Sonhos...



 


Estávamos naquela pequena floresta, aquele lugar onde pequenos raios de sol atravessavam as folhas. Ele estava apreensivo, ofegante, parecia feliz e aliviado de algum modo. Estávamos sentados naquele tronco caído, ele sorria e olhava diretamente em meus olhos, segurava minha mão... ele estava quente, suava frio e tremia.

- Terminei com a Katie. – disse ele num jato de palavras

- O que? – perguntei confusa.

Ele segurou meu rosto com delicadeza, seu olhar agora era mais intenso.

- Eu terminei com Katie pra ficar com você, Angie – ele disse lentamente entre um suspiro – Eu passei a enxergar que tudo o que eu queria esteve sempre ao meu lado – ele sorriu, um sorriso largo e radiante – E que eu sempre fui um estúpido – ele riu baixo.

Ainda tentando encaixar as palavras, racionalizar, pensar em alguma coisa que não fosse os olhos dele que agora me encaravam, queria agir de tal forma, mas estava completamente estatelada. Seu rosto se aproximava de um jeito tão fofo, seus lábios estavam cada vez mais perto, sentia sua respiração em minha pele, senti um leve arrepio com o seu toque. Eu não queria, mas desejava, até que ele me...

Abri os olhos assustada com o meu celular berrando, peguei pra desligar, aquele ringtone era infernal – pelo menos eu acordava mais rápido –, vi que ainda eram 06h20min da manhã, apertei os olhos atordoada querendo de qualquer jeito voltar pro meu sonho. Fiquei, mais ou menos, uns dez minutos nessa tentativa fracassada de voltar a dormir. Levantei, já eram 06h34min, fui tomar banho, escovar os dentes... enfim, a mesma rotina de sempre. Hoje eu resolvi variar um pouco – eu sempre andava de cabelos soltos com uma franginha diagonal – e fiz dois rabos de cavalo (o famoso “maria chiquinha”, como preferir), entrelacei meus dedos em meus cabelos fazendo leves cachos. Fiquei me analisando enfrente ao espelho, eu fiquei meio esquisita, a testa exposta, me sentia nua, então puxei minha franginha pra frente, até que deu um charme.

Abri minha janela e vi o Dylan, não pude controlar meu sorriso, quando ele olhou para mim fez uma cara engraçada – será que era meu penteado novo? –, ele riu e se abaixou pra pegar o caderno que estava debaixo de sua cama, escreveu:

===============

Agora ele estava com um sorriso torto suave, mas mesmo assim radiante. Intimidei ao responder:

==============

Ele me olhou demoradamente ainda com aquele sorriso encantador. Aquele olhar fixo em mim + aquele sorriso = um campo de borboletas na minha barriga. Era inevitável. Depois de alguns minutos ele desviou o olhar de mim e levantou-se. Saiu de seu quarto e antes de fechar a porta me jogou um beijo e deu uma piscadinha. Peguei minha mochila e desci as escadas correndo, dei um beijo na testa de meu pai e sai. Abri o portão e vi o Dylan, como eu previa. Lá estava ele com os olhos azulzinhos semi cerrados por causa da claridade do sol e os cabelos castanhos chocolate à brisa do alvorecer. Lindo, lindo, lindo. Ele me pegou com um braço e beijou minha bochecha – corei. Enquanto andávamos, falávamos e riamos, um carro conversível vermelho parou no nosso lado.

- Katie? – perguntou ele meio confuso

Ela levantou os óculos escuros, sorriu para ele, voltou com um sorriso crápula para mim, e disse olhando para ele:

- Eu vim te buscar – ela deu uma pequena pausa, olhou para mim ainda com aquela expressão crápula e destacou a palavra: –, amor.

Ele já ia em direção ao carro conversível, quando pôs a mão na maçaneta ele hesitou e olhou para mim.

- Se importa Angie? – me perguntou ele.

- Não – respondei secamente – Eu vou pra escola sozinha mesmo.

Claro que me importava, que idiotice!

Ele sorriu para mim, entrou no carro e a beijou, depois ele a abraçou, parecia sentir o cheiro de seu perfume, enquanto isso ela me encarava por sobre o ombro dele, um olhar maléfico, aquela cena me dava nojinho, bufei revirando os olhos, eu ignorei, virei as costas e fui andando de nariz empinado como se pouco me importasse com aquilo. 

