Desavenças
Quarta-feira de manhã na escola. Depois do intervalo haveria o mitológico jogo de futebol. Eu nem tava muito empolgada por esse dia já que eu ia ficar nas arquibancadas torcendo por um garoto que mal sabe do meu amor confidencial em relação a ele. Ellen comprou pipoca, e ficamos na segunda fileira da arquibancada. A Katie já estava lá com os seus pompons branco e azul – as fitinhas dos pompons variavam – e o uniforme também azul com uns detalhes brancos.
A competição era entre Shark e Hound, nomes sinistros para apenas times de futebol de uma escola. O Dylan era do time dos Shark, por isso o uniforme azul escuro.
Já estava no segundo tempo, os Shark ganhavam de dois a zero. Eles voltavam para o banco – beber água, eles estavam suados, sexy, mas, éca.
Enquanto isso eu via a Katie falando com um dos meninos do time, não era o Dylan, era um garoto mais alto, moreno dos cabelos lizinhos, era aquele que parecia um indiozinho, o Yuri. O problema era ela não só falava, ela parecia estar parabenizando-o, mas não exatamente só isso, não inocentemente – do jeito que ela era oferecida.
O Dylan viu a tal cena e ele parecia furioso com aquilo, ele foi até lá tirar satisfações com ela, eles parecia discutir novamente – mais 10% – ela disse alguma coisa que fez ele abaixar a cabeça e sair dali de perto dela, eu ainda fiquei analisando a cena incrédula.
Depois de quinze minutos eles voltaram ao jogo. Os outros estavam energizados, ao contrario do Dylan que agora estava mais desanimado por causa da estúpida da Katie.
De qualquer forma quem ganhou foram os Shark, de quatro a três.
Minha vida poderia ser um jogo, teria estratégias então seria mais fácil, mas ao mesmo tempo seria apenas um jogo, um jogo frio onde se resumi sua vida e o resto, onde você teria de sacrificar muita coisa para ganhar bônus. Se minha vida fosse um jogo a guerra seria entre mim e a Katie, e eu teria a vantagem de oito a dois. Isso pelos os anos que eu conheço ele.
- Angie, Angie! – a voz se aproximava aos poucos
A voz que me gritava não era estranha, mas eu pouco a ouvia:
- Angie – ela disse segurando meu braço
Olhei pra ela, era a representante do grupo estudantil de trigonometria. O nome dela era Isadora Lubock. A menina de cabelos alaranjados, cacheados, com sardas nas bochechas. O estilo certo de uma garota de um grupo estudantil.
- Oi – disse com um sorriso de simpatia
- Oi – ela disse retribuindo o sorriso de simpatia e tentando recompor sua respiração.
Parecia que ela estava correndo atrás de mim já faz um bom tempo.
Ela ainda segurava meu braço, tensa e cansada, ainda com a respiração aturada, o corpo meio curvado para baixo no desígnio de relaxar os músculos. Aos poucos a mão dela se afrouxava em meu braço. Eu a aguardava.
- Angie, a gente precisa de você amanhã no concurso de trigonometria. – disse ela ofegante, num jato de palavras.
- Mas amanhã é a festa, Isa – tentei parecer calma, eu estava calma, acho que meu cérebro ainda não tinha processado o que ela disse.
- Eu sei Angie, mas tem que ser você – ela desviou os olhos de mim, parecia procurar as palavras certas para me convencer – Você é melhor aluna, e você também só tira notas altas nessa matéria, eu e o pessoal estamos com certa... dificuldade. A gente também vai disputar com um dos melhores grupos estudantil da cidade – ela parecia desesperada, não havia nenhuma maneira de dizer não de uma forma delicada e compreensiva.
- E então – continuou ela – Você vai poder ir amanhã?
- Claro – respondi sorrindo sem pensar, os olhos dela radiaram – Mas a gente ta concorrendo ao quê?
- Uma bolsa de estudos em uma das melhores universidades da Washington! – disse ela sorrindo e esperançosa.
Ela foi embora saltitando depois de ter me agradecido muito, exageradamente, excessivamente.
