Lua Crescente
Seus cuidados e sua proteção me tiraram da cama em menos de três dias. Ele andava ocupado, eu sempre podia ouvir os ecos da sua voz, que vagavam pelas paredes e vinham me encontrar no seu quarto. Estávamos em Hogwarts, na diretoria, e ele fazia o que fosse possível para que ninguém desconfiasse que eu estava ali. Era assim que ele queria que as coisas ficassem: no mais profundo segredo.
Eu tinha o meu malão e as minhas roupas, já que ele tinha dado um jeito de trazê-las para mim. Não almoçávamos ou jantávamos juntos, mas sempre que ele podia, até mesmo durante a tarde, vinha me ver.
Ainda não havia a menor intimidade, sequer tínhamos nos beijado. Tudo se resumia a abraços apertados e cúmplices e manifestações quase pueris de carinho. Ele não tinha familiaridade com aquelas coisas, e sempre que eu percebia que ele estava buscando um jeito de se aproximar, me adiantava a estar o mais junto dele o possível, então eu o abraçava, acariciava seu rosto e deixava que ele me embalasse como sua criança crescida.
Conversávamos sobre diversas coisas e por uma ou duas vezes eu consegui que ele abrisse um ou outro sorriso genuíno. Aquilo me dava a impressão de um dia de chuva, nublado e cinzento, sendo dissipado por um potente e brilhante sol.
-Hum... –ele fazia me puxando para seu colo, alongando a interjeição enquanto me apertava contra seu corpo- Luna...
Eu sempre tive orgulho do meu nome, sempre achei bonito e sonoro, mas nada se comparava aquela palavra proferida pelos lábios dele, em combinação com a voz macia e suave.
-Severus... Teve um bom dia?
-Um dia longo e cheio. –ele respondeu- Por isso eu não vim vê-la no almoço.
-Tudo bem. Eu já disse para não se preocupar muito comigo.
-Eu não posso fazer isso. Eu me preocupo com você o tempo inteiro. Por exemplo, eu estou preocupado por estar deixando você presa aqui sem poder fazer nada para distraí-la, além de lhe trazer alguns livros.
-Sempre gostei muito de ler, isso não é problema. Estou bem aqui, com você. Verdade. –acrescentei quando a expressão dele se tornou duvidosa.
-Eu também estou muito bem com você. –ele beijou meu rosto do seu jeito inseguro- Mas eu gostaria de poder deixar você um pouco livre.
-Eu ainda estou me recuperando. Podemos pensar nisso outra hora, outro dia. Sinto-me bem aqui. Sinto-me segura.
-Você está. Eu prometo que nunca mais ninguém vai lhe fazer nada de ruim.
-Eu confio em você.
-Que bom. –ele murmurou com um leve sorriso de satisfação- Preciso de um banho e uma boa noite de sono.
-Você não vai conseguir uma boa noite de sono no sofá. –eu disse de maneira já recorrente. Estávamos quase discutindo sobre aquele assunto. Eu não me conformava em vê-lo dormir no sofá enquanto uma cama gigantesca sobrava para mim- Você vai me fazer companhia na cama hoje.
-Não, Luna. –ele franziu o cenho desagradado- Eu não quero que... Eu já lhe disse, eu sou um homem e você é uma menina. Essas coisas têm implicações perigosas.
-Severus, eu sei o quanto é perigoso. Mas isso não inclui você na zona de perigo. Eu morro de dó ao vê-lo se encolher no sofá! Você tem um metro e oitenta de altura, aquele sofá é mínimo!
-Há um feitiço nele.
-Mas não é a mesma coisa de uma cama. Esta noite eu preciso que você fique comigo, ou aquele sofá precisará confortar nós dois.
-Você está aprendendo a se tornar um ser autoritário.
Não disse nem que sim, nem que não. Apenas me colocou na famigerada cama e foi para o seu banho. Voltou dentro de um pijama, os cabelos macios presos no alto da cabeça. Sentou-se na beirada da cama segurando minhas mãos, levando-as aos lábios.
-Eu sei que está cedo, mas eu estou cansado demais hoje. Realmente preciso dormir.
-Então venha. –ergui o cobertor, convidando-o- Não seja assim, fique aqui comigo...