Acho que era só um sonho, ele gosta muito da Katie, quem diria que um dia ele olharia para mim soando as palavras: “Eu terminei com Katie pra ficar com você”. Impossível, impossível, só podia ser sonho mesmo, meus sonhos idiotas, sem sentido.

Cheguei à escola super atordoada. Pelo menos uma coisa boa para amenizar meu dia, minha amiga Ellen – o verdadeiro nome dela é Ellenoe, mas ela agride quem a chamar assim, concordamos e convenhamos, é um nome estranho –, ela estava sentada em algum dos bancos do pátio conversando com algumas meninas, ela olhou pra mim e deu um mega sorriso, um sorriso de cegar qualquer um. Ela veio em minha direção ainda com aquele sorriso largo. Seu sorriso foi diminuindo cada vez que se aproximava de mim.

- O que ouve? – perguntou ela meio preocupada.

- Katie... Dylan... – respondi sem vontade de entrar nesse assunto

- Que é igual a você aborrecida, acertei? – disse ela olhando meus olhos como se pudesse ler minha mente.

- Sim – dei um meio sorriso

- Patético – disse ela revirando os olhos – Mas olha amiga, você é especial, ela é só mais uma líder de torcida, magricela e metidinha que só se importa com as unhas. – ela olhou para as unhas dela, eram pequenas, olhei as minhas e eram do mesmo tipo, ela riu.

O riso dela era tão engraçado que me contagiava. Nós éramos assim, quanto mais ela ria eu ria também, por mais sem graça que a coisa fosse.

Estávamos caminhando sem destino.

- Sabia que o Georg ta namorando? – disse ela com um tom de desapontamento na voz.

- Ãhn? – fiquei meio confusa.

- Do Tókio Hotel – ainda com o tom de desapontamento.

- Ah ta – eu ri baixo

- O que foi?! – ela sobressaltou um pouco

- Nada, é que... – pensei um pouco nas minhas palavras – você fala deles como se fossem nossos colegas, nossos amigos ou vizinhos... Você fala deles de um jeito tão natural como nós os conhecêssemos pessoalmente.

Ela deu uma pausa analisando o seu jeito e depois riu.

- Tem razão. Mas o meu sonho de conhecê-los vai se realizar. – disse ela cheia de autoconfiança.

- É bem provável... Você vai ao show deles mês que vem?

- Arrã. Vou comprar os ingressos amanhã.

- Quanto é que custa?

- Na primeira fila é R$ 425,00. Camarote é R$ 640,00. Só lembro-me desses. Eu vou para primeira fila. – disse ela com um sorriso esperançoso.

- É bom a gente se apressar, os ingressos voam!

Ela balançou a cabeça concordando comigo, também não é todo dia que se ouve falar em uma prévia do show do TH. Os caras são super!

O sinal tocou e logo – eu e Ellen – fomos para a sala de aula, ainda tagarelando sobre o show. Era aula de Física. Eu sentei no mesmo lugar sempre: perto da janela, terceira fileira. O Dylan não estava lá, eu não devia me preocupar muito porque eu só fazia par com ele na química (na aula de química, corrijo – rs). Evidentemente ele ainda devia estar com a namoradinha dele. 

Fiquei uns dois minutos ali sentada, olhando pela janela a equipe masculina de vôlei – que era de tirar o fôlego –, até que um menino alto e com os cabelos aloirados parou no meu lado sorrindo.

 - Posso me sentar ao seu lado? – perguntou ele

- Ér... – hesitei um pouco ao responder porque esse menino nunca foi de falar comigo – Claro – sorri timidamente.

O nome dele era Jeremy. Ele estuda comigo já um bom tempo, mas nós nunca tivemos um contato direto. É claro que ele já falou comigo antes, confesso. Ele já me pediu o apontador emprestado, ele já sorriu para mim na rua, e dentro de sala eu já acertei nele com uma bolinha de papel, sem querer.

Logo depois a professora chegou, despejando sua bolsa sobre a cadeira, ela deu uma analisada geral na sala. Olhou para o meu lado e estranhou um pouco a presença do Jeremy. 

- Cadê o Dylan?

Eu abri a boca, e mesmo antes que eu respondesse, ele abriu a porta ofegante, parecia que tinha corrido muito ou algo do tipo, eu fechei a boca e olhei pra ela, acho que já tinha respondido a sua pergunta.

