Wizoney





“Cunhados sempre serão cunhados, amizade a parte.”


- Maggie Lynn Dias -


 


A fantástica Wizoney! As ruas do vilarejo eram bem mais largas do que os corredores de Wiztron, então eram bem mais confortáveis de se transitar. Mas quer saber o porquê é que todos amam a Wizoney? E não é só por causa das lojas de doces, é porque lá, diferente de Wiztron, acontece de tudo – e que isso seja levado ao pé da letra porque acontece de tudo mesmo já que o humilde vilarejo não tem regras.


O Thomas não pôde ir por detenção, teria de cumpri o seu castigo de ficar preso na sala comunal – para ele aprender a não sair de lá à noite – e só sair no horário de aulas. Celine não foi porque talvez ainda estivesse traumatizada com o lance da galinha que cuspia fogo, ou estava ocupada demais tramando uma vingança contra Mikaella. Michelly não quis ir por causa do temperamento emocional que estava além da faixa de estresse pós-provas-de-final-de-ano, ou como preferir: a TPM.


Kyra, Belle e Mika não foram juntas já que Kyra foi o Mitchel Widerler e Belle foi o Emmett Lusen – ambos são do sexto ano. E Mikaella, é claro, que não ia dar uma de vela ou ficar por fora, ela resolveu aceitar o convite de Alex sem a tal proposta: “os dois casais”.


Alex estava encantado com a Honingers. Tanto que não queria mais sair de lá. Eram tantos doces para experimentar, doces que ele nunca viu, doces que ele nem sabia que existia. Ele parecia uma criança se divertindo num parque de diversões.


- O que é isso? – perguntou Alex pegando uma garrafa de vidro com um liquido rosa florescente dentro dele.


- Isso é um Quilly, é uma bebida alcoólica quem tem muito nas festinhas de Wiztron – respondeu Mikaella – Quer ir à Ice Dream? Por favor – implorou Mikaella, todos aqueles doces e aquele cheiro de açúcar mascavo e canela estava lhe dando náusea.


Alex olhou para o rosto de Mikaella, parecia cansada, mas ela estava nauseada.


- Tudo bem – disse ele sorrindo – Vamos.


Mikaella sorriu aliviada. Os dois foram para a sorveteria Ice Dream que era bem do lado da Honingers. Tinha sorvete até de presunto, tinha de abóbora, com sabor de frango, sabor de chiclete, chocolate, flocos, banana, leite condensado, mel, limão, kiwi, maracujá, morango, coco, amora, goiaba, graviola, baunilha, sabor de hambúrguer, pizza, até mesmo de boldo... Melhor para por aqui.


- Eu quero um de chocolate branco e flocos – pediu Mikaella ao balconista, depois se virou para Alex – E você?


- Baunilha e chocolate – respondeu Alex.


Os dois pegaram seus humildes potinhos com seis bolas de sorvete e se sentaram em uma mesa no canto perto da janela.


- Nossa! É uma delicia – dizia Alex enquanto saboreava o de chocolate.


- Realmente, não sei o que eles colocam nesses sorvetes para se tornarem um vício – disse Mikaella se deliciando com o de flocos.


Houve um batuque na janela de vidro da sorveteria. Poderia ser um pássaro, mas o pequeno barulho estava se tornado constante. Era Kyra tentando chamar a atenção do casalzinho que parecia duas crianças de quatro anos de idade comendo sorvete. Mikaella acenou calorosamente e Alex apenas sorriu já que estava com as mãos ocupada no sorvete. Kyra estava com o Mitchel Widerler e a Belle estava com Emmett Lusen ao seu lado. Proposta: os dois casais. E porque não os três casais? Kyra estava chamando Mikaella e Alex para irem com eles e Isabelle tava incentivando.


- Er... Você quer ir? – perguntou Mikaella.


- Ah, você quem sabe – respondeu Alex dando de ombros.


- Não, é que eles estão ficando e acho que não tem nada a ver se a gente for.


Alex deu de ombros mais uma vez.


- Se eu estiver com você e estiver vivo... então ta tudo bem – disse Alex e só depois se deu conta do que disse quando olhou para Mikaella. O rosto dela estava inexpressivo e parecia tentar entender aquela frase em algum outro ponto de vista. – Você é minha amiga, num é? – falou Alex.


- Claro – disse Mikaella sorrindo, depois ela soltou um riso baixo e sem humor, é claro que eles eram apenas amigos. – Vamos! – disse Mikaella terminado o sorvete e se levantando da mesa.


Alex foi logo atrás dela.


- Mitchel e Emmett essa é a Mikaella e o Alex – disse Kyra.


