Sweet Scandal voltou





“Assim como as estações, as pessoas têm a habilidade de mudar. [...]”
- Gossip Girl - 


 


O sol de uma hora da tarde era quente, mas não fazia calor. Thomas Guthrie estava sentado na beira do cais com o corpo inclinado para frente para ver os peixinhos. Ele esperava por Mikaella e esperava ansioso. O que será que ela queria com ele no cais? Matá-lo? Talvez, talvez.


Ele engoliu em seco quando sentiu duas mãozinhas geladas taparem seus olhos.


- Adivinha? – sussurrou Mikaella.


- C-Celine? – disse ele com a voz trêmula e hesitante.


Mikaella tirou as mãos do rosto dele bruscamente e por pouco não arrancou os olhos dele junto. Ela bufou e cruzou os braços.


- Mikaella! – disse ele sorrindo e surpreso.


- Dããã – debochou ela – E quem mais poderia ser?


- Pensei que você nem ia vir.


- E o que você tem a ver com aquela Hampton? – Mikaella cuspiu as últimas palavras.


- Ela é só minha amiga.


- Amiga? Que gracinha! Você foi pra Wizoney com ela e nem me disse nada.


- Você foi com o tal do Gallabriel e não me disse nada! – retrucou Thomas.


- Porque você estava em detenção – contra-atacou Mikaella.


- Por causa de você! – Hmmm, golpe baixo.


Mikaella trincou os dentes e prendeu os lábios numa linha reta.


Mais uma vez ela teve aquele sentimento de culpa por Thomas ter levado a detenção. Se ela fosse mais um pouquinho autoritária ele iria até lá. Num movimento exageradamente lento, ela descruzou os braços, relaxou os lábios para falar e respirou fundo.


- Desculpa – murmurou ela de má vontade.


- Não fica assim – sussurrou Thomas. E em seguida a beijou.


Ãhn?! Ele a beijou? Uaaal! Parece que Thomas Guthrie resolveu tomar uma atitude. Aplausos!


Mikaella ficou tão surpresa que demorou até seu cérebro perceber que Thomas Guthrie havia a beijado. Mas – que pena – ele conseguia ser tão artificial, seus lábios eram robóticos e sistemáticos e ao mesmo tempo freneticamente ansiosos. Pelo menos ele tentou. Mas cá entre nós, quem já provou da perfeição não se satisfaz com o simples bom. Então qualquer uma que antes beijasse o Alex e depois o Thomas ia perceber essa diferença.


Os lábios de Thomas desistiram dos lábios de Mikaella por um tempo, mas ela sabia que ele não estava nem perto de terminar. Ele a abraçou, a boca seguindo a linha do queixo e o pescoço de Mikaella.


- Não sei por que não te beijei antes – sussurrou com a voz amargurada. Ele liberou uma das mãos para segurar o rosto de Mikaella e olhar bem naqueles olhos azuis. – Eu te amo – disse ele.


O coração de Mikaella acelerou com impulsividade, mas não havia paixão, havia medo, pelas coisas acontecerem na hora errada. O famoso importuno do destino.


- Eu também te amo – murmurou Mikaella.


Ela o abraçou e enterrou o rosto no seu peito, onde ele não podia ver as lágrimas que se acumulavam e caíam lentamente. Sentindo-se culpada por fazer isso com o Tommy, culpada por ter beijado o Alex, culpada por está traindo sua irmã, porque, por mais que ela ignore, não pode dispensar o fato de estar apaixonada por Alex Gallabriel.


 


9 de setembro, 15h43min


Querido diário,


Não sei dizer mais quem eu sou. Eu sou um monstro. E eu estou presa na porcaria de um pentágono amoroso – isso porque tenho quase certeza de que Celine está dando em cima do Thomas para afetar a mim. Muito bem! Ela não ta conseguindo nada com isso. Confesso que fiquei sobressaltada no cais, mas é porque essa idiota da Celine não desiste. Vê a que ponto ela chegou? Dá em cima do meu suposto namorado para afetar a mim!


E o Alex... A gente tenta ao máximo agir como se nada tivesse acontecido, como se fossemos meros amigos. Eu faço de conta que esqueci, mas sei que isso é uma coisa que meu coração não vai largar. E ele disse que também não vai esquecer.


Eu queria uma luz agora. Uma luz que iluminasse minha mente! Porque eu estou aqui sentada na minha cama num dormitório vazio sem fazer nada de produtivo para corrigir, ou pelo menos amenizar a situação em que me meti.


