Capítulo 1



Capítulo 01
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Hermione:
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Por mais que tenha planejado tudo certo e nos mínimos detalhes, não adiantou, eu estava atrasada.
O maior problema não era perder a prova, o problema era essa perda ter a morte como conseqüência e, não é a morte de um sonho, de expectativas e vontades. Não, era minha morte mesmo. Meu pai me estrangularia, picaria e jogaria para os peixes. E isso numa perspectiva muito sonhadora de imaginar que ele teria consideração de me jogar no mar, pois o mais provável é que jogasse na privada e desse descarga.
Não é que ele me odeie ou que me obrigue a cursar administração, quer dizer, é sim, mas ele não é um assassino, jamais faria algo assim comigo, mas é rico, pagaria alguém para fazer por ele com toda certeza.
Tudo bem... Sem ressentimentos e calúnias contra meu pai. Eu estou tensa e quando isso acontece falo coisas que não são verdade e deixo minha tendência ao humor-negro me dominar.
Pegar um ônibus lotado em pleno domingo não estava nos meus planos, se soubesse desse infortúnio teria ido para o bendito local da prova de táxi. Essa porcaria parando em cada ponto é para deixar qualquer um com desejos homicidas mesmo.


Quando chegou o ponto em que eu, finalmente, desceria olhei no relógio do celular e apavorada, comecei a correr, faltavam quatro minutos para o fechamento dos portões e se eu chegasse um minuto depois, adeus vestibular, adeus vida. Eu estaria ferrada.
Voltei a pensar na minha morte, no meu assassinato. Coisa triste. Coisa, agora, praticamente inevitável.
A verdade é que meu pai me ama, não me obrigou a cursar administração, escolhi porque quis, agora os motivos que me fizeram querer esse curso, isso eu não revelo nem sob tortura. Não que alguém fosse ousar me torturar para saber isso. É totalmente aceitável para todos. Ninguém liga se jogo meus sonhos fora em virtude dos sonhos de outros. Nem eu mesmo posso ligar e eu não ligo, ou pelo menos tento me convencer disso todos os dias, sempre. Principalmente agora em que corro como papa-léguas fugindo de coiote, quer dizer, um pouco mais lento, sendo bem sincera, bem mais lento, muito mais.
Maldito humor negro que atrapalha tudo. Maldita mania de embaralhar pensamentos, de atropelar idéias. Eu preciso correr. Eu corri.
Seria bom se tivesse adiantado alguma coisa.


Quem liga para portões? Que diferença ele faz na vida de alguém?
Bom, provavelmente poucos ligavam, eu mesma não ligaria em um dia qualquer, mas naquele dia, naquele momento não havia nada mais importante no mundo, no meu mundo, do que um portão. Um maldito portão que agora, as treze horas e dois minutos, encontrava-se absolutamente fechado, cercando um pátio cheio de alunos que olhavam listas de nomes e salas nas paredes, riam, respiravam aliviados pelo quase atraso, desejavam boa sorte uns aos outros.
Um enorme portão fechado que separava sonho de uma realidade mais parecida com pesadelo.
Não havia humor negro, nem atropelo de pensamentos e idéias que me fizessem desligar do fato de que tudo que eu havia planejado nos últimos dois anos estava arruinado, por causa da minha mania, aquela que é maior que todas as outras.
A mania de desejar a morte.


 


***


 


Draco:
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Beijei a foto de meus pais, fechei os olhos e imaginei o abraço, o desejo de boa sorte e as lágrimas de comoção.
Peguei minha mochila e fui para o ponto de ônibus. As pessoas que me conheciam iam me cumprimentando pelo caminho, desejando sorte. Todas sabiam do meu grande sonho, todas torciam por mim, era bom.
O ônibus estava cheio para um domingo, mas era de se imaginar que o movimento estaria fora do comum, dia de vestibular em muitas universidades.
Eu queria a melhor e conseguiria, nada daria errado.
Foram cinco anos de estudo árduos, e na semana que antecedeu o dia da prova, boa alimentação e excelentes noites de sono. Saí de casa com mais de uma hora de antecedência.
Não tinha porque algo dar errado. Nada daria.
Eu revisava mentalmente algumas fórmulas matemáticas quando um barulho estrondoso me despertou e assustou todos no ônibus.