Dylan olhou para mim meio confuso e nada contente, e foi se sentar na última carteira. Olhei para trás e dei um sorriso meio acanhado pra ele, ele sorriu de volta também meio sem graça.

Duas longas horas de aula de física, no intervalo, todos já haviam saído de sala enquanto eu ainda estava sentada tentando arrumar metade das minhas coisas, Ellen falou comigo e eu pedi pra ela me esperar lá fora. Logo que levantei senti aquela mão firme em meu braço.

- Quero falar com você – disse Dylan.

- Fala – disse já andando para sair da sala, pude senti os passos dele me seguindo.

- Por que hoje você se sentou com aquele Jeremy? – a voz dele era áspera.

- E por que você se atrasou? – rebati.

Ele ignorou.

- Você estava cheia de gracinha com ele – ele parecia disfarçar seu sobressalto enciumado.

- E você estava perambulando com a Katie

- Você ta com ciúmes? – perguntou ele com tom meio irônico.

- Ridículo – sim, eu estava morrendo de ciúmes, mas ele também mal disfarçava o dele – Você que começou!

- Aff – suspirou petulantemente

- Não faz “aff” pra mim! – disse fazendo aspas no ar com a palavra. Eu fiz biquinho e cruzei meus braços, eu fiquei aborrecida, eu simplesmente detestava quando ele fazia isso. Era irritante!

Ele riu – com certeza pelo biquinho que eu fiz, ele sempre ri – e me abraçou forte me levantando um pouco do chão, fazendo com que eu ficasse na ponta dos pés, deu um beijo em minha testa deslizando seu rosto até meu ombro e falou bem baixinho perto do meu ouvido:

- Minha chatinha – ele riu de novo -, sabe que eu te gosto muito.

Eu sorri; com certeza eu não queria ver a minha cara de idiota naquela hora. Ele beijou minha bochecha abafando meus cabelos e deslizou seus braços até minha cintura, deu uns cinco passos para trás ainda sorrindo para mim, eu, obviamente, a este ponto já estava corada que nem um tomatinho.

Fui para o pátio; lá estava Ellen e mais algumas meninas tagarelando, eu não sei como essa garota conseguia falar tanto. Fiquei parada no meio do pátio olhando tudo em minha volta, era assombroso, principalmente o grupo de lideres de torcidas – as psyco-patty de carteirinha –, Katie estava entre elas – fato – e o Dylan estava atrás dela com os braços envolvidos naquela cintura anoréxica, ela o ignorava totalmente, só a via falando com as amigas e se exibindo com suas unhas de três centímetro pink berrante. Sinistro. Enquanto ainda olhava aquela cena enojada ouvi alguém me chamar:

- Angellyne! – a voz era masculina, não era muito estranha. Era o Matthew, um garoto da minha sala, eu não falava muito com ele por falta de assunto, mas ele era um garoto legal.

Sorri e fui andando em sua direção, ele estava sentado a uma mesa com mais alguns garotos – por que todos andavam em bando?

- Oi Matt. Oi garotos. – disse sentando-se em cima da mesa (onde também estava uns dois garotos) e apoiei meus pés na cadeira (eu sei que é super-errado, mas já era um costume automático).

 O Matt me apresentou os garotos – Rupert, Yuri e Kevin –, eles eram diferentes, deviam ser da turma 1001 ou 1003. Eu já os vi na escola, mas nunca falei com eles. 

Eu gostei deles, até que eles eram legais, bem engraçados. Passei o intervalo todo rindo das piadas sem nexo que eles contavam, mas de algum modo estava tentando me interagir. Descobri que os garotos falam mais que as meninas – o que é assustador.

O Rupert era um dos tipos daqueles que resume uma piada em uma palavra, ele era moreno, baixo e tinha os cabelos encaracolados. O Yuri era o que mais falava, ele era alto, também moreno de cabelos bem lisos, parecia um índiozinho. O Kevin era o mais sem noção, acho que ele não tentava contar uma piada ou algo do tipo, mas ele dizia coisas indescritíveis, ele era um pouco mais alto que os outros, cabelos loiros e arrepiadinhos.

Meu dia na escola hoje foi tão diferente, outros garotos que não fosse o Dylan, outras conversas que não fosse com a Ellen. Ah, e eles me contaram que vai rolar uma festa na escola no final deste mês, mas a data certa ainda não estava prevista.