Eu me sinto como um quebra cabeça sendo desmontado e remontado com peças totalmente diferentes. Eu me sinto a milhas e milhas de distancia de mim mesma, e venho sentido isso mais nos últimos dias. Mas é preciso lembrar que eu sou a Devonne.


xo xo, Mika


 


***


 


Mikaella fez questão de que o resto da semana fosse monótono, mas Alex não ajudou muito. Ela não se sentia confortável conversando com Michelly, e evitou todos os truques de Celine para derrubá-la. Dedicou-se as aulas, todos os professores apresentavam o mesmo comportamento estranho, ensinado coisas mais avançadas, pulando capítulos.


Ela temia que esse comportamento fosse por causa do torneio Óctubruxo e que os professores estavam fazendo de tudo para evitar a morte de um indivíduo. Primeiro dragões, depois a poção de proteção contra fogo? Até o professor James Prather de Defesa Contra as Artes das Trevas estava pegando pesado. A professora de adivinhação, Britani Makalca, falou muito sobre premonições e oscilações. O professor de astronomia, Pierre Lansquet, os ensinou como ler as estrelas e as posições dos planetas no céu, dependendo de suas posições pode significar sorte ou, até mesmo, agouro de morte. A aula de feitiços com Dominique Schults foi à prática e não na teoria. Em Herbologia a professora Meredith Glocheux explicou os efeitos e os defeitos da planta Mimbulus Mimbletonia. Felícia Scrimegeour os ensinou o tal do Murrieta Animata que faz com que algum objeto inanimado ganhe vida, pode ser usado também em desenhos feitos em papel, pergaminho ou qualquer outra superfície. Dora Tuntfie – estudo dos trouxas –, Allan Eckhart – história da magia –, David Crownley – quadribol – e Sasha Entwhist – astrologia – foram os que menos deram trabalho para os alunos.


O baile de primavera! Esse ano o tema seria o Ocidente, comidas típicas, vestes e até músicas. Rolinhos primavera, leques coloridos, batom vermelho, o glorioso lápis de olho para deixar os olhos puxadinhos... tudo ta valendo. E adivinha que vai sair das férias agora e que adora festas? A Sweet Scandal (Doces Escândalos), porque nas festas de Wiztron acontece de tudo. A festinha nas masmorras foi só um pequeno exemplo.


Todas as fofocas estavam dependuradas num mural logo no saguão de entrada. Todas as notícias da garota mais fofoqueira do mundo bruxo estavam escritas em pergaminhos novíssimos com sua letra estupidamente redonda e cheias de curvas, com os nomes das vítimas – e para dar ênfase a algumas palavras – destacados.


 


Sentiram saudades de mim? Ah, claro que sentiram!


A Sweet Scandal aqui demora um pouquinho para sair das férias e vocês já aprontam?


Eu tiro férias, meus leques não, benzinhos. E eles já expuseram vários flagras. O mais recente e o mais quente, diga-se de passagem, é o primeiro beijo de Thomas Jonh Guthrie com Mikaella Fox Devonne. Oh My God! Sim, eu disse o primeiro, e eles já estão namorando há uma semana.


E a festinha nas masmorras, foi boa? Nada escapa da Sweet. Mas, pode deixar, prometo manter segredo – há coisas que precisam ser guardadas. Sou uma boa menina, viu?


Agora os mais antigos e que todos já estão carecas de saber: O garoto de Dumstrng, hoho, parece que o menino num ficou sossegado por muito tempo, Michelly Fox Devonne já pôs as garrinhas para fora e conseguiu o pedido de namoro do nosso garoto de Dumstrang, a sensação do ano! O nome dele é Alex Lavousie Gallabriel, lindo nome de origem alemã, mas parece que nosso galã mora em Austrália desde pequeno.


E a guerra entre Celine Anne Hampton e Mikaella Fox Devonne? A mesma coisa: Hampton perdendo, Devonne ganhando sem mover uma palha.


Angelina Wolks Lumier, nova namorada de Nathanel Banks Sculpper? É fácil ver os dois juntos passeando na Wizoney ou pelos corredores de Wiztron de mãos dadas. E, se meus leques ouviram direitinho, eles já até trocaram alianças verbais, tipo: Eu te amo. Mas não são só eles não. Parece que o amor ta brotando em Wiztron. Quem já trocou alianças verbais também foram Michelly Devonne e Alex Gallabriel, Thomas Guthrie e Mikaella Devonne, Benjamin Curts Gordon e Isabelle Back Audsley? Ãhn? Primeiramente fiquei sabendo que ela estava saindo com o Emmett Joseph Lusen, agora o Gordon? Até Kyra Gambier Watson e Mitchel Clark Widerler! Ui ui.


A poção do amor deve estar vazando pelos canos e afetando a todos. Amor é um verdadeiro vírus. Pior quando se apaixona pela pessoa errada, tipo: o seu cunhado... Bom, como eu disse, há coisas que precisam ser guardadas.


