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Gina não dormiu bem. Sua noite consistiu basicamente de esmurrar o travesseiro, desejando que fosse o belo rosto de Harry, e tentar descobrir a razão de ter reagido de forma tão intensa quando ele a beijara.


 


O mosqueteiro era arrogante, muito confiante em si mes­mo, irritante e lascivo. Mas beijava como se tivesse nascido para isso.


 


E ela reagira como uma mulher que estava havia muito tempo sem um homem. Era isso, concluiu. Não era ele, mas sim a manifestação de seus hormônios.


 


Suspirou profundamente. Nunca soubera escolher homens. Cada vez que se envolvia, o sujeito se revelava uma decepção e, por isso, decidira evitar inteiramente o sexo oposto. Havia tomado essa decisão no ano anterior. Supunha, porém, que seu corpo tinha uma opinião própria sobre o assunto.


 


Assim, talvez ela devesse tentar mais uma vez. Mas não com Harry. Absolutamente não com ele.


 


Por que não?


 


Droga! Ele era muito seguro de si, muito antiquado, com certeza um machista, e voltaria para o próprio tempo logo que tudo aquilo acabasse.


 


E esse, Gina concluiu, era o cerne da questão. Harry iria embora, e não fazia sentido se envolver com alguém como ele no curto tempo que passaria no século atual. Não fazia sentido algum.


 


Durante toda a manhã, Gina e Kate ajudaram Harry a treinar para o papel que teria de desempenhar. Repassaram o plano repetidas vezes. Ele entraria no banco, falaria com o caixa no guichê e explicaria o que queria. O funcionário o leva­ria a uma sala onde estavam os cofres e usaria sua chave na fechadura, e Harry faria o mesmo com a chave de Gina. Era preciso, também, que ele passasse a tratar as pessoas por "senhor" e "senhora", em vez de "milady" ou "ma chérie".


 


Gina achou que havia pensado em tudo. Antes da hora do almoço, Harry parecia preparado. Kate fora até a cidade comprar um casaco pesado e muito comprido, pois ele insis­tia em levar a espada. Também havia mandado fazer uma cópia da chave do cofre, por precaução. Gina levaria a cópia no bolso, para o caso de dar alguma coisa errada. Ficara com­binado que esperaria do lado de fora do banco.


 


Sentiu o estômago doer quando, depois de tudo pronto, en­trou no carro de Kate para dirigir de volta a Newark. Tinha a sensação de que se esquecera de alguma coisa. Com certeza seu plano tinha alguma falha.


 


Harry, por sua vez, estava menos preocupado com a missão do que com o meio de transporte. Ele olhara o carro por um bom tempo antes de entrar. Então, havia se sentado no banco do passageiro, com o rosto muito pálido.


 


— E perfeitamente seguro — Gina garantiu. — Coloque o cinto de segurança. — Quando percebeu que ele a olha­va confuso, ela apontou para o cinto e o ajudou a prendê-lo. — Bem, lá vamos nós. — Ligou o carro.


 


Quando pôs o veículo em movimento, Harry agarrou seu joelho. Desta vez, tinha certeza de não se tratar de um gesto atrevido. As juntas dos dedos estavam brancas, e a pressão era intensa. Cobriu a mão dele com a sua.


 


— Calma. Não há razão para ficar nervoso.


 


— Estamos indo muito depressa, non? — ele comentou. Ela olhou para o velocímetro.


 


— Estou a 30 km por hora. Estamos praticamente nos arrastando.


 


Quando outro carro se aproximou, Harry arregalou os olhos.


 


— Cuidado, milady!


 


Gina se assustou com o grito e pisou no freio, fazendo o carro parar com um tranco no meio da rua. Outro automóvel passou por eles, e o motorista dirigiu-lhe um olhar estranho. Ela olhou pelo espelho e agradeceu às estrelas o fato de não haver ninguém atrás. Teria sido um acidente considerável. Suspirando, voltou-se para ele.


 


— Harry, faz mais de dez anos que eu dirijo. Pode relaxar, por favor?


 


Ele fechou os olhos.


 


— Desculpe-me. Deve me achar um covarde.


 


— Acho que você está muito menos nervoso do que eu se estivesse no seu lugar. Escute, as coisas vão piorar. Uma vez que chegarmos à auto-estrada, vou ter de ir mais depressa, e estaremos rodeados de carros. Você vai ficar bem?


 


Ele umedeceu os lábios e assentiu.


 


— E tudo tão novo e diferente...


 


— Sei disso. Mas vai se acostumar, eu prometo. Não con­fia em mim?


 


Harry a olhou por alguns momentos.


 


— Apesar de ser estranho, Ginevra, eu confio. Isso é bom, non? Já que estou pondo minha vida em suas mãos.


 


— Sou uma excelente motorista — ela disse, sorrindo.


 


O som de uma buzina fez Harry pular mais uma vez. Gina olhou para trás, vendo um carro atrás deles. Pisou no acelerador e pôs o automóvel em movimento.


 


No começo da tarde, estavam em Newark, e ela pensou que fora bom que Harry tivesse tido algumas horas para se acostumar a andar de carro antes de enfrentar o terrível trânsito da cidade. Agora que se deslocavam lentamente, ele estava calmo o suficiente para perguntar como o carro fun­cionava e se podia tentar dirigir. O simples pensamento de ter alguém como ele na direção deixou-a quase tão nervosa quanto ele havia estado.


 


Estacionou a uma quadra do banco. Estava de chapéu e óculos de sol, e usava uma jaqueta de couro.


 


— Aquele é o banco — disse. — Você não vai ter de atra­vessar a rua. Isso é algo que teria que aprender antes. Vou esperar aqui, assim posso ficar de olho em você caso alguma coisa dê errado. Está bem?


 


— Está. Sei o que preciso fazer. — Olhou ao redor com calma. — Você está vendo algum dos seus inimigos?


 


 Gina olhou discretamente para os carros estacionados.


 


— Aquele sedã escuro, à direita do banco. Lá dentro deve estar um dos homens de Guido.


 


Harry localizou o carro.


 


— Talvez você devesse ficar em outro lugar — ele sugeriu. — Estará sozinha, sem ninguém para protegê-la enquanto eu estiver pegando a fita.


 


— Não estou totalmente indefesa — ela disse, mostrando-lhe a arma. — Se alguém chegar perto de mim vai desejar não ter feito isso.


 


— Mesmo assim, não me sinto bem deixando você com esse homem por perto, Ginevra.


 


— Ele não conhece este carro, e não vai me reconhecer de onde se encontra. Vá agora, Harry, e pegue a fita. E o único jeito de acabarmos com isso.


 


Suspirando pesadamente, ele concordou.


 


— Serei bem rápido, milady.


 


Abriu a porta do carro, e ficou um minuto parado, sem tirar o cinto de segurança. Gina se inclinou e o retirou.


 


— Tenha cuidado, Harry.


 


— Não se preocupe. — Ele deu aquele seu sorriso fas­cinante antes de seguir para o banco. Felizmente, o longo casaco escondia a espada.


 


A espada!


 


 


 


(...)


 


 


 


 


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