Os dois meninos responderam sorrindo. Eles pareciam mais velhos, talvez do sétimo. Os três lindos casais desfilando nas ruas do vilarejo. Kyra e Belle estav de mãos dadas com Mitchel e Emmett, Mika e Alex? Trinta centímetros de distancia um do outro, Mikaella com as ma~so enfiadas no casaco e Alex com as mãos nos bolsos da calça.


- Nunca vi vocês dois juntos em Wiztron... – comentou Mitchel – A quanto tempo vocês namoram? – Inacreditável que essa pergunta foi para Alex e Mika. Até Kyra apertou a mão dele num sinal de sermão.


Os dois se entreolharam e depois riram meio sem graças.


- A gente não ta namorando – disse Alex.


- Na verdade, ele namora a minha irmã – corrigiu Mikaella.


Estranho, mas tranqüilo. Porém, Mitchel não sossegou. Porque Alex namorava Michelly que estava no castelo e estava aqui com Mikaella? Talvez se ele fosse um namorado responsável estaria no castelo com sua namorada – independente de seu humor – e não se divertindo no vilarejo com a irmã dela.


Certo, tranqüilo.


Eles finalizaram a tarde na Buttear bebendo um refrigerante de guaraná e malte. E Mikaella não se esqueceu de passar na Macjet e comprar duas pulseiras unilas, uma para Michelly e a outra para ela.


O sol se punha quando eles chegaram a Wiztron. Os dois casais iam na frente tagarelando e Mika e Alex iam atrás andando vagarosamente e em silêncio. Quando chegaram na porta da escola Mikaella o parou esticando o braço em sua frente.


- Olha – disse Mikaella apontando para o horizonte – Os últimos segundos do sol.


Alex olhou para o horizonte do entardecer que era encantador e alaranjado. Os dois se sentaram em um degrau da escadaria e ficaram contemplando aqueles últimos segundos maravilhosos do pôr-do-sol.


Os pensamentos de Mikaella tinham vontade própria e iam para onde eles queriam. E eles vagaram até Thomas Guthrie, seu “namorado”. Seria mais fácil dizer não na hora do que se arrepender depois quando o arrependimento era previsto. O Tommy era seu amigo do “bom dia” e “boa tarde” – se é que isso é amizade – e de repente era seu namorado?


- O que foi Mika? – perguntou Alex ao perceber que expressão da garota havia mudado.


Mikaella soltou um leve suspiro e balançou a cabeça.


- É o Tommy... – disse ela. Sentia-se segura o suficiente pra contar com o Alex para as coisas mais estúpidas da sua vida. – Sabe, nós nunca tivemos um relacionamento muito avançado pra chegar a um namoro. Eu acho que nós não passávamos do “bom dia” e “boa tarde” – Mikaella deu uma breve risada, era tão banal, porque alguém iria querer saber disso?


Alex sorriu.


- Sabe... sei que você deveria estar contando isso para uma amiga sua e logo iria querer escutar os conselhos dela, mas eu também tenho uma coisa para lhe falar. – Mikaella olhou para o Alex que ainda estava com o olhar perdido no horizonte – Se for namorar um garoto, namore o seu melhor amigo ou com um garoto que você nunca viu na vida e de repente se apaixonou por ele. Esse Tommy é como... sei lá, namorar um vizinho? E vocês não passam dos comprimentos de educação. E talvez nunca vão passar porque é assim que vocês estão acostumados.


Mikaella ficou calada absorvendo cada palavra que ele dizia e sabia que no fundo, no fundo ela pensava assim também.


- Foi mais do que eu esperava de um conselho de amiga – disse Mika.


- E essa foi a coisa mais gay que eu já disse – retrucou Alex.


Os dois riram.


O sol já havia se posto e o horizonte estava lilás. Eles se levantaram e entraram no castelo. Era tão estranho ver o castelo meio vazio, ou meio cheio quando ele sempre fora tumultuado.


- Obrigada – disse Mikaella enquanto eles se dirigiam para a sala comunal.


- Pelo o quê? – Alex semicerrou os olhos.


- Pelo conselho.


- Ah, claro, não foi nada. E além do mais... você pode ter quem você quiser dessa escola – Mais uma vez Alex falando sem pensar.


E mais uma vez Mikaella tentando retorcer as coisas para um outro ponto de vista.


-Uaaal! – exclamou ela sorrindo – Fala sério. Eu não tenho todo esse poder – ela disse num meio tom de ironia.


- Claro que tem! – retrucou Alex – Você é linda, você é divertida, simpática, inteligente...


- Valeu! Agora você me deixou com vergonha.


