe – disse ele com um sorriso malicioso.



Ele deu a volta e tapou meus olhos com as duas mãos pra fazer suspense. Atrás de mim ele foi me guiando o caminho.



- Ta pronta? – ele sussurrou em meu ouvido.



Eu sorri, e mesmo sem entender nada eu disse:



- Sim.



Agora ele tapava os meus dois olhos com uma das duas mãos. Ouvi um ruído de alguma coisa se abrindo, talvez uma porta. Eu mordi meu lábio de nervosismo.



Eu arfei um pouco.



- É aqui que você vai me matar? – perguntei fingindo ofegar de medo.



Ele riu.



- Não, sua bobinha – disse ele sibilando e destapou meus olhos.



Na minha frente uma árvore, o ruído que eu ouvi não era de uma porta, era uma escada que dobrava ao meio feita da madeira do tronco e amarrada com cordas bem resistentes. Meus olhos foram subindo devagar para ver até aonde dava a escada. Entre os galhos da árvore havia uma casinha.



- É a nossa casa da árvore – disse ele baixinho no meu ouvido, o que tornava tudo mais perfeito.



Eu sorri maravilhada e subi as escadas. O Dylan subiu logo atrás de mim. Era a casinha que eu tinha pedido a ele quando éramos crianças – um pedido estúpido de uma criança que não tem o que fazer. Ele me prometeu que um dia construiria, mas eu pensei que ele já tivesse se esquecido disso, afinal, éramos apenas crianças. A pequena casinha era do jeito que eu imaginava. Exatamente o que eu pedira. Chegava a lembrar a casinha dos sete anões.



Eu fiquei sem palavras.



- E-eu não tenho como agradecer – disse por fim.



- Agradecer uma promessa minha? – disse ele suspirando – Não precisa minha Angel.



E mais uma vez eu tive que sorri e ele me abraçou forte. E de repente era como se sensações maravilhosas de felicidade nos envolvessem. Parecia um elástico que nos apertava cada vez mais fazendo com que nós ficássemos juntos para sempre sem se importar com todas as hipóteses negativas.



- Admite que agora você ta caidinha por mim – disse ele do nada.



Eu o larguei no mesmo segundo que ele falou isso e o encarei, meus lábios franzindo e as suaves ruguinhas de estresse aparecendo na minha testa – dava pra sentir.



- O que foi? – disse ele com aquela carinha de inocente.



Eu ergui a sobrancelha esquerda.



- Claro que não!



- Claro que sim – disse ele sorrindo o que me irritou mais ainda.



- Claro que não! – minha voz agudando o histerismo.



- Claro que sim – sua voz ainda era calma e ele sorria.



- Claro que não! – eu bati o pé no chão como quando o juiz da a última palavra – Argh!



Era uma discussão fútil e infantil de duas crianças brigando por um brinquedinho. Eu não acredito que eu cheguei a esse ponto de não me render a ele. Às vezes eu não me entendo.



Ele calou-se e nós ficamos ali parados nos encarando, aquele silêncio irritante, um de frente para o outro.



Ele suavizou seu olhar sobre mim e mordeu o lábio. Eu contraí meus lábios em uma linha reta como se quisesse prende-lo, impedi-lo de fazer alguma coisa. Ele soltou seu lábio inferior dos dentes bem devagar e depois ele passou a língua em seus lábios inferiores...



- O que você esta tentando fazer? – indaguei.



Seja lá o que for... ele estava conseguindo.



- Te seduzindo – disse ele com um sorrisinho malicioso.



Eu ri. Por mais estressada que eu estivesse ele sabia me fazer rir.



- Eu não to conseguindo, né? – disse ele cabisbaixo.



- Não ta mesmo – menti.



Ele riu.



- Você não sabe mentir muito bem, Angie – disse ele dando um passo em minha direção.



Eu arregalei os olhos assustada.



- Eu te conheço tão bem que às vezes soa como um pecado – sua voz era grave, suave, aguda, rouca, estava soando perfeita em meus ouvidos.



- E-Eu não to mentindo – menti mais uma vez dando um passo hesitante para trás. E, cara, não acredito que gaguejei de novo!



- Tente não dizer isso sem a ruguinha – disse ele gesticulando para o meu rosto.



Eu fechei os olhos bem apertados tentando relaxar meu rosto. Eu nunca tinha percebido que entre minhas sobrancelhas havia uma ruguinha que me entregava sempre quando eu estava mentindo para alguém. Devia ser a tensão do meu rosto.



Quando eu abri meus olhos, ele já estava bem perto de mim.



Eu suspirei.



- Por que você sempre faz isso? – perguntei desviando meus olhos dos dele tentando disfarçar meu ofegar.



Ele soltou uma risada abafada.



- E você? – rebateu ele – Por que sempre desvia os olhos? – disse ele segurando meu rosto, fazendo com que meus olhos voltassem para ele de novo.



Porque eu tinha medo de altura. Tinha medo de cair ainda mais para dentro de você. Respondi a mim mesma em pensamentos. Há em seus olhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas bem do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar deles. Mas, hoje, não encontrei pedra. Encontrei flores. E eu me agarrei às pétalas o máximo que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos. Então mais uma vez eu fui vitima do interminável oceano azul que refletia a matiz de seus olhos.



Seus lábios eram delicados e demorados nos meus. Onde estava meu orgulho feminino? Quem seria eu se mal consegui controlar a mim mesma? Seria como negar chocolate. Impossível. Agora ele me beijava como se fosse uma vitória. Uma luta que ele ganhou por fracasso meu. E essa pode ser considerada minha melhor perda.



Não fora tão torturante cair do abismo, era mais como se eu estivesse voando e não caindo, eu não sentia meus pés tocando o chão. Se ele não estivesse me segurando acho que eu teria flutuado.



Eu voltei a sentir o sólido chão sob meus pés.



- Quer namorar comigo? – perguntou ele com os olhos azulados intensos em mim.



Eu não respondi, apenas sorri em um “sim” e voltei a voar sobre as cordilheiras, o mar azul...



Ali só havia nós dois no nosso precioso lugar nenhum, um lugar que só nós conhecíamos. Não importava mais nada, estávamos juntos. Amor ou ódio, mesmo que ele fosse um garoto ridículo e eu uma garota infantil, o importante era que nós sentíamos recíprocos sentimentos intensos um pelo outro.



Esse seria o meu perfeito final feliz...

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