Um buraco recente no meio da rua. Um pneu furado. E o meu sonho se desfazendo em chamas dentro de mim.
Esperei um tempo até ter certeza de que o concerto levaria tempo demais, eu não podia esperar. Saí correndo e não precisei correr muito para perceber que não adiantaria, tinha de haver um outro ônibus que me levasse até o local e havia, mas ele não circulava aos domingos. Aguardei que um igual ao que estava passasse e ele levou cerca de vinte e cinco minutos.
O suspiro de alivio estava brotando em meus lábios, quando a próxima curva feita pelo ônibus nos levou a um trânsito descomunal e absurdo para àquela hora e naquele dia.
Parecia maldição.
E eu fui amaldiçoado.
Portão fechado, silêncio. O relógio que agora pesava em meu pulso, marcava treze horas e dezesseis minutos. Atrasado.
Corri até o portão e gritei, não iria adiantar, eu sabia, mas não pude deixar de gritar.
- Por favor! Alguém abre! Eu não posso perder esta prova! Não posso. – e a última sentença foi um suspiro.


Antes que as lágrimas me inundassem, ouvi um soluço. Assustado, olhei para trás e vi uma garota sentada na guia da calçada, a cabeça baixa apoiada nos joelhos, os braços morenos em volta das pernas e o longo cabelo castanho esparramado nas costas.
Sem querer ser convencido e piegas, se tem algo que sou é solidário. O meu instinto de compaixão e bondade chega aos limites da loucura e isso muito me prejudica e irrita, mas não vem ao caso agora. O fato é que no instante em que vi aquela garota, todas as minhas lágrimas se reprimiram e meus ouvidos se aguçaram para ouvir as dela.
Comecei a caminhar em sua direção e cada passo dado era uma sentença, mas quando me aproximei e ela notou, ergueu o rosto, olhou nos meus olhos e ali, naquele momento surgiu uma virgula. Um sorriso torto e triste brotou em seus lábios e ali estavam as reticências. A certeza angustiante de que o destino escrevera a minha história e aquela garota de olhos grandes e também castanhos era mais um capitulo, talvez o epílogo e o fim. 


 


***


Hermione:
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Eu olhei para meus pulsos e puxei as munhequeiras.
Eu sei que todo mundo diz que para morrer mesmo é preciso cortar na vertical, já estava cansada de ouvir isso, mas eu sempre cortava na horizontal. Talvez e muito provavelmente eu fosse uma covarde que nem coragem para acabar com a própria vida tinha.
Era óbvio que enquanto eu estava ali sentada, observando aquelas linhas grossas e rosadas, sobrepostas umas sobre as outras mais de cinco vezes, meus pensamentos começassem a divagar novamente, buscando aquela velha válvula de escape e eu senti que isso logo aconteceria, me encolhi sentada na guia da calçada, abracei minhas pernas e chorei até meus pulmões parecerem caixas de som pulsantes de uma discoteca.
Foi quando ele apareceu.
Olhos fechados, cabeça baixa e soluços um tanto quanto altos. Sim, era difícil ouvi-lo e velo, mas eu o senti. E não estou acrescentando nenhum romantismo nisso. Eu o senti como qualquer um sente quando está sendo observado, ou pelo menos eu acho que sentem.
Ergui o rosto e olhei.