-Merlin, como negar uma súplica como essa? –ele disse em tom de brincadeira- Certo, eu vou ficar aqui hoje. –e deitou-se, estendendo-se ao meu lado com um gemido de cansaço- Venha... –e me puxou para deitar junto dele- Assim está bem melhor.
-Oh, está sim. –e passei a mão pelo peitoral firme lembrando-me de quando ele estivera todo perfurado por larvas.
Tive curiosidade em relação às marcas.
-Ficaram muitas cicatrizes do episódio com... aqueles bichinhos?
-São quase imperceptíveis. –e ele ergueu um pouco a camisa automaticamente.
Toquei a pele fina e lisa. Um arrepio percorreu meu corpo e eu instintivamente me virei para encará-lo. Ele tinha um nervosismo ansioso nos olhos, sua mão, que estivera brincando com uma mecha do meu cabelo, agora deslizava pelas minhas costas. Icei meu corpo para cima dele, sem realmente pensar em muita coisa e ainda mais desajeitado do que os nossos carinhos foi o nosso primeiro beijo.
Não sabíamos como fazer aquilo, aquela era a verdade. Eu sabia que ele sugava levemente o meu lábio inferior e que o sentia com a língua. Estremeci violentamente quando minha boca foi invadida pela dele, sua língua pedindo passagem, seus lábios massageando os meus. Ficamos parados nos encarando simultaneamente durante alguns segundos depois que aquele beijo terminou. Nenhuma palavra se passava pela minha mente, e a dele parecia estar ainda mais anestesiada, já que sua única reação foi me beijar novamente, dessa vez com um pouco mais de intensidade, invertendo nossas posições e pressionando-se contra mim.
E era como se as mão adquirissem vida própria e antes que eu percebesse, estava enfiando as minhas por debaixo da camisa, ansiosa por sentir sua pele macia e fina.
-Luna... Luna, eu acho que devemos parar.
-Parar? Parar o que?
-O que estamos fazendo.
-Você não quer mais me beijar? –perguntei sentindo-me decepcionada.
-Não se trata disso... tudo o que eu quero da vida é poder beijá-la, mas veja só a nossa situação.
Estávamos descompostos. Cuidadosamente ele saiu de cima de mim, arrumou sua camisa, e deixou-se desabar no seu travesseiro. Também dei um jeito na minha camisola, que havia subido até ficar igual a uma blusa.
-Mas eu posso deitar junto de você?
-Claro querida. Mas por hora é melhor ficarmos quietos.
E aquela cena se repetia quase todas as noites, sendo que sempre que a razão nos atingia, estávamos ainda mais descompostos do que na noite anterior. Uma coisa estranha despertava em mim quando estava com ele. Eu sentia um chamado vindo através do seu cheiro, meu corpo inteiro reagia e tudo o que eu queria era chegar mais longe na nossa descoberta intima de todas as noites.
Então, gradativamente, sem pressa, começamos a descobrir nossos corpos através de caricias, beijos e pura curiosidade. Então, uma noite, quando arfávamos agarrados, sufocando entre beijos e abraços voluptuosos, ele desabotoou os primeiros botões da blusa do meu pijama. Olhou-me nos olhos, como se pedisse permissão, mas aquilo já estava mais do que autorizado. Eu mesma me despi, ouvindo a voz rouca e desejosa explodindo em grunhidos ansiosos ante a imagem do meu corpo exposto.
Tirei sua camisa, antes que ele pudesse me tocar, e sinalizei que ele deveria despir as calças também, afinal, eu estava completamente nua e entregue. Ele pareceu deliberar por um segundo, mas também acabou tão despido quanto eu. Houve um momento silencioso de contemplação mútua e, inseguros, porém obstinados, unimos nossos corpos numa dança única.
Eu não podia imaginar que o que causava tanta dor também era capaz de causar a mais intensa satisfação, o puro deleite. Eu gemia e não era por estar sofrendo. Suava, enfiava as unhas nos travesseiros, puxava-o para mim com força, chamava pelo seu nome, explodindo de amor quando ele grunhia o meu, certa de que todo o prazer que eu sentia ele compartilhava.
