Torneio Óctubruxo





“A vida é uma caixinha de surpresas.”


- William Shakespeare -


 


7 de setembro, 6h52min,


Querido diário,


Acabo de reler e riscar a coisa estúpida que escrevi ontem à noite. Eu estava sob o efeito do sono. Apaixonada... Paixão é bem diferente de empolgação. Confesso que o Alex é lindo, mas somos apenas amigos e nada mais.


Ontem eu o encontrei no salão de música. Nós tocamos Beaultiful Nightmare de Elber Luccioli e quase que nos


Isso não importa! Ele é namorado da Michelly, ela é minha irmã e é assim que deve ser. Enquanto ao Thomas...


Esquece o Thomas


 


xo xo, Mika.


 


Desta vez Mikaella colcou o diário debaixo do colchão. Ela tomou um banho, se vestiu e foi para o salão principal tomar o café da manhã. Havia poucas pessoas lá. No café da manhã ninguém se preocupa em se reunir. Alguns vão pegam o que querem e saem, outros vão direto para cozinha e tem até gente que não come nada de manhã.


Era domingo e não havia aulas também. Os alunos podiam aproveitar para ir à Wizoney ou ficar no castelo mesmo. Mikaella resolveu ficar no castelo, não tava no clima de sair. E além disso estava meio friozinho, mas ficar na sala comunal é muito chato e o salão de música não era mais o seu refúgio secreto.


- Mikaella – chamou Michelly.


Mikaella estava vagando pelos corredores, sem rumo, comendo alguns cookies que ela havia pego da mesa do café da manhã. Ela virou para trás e sorriu para Michelly enquanto ela se aproximava.


- Você vai ficar aqui hoje? – perguntou Michelly.


- É, acho que não to muito no clima pra sair – disse Mikaella desanimada.


- Poxa... Mas, eu e o Alex vamos. Por que você não chama o Tom? Seria uma boa oportunidade para vocês dois... – insistiu Michelly.


Sim, seria uma ótima oportunidade, estava frio e parece que a Wizoney é mais fria ainda, nada melhor do que esquentar com uns beijinhos. Mas só de pensar em ver sua irmã com o Alex...


E o que isso tinha a ver?


- Não, eu não quero ir – respondeu Mikaella – Mas, valeu pelo convite.


Michelly retorceu os lábios insatisfeita. Aliás, já era difícil ela ter um contato descente com sua irmã Mikaella, já que Michelly estava sempre ocupada demais estudando para as NOM’s.


- Ok então – disse Michelly desanimada – Te vejo mais tarde...


Michelly deu um leve sorriso, se virou e saiu dali. Mikaella ficou parada no vazio do enorme corredor ouvindo os passos de Michelly se esvaírem. Pela primeira vez ela ia sair com Alex, sair desse castelo e dessa monotonia. Era para Mikaella estar feliz pela sua irmã, não? Não. Ela sentia um leve aperto no coração e de jeito nenhum admitiria esse fato.


Estar supostamente apaixonada pelo Alex Gallabriel não era o certo tipo de imprudência comum. Não era como perambular pelos corredores à noite e não deixar ninguém te ver, não é como tomar banho escondida no riacho, não era como atazanar a vida de Celine Hampton. Era como trair sua própria irmã.


Mikaella se virou e foi para o lado oposto que Michelly havia ido. Pra onde ela ia? Nem ela sabia, mas queria ficar sozinha. Refletir sozinha.


- Mikaella!


Mas ficar sozinho era tão difícil em Wiztron.


Mikaella, mais uma vez, se virou para trás. Alex? Ele corria em sua direção e enquanto se aproximava diminuía os passos e respirava com dificuldade.


Mikaella sorriu para ele.


- Não era pra você estar saindo com a Michelly? – perguntou Mikaella.


- Era – disse ele ofegante – Eu to indo pra lá agora. Mas e você?


- Er... Eu num to muito afim de ir – murmurou Mikaella – Quero ficar aqui e refletir um pouco, sozinha...


Alex assentiu desanimado.


- Tudo bem então – murmurou Alex – Mais tarde eu estou por ai, então, se quiser refletir comigo...?


Mikaella soltou uma leve risada.


- Obrigada – disse ela sorrindo.


- Até mais – respondeu ele, logo se virou e saiu dali indo direto para a sala comunal se encontrar com Michelly.