Passaram-se todas as conseqüências em minha cabeça. Caramba, e a festa! Teria que adiar? O concurso começava quinze minutos depois, não daria tempo, eu não iria pra uma festa só pra ficar quinze minutos.
Eu voltei para casa desnorteada com isso.
Fui pra casa sozinha e tomei um copo d’água. Nem sei o que aconteceu com o Dylan depois do jogo, eu não vi mais ele, só uma vez, mas estava muito tumulto, não tinha como falar com ele.
***
Já era sexta-feira, prévia de um dia longo e corrido. Ellen foi pra minha casa depois da escola. Falei para ela sobre o concurso, que eu ia participar e que não daria tempo de ir pra festa. Ela arregalou os olhos, com aquela cara incrédula pelo o que eu disse.
- O que?! – disse ela sobressaltada – Surtou de vez é?
- Mas não tem como.
- Angellyne Marie Woncler – disse ela pausadamente –, o que esta ocorrendo com você?
- Acho que estou em um desespero psicológico Ellenoe Jane Hudson!
Ela olhou para o lado com uma expressão pensativa, estreitou os olhos como se já tivesse encontrado a resposta de alguma coisa.
- Uma festa não é uma festa sem música... – murmurou ela, ainda fitando o nada.
- O que você vai fazer? – perguntei ansiosa.
- Não tenho certeza ainda se vai dar certo. Há uma possibilidade – disse ela na expectativa de me dar esperanças.
Mas as minhas esperanças já estavam na decadência, acho que já tinha me conformado com o fato de não ir à festa. Ai, ai, Ellen e seus planos; espiã e melhor amiga.
18h42min. Faltavam só alguns minutos para a festa começar. Estava no meu quarto estudando para trigonometria, em cima da minha cama havia dezenas de livros e cadernos, matérias passadas, matérias atuais, matérias avançadas. Tinha que estudar de tudo se eu quisesse ganhar aquele concurso.
Olhei para a janela, e lá estava o Dylan se arrumando, ele estava lindo, estava quase pronto, com a camisa branca social, um colete preto, a gravata que passava por seu pescoço ainda sem o nó e aquele cabelo molhado pós-banho.
Ele olhou para mim ansioso sentando na beirada da cama, sorriu e escreveu:
Respirei fundo, a decepção era evidente em meu rosto:
Ele bufou com os olhos incididos, agora ele correspondia à minha decepção:
Eu sorri amargurada, um sorriso escondendo todo meu arrependimento de não ir. Ele se levantou, pegou o paletó e saiu.
Por debaixo dos meus livros e de toda aquela papelada ainda estava aquela página: “”. Aquela era a minha gota de esperança, não podia desperdiçá-la. Respirei fundo mais uma vez e me levantei – desanimada – para me arrumar, só que eu iria para um concurso e não para uma festa, nessa fração de segundos a campainha toca.
Era a Ellen.
Ela estava com uma calça jeans escura que tinha uns stress na borda dos bolsos e uma blusa morcego cinza com detalhes roxos e uns brilhinhos.
- Pronta? – disse ela animada
- C-Como assim? – gaguejei confusa
- Você vai à festa menina! Consegui atrasar lá, mas você precisa se apressar! Vamos, vamos! – disse ela toda afobada me empurrando para subir as escadas.
Enquanto eu tomava banho ela escolhia com qual roupa eu iria. Assim que sai do banho ainda enrolada na toalha olhei para o vestido estendido em cima da minha cama, acho que nunca havia usado aquele vestido, era um vestido preto, com detalhes prata e babados. Peguei o vestido e voltei para o banheiro para vesti-lo, até que ficou bom. O vestido era de alcinha.
- Para tudo! – Ellen parou na porta do meu quarto e olhou para mim – Eu vou pro concurso assim? – gesticulei para o vestido, extravagante para um concurso de trigonometria.
Ela riu.
- Não bobinha – ela abriu a porta, desceu até a sala e eu fui atrás dela sem ainda entender toda aquela calmaria.
Ela pegou um jaleco branco que estava dobrado ao meio em cima do sofá. O jaleco cobria todo o vestido, menos os babados, mas acho que não chamaria muito a atenção. Perfeito! É bom saber que a gente tem uma amiga que pensa, diferente de mim que se deixa levar pelo desespero.
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