 


Estávamos naquela pequena floresta, aquele lugar onde pequenos raios de sol atravessavam as folhas. Ele estava apreensivo, ofegante, parecia feliz e aliviado de algum modo. Estávamos sentados naquele tronco caído, ele sorria e olhava diretamente em meus olhos, segurava minha mão... ele estava quente, suava frio e tremia.


- Terminei com a Katie. – disse ele num jato de palavras


- O que? – perguntei confusa.


Ele segurou meu rosto com delicadeza, seu olhar agora era mais intenso.


- Eu terminei com Katie pra ficar com você, Angie – ele disse lentamente entre um suspiro – Eu passei a enxergar que tudo o que eu queria esteve sempre ao meu lado – ele sorriu, um sorriso largo e radiante – E que eu sempre fui um estúpido – ele riu baixo.


Ainda tentando encaixar as palavras, racionalizar, pensar em alguma coisa que não fosse os olhos dele que agora me encaravam, queria agir de tal forma, mas estava completamente estatelada. Seu rosto se aproximava de um jeito tão fofo, seus lábios estavam cada vez mais perto, sentia sua respiração em minha pele, senti um leve arrepio com o seu toque. Eu não queria, mas desejava, até que ele me...


Abri os olhos assustada com o meu celular berrando, peguei pra desligar, aquele ringtone era infernal – pelo menos eu acordava mais rápido –, vi que ainda eram 06h20min da manhã, apertei os olhos atordoada querendo de qualquer jeito voltar pro meu sonho. Fiquei, mais ou menos, uns dez minutos nessa tentativa fracassada de voltar a dormir. Levantei, já eram 06h34min, fui tomar banho, escovar os dentes... enfim, a mesma rotina de sempre. Hoje eu resolvi variar um pouco – eu sempre andava de cabelos soltos com uma franginha diagonal – e fiz dois rabos de cavalo (o famoso “maria chiquinha”, como preferir), entrelacei meus dedos em meus cabelos fazendo leves cachos. Fiquei me analisando enfrente ao espelho, eu fiquei meio esquisita, a testa exposta, me sentia nua, então puxei minha franginha pra frente, até que deu um charme.


Abri minha janela e vi o Dylan, não pude controlar meu sorriso, quando ele olhou para mim fez uma cara engraçada – será que era meu penteado novo? –, ele riu e se abaixou pra pegar o caderno que estava debaixo de sua cama, escreveu:



Agora ele estava com um sorriso torto suave, mas mesmo assim radiante. Intimidei ao responder:



Ele me olhou demoradamente ainda com aquele sorriso encantador. Aquele olhar fixo em mim + aquele sorriso = um campo de borboletas na minha barriga. Era inevitável. Depois de alguns minutos ele desviou o olhar de mim e levantou-se. Saiu de seu quarto e antes de fechar a porta me jogou um beijo e deu uma piscadinha. Peguei minha mochila e desci as escadas correndo, dei um beijo na testa de meu pai e sai. Abri o portão e vi o Dylan, como eu previa. Lá estava ele com os olhos azulzinhos semi cerrados por causa da claridade do sol e os cabelos castanhos chocolate à brisa do alvorecer. Lindo, lindo, lindo. Ele me pegou com um braço e beijou minha bochecha – corei. Enquanto andávamos, falávamos e riamos, um carro conversível vermelho parou no nosso lado.


- Katie? – perguntou ele meio confuso


Ela levantou os óculos escuros, sorriu para ele, voltou com um sorriso crápula para mim, e disse olhando para ele:


- Eu vim te buscar – ela deu uma pequena pausa, olhou para mim ainda com aquela expressão crápula e destacou a palavra: –, amor.


Ele já ia em direção ao carro conversível, quando pôs a mão na maçaneta ele hesitou e olhou para mim.


- Se importa Angie? – me perguntou ele.


- Não – respondei secamente – Eu vou pra escola sozinha mesmo.


Claro que me importava, que idiotice!


Ele sorriu para mim, entrou no carro e a beijou, depois ele a abraçou, parecia sentir o cheiro de seu perfume, enquanto isso ela me encarava por sobre o ombro dele, um olhar maléfico, aquela cena me dava nojinho, bufei revirando os olhos, eu ignorei, virei as costas e fui andando de nariz empinado como se pouco me importasse com aquilo. 


