Tokio Hotel



Sexta-feira. Às 18h30min. O show começaria às 21h00min, em Orlando. Eu já estava na casa de Ellen me arrumando. Roupa básica, calça jeans e a blusa preta super tudo com uma foto da banda, nós também fizemos alguns cartazes.


  – te amo Tókio hotel


É claro que a Ellen precisava fazer um especial.


 – casa comigo, Gustav!


Desta vez nós não saímos de casa de bicicleta – óbvio que a gente não ia pra Orlando de bicicleta –, os pais de Ellen nos levaram de carro. A mãe de Ellen era hilariante, ela sempre foi assim, desde que me lembro quando criança.


Depois de duas horas de viagem, quando chegamos o estádio estava coberto de pessoas, completamente lotado, tão cheio que mal dava pra ouvir seus próprios pensamentos. Todos gritavam o coro: Tókio Hotel! Tókio Hotel! Tókio Hotel! Tókio Hotel!


Nem deu pro pai dela estacionar, então ele nos largou na porta do estádio mesmo. Nós ainda ficamos paradas por um tempo perto do carro. O pai dela falava com ela, eu não conseguia ouvir nada, mas o que ele falava devia ser algo do tipo “nada de bebidas alcoólicas”, depois Ellen me pegou pelo braço, estávamos na gigantesca fila de entrada.


- Pára tudo! – gritou Ellen. Por mais alto que ela gritasse ainda era apenas um sussurro pra mim.


Ela enfiou a mão em todos os seis bolsos da calça dela procurando alguma coisa, freneticamente. Ela começou a suar. Agora eu to preocupada.


- O que foi? – gritei.


- Eu acho que perdi o meu ingresso!


Eu não consegui dizer mais nada, fique de boquiaberta.


Ellen parou e olhou para o chão, refletindo sobre alguma coisa, depois ela começou a xingar, múrmuros, mas pelo jeito que sua boca se movia não era nada bom.


- Eu esqueci no carro do meu pai – disse ela por fim.


Eu olhei a frente, a fila enorme. Acho que daria tempo.


- Liga pra ele – sugeri.


Mas com esse barulho todo seria impossível falar com alguém.


Ellen pegou o celular e discou, com uma mão ela abafava um ouvido para ouvir melhor, mas mesmo assim, era impossível dialogar com alguém ali. Ela gritava e eu só conseguia ouvir o agudo de sua voz, nada legível. Ela desligou o celular e suspirou.


- Ele já esta vindo – disse ela aliviada.


Quase meia hora na fila. Quando o pai dela chegou, só faltava ela pular de tanta alegria.


Nós entregamos o ingresso à moça do caixa e entramos no estádio com o pé direito. Sorte demais não abala, pelo menos eu precisava.


Depois de quase duas horas de músicas eletrônicas e várias bandas desconhecidas, finalmente as luzes de efeito do palco se acendem, o publico fica frenético total, todos gritavam. Atrás da cortina negra, apenas grandes sombras dos meninos da banda. Todos começaram a gritar, eu tapei os meus ouvidos com muita força – como se fosse adiantar – e também gritei muito, muito alto. Parece uma coisa meio louca ficar gritando até sua garganta explodir, mas o objetivo é colocar todo entusiasmo pra fora.


 


Eles abriram o show com a música “Reden”.


Nós levantamos os cartazes assim que eles começaram a tocar já a terceira música. Eu mal esperava, mas Ellen quase desmaiou quando o Gustav viu o cartaz dela e fez um solo de guitarra na nossa frente. Eu via Ellen ficando roxa até que eu a cutuquei.


- Respira! – gritei para Ellen que estava no meu lado já tendo um acesso de tontura.


Ela respondeu e eu não ouvi direito, mas consegui ler seus lábios e acho que ela disse algo parecido com “to tentando”.


Eu e Ellen sabíamos cantar quase todas as músicas – quase todas porque eles cantaram algumas inéditas.


- Uaaal! Eu to sonhando! – gritou um garoto do meu lado. Ele olhava para mim, parecia espantosamente encantado – Você é muito linda colega!


Agora eu fiquei assustada de verdade. A essa altura ele já devia estar bêbado.


- Continue sonhando – disse dando dois tapinhas na testa dele.


Eu tentei ignorá-lo ao máximo, mas ele não saiu do meu lado.


- Quer ficar comigo? – perguntou ele. Desta vez ele não gritou, ele falou um pouco mais baixo, mas bem perto do meu ouvido, e eu tive a desventura de sentir o seu mau hálito de cerveja, vinho, ice e mais um cheiro estranho de mato queimado.


Eu franzi o nariz. Não respondi nada, eu sai dali puxando Ellen junto comigo. Eu pensava que estava andando reto, para o lado, mas no meio de milhões era impossível você achar uma direção reta. Quando eu percebi, nós já estávamos encostadas no palco. Ótimo!


***


Eles terminaram o show cantando “Don’t jump” – inclusive, eu e Ellen choramos com essa música; primeiro, a música é realmente linda e segundo, já era o final do show.