E a festinha de primavera? Hmmm. Aposto que todo mundo está ansioso por essa festinha para começar a agitar as moléculas e esquentar Wiztron – está tão frio aqui, não digo pela madrugada do dia 9 de setembro. Acho que fez 50 graus! Quem sabe, vai entender o que quero dizer,


Mas segredos morrerão segredos. E quem sou eu? É apenas mais um segredo...


Beijinhos mon cherries, Swee Scan.


 


Quem não parou para ler as fofocas? É claro que todos pararam. A reação era bem nítida no rostinho de cada um: alguns com raiva, outros surpresos, felizes, tristes, decepcionados, ansiosos e curiosos.


Alex e Mikaella se entreolharam sérios. Se a Sweet Scandal sabia sobre eles então esse caso já havia se tornado uma coisa muito grave. Mas era melhor não se antecipar, continuar agindo como se nada tivesse acontecido. Fingindo que esqueceu e proteger Michelly e Thomas. Os olhos de Mikaella vagaram melancólicos no rosto de cada um que estava ali, como se todos soubessem. Que estupidez, ninguém sabe de nada, pensou ela e entre um em um ela conseguiu sair dali.


Alex a seguiu livrando seu braço das mãos de Michelly. Era tanta gente que Michelly nem viu para aonde ele tinha ido, ela tentou procurá-lo – os olhos negros inquietos –, mas desistiu fácil.


- Mikaella – chamou Alex já com a mão segurando o braço de Mikaella para fazê-la parar de andar.


- A Scan sabe sobre a gente – sussurrou ela. Os longos cílios molhados pelo acúmulo de lágrimas.


- Pode ter acontecido muita coisa naquela noite, Mika – disse Alex tentando reconfortá-la.


Ela queria poder ver as coisas dessa maneira, ela queria pensar assim. Mikaella balançou a cabeça mecanicamente.


- Queria poder enxergar as coisas desse ponto de vista, Alex – murmurou ela – Mas não dá.


- Pelo menos faz de conta – retrucou Alex.


Ele se virou e foi a caminho do salão principal. Mikaella ficou parada no meio daquele corredor vazio sentindo um aperto no coração. Uma dor que ela sabia que não era só ela que sentia. Ver as coisas por outro ponto de vista era tão difícil quanto esquecer um caso daqueles.


- Então estamos quites! – gritou Mikaella, e ela teve certeza de que ele ouviu quando ele olhou para trás e sorriu para ela.


Ela não voltou para a sala comunal – já havia se tornado um lugar depressivo lá –, ela foi para o riacho. Ótimo lugar para refletir sozinha, em particular, a Mikaella Devonne. Esse seria o lugar onde ela mais evitasse ir, mas parecia que tinha um imã puxando ela para lá contra sua própria vontade. Como se ela fosse uma masoquista e adorava sentir dor.


Ela se sentou no mesmo lugar, debaixo daquela árvore, aquela única testemunha. Em Wiztron tudo é uma surpresa, talvez as árvores falassem. Mikaella riu pensando nisso.


A água corrente parecia revelar todas aquelas imagens que ela queria esquecer. O resvalar da água sobre as pedras musgosas era a música que havia sido gravada para aquele momento, a mais pura e a mais perfeita música. Mikaella elevou os olhos de cristais para o céu que parecia de vidro, fechado e acinzentado, sem nenhuma fresta de azul. Esse era o típico céu de Wiztron, raramente fazia sol quente lá, já em Brookings, cidade de Oregon que fica entre a Califórnia e Washington, o clima era bem revezado.


Alguma coisa se chocou entre os carvalhos e a cabeça de Mikaella se voltou repentinamente por reflexo. Ela olhou no alto de cada árvore, que pareciam lhe observar. Seus olhos desceram lentamente para os arbustos da outra margem do rio. Alguma coisa chacoalhava as folhas dos arbustos. Alguma coisa a observava. Mikaella se levantou devagar, se preocupado em ser silenciosa e mais perspicaz possível em sair correndo dali, prendendo a respiração. Mas ela não sairia dali enquanto não visse o que estava a observando.


Algo reluzia entre os carvalhos, parecia um par de olhos verdes perfeitos, tão perfeitos que se confundiam com os carvalhos. Olhos perfeitos e assustadores, mas Mikaella não sentia medo, não tinha vontade de correr porque simplesmente e estranhamente não sentia medo algum.


As folhas se atiçaram mais vez, seu ouvido agudado ouviu passos pesados. Essa coisa com certeza é maior do que eu, pensou Mikaella. Agora ela estava com medo, mas a curiosidade a prendia ali. Aqueles olhos verdes, as pupilas dilatadas – como os olhos de um gato. Um rosnado baixo e suave.


Mikaella sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Uma sensação estranha.