Ele não corria, mas andava rápido e algumas vezes ele olhava para trás pra ver Mikaella que se esvaía do seu campo de visão à medida que ele se afastava. Até que ele sumiu na esquina do corredor.


- O que eu vou fazer! – disse Mikaella para o nada.


Ela pensou em por os deveres em dia. Que empolgante! Devia ir à Wizoney, ah, devia sim, mesmo que fosse com o Thomas. Mikaella ficou com a primeira opção: por os deveres em dia. Ela foi direto para biblioteca começar com o livro de Poções e para isso ela também precisava do de Herbologia.


Feitiço, Transfigurações e DCAT eram melhores na pratica, teorias eram bobagens.


- Draconifors – disse Mikaella apontando a varinha para o estojo de lápis que alguém havia esquecido em cima da mesa.


O objeto não se retorceu como costumava fazer, ele explodiu em uma luzinha fraca e lá estava, a miniatura perfeita de um dragão Dorso-Cristado Norueguês.


Mikaella sorriu orgulhosa de si mesma e presunçosa.


 


***


 


Segunda-feira.


Domingo foi um dia meio monótono para Mikaella. Não digo por Michelly, nem Alex, nem a Kyra, a Isabelle, o Emmett, o Mitchel, nem Thomas e muito menos a Celine. Sim, sim, Thomas Guthrie e Celine Hampton foram flagrados juntos na Wizoney. O que chegou aos ouvidos de Mikaella foi que ele esbarrou com Michelly quando estava indo encontrar com ela e Michelly disse que Mikaella não estava nem um pouco a fim de sair. Resultado: Celine resolveu atacar. Conseqüência: nenhum até agora.


Todos estavam reunidos na mesa de almoço já tontos com o banquete e ansiosos para saber o que o diretor Adam Mackenzie queria lhes dizer. Mikaella não correspondeu a nenhum dos olhares de Thomas e pelo visto Celine ficou satisfeita com isso.


- Atenção – disse Mackenzie. Houve um profundo silêncio no salão principal. – Quem não gostaria da glória eterna? – Ele deu uma breve pausa pensativa – Sim, todos nós gostaríamos. Mas tudo nesse mundo cruel tem um preço. Este ano nós realizaremos o torneio Óctubruxo. Para quem não sabe o torneio Óctubruxo é uma série de quatro competições mágicas. Cada casa haverá apenas dois escolhidos sendo que ambos estarão sozinhos e talvez se tornem até rivais.


“Acreditem quando digo que esse torneio não é para fracos, covardes e até altruístas. E por questões de segurança, apenas os alunos a partir do quarto ano poderão participar. – Houve uns cochichos baixos entre os alunos do terceiro e segundo ano. – Quem quiser participar – começou Mackenzie e os cochichos cessaram. – é só falar com o diretor de suas casas. Obrigado.” – dizendo assim Mackenzie voltou a se sentar.


Ninguém hesitou em atacar o banquete. Ainda ouviam-se os cochichos dos alunos do terceiro e do segundo ano.


- Ah, isso é injusto! – reclamou Nicholas, o irmão mais novo de Nathanel.


Nate riu e disse dando tapinhas no ombro do irmão:


- Você sobrevive maninho.


Mikaella que estava no lado deles não pode deixar de escutar e riu baixo.


- Você vai participar Nate? – perguntou Mika.


Nate sorriu presunçoso para ela.


- Você está falando com um Sculpper – disse ele se gabando – E você?


- Você está falando com a Devonne – falou Mikaella.


E assim prosseguiu o almoço dos aluninhos de Wiztron. O torneio Óctubruxo veio como uma bomba para alguns e uma boa surpresa para outros. Alguns ansiosos, outros com medo, mas com o orgulho tão enorme que não iam deixar de participar.


 


Michelly estava sozinha no dormitório feminino lendo um livro sobre Defesa Contra as Artes das Trevas – ela estava viciada em DCAT – quando Mikaella abriu a porta ofegante. Michelly havia voltado mais cedo do almoço, Mikaella ficou para a sobremesa e para falar com Felícia Scrimegeour, a diretora da Bolts.


Mikaella se sentou na beira de sua cama, de frente para Michelly que parecia estar concentrada no livro. Mikaella respirou fundo antes de falar.