Alex puxou Mikaella para perto dele e a abraçou com um braço enquanto ria.


- Não fica assim vai...


Os risos foram esvaindo depois de um tempo quando eles chegaram à sala comunal. Não tinha ninguém na sala. A maioria dos alunos ia para casa de seus pais aos fins de semana, outros preferiam ficar em Wiztron, ou simplesmente não tem para onde ir porque os pais morreram, depende.


Mikaella subiu direto para o dormitório feminino, Michelly devia estar lá.


E estava.


Sentada na cama de pernas cruzadas e com um livro nas mãos. Super concentrada que dava até medo de interromper. Mas ela desviou a atenção do livro quando Mikaella fechou a aporta.


- Trouxe um presentinho pra você – sussurrou Mikaella.


Michelly sorriu mordendo o lábio inferior ansiosa.


- E o que é?


- Uma pulseira unilas – disse Mikaella sorrindo.


Ela pegou a pulseira que estava no bolso de sua calça e sentou-se na beira da cama de Michelly. Pegou a mão dela e colocou a pulseira. Era uma pulseira simples de pequenos diamantes rosados, mas era poderosa.


- Ela vai piscar toda vez que você precisar de mim e vice-versa. Quando você estiver triste, ou assustada, ou em duvida. Sei lá... – dizia Mikaella enquanto abotoava o fecho da pulseira.


Michelly sorriu e abraçou.


- Obrigada irmãzinha.


- De nada...


Mikaella se levantou e foi para o banheiro tomar um banho quente. Precisava disso. Se Michelly soubesse que ela tomou sorvete nesse frio... Ela terminou de tomar banho e quando tocou na toalha percebeu que não havia pegado a roupa. Ela se enrolou na toalha, abriu uma brechinha na porta o suficiente pra passar só sua cabeça. Michelly estava saindo do dormitório.


- Oh psiu!


Michelly olhou para trás.


- Sabe que não sou fácil a ponto de atender a qualquer “psiu” – disse ela irônica – O que foi? Eu já estava indo pra sala...


- Mas antes de ir, pega minha calça de moletom azul, a minha regata e os cogentes.


Michelly suspirou meio impaciente e pegou a roupa de Mikaella – o moletom azul, a regata...


- Cogentes? – perguntou ela.


- É o indispensável, o necessário – disse Mikaella, e Michelly não entendeu o que a irmã estava tentando dizer. – A calcinha e o sutiã – disse Mikaella por fim. Além do mais, ela era sua irmã, não precisavam de códigos entre si.


Michelly voltou para pegar os “cogentes” e entregou a Mikaella.


- Te amo – disse Mikaella fechando a porta do banheiro.


Ela se vestiu rápido e saiu do banheiro. Ótimo! Agora o dormitório estava vazio. Ela se jogou na cama e pegou o dito-cujo debaixo da cama.


 


6 de setembro, 18h43min.


Querido diário,


O tempo parece estar passando devagar, mas as coisas estão acontecendo rápido demais. Não to falando do Tommy, ele é apenas um acaso. Eu to falando do Alex. Hoje nós passamos a tarde inteirinha na Wizoney. Michely não quis ir por causa do seu mau temperamento mensal então fomos apenas nós dois, e isso inclui Kyra, Belle, Mitchel e Emmett – dois garotos que conheci hoje também e que são do sétimo ano. Meu coração fica totalmente fora de ritmo e descompassado quando estou perto do Alex, meu pé não para de balançar...


Talvez isso seja normal, talvez não seja nada demais.


E eu me sinto tão bem quando estou ele que chaga a parecer que nada mais importa.


O que eu to escrevendo?


Eu não sei o que é que ta acontecendo comigo.


Talvez eu esteja apaixonada


Esquece!


xo xo, Mika.


 


Mikaella pensou em arrancar aquela folha do diário. Ela mordeu o lábio inferior enquanto segurava a ponta da folha. Era só puxar. Mas ela fechou o diário, o enfeitiçou e enfiou de baixo da cama. Ela se virou e ficou ali deitada um tempinho pensando em suas próprias palavras. Você estará fraca demais no quesito emocional e vai se apaixonar pela pessoa que não devia, dissera a professora Entwhist.


- Mas eu não estou fraca – murmurou Mikaella para si mesma.


Ela se levantou e saiu dali calçando as botas de veludo caramelo.


Michelly devia estar na sala comunal com o Alex. Ótimo! Que desagradável.


