Capítulo 2
Capítulo 02
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Hermione:
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Não vou dizer que a prova estava fácil, pois bem... Ela não estava mesmo, mas foi fácil para mim, estudei tanto que pensei que meus olhos nunca mais fossem voltar ao normal.
Quando cheguei em casa após a prova, a primeira coisa que fiz foi correr para o meu quarto. Ali eu estaria bem. Era o único lugar no mundo em que eu não me sentia perdida e meio alienígena.
Precisava de um banho, daqueles bem demorados que enrugam os dedos. Abri meu guarda-roupa para escolher que roupa vestir. Minhas opções não eram muitas, nem todo tipo de roupa combinava com munhequeiras.
As tinha de montes, de várias cores, estampas e tamanhos. Eu não escolhia uma blusa e uma calça e selecionava qual munhequeira combinava mais, o meu processo era ao contrário: primeiro a munhequeira, depois o resto.
Aquele guarda-roupa enorme e cheio de frescuras, com portas e gavetas que abriam para todos os lados, as vezes, parecia que eu ia me olhar no espelho e na mesma hora ser tele-transportada para alguma outra dimensão.
Nem de longe eu teria como enchê-lo. Minhas roupas se resumiam a munhequeiras, alguns jeans e baby looks de todas as cores possíveis. Uns dizem que eu tenho estilo, mas a maioria diz que eu sou largada, mas o que não entendem é que ser largada é um estilo.
Escolhi um jeans, uma baby look branca e munhequeiras da mesma cor.
Eu sei que o óbvio agora é tentar imaginar o que me levou a ser tão doida a ponto de cortar os pulsos tantas vezes, que fui obrigada a ter que esconder os punhos e por causa disso mudar todo o meu estilo não só de vestir, mas de vida.
Tudo começou quando eu tinha oito anos e perdi minha mãe, quem me dera que fosse aqueles micos ridículos de perder-se no supermercado e ouvir seu nome no alto-falante acompanhado de um tom penoso e falso de uma garotinha de patins que deseja ser sua mãe só para lhe encher de palmadas, não. Minha mãe foi para aquele lugar que dizem ser melhor do que o que eu e meu pai ficamos. Ela morreu.
E eu sei que esta parece ser a grande explicação para o meu comportamento, mas não é. Nada dessa história de querer ir para o mesmo lugar que ela, encontrá-la ou de não conseguir mais viver sem ela. É claro que foi difícil e eu ainda sinto falta dela, mas como disse ao Draco naquele dia em que nos conhecemos, a morte é a única certeza e de uma maneira bastante estranha eu tinha consciência disso aos oito anos de idade.
Não foi a morte da minha mãe... Foi a vida do meu pai.
Eles eram o casal perfeito. Quando eu brincava de boneca, Barbie e Ken tinham outros nomes, Jane e Carlos, os nomes dos meus pais. As coisas só ficaram meio estranhas quando eu cresci e minhas amigas queriam que Jane e Carlos fizessem coisinhas. Poxa! Isso era difícil mesmo.
Mas a morte da minha mãe fez meu pai parecer durante muito tempo um vegetal esperando um agrotóxico daqueles, lhe tirar a vida.
Quando a fase vegetal passou, ele passou a se dedicar ao trabalho, pensei também que esta fase passaria, mas não passou e até hoje ele é um homem triste, amargurado e que trabalha vinte e cinco horas ao dia.
É um homem que ama o seu trabalho, muitas vezes me pego pensando em sua vida, ele usa o trabalho para esquecer o resto do mundo, acabo por pensar que talvez eu não tenha porque me entristecer, se ele ama o trabalho, trabalhar tanto deve ser bom, mas é então que percebo o quanto me engano, pois o problema de tanta dedicação me incomodar é o simples fato de que ele sempre está muito distante de mim.
Pode ser egoísmo meu pensar assim, preocupar-se apenas com o que quero quando ele também tem seus problemas, mas não consigo evitar e sei que nem posso, ele é meu pai, é natural que eu queira sua atenção.
Meu pai, meu herói. Sempre o amei muito e por isso estava mudando toda a minha vida, pois ele precisava de mim.
Sentada na cama, colocando a última munhequeira, eu olhava para as paredes do meu quarto, eu queria e precisava pintá-las, olhar para aqueles desenhos, quando a realidade estava bem longe dos sonhos que tive um dia, era triste, era quase revoltante.
Em momento algum me arrependi da minha decisão, mas em momentos como aquele, quando meu maior sonho vinha exibir-se, algo lá no fundo doía.
Todas as cores naquela parede, as cores das roupas e munhequeiras em meu guarda-roupa. Os telefonemas não feitos e nem recebidos, toda uma futura vida feliz deixada de lado. A cabeça latejava, os músculos enrijeciam-se, a forte pontada no peito e as lágrimas, a enchente de lágrimas. Era demais para mim.
Puxei um pouco uma das munhequeiras, o último corte ainda não tinha se cicatrizado por completo. Arrastei-me pela cama até o criado-mudo, abri a gaveta e ali estavam a segunda alternativa.
A cartela estava pela metade, aqueles cinco comprimidos não me matariam, mas me fariam dormir por horas e, estar inconsciente por algum tempo, era sempre a minha salvação, fazia o tempo passar depressa.
Eu as tomei, encolhi-me em posição fetal e fechei os olhos, todos às vezes em que aquilo acontecia, antes de apagar eu sempre tinha um pedido em mente, queria que meus olhos não voltassem a abrir.