- Michelly, eu...


- Não está pensando em se inscrever para o Óctubruxo, está? – disse Michelly com rispidez agudando em sua voz.


Mikaella soltou uma risada sem humor.


- Sim eu estou – respondeu ela.


Michelly levantou-se impaciente jogando o livro em cima da cama.


- Você não vai, Mikaella.


- Eu vou sim – retrucou Mikaella decidida – Aliás, já até falei com a Felícia.


- Mas você não pode, Mikaella. Você não vai!


- Eu vou sim! E quem você pensa que é para mandar e desmandar em mim? Eu não sou sua marionete, Michelly. E você não é mamãe!


Michelly reprimiu a raiva prendendo os lábios em uma linha reta e deixando-a derreter em lágrimas. Nunca havia gritado com Mikaella daquele jeito, mas ela sentia medo.


- Eu te perdi uma vez – disse Michelly agora com a voz mais baixa –, eu não quero te perder de novo, Mika. Por favor...


Mikaella suspirou e fitou o chão por um bom tempo.


- Eu vou a esse torneio – dizia Mika devagar e mais calma –, você não vai me perder e você vai estar lá no meu lado até o fim. Ok?


Mikaella não pôde conter as lágrimas que deslizaram facilmente sobre seu rosto. Michelly a abraçou forte e sussurrou:


- Até o fim...


Há quanto tempo elas não se abraçavam? Há quanto tempo elas não eram tão... irmãs? Michelly precisava entender que a vida é feita de escolhas e muitas delas não serão aceitas por alguns. Mikaella já estava se tornando independente e não precisava mais dela para julgar o certo e o errado.


As duas ficaram abraçadas um tempo até que as lágrimas secaram-se em seus rostos.


Michelly desfez o abraço enxugando o rosto.


- Tenho aula de Herbologia agora – disse Michelly – A gente se vê depois.


- Até mais – disse Mikaella e ela se lembrou que também tinha aula de História da Magia com Allan Eckhart. Ela pegou o livro, o enfiou dentro da mochila e saiu dali correndo.


Nos corredores ela esbarrou com alguns alunos, inclusive Nathanel e eles foram juntos para a sala de aula que ficava na ala oeste.


Quando chegaram, a sala estava meio cheia, o professor sentado em sua mesa de mogno velho desfolhando um livro para se distrair enquanto chegavam os alunos. Nathanel sentou-se no lado de Angelina Wolks, Mikaella se sentou sozinha e esperava de dedos cruzados que ninguém se sentasse ao lado dela.


Como se isso fosse funcionar.


Alex chegou logo depois e se sentou ao lado de Mikaella.


Ela olhou para ele e forçou um sorrisinho qualquer, ele respondeu com um sorriso amarelo.


Até quando eles vão ficar nisso? Mikaella realmente acha que o ignorando ela também pode ignorar o fato de que gosta dele mais do que devia? Nosso coração é incontrolável só a pessoa certa pode conduzi-lo, e Alex sabia fazer isso – mas Mikaella não ia dar a chance –, diferente do nosso cérebro, quem o controla somos nós.


A aula foi monótona e silenciosa, pelo menos na terceira mesa da fileira do meio – onde Mika e Alex estavam sentados.


Quando o sino anunciou o término da aula Mikaella foi a primeira a se levantar. Alex se levantou atrás dela e a puxou pelo braço.


- O que é que ta acontecendo? – perguntou ele. Sua voz agudava frustração.


Mikaella se virou e o encarou com o cenho franzido.


- Nada, Alex – disse ela simplesmente.


- Esse é o problema! – sobressaltou-se Alex – Não ta acontecendo nada. E por quê?


Mikaella desviou os olhos dele, olhando em volta e procurando uma resposta convincente.


- Porque... – Ela tentava achar as palavras certas. – Por causa do torneio; eu discuti com a Michelly e isso tudo ta pressionando minha cabeça. – Convincente, mas era apenas parte do caso. – Me desculpe Alex – Desculpa? Havia um duplo sentido nessas desculpas – primeiro – desculpas por estar o ignorando e – segundo – por estar apaixonada por ele sem querer.


Mikaella recuou dois passos e depois se virou para ir embora. Alex continuou parado no meio do corredor tumultuado sem entender o porquê das desculpas, e pela primeira vez ele sentiu seu coração apertar sem motivos.