Mas não tinha ninguém lá. E Mikaella também não estava nem um pouco a fim de conversar. Então ela foi para o seu único refúgio. O salão de música. Ninguém ia lá por ser considerado um lugar desinteressante, outros não iam porque não sabiam tocar nada mesmo. Já Mikaella tinha uma paixão particular com a música e aprendeu a tocar um pouco de tudo sozinha.


O salão de música ficava no sétimo andar o que também poderia se servir de desculpa para ninguém ir até lá.


Quando Mikaella pôs a mão na maçaneta da porta ela escutou notas melódicas vindas de um violão. Quem será? Ela abriu a porta devagar...


- O que você esta fazendo aqui? – sussurrou ela sobressaltada.


Ele era a última pessoa que ela esperava ver ali. Seus dedos pairaram sobre as cordas do violão, ele olhou para Mikaella e sorriu.


- E por que você não me mostrou esse canto do castelo? – perguntou Alex.


- Porque ninguém gosta de vim aqui... Então eu pensei que com você seria a mesma coisa.


- Mas eu adoro música!


Mikaella sorriu e se sentou num banquinho ao lado dele. Ele estava sentado perto do piano.


- Sabe tocar Beaultiful Nightmare de Elber Luccioli? – perguntou Alex num tom desafio.


Mikaella sorriu e pôs suas mãozinhas no piano. Elber Luccioli, o melhor pianista do século do mundo bruxo. Ele realmente fazia magia no piano – falando metaforicamente, é claro. Os dedos de Mikaella se moviam com facilidade e leveza sob o piano. Alex se virou no banco e ficou de frente ao piano junto a Mikaella, ela tirou a mão direita do piano e ele continuou tocando por ela – pra ela –, os dois tocando juntos numa sintonia perfeita.


E a música se tornava entorpecente e envolvente, se tornando uma linha, uma conexão entre eles dois... Ali foi a primeira vez em que seus olhos se encontraram tão de perto, o azul cristal de Mikaella e o verde carvalho do Alex. A música foi parando aos poucos, com notas distintas, eles não pareciam perceber o quanto seus lábios estavam perto. Os efeitos entorpecentes da boa música.


Até que o efeito foi cortado com uma badalada do sino. Já era sete e meia da noite. Ual! Como o tempo passa rápido.


Mikaella suspirou e foi a primeira levantar. Alex parecia meio constrangido, ainda sentado no banco do piano com uma mão em cima do teclado, parado e pensando porque ele ia fazer aquilo.


- É melhor a gente ir jantar... – disse Mikaella.


- É – concordou ele – É melhor sim.


Mikaella virou as costas e saiu, Alex saiu logo em seguida. Que momento frustrante! E faltava tão pouco para enfeitar as cabecinhas de Michelly e Thomas com chifres. Com diz o velho ditado trouxa: salvos pelo gongo! – literalmente, diga-se de passagem.


No jantar Alex e Mikaella proporcionaram breves intervalos para se encararem, mas sem alguma expressão que acusasse raiva, emoção, felicidade, tristeza, ou prazer... talvez o simples afetos entre cunhados, apenas mais do que o previsto. Uma hora ou outra ela percebia o olhar de Thomas pesando sobre ela, e ela era obrigada a olhar e trocar sorrisinhos. Patético!


21h30min, hora de todos irem para suas salas comunais se passasse das 22h00min e ainda tivesse alguém pelos corredores perambulando sofreria detenção, que nem o pobre do Tommy que - literalmente – pôs as mãos no fogo por Mikaella. Um ato heróico, então porque ele tem medo de um beijo? Vai saber...


 


Mikaella ainda estava sentada no sofá da sala comunal quando todos já haviam ido dormir. Os mesmo sintomas da última vez: cansada, mas olhos não pregavam de jeito nenhum porque ela ainda se sentia incomodada com alguma coisa.


Alguém pigarreou atrás dela. Mas ela não se preocupou em olhar, só podia ser uma pessoa.


- Mikaella, eu... – dizia Alex meio sem jeito tentando achar as palavras certas – Queria lhe pedir desculpas sobre hoje mais cedo... – murmurou ele de cabeça baixa.


Mikaella o olhou por cima do encosto do sofá e sorriu.


- Tudo bem. Aliás, nós estávamos sob o efeito da música – disse ela.


- É – concordou retribuindo o sorriso – Espero que sim – ele sussurrou para si mesmo.


- Bom, eu já vou pra cama – disse ela se levantando do sofá – Boa noite, Alex.


- Boa noite, Mika.


E ela foi para o dormitório feminino.


 


6 de setembro, 23h30min.


Querido diário,


Acho que estou apaixonada.


 


Mikaella pôs o diário debaixo do travesseiro mesmo e dormiu. Estava muito cansada para ter que levantar o colchão.

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