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Naquele exato momento, Gina percebeu do que se esque­cera. O banco tinha sido roubado seis vezes nos últimos dois anos. Como conseqüência, estava agora equipado com detectores de metal e máquinas de raios-X nas portas. No momen­to em que Harry tentasse entrar, o alarme dispararia.


 


Abriu a porta do carro com o intuito de alcançá-lo, mas viu que um guarda o guiava para o aparelho de raios-X. Logo, mais três seguranças apontavam suas armas para a cabeça dele. E, mais do que isso, Harry empunhava a espada.


 


— Harry, não! — gritou. Tarde demais. Com um rápi­do movimento da espada, ele desarmou os guardas. O alarme soou e Harry sorriu, com os olhos brilhando enquanto dominava os seguranças. Estava se divertindo!


 


Ele saiu do banco, olhou-a rapidamente e inclinou a cabe­ça. Então, seguiu em frente, sendo perseguido pelos guardas. Ela já ouvia as sirenes dos carros de polícia se aproximando.


 


Notou que o sedã com o capanga de Guido estava se afas­tando bem devagar. Sem dúvida, o homem não queria nada com a polícia, já que, provavelmente, tinha ficha criminal.


 


Tentou localizar Harry, e o viu em uma calçada à fren­te, usando a espada contra seus perseguidores. Precisava ir atrás dele, pensou. Devia ajudá-lo.


 


Mas uma voz interior a alertou de que aquela era a chan­ce perfeita de pegar a fita no cofre, uma vez que o bandido não estava mais vigiando o banco.


 


Pobre Harry. Desejou que os policiais não atirassem primeiro e perguntassem depois. Sabia que era melhor se apressar. Ele nunca sobreviveria sem ela.


 


Rapidamente, foi até uma caixa, que parecia apavorada.


 


— Sei que este é um mau momento, mas se trata de uma emergência. Minha vida está em perigo e preciso pegar algo na minha caixa de depósito agora.


 


— Lamento muito — a mulher disse. — Mas isso não é possível.


 


— Por favor. Não estou brincando. Posso ser morta se não me ajudar.


 


A mulher olhou-a espantada, porém concordou.


 


— Está bem. Mas... seja discreta. Posso perder o meu em­prego por isso.


 


— Obrigada.


 


Em poucos minutos, Gina estava com a fita. Sair do ban­co enquanto os oficiais interrogavam as pessoas seria mais um desafio. Porém, diminuiu um pouco os passos ao ver que os guardas do banco retornavam e relatavam o ocorrido aos policiais.


 


— O homem era louco — disse um dos seguranças. — Algum tipo de acrobata ou coisa assim.


 


— Veja o que ele fez no meu uniforme — outro falou, apontando um rasgo no traje. — Podia ter me matado!


 


— Que nada — um terceiro declarou. — Ele era muito bom com a espada. Se quisesse de fato matar, você agora estaria morto.


 


— Nunca vi nada como aquilo. O sujeito entrou na viela e pensamos que o tínhamos encurralado. Mas ele saltou uma cerca. Não sei como!


 


Pobre Harry... Sozinho, sendo perseguido em uma ci­dade desconhecida. Estava admirada com atuação dele. Quase desejava ter visto a cena.


 


Enfiou a fita no bolso e se uniu a um grupo de clientes que já havia sido interrogado. Pensou em entregar a fita a um dos policiais que estavam ali, mas aquilo seria muito ar­riscado. Se ele fosse honesto, insistiria em levá-la ao distrito policial, e ela teria de deixar Harry sozinho. Se não fosse honesto... Gina sabia que muitos policiais constavam da fo­lha de pagamento de Guido de Rocei, e sabe-se lá se ela não teria o azar de entregar a fita justamente para um deles.


 


Não, não entregaria a evidência a ninguém a não ser ao promotor. No entanto, antes precisava encontrar e resgatar seu guarda-costas.


 


Quando um dos guardas autorizou a saída dos clientes, Gina conseguiu sair junto. Abaixou a cabeça e puxou bem o chapéu ao ver o seda escuro vir bem devagar. Ele continuou até a esquina, sem parar perto dela. Talvez não a tivessem visto, pensou.


 


Não podia ficar procurando Harry. Não ainda. Tinha de chegar ao carro primeiro. Seria mais seguro assim, pois pi­saria no acelerador se percebesse que os bandidos a seguiam.


 


Gina viu que o sujeito do sedã estava falando no telefone celular e caminhou mais rápido. O carro da tia encontrava-se agora bem perto. Nesse momento, um segundo automóvel es­curo parou na esquina, e um homem de terno e óculos desceu.


 


Ela correu para o carro, percebendo que estava sendo se­guida. Lembrou-se de que, antes de sair do veículo, jogara a arma no banco de trás, já que não queria que o alarme do banco voltasse a soar. Agarrou a porta do carro com a mão trêmula.


 


Entretanto, alguém a segurou pelo braço. Virou-se e se viu cara a cara com Guido de Rocei. E mais do que isso: sen­tiu que ele pressionava seu estômago com uma arma.


 


— A fita — Guido disse rispidamente. — Entregue-a ou morre.


 


— Eu já a entreguei aos policiais — Gina mentiu. — Espero que eles acabem com você.


 


— É uma mentirosa! Vamos não me irrite! Entregue logo!


 


Ela percebeu o olhar cheio de maldade do mafioso e sacu­diu a cabeça em uma negativa.


 


— Atire em mim e aqueles guardas estarão aqui em um mi­nuto. Não vai ter chance de escapar. Pelo que estou sentindo, diria que a sua arma não tem silenciador. Estou enganada?


 


— Oh, não vou atirar em você. Não aqui, pelo menos. — Ele a segurou firme pelo braço, afastando-a do Buick de tia Kate.


 


Um veículo se aproximava. Gina sabia que, se ele a obri­gasse a entrar naquele carro, não teria chance alguma de sobreviver. Fechou os olhos e rezou por um milagre.


 


O milagre que Gina esperava aconteceu. Guido de Rocei parou na calçada, olhando a rua, pressionando-a contra o Buick, a arma apontada para a barriga dela. Seus capangas no sedã escuro haviam parado ao lado do carro de tia Kate.


 


Gina sentiu que Guido se enrijecia subitamente, mas não soube o motivo até olhar para baixo. Harry se encontra­va agachado às costas do mafioso, com a ponta da espada encostada na base da espinha dele.


 


— Largue a moça — ele disse com um brilho divertido nos olhos.


 


O seu mosqueteiro era muito esperto, Gina pensou. Os homens no carro não podiam vê-lo de onde estavam, pois o Buick bloqueava a visão deles. Guido não se moveu.


 


— Largue a moça ou vou atravessá-lo com a minha espada. — Pressionou a espada um pouco mais.


 


 


(...)





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