Mikaella foi para a sala comunal guardar os livros e logo saiu dali, direto para o seu refúgio.


 


Ela rompeu a porta com o braço, ela respirava com dificuldade já que foi para lá correndo. Mas a sala já estava ocupada. A figura perfeita do garoto tocando piano, tanta agilidade e tanta delicadeza.


Mikaella respirou fundo mais algumas vezes, Alex parecia concentrado no piano como se cada nota fosse sagrada. Ela se aproximou dele devagar e pigarreou. Ele desviou os olhos do piano para olhá-la, mas suas mãos não pararam. Era uma música surpreendentemente linda como uma canção de ninar criada pelos anjos, com nunca se ouvira antes e ela não queria estragar isso. Ela se sentou ao seu lado.


- Isso não é Elber Luccioli – disse Mikaella quando ele tocou a última nota.


- Não – confirmou ele e pegou a mão de Mikaella – Isso é Alex Gallabriel – Ele beijou as costas da mão dela.


Mikaella sentiu seu corpo inteiro se reprimir como se estivesse sentido um leve e breve choque elétrico que fez seu coração disparar.


- Então – disse Mikaella de repente tentando disfarçar – Qual o nome da obra do jovem Alex Gallabriel?


Alex sorriu.


- Não sei, acabei de criar... Acho que meu coração tava meio pesado e tocando isso me alivia bastante.


Mikaella ergueu uma sobrancelha.


- É Michelly que esta fazendo todos esses efeitos em você? – perguntou ela irônica.


Alex soltou uma breve risada.


- Não sei – respondeu Alex sério – Pra falar a verdade... – Ele olhou nos olhos de Mikaella, mas foi como se todas as suas palavras tivessem se perdido de repente.


A expressão irônica de Mikaella havia sumido.


- É melhor eu ir ver o Tommy – disse ela por fim.


Ela se levantou sutilmente e saiu da sala de música. Alex tornou a tocar a mesma melodia que antes tocara, agora com as notas mais lentas.


Onde será que está o Tommy quando se precisa dele? – pensou Mikaella consigo mesma. E agora? Quem é ela para falar do Tommy? Se a própria estava fugindo do cunhadinho Alex enquanto qualquer garota faria de tudo por um simples sorriso dele. Tem hora que Mikaella radicaliza. Não é nada demais. Ou talvez ela não suportasse trair sua irmã e pôr um lindo par de chifres num garoto que ela nem gosta o suficiente para chamá-lo de namorado.


- Mika! Mika! – duas vozes diferentes gritavam seu nome.


Mikaella mal olhou para trás e Kyra e Belle já estavam no seu lado.


- Ta sabendo da festa que vai ter nas masmorras hoje à noite? – perguntou Kyra.


- Não...


As duas trocaram risinhos.


- Que bom! – disse Belle.


- Isso quer dizer que nosso plano ta dando certo – disse Kyra.


Mikaella olhou desconfiada para as duas.


- É, mas tem uma coisinha... – murmurou Kyra.


- Só pode entrar quem é aluno do quinto ano – disse Belle.


- Mas você é nossa VIP – disse Kyra.


- É, e nada de contar para Michelly – alertou Belle.


Mikaella franziu o cenho.


- Por quê? – indagou ela.


- Porque ela é monitora – disse Kyra desanimada.


- E ela tem o dever de não fazer bagunça – falou Belle.


- Mas Kyra também é monitora – disse Mikaella.


Belle e Kyra pararam de andar e entreolharam.


- Eu sei – disse Kyra rindo.


- Ok, então, você vai? – perguntou Belle.


- Er... Mas porque nas masmorras? – resmungou Mikaella.


- Porque ninguém faz a ronda lá – disse Kyra.


- Porque os vigias acham que nenhum aluno é louco o suficiente para ir até lá – contrapôs Kyra.


As três riram baixo.


- Ta bom, eu vou! – disse Mika.


Belle e Kyra sorriram de satisfação e começaram a andar mais rápido deixando Mikaella para trás.


- Ah – exclamou Kyra virando de volta para Mikaella, andado de costas enquanto falava: – Se você quiser convidar mais alguém...


- Só mais um, e nada de Michelly! – completou Belle.


Miakella fez um sinal de positivo com o polegar e as duas meninas se foram.

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