O resultado oficial do vestibular levaria alguns dias para sair, mas o gabarito já estava circulando pela internet e pelo o que pude verificar e já esperava, eu tinha ido muito bem. Não tinha como a vaga não ser minha.
Estava sentada na sala de casa, os olhos tentando distrair-se com um programa de fofoca na tv, mas fixos no relógio.
Sempre que meu pai chegava do trabalho - com exceção dos dias em que eu era obrigada a abrir a pequena gaveta do criado-mudo para... bem, poder dormir - eu o escutava chegar do trabalho, e minha mente já havia se programado a só relaxar quando a porta ao lado da minha se fechasse informando que ele tinha ido dormir.
Mas naquele dia era diferente, eu estava acordada, precisava lhe dar a noticia, ele precisava saber como eu tinha ido bem na prova, que sua filha em breve seria aluna de administração da melhor e maior faculdade do país.
Minhas mãos suavam e meu coração palpitava. Os olhos presos no relógio contavam cada minuto que se passava, eram onze horas e vinte e seis minutos, faltava pouco para ele chegar.
Foi o barulho do portão da garagem que deu o aviso. Enxuguei as mãos na calça jeans, corrigi a postura, estufei o peito e aguardei a porta abrir-se, poucos minutos depois ela se abriu.
Meu coração sempre se apertava quando o via, até mesmo naquele dia em que não havia o que temer.
- Pai! – chamei um pouco estridente.
- Oi filha. Por que ainda está acordada? – perguntou ele aproximando-se de onde eu estava.
- Tenho uma noticia boa para lhe dar.
Quando ele chegou perto o suficiente e sentou ao meu lado no sofá, os olhos fixos nos meus, tive vontade de chorar, aquele olhar triste nunca iria embora, não tinha jeito. Segurei suas mãos e continuei:
- Saiu o gabarito da prova e ao que tudo indica, sua filha é a mais nova aluna de administração.
- Sério? – os olhos ganhavam um novo brilho.
- Sim. – brilhos que provocavam o meu sorriso mais sincero.
- Mas e o seu sonho filha? Você a vida inteira quis cursar a...
- Shii pai. – tampei sua boca com a palma da mão – O meu sonho sempre foi fazer as pessoas que eu amo felizes, mamãe não está mais aqui, mas você está e por você eu faço tudo. Os seus sonhos são os meus. Eu sei que ela não ia querer que eu fizesse diferente.
Os olhos agora brilhavam por conta das lágrimas, ele me fitou, sorriu e me abraçou forte.
- Eu te amo minha filha, muito. Obrigado por tudo.
- Não precisa agradecer pai.
E naqueles braços eu sempre tinha certeza de que cada passo dado em direção oposta ao caminho que tinha traçado para mim, valia a pena. Por aquele breve momento eu me esqueci de tudo. Quase chegava a encarar a vida de outra forma, quase a desejava, mas era apenas quase.
Era o primeiro dia de aula.
Cursar administração nunca foi o meu sonho, mas fazer meu pai feliz era. Então a sensação boa de sonho realizado estava presente e milagrosamente eu estava feliz, mas como milagres não existem e a minha felicidade muito menos, logo eu estava revoltada com a vida de novo e querendo matar todo tipo de ser humano que cruzava o meu caminho, pois quando tocou o sinal da primeira aula foi como se tivessem tocado as trombetas anunciando o apocalipse. Era o inferno na Terra, um bando de demônios, vândalos – vulgos alunos – saíram aos montes e trotando das salas de aula, da boca deles apenas uma palavra saía em gritos agudos:
- Bicho!
Sim. Eu era um bicho e aquele bando de veteranos iam judiar de mim.
A minha mente insana tinha se esquecido dessa parte do pacote e em meio à preocupação e desespero essa mesma mente insana, provou a competência de sua insanidade, eu passei a desejar que aquele bando de idiotas me pegassem e quem sabe, no dia seguinte eu estamparia algumas páginas de jornais como a garota que morreu durante um trote universitário.
Eu quase fiquei feliz com a idéia, mas então os olhos brilhantes de meu pai vieram a minha mente e meus instintos de covardia se manifestaram. Corri para um dos banheiros e me escondi dentro de um cubículo usado para guardar vassouras, panos de chão, rodos etc.
Permaneci segura por um tempo razoável, ouvia a gritaria e risadas do lado de fora, mas o barulho vinha de longe, eu não tinha com o que me preocupar, ninguém me acharia ali.
Agora pensa em uma pessoa azarada.
Sim, eu mesma.
Alguém abriu a porta do banheiro. Ouvi as portas das divisórias sendo abertas uma por uma. O pânico já provocava espasmos e suor frio. De repente silêncio. Aguardei um longo minuto até que tive certeza de que quem quer que fosse que estava vasculhando o banheiro, havia ido embora. Resolvi abrir uma brecha da porta para verificar o lado de fora e, então, constatei que estava enganada, a tal pessoa não havia ido embora.
Encostado na parede com um sorriso vitorioso nos lábios, os braços cruzados como quem espera há horas e coberto de tinta, estava ele, o atirado que sai abraçando moças indefesas na rua. O estranho de olhos cinzas.
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Nota:
Enfim mais um capítulo, é pequeno eu sei, mas eles sempre serão nessa faixa de tamanho. Pena que são poucos comentários. Mas obrigado (*----*) Ane B. Malfoy, Nina Black, Mari Granger Weasley, Susie Malfoy, Mari Nery e Josy Chocolate pelos comentários lindos. E Josy que emoção você aqui. <33 Já li algumas das suas fics e são simplesmente demais, você escreve muito!!
Bj'O e comentem ;)
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