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— Está bem, está bem. — Guido largou o braço de Gina, mas ainda apontava a arma para ela.


 


— Agora diga aos seus homens para irem embora. — Mais uma vez, pressionou a ponta da espada.


 


Guido grunhiu e seu queixo endureceu. Contudo, ele fez sinal para os homens.


 


— Dêem mais uma volta no quarteirão — ordenou.


 


O sedã escuro se afastou lentamente. Porém, Gina não relaxou. Não se relaxa quando se tem um revólver apontado para a barriga.


 


— Muito bem, senhor — Harry disse, e se levantou assim que o outro carro ficou fora de sua visão. — Agora, abaixe a arma, e talvez eu o deixe viver.


 


— Você é um lunático. Posso explodir a mocinha aqui com um mero apertão do meu dedo. Então, abaixe a lâmina ou ela já era.


 


— Se atirar na moça, os soldados do banco virão correndo — Harry observou.


 


— Soldados? É totalmente maluco?


 


Naquele momento, um dos policiais que saíam do banco pa­rou, olhou na direção deles e apontou para Harry. Vários outros o seguiram quando ele correu em direção ao Buick. O movimento desviou a atenção de Harry por alguns segun­dos, e Guido virou-se rapidamente, com a arma levantada.


 


Com apenas um olhar lateral e quase com displicência, Harry moveu a espada, lançando o revólver de Guido a uma boa distância. Em seguida, um tapa com as costas da mão derrubou o mafioso. Guido tentou alcançar sua arma no mesmo instante em que Gina abria a porta do carro e entrava, gritando:


 


— Harry, entre! Depressa!


 


Os policiais estavam agora bem perto, já procurando por suas armas. Harry entrou no carro do lado do passageiro. Gina bateu a porta, girou a chave e saiu cantando os pneus.


 


Momentos mais tarde, ela ouviu as sirenes. Estava sendo perseguida por metade dos policiais de Newark, e provavel­mente por metade dos mafiosos da região. O carro parou no meio do engarrafamento. Harry olhou para trás, pare­cendo preocupado.


 


Então, Gina sorriu e virou a direção. Colocou a mão na buzina enquanto o carro subia na calçada. As pessoas pula­vam de lado como folhas de outono caindo das árvores devi­do ao forte vento. Alguns metros adiante, conseguiu chegar à esquina. Entrou à esquerda na contramão, sem parar de buzinar como louca. E quando chegou à auto-estrada, tinha despistado a polícia!


 


— Sou o máximo — ela disse e diminuiu a velocidade para não chamar a atenção de ninguém até se encontrar bem dis­tante da cidade.


 


Ao virar-se para Harry, que não dizia nada, percebeu que ele estava muito pálido.


 


— Você está bem, Harry?


 


Ele engoliu em seco e assentiu.


 


— Claro — mentiu. — A questão é uma só: você está bem? — A expressão do mosqueteiro agora era de preocupação. — Aquele bruto a machucou, Ginevra?


 


— Não. Mas ele teria me matado. — Respirou fundo. — Você foi incrível naquela hora. Não pensei que tivesse uma chance contra Guido de Rocei e seus capangas. Quero dizer, com nada a não ser uma espada. Mas você... — Suspirou.


 


— Você salvou minha pele, Harry. Devo-lhe uma.


 


Ele desviou o olhar, quase como se estivesse embaraçado com o elogio.


 


— Foi isso o que vim fazer aqui — disse. — E o que tenho feito a maior parte da minha vida. Não deve se surpreender.


 


Ela concordou.


 


— Erro meu. Suponho que um sujeito cujo meio de vida é lutar, aprende certas coisas no caminho.


 


— Você supõe corretamente.


 


Gina voltou-se para ele e tocou-o no ombro.


 


— Desculpe-me por ter duvidado de você.


 


Ele não disse nada. Devia estar surpreso com suas pala­vras, Gina pensou.


 


— Harry, eu nunca conheci alguém como você, está bem? Quero dizer, em sua maioria, os homens... não são du­rões assim. Nem precisam ser. O mundo é moderno demais. Eles não têm de caçar para comer ou cortar lenha para o fogo nem aprender a lutar. Eles têm lojas onde comprar tudo isso, além de combustível e armas sofisticadas. Até um macaco pode fazer o que eles fazem.


 


Harry finalmente olhou para ela. E sorria, o que a ali­viou um pouco. Ele havia salvado a sua vida, afinal. Insultá-lo era a última coisa que desejava fazer.


 


— A fraqueza deles me favorece — declarou Harry.


 


— Verdade?


 


Ele assentiu.


 


— Aquele homem pensava estar em vantagem porque trazia uma arma de fogo na mão. Não imaginava que eu fos­se resistir.


 


— Acho que ensinou a ele uma ou duas coisas — ela disse, e não conseguiu deixar de sorrir. — Gostaria de ter visto a cara de Guido de Rocei quando você jogou a arma dele longe.


 


— Ele abriu a boca e arregalou os olhos.


 


Gina riu alto, jogando a cabeça para trás.


 


— Você é especial, Harry. Realmente é.


 


— Não será tão fácil da próxima vez — ele disse.


 


— Tem razão. Guido não vai subestimá-lo novamente. Mas já estamos na metade do caminho de casa e tenho a fita comigo.


 


Harry dirigiu-lhe um olhar de aprovação.


 


— Tinha certeza de que você a pegaria. O que precisa fa­zer agora para que esse Guido de Rocei seja preso?


 


— Precisamos entregar a fita ao promotor. Não confio em mais ninguém. Quero colocá-la nas mãos dele. E não vai ser fácil.


 


— Nada que valha a pena é fácil.


 


— Tem razão. — Ela aumentou a velocidade. — Vamos ter de esconder o carro. Guido já o viu, e agora também os policiais têm o número da placa. Precisamos descobrir um lugar onde escondê-lo, telefonar para o promotor e marcar um encontro.


 


— Uma seqüência de ações inteligente — ele disse.


 


— Assim que conseguirmos nos esconder, o promotor Hennesey já terá saído do escritório. Duvido que o telefo­ne de sua casa conste da lista. — Ante o olhar curioso de Harry, esclareceu: — Provavelmente só conseguiremos falar com ele amanhã.


 


— Então, nossa preocupação imediata é um lugar seguro para passar a noite.


 


— Sim. Iremos até a próxima cidade, deixarei o carro em um restaurante e chamaremos um táxi para nos levar a um motel.


 


— Um táxi?


 


— Um carro contratado — ela explicou. Harry coçou o queixo.


 


— E a polícia não pode interrogar o motorista desse... táxi, para descobrir aonde fomos?


 


— Tem razão. Droga, para onde podemos ir sem um carro?


 


Harry a olhou como se ela tivesse duas cabeças.


 


— Você estava certa, Ginevra. O mundo moderno tornou as coisas fáceis demais.


 


 (...)




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