Acho que era só um sonho, ele gosta muito da Katie, quem diria que um dia ele olharia para mim soando as palavras: “Eu terminei com Katie pra ficar com você”. Impossível, impossível, só podia ser sonho mesmo, meus sonhos idiotas, sem sentido.


Cheguei à escola super atordoada. Pelo menos uma coisa boa para amenizar meu dia, minha amiga Ellen – o verdadeiro nome dela é Ellenoe, mas ela agride quem a chamar assim, concordamos e convenhamos, é um nome estranho –, ela estava sentada em algum dos bancos do pátio conversando com algumas meninas, ela olhou pra mim e deu um mega sorriso, um sorriso de cegar qualquer um. Ela veio em minha direção ainda com aquele sorriso largo. Seu sorriso foi diminuindo cada vez que se aproximava de mim.


- O que ouve? – perguntou ela meio preocupada.


- Katie... Dylan... – respondi sem vontade de entrar nesse assunto


- Que é igual a você aborrecida, acertei? – disse ela olhando meus olhos como se pudesse ler minha mente.


- Sim – dei um meio sorriso


- Patético – disse ela revirando os olhos – Mas olha amiga, você é especial, ela é só mais uma líder de torcida, magricela e metidinha que só se importa com as unhas. – ela olhou para as unhas dela, eram pequenas, olhei as minhas e eram do mesmo tipo, ela riu.


O riso dela era tão engraçado que me contagiava. Nós éramos assim, quanto mais ela ria eu ria também, por mais sem graça que a coisa fosse.


Estávamos caminhando sem destino.


- Sabia que o Georg ta namorando? – disse ela com um tom de desapontamento na voz.


- Ãhn? – fiquei meio confusa.


- Do Tókio Hotel – ainda com o tom de desapontamento.


- Ah ta – eu ri baixo


- O que foi?! – ela sobressaltou um pouco


- Nada, é que... – pensei um pouco nas minhas palavras – você fala deles como se fossem nossos colegas, nossos amigos ou vizinhos... Você fala deles de um jeito tão natural como nós os conhecêssemos pessoalmente.


Ela deu uma pausa analisando o seu jeito e depois riu.


- Tem razão. Mas o meu sonho de conhecê-los vai se realizar. – disse ela cheia de autoconfiança.


- É bem provável... Você vai ao show deles mês que vem?


- Arrã. Vou comprar os ingressos amanhã.


- Quanto é que custa?


- Na primeira fila é R$ 425,00. Camarote é R$ 640,00. Só lembro-me desses. Eu vou para primeira fila. – disse ela com um sorriso esperançoso.


- É bom a gente se apressar, os ingressos voam!


Ela balançou a cabeça concordando comigo, também não é todo dia que se ouve falar em uma prévia do show do TH. Os caras são super!


O sinal tocou e logo – eu e Ellen – fomos para a sala de aula, ainda tagarelando sobre o show. Era aula de Física. Eu sentei no mesmo lugar sempre: perto da janela, terceira fileira. O Dylan não estava lá, eu não devia me preocupar muito porque eu só fazia par com ele na química (na aula de química, corrijo – rs). Evidentemente ele ainda devia estar com a namoradinha dele. 


Fiquei uns dois minutos ali sentada, olhando pela janela a equipe masculina de vôlei – que era de tirar o fôlego –, até que um menino alto e com os cabelos aloirados parou no meu lado sorrindo.


 - Posso me sentar ao seu lado? – perguntou ele


- Ér... – hesitei um pouco ao responder porque esse menino nunca foi de falar comigo – Claro – sorri timidamente.


O nome dele era Jeremy. Ele estuda comigo já um bom tempo, mas nós nunca tivemos um contato direto. É claro que ele já falou comigo antes, confesso. Ele já me pediu o apontador emprestado, ele já sorriu para mim na rua, e dentro de sala eu já acertei nele com uma bolinha de papel, sem querer.


Logo depois a professora chegou, despejando sua bolsa sobre a cadeira, ela deu uma analisada geral na sala. Olhou para o meu lado e estranhou um pouco a presença do Jeremy. 


- Cadê o Dylan?


Eu abri a boca, e mesmo antes que eu respondesse, ele abriu a porta ofegante, parecia que tinha corrido muito ou algo do tipo, eu fechei a boca e olhei pra ela, acho que já tinha respondido a sua pergunta.