Era alto, se bem que minha posição era desvantajosa. O cabelo loiro ficava quase branco na luz do sol e os olhos estavam levemente fechados por causa do sol, me pareciam ser azuis, ou cinzas, mas eram acolhedores.
Um soluço golpeou fortemente meu peito, eram novas lágrimas. E eram novos braços em volta de mim, braços grandes, pesados, os braços do desconhecido.
- Por favor, não chore. Sou fraco demais para isso. Colabore e evite minhas próprias lágrimas.
De repente minha cabeça alertou-se, não era a ousadia do abraço ou o tom arrastado das palavras. Foi a facilidade com que eu aceitei aquilo. Minhas mãos logo estavam sobre as dele, desfazendo o abraço e minhas lágrimas cessaram como se houvesse uma torneira a ser fechada... por ele.
- Eu... Eu... – tentei dizer enquanto meus olhos percorriam seu rosto, não era feio, era muito, muito bonito, um rosto tão bonito e sereno que chegou a doer – Eu... Vou morrer.
Sim. Eu falei de morte. Foi a única coisa que minha mente doente conseguiu pensar, se é que se pode dizer que ela pensou depois dessa.
Ele riu, e isso era capaz de tirar a paz de alguém. Iria tirar a minha com toda certeza.
- Morrer?
- Desculpe, é que em momentos de tensão eu costumo falar e pensar, principalmente pensar, muita besteira. Geralmente é tudo associado a morte. E não é que eu goste da morte, muito longe disso, mas ela me persegue, ou pelo menos eu acho que persegue. Não dizem que ela é a única certeza da vida? Então, deve ser por isso que quando eu estou prestes a pirar e querer explodir eu penso nela, é preciso de certezas em horas como essas e se ela é a maior certeza, então... Porque eu acho que se você tem problemas, ainda mais se forem como os meus, nossa! Ter certeza de algo é realmente reconfortante. E se...
É. Eu falei tanta besteira que contar isso dá náuseas e só percebi porque ele começou a arregalar os olhos a cada nova palavra que eu dizia e seus lábios se enrugavam nos cantos como se segurasse uma gargalhada.
Da próxima vez eu cortaria na vertical.



***


 


Draco:
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Eu nunca havia conhecido uma pessoa tão absurda.
E quisera eu que fosse pelas palavras descontroladas e loucas que saiam de sua boca. Quisera eu que fosse pelo jeito estranho que ela segurava minhas mãos enquanto falava.
Mas não era por nada disso. Ela era absurdamente linda.
Cada traço parecia meticulosamente trabalhado, a pele alva como porcelana.
Talvez ela tenha notado minha expressão de espanto com as palavras, as mãos e a beleza, mas de repente ela parou de falar, soltou minhas mãos, levantou-se e começou a caminhar, estava indo embora.
Levantei-me e a segui.
- Hei! Espere.
- Me desculpe por falar tanta ladainha, - virou-se para mim que a alcancei e me olhou nos olhos - eu estou nervosa, acabei de perder a prova, cheguei tarde demais.
A prova. Na mesma hora senti meus olhos arderem. Não era uma hora boa para lágrimas, mas alguém esqueceu de avisá-la e ela voltou a chorar.
- Sei que não serve de consolo e nem deve te interessar, mas eu também vim fazer a prova e a perdi. Sei como deve estar se sentindo.
- Sinto muito por você. Iria prestar para qual curso?
- Medicina.
- Uau. É difícil.
- Eu sei, por isso estudei por cinco anos.
- Uau de novo.
Nós dois rimos. Nossos olhos ligeiramente desatentos voltaram a se encontrar e o silêncio pairou no ar enquanto os sorrisos foram cedendo.
De repente uma voz desconhecida cortou o silêncio.
- Hei vocês dois aí!
Olhamos os dois para a direção de onde vinha a voz e nos deparamos com um senhor do lado de dentro do portão.
- Pois não. – eu disse.
- Por acaso vieram para a prova?
- Sim. – respondeu a garota.
- Pois então entrem. Terão a chance de fazê-la e espero que a aproveitem.
O tal senhor abriu o portão e a garota passou correndo por mim para entrar, eu a segui. Já do lado de dentro, ambos sabíamos para qual sala ir e iríamos em sentidos opostos.
- Boa sorte estranho. – desejou ela e saiu correndo quase saltitando para a sala.
- Boa sorte estranha. – disse em tom inaudível.




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Nota:
1 - Uma Hermione com mania de morte e um Draco Malfoy totalmente do bem?? ok, meio surreal. Mas é bom ver uma Mione diferente ás vezes e sobre esse Draco... ele vai ser apaixonante!!


2 - Melancólica e fofa, acho que essas duas palavras descrevem muito bem essa fic *-*


3 - [A][A][A] O que acharam do capítulo??? Espero meeeeesmo que gostem e se gostarem comentem!! Comentários incentiva. :D


BjO's

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