E o que ela estava fazendo ali?


A criatura do outro lado do rio se agachou para dar impulso com as duas patas dianteiras. Ela sabia que ele iria avançar.


Os pés de Mikaella se desprenderam.


Ela não sabia ao certo a que velocidade corria, mas as árvores em sua volta eram apenas borrões. Ela ainda corria na margem do rio e a criatura a seguia do outro lado. Mikaella não conseguia ver o que era porque ele ainda corria entre os arbustos. E a criatura corria tanto quanto ela. Seus passos eram pesados e firmes, esmagando a barro sob seus pés – ou patas? Aliás, que espécie de criatura era esta?


Mikaella desviou em direção às árvores – para dentro do bosque. Ela se arranhou nos primeiros galhos e tropeçou nas raízes das árvores. Pelo menos não ouvia mais os passos pesados a seguindo, mas ela só diminuiria a velocidade depois que saísse do bosque.


Ela correu quilômetros até avistar o castelo. Aí sim ela diminuiu os passos, ela estava ofegante e os arranhões começaram a doer já que a adrenalina havia abaixado e o sangue esfriado. Sua roupa estava um pouco rasgada e os arranhões latejavam de dor – na bochecha, na barriga, nos braços e pernas.


- Mikaella – a voz que Mikaella já conhecia gritou o nome dela.


Ela se virou para trás e lá estava quem ela esperava.


- Alex?


- Eu vi você no bosque – Ele pigarreou uma vez, ele também ofegava – O que houve? – Ele arfava estranhamente.


- Er... – Mikaella o olhou de cima a baixo, as roupas de Alex estavam surradas e desajeitadas como se ele tivesse colocado as pressas – Eu vi alguma coisa no bosque e sai correndo.


- Viu? E o que era? – perguntou ele ansioso.


- Ah, sei lá. Não queria ficar lá para saber.


- Você sentiu muito medo? – Alex franzia as sobrancelhas, parecia frustrado.


- Não exatamente...


- E como ele era? Sabe o que era?


- Por que todas essas perguntas?


- Como ele era? – insistiu Alex.


Mikaella suspirou e fitou o chão relembrando da coisa que ela havia visto na margem do rio.


- Ele era... Enorme. Parecia um cachorro, mas era enorme. E seu pelo era sedoso e castanho. Seus olhos eram verdes como os carvalhos...


Mikaella voltou os olhos para Alex que estava com os aqueles olhos verdes perdidos e arregalados.


- Alex...


- Tudo bem, Mika – disse ele devagar – Vamos voltar para a sala comunal.


Os dois voltaram para o castelo um do lado do outro, mas Alex mantinha uma distancia agradável. Nem tão perto a ponto de suas mãos tocarem ou seus braços roçarem, e nem tão longe a ponto de não sentir sua presença ali.


Todos olhavam para Mikaella e Alex com olhares curiosos. Mikaella não se importava com os olhares, o que a incomodava era a Sweet Scandal, se isso caísse nos ouvidos dela – ou nos leques dela –, ela aumentaria a fofoca – falar mais do que deve.


Os ferimentos de Mikaella não eram graves a ponto de ter que levá-la para a ala hospitalar, mas ainda doíam um pouco. Eles foram diretos para o salão comunal da Bolts.


Michelly estava sentada numa poltrona lendo um livro. Como sempre.


Ela abaixou o livro lentamente enquanto Alex e Mikaella adentravam a sala comunal, surrados e rasgados, como se tivessem acabado de sair de uma guerra.


- Pode me explicar, Mikaella? – perguntou Michelly gesticulando para o estado em que Mikaella se encontrava.


Alex e Mikaella se entreolharam. Alex projetou o lábio inferior para frente como quem diz “isso não é comigo, você que foi para o bosque a princípio” e subiu para o dormitório masculino.


- Eu estava no bosque, na margem do rio... – respondeu Mikaella.


- Mas por que você está assim?


Mikaella bufou.


- Estava entediada – respondeu Mikaella mal criada – Então fui praticar cooper no bosque.


Michelly a olhou de cima a baixo, os olhos negros desconfiados.


- É só cooper. Eu gosto de exercícios físicos – disse Mikaella na defensiva.


E antes que Michelly pudesse abrir a boca para falar mais alguma cosia Mikaella subiu correndo para o dormitório feminino tomar um banho – ela realmente estava precisando. Mikaella não gostava de mentir para Michelly, mas parece que ela tem feito isso freqüentemente nos últimos dias. E se ela contasse a verdade – que viu uma espécie de cachorro enorme na margem do rio – Michelly faria um escândalo e até proibiria Mikaella de sair do castelo – ela é monitora, ela tem esse poder. Mikaella não queria complicar mais as coisas, ela não precisava complicar mais as coisas.

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