Dylan olhou para mim meio confuso e nada contente, e foi se sentar na última carteira. Olhei para trás e dei um sorriso meio acanhado pra ele, ele sorriu de volta também meio sem graça.


Duas longas horas de aula de física, no intervalo, todos já haviam saído de sala enquanto eu ainda estava sentada tentando arrumar metade das minhas coisas, Ellen falou comigo e eu pedi pra ela me esperar lá fora. Logo que levantei senti aquela mão firme em meu braço.


- Quero falar com você – disse Dylan.


- Fala – disse já andando para sair da sala, pude senti os passos dele me seguindo.


- Por que hoje você se sentou com aquele Jeremy? – a voz dele era áspera.


- E por que você se atrasou? – rebati.


Ele ignorou.


- Você estava cheia de gracinha com ele – ele parecia disfarçar seu sobressalto enciumado.


- E você estava perambulando com a Katie


- Você ta com ciúmes? – perguntou ele com tom meio irônico.


- Ridículo – sim, eu estava morrendo de ciúmes, mas ele também mal disfarçava o dele – Você que começou!


- Aff – suspirou petulantemente


- Não faz “aff” pra mim! – disse fazendo aspas no ar com a palavra. Eu fiz biquinho e cruzei meus braços, eu fiquei aborrecida, eu simplesmente detestava quando ele fazia isso. Era irritante!


Ele riu – com certeza pelo biquinho que eu fiz, ele sempre ri – e me abraçou forte me levantando um pouco do chão, fazendo com que eu ficasse na ponta dos pés, deu um beijo em minha testa deslizando seu rosto até meu ombro e falou bem baixinho perto do meu ouvido:


- Minha chatinha – ele riu de novo -, sabe que eu te gosto muito.


Eu sorri; com certeza eu não queria ver a minha cara de idiota naquela hora. Ele beijou minha bochecha abafando meus cabelos e deslizou seus braços até minha cintura, deu uns cinco passos para trás ainda sorrindo para mim, eu, obviamente, a este ponto já estava corada que nem um tomatinho.


Fui para o pátio; lá estava Ellen e mais algumas meninas tagarelando, eu não sei como essa garota conseguia falar tanto. Fiquei parada no meio do pátio olhando tudo em minha volta, era assombroso, principalmente o grupo de lideres de torcidas – as psyco-patty de carteirinha –, Katie estava entre elas – fato – e o Dylan estava atrás dela com os braços envolvidos naquela cintura anoréxica, ela o ignorava totalmente, só a via falando com as amigas e se exibindo com suas unhas de três centímetro pink berrante. Sinistro. Enquanto ainda olhava aquela cena enojada ouvi alguém me chamar:


- Angellyne! – a voz era masculina, não era muito estranha. Era o Matthew, um garoto da minha sala, eu não falava muito com ele por falta de assunto, mas ele era um garoto legal.


Sorri e fui andando em sua direção, ele estava sentado a uma mesa com mais alguns garotos – por que todos andavam em bando?


- Oi Matt. Oi garotos. – disse sentando-se em cima da mesa (onde também estava uns dois garotos) e apoiei meus pés na cadeira (eu sei que é super-errado, mas já era um costume automático).


 O Matt me apresentou os garotos – Rupert, Yuri e Kevin –, eles eram diferentes, deviam ser da turma 1001 ou 1003. Eu já os vi na escola, mas nunca falei com eles. 


Eu gostei deles, até que eles eram legais, bem engraçados. Passei o intervalo todo rindo das piadas sem nexo que eles contavam, mas de algum modo estava tentando me interagir. Descobri que os garotos falam mais que as meninas – o que é assustador.


O Rupert era um dos tipos daqueles que resume uma piada em uma palavra, ele era moreno, baixo e tinha os cabelos encaracolados. O Yuri era o que mais falava, ele era alto, também moreno de cabelos bem lisos, parecia um índiozinho. O Kevin era o mais sem noção, acho que ele não tentava contar uma piada ou algo do tipo, mas ele dizia coisas indescritíveis, ele era um pouco mais alto que os outros, cabelos loiros e arrepiadinhos.


Meu dia na escola hoje foi tão diferente, outros garotos que não fosse o Dylan, outras conversas que não fosse com a Ellen. Ah, e eles me contaram que vai rolar uma festa na escola no final deste mês, mas a data certa ainda não estava prevista.



 


 

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