Foram cinco horas de show, cinco horas de gritaria e coros, cinco horas em êxtase. Meus ouvidos estavam latejando.


Ellen me disse que o tio dela fazia segurança dos garotos por essa noite e que nós podíamos ir ao camarim deles – com permissão deles é claro. Óbvio que eu queria ir. Quantas garotas têm tios que fazem a segurança de sua banda favorita? Nós não podíamos perder essa chance de jeito nenhum.


Falamos com o tio dela e ele nos deixou entrar, mas com uma condição: sem histerismo.


Quando chegamos ao corredor que o tio dela tinha nos indicado meu coração começou a bater mais forte. Achamos uma porta, a única porta que estava com uma estrela feita de metal, e no metal estava gravado “TH”. Ellen tremeu quando tocou a maçaneta. Ela respirou fundo.


- Abre você, eu não poso fazer isso – disse ela num suspiro, soltando a maçaneta.


- Por quê?


Ela pareceu me ignorar, ela fitava a maçaneta como se fosse uma coisa de marte.


- É só uma maçaneta.


- É a maçaneta em que o Gustav Shäfer tocou! Não é qualquer maçaneta.


Eu bufei.


Com a mão fechada em punho, dei três batidas fracas na porta. Ninguém abriu. Quando fechava minha mão em punho para bater novamente a maçaneta rodou um pouco. Eu dei um meio passo hesitante para trás. Georg – o guitarrista da banda – abriu a porta. Se Ellen não tivesse apertando meu braço naquela hora, acho que teria caído para trás. Ele estava sem camisa!


Sem histeria, sem histeria. Que idioma eles falavam? Alemão! Eu não sei nada de alemão.


- Oi, e ai? – disse descontraidamente.


Droga! Tanto tempo esperando por esse momento incrível, e a única coisa que eu consigo dizer é “oi, e ai?”. Aff.


Eu sentia as mãos de Ellen pulsando no meu braço, as mãos dela suavam frias, dava para perceber sua respiração ofegante. Ellen estava desmaiando? Não. Ela só estava tendo um surto de fãniaca aguda.


- Você é a garota do cartaz? perguntou ele apontando para Ellen com um sorriso.


Ufa! Pelo menos ele sabia falar nossa língua.


- Er... e-é – disse ela quase num sussurro, ela conseguiu gaguejar o “é”, e a letra ainda saiu meio tremida.


- Vocês querem entrar? – com o dedão ele apontava para trás por sobre o ombro dele, onde indicava a sala.


Estiquei-me um pouco na ponta dos pés. Em cima da mesinha de centro só havia latinhas de refrigerante vazia. Era uma sala normal, sofá, estante, televisão e um aparelho de som.


- Claro – disse sorrindo gentilmente.


Acho que ele se sentiu confortável com a gente por falta do nosso histerismo. Por nós não termos gritado, ou tido um acesso de loucura, ou desmaiado.


Ele abriu mais a porta dando espaço para nós duas passarmos – já que Ellen não largava meu braço. Ficamos paradas no meio da sala a observar tudo – não é todo dia que se entra no camarim da sua banda predileta, né – hesitantamos se podíamos ser “folgadas”.


- Podem ficar a vontade – disse Georg fechando a porta.


Nós sentamos no sofá. Eu não consegui agüentar, meus olhos se encheram de lágrimas. Eu to no camarim do Tókio Hotel! Nós duas tremíamos, estava tão frio com o ar condicionado que eu suava. Depois apareceram os outros garotos: Bill, Tom e Gustav. O Bill ficava tão diferente com os cabelos molhados e presos. Eu comecei a chorar. Nós duas levantamos para abrasá-los. Que momento divino! Eu precisava chorar, explodir minha felicidade naquela hora.


Depois de nos acalmarmos e voltarmos a respirar eles nos ofereceram refrigerantes e nachos, e fizemos um interview particular com eles. Perguntamos de tudo enquanto nos embebedávamos com refrigerante. Os meninos eram supersimpáticos, gentis e engraçados. Confesso que fiquei encantada, mais ainda, com eles.


A hora passava tão rápido que nós mal percebíamos.


- 2:09 da madrugada já – exclamei surpresa com a hora.


Ellen levantou-se correndo do sofá de veludo preto.


- Já? Então vamos!


- A gente leva vocês – protestou Georg – Se vocês quiserem, é claro.


Também não é todo dia que o integrante da sua banda preferida te oferece uma carona para casa.


- Claro – respondeu Ellen antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.


Eu apenas assenti. O Tom pegou as chaves do carro e jogou para Georg pegar. Ótimo reflexo.


O carro era um Porche prata. A segurança era rígida, o Georg e o Gustav que nos levaram – o Georg dirigia. No caminho de casa nós fomos catando – não era nenhuma das musicas deles – “Christmas”. Apesar do coro desafinado, de minha parte e de Ellen, foi muito divertido.


Meu pai nem viu quando eu cheguei em casa, ele já estava dormindo, mas mesmo assim, talvez, amanhã de manhã eu ia escutar bronca. Preferi ignorar a hora que cheguei em casa, já que quando tinha saído de lá já passava das duas da madrugada.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.