-Eu amo você. –ele me disse trêmulo quando nos desprendemos, ofegantes e exaustos- Eu amo você, Luna.
Então deu-se inicio a melhor época de que já me lembro. Eu me sentia como o motivo único dos seus sorrisos que vinham abrilhantar cada vez mais aquele rosto outrora impassível e frio. Tudo fora revelado, a dupla espionagem, seus motivos e tudo mais que envolvesse aquela perigosa guerra.
-Eu não espero que vá sobreviver a esta guerra. –ele confessou, enchendo-me de pavor- Mas eu darei o meu melhor para ficar bem. Por você.
Mas não apenas por mim, como descobrimos depois de alguns dias. Eu apenas não podia acreditar que estava mesmo esperando um bebê. Ele, no entanto, tomado por um sentimento louco que eu não podia explicar, fazia planos, ria sem ter nenhum motivo aparente.
Eu testemunhei a transformação de um homem sem esperanças, frio e maltratado, num homem bom, possuidor de um futuro e de estímulos menos destrutivos do que aqueles que a mãe do Harry havia deixado para ele.
O tempo passava e eu estava cada vez mais redonda. Neste ponto, o confinamento já começava a me perturbar, mas eu nada dizia para não preocupá-lo. Meus dedos já tricotavam com tal grau de pericia que eu sequer precisava me preocupar com aquilo que estava fazendo. O bebê nasceria no outono. Estaria frio.
-Nós precisamos saber como está o bebê.
-Ele me parece bem. –eu respondi- Não se preocupe, nós estamos ótimos.
-Mas, Luna, você não pode ter um bebê sem ter tido o menor acompanhamento médico.
-Severus, não se preocupe. Quando não existiam médicos nasciam crianças. O processo não mudou.
-Mas isso não está certo.
-Bom, eu andei lendo algumas coisas, andei vendo alguns procedimentos feitos por medibruxos e médicos para saber como anda o bebê... feitiços simples, e eu garanto que ele está bem. Eu também estou ótima para uma grávida de quatro meses, quase sem enjôos.
-Bom, o verão está chegando, eu talvez consiga mais tempo para que possamos cuidar dos preparativos. Andei procurando uma casa para nós em Hogsmeade, para quando... bom, a guerra acabar.
-Sério? –perguntei sorrindo- Uma casa?
-Sim, querida. Se tudo acabar bem, nós precisamos de um lugar pra ficar, um lugar confortável, onde ó nosso bebê cresça do melhor modo possível. E bem próximo a Hogwarts.
-Claro... Oh, Severus, isso é incrível! –eu o abracei e beijei repetidamente- Isso é a melhor coisa que você podia ter me contado...
-Eu tenho uma casa em Londres, mas é um lugar odioso. Nós vamos pra lá agora, durante o verão. É um lugar seguro para você ficar quando eu tiver que cuidar das coisas para o Lorde ou algo assim.
-Tudo bem. O que você quiser.
Mas o que ele quis foi a pior coisa que ele poderia ter me pedido. Era um dia comum, cheio e movimentado, como sempre eram os dias que antecediam as férias de verão. Eu estava diante da janela, lendo um livro sobre crianças, bastante inclinada na poltrona.
Acabei por adormecer e acordei apenas quando Severus, muito aflito, me sacudiu levemente.
-O que aconteceu?
-Eu quero que você se agasalhe e se prepare. Nós vamos sair daqui.
-Mas...?
-Luna, Hogwarts será o palco de uma batalha. Você não pode ficar aqui. Pode ser perigoso, por favor, faça isso rápido.
Ele remexia em alguns armários, abria gavetas, jogava algumas coisas no meu malão... Eu tentava descobrir o que estava acontecendo, porque haveria uma batalha ali, mas ele estava tão preocupado que parecia fora de si.
-O bebê está mexendo? Você está bem?
-Severus, você pode me explicar o que está acontecendo, realmente?
-O que está acontecendo é que você vai pra Londres. Quando tudo isso terminar eu vou buscá-la. Eu preciso ter certeza de que você estará segura. Preciso ter segurança para agir. Se você ficar aqui, eu estarei constantemente preocupado com o que pode estar acontecendo.
-Eu entendo. –anui abraçando-o- Estarei bem.
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