Beijos a parte
“O beijo é a parte mais importante da relação física entre duas pessoas, e se ele não funcionar, pode desistir do resto.”
- Martha Medeiros -
Onde será que estava o Nicholas? Ele e o Nate costumavam sempre andar juntos. Bom, o Nick é do terceiro ano, mais novo. E quem queria falar com a Michelly para ela sai correndo daquele jeito? Se não foi o Mackenzie então...
Mikaella estava andando vagarosamente em alguns dos corredores do castelo, ela voltava para sua sala comunal. Será que Celine recebeu o presentinho? E por falar nisso, o dragãzinho havia sumido. Mikaella só se deu conta quando não sentiu mais as faíscas de fogo no seu pescoço, não chegava a queimar, mas era quente.
- Mikaella! – gritou Michelly.
Mikaella se virou lentamente para a direção da voz. Via a irmã correndo em sua direção com um sorriso radiante.
- Esse sorriso todo num é pra mim – comentou Mikaella irônica – Quem é?
- Alex – disse Michelly ofegante, cansada por ter corrido – Ele me pediu em namoro!
Os olhos de Michelly lampejaram.
A expressão de Mikaella não era de muito interesse. Ela deu de ombros.
- Eu conheço? – perguntou Mikaella.
Michelly parou para encarar a irmã com o cenho franzido. Ela só podia estar brincando. Quem não conhece Alex Lavousie Gallabriel?
Michelly suspirou e as duas continuaram andando em caminho a sala comunal.
- Ele é tão lindo de perto! Não tinha notado o quão verde era seus olhos.
- Oh! – falou Mikaella sarcástica.
- Boba! – exclamou Michelly rindo da expressão da irmã – Quando você se apaixonar também vai ser assim. Se bem que... E o Tom?
Mikaella bufou.
- Eu não sei. Acho que to meio que fugindo dele.
- Por quê?
Mikaella encarou Michelly com o cenho franzido e depois suspirou.
- Eu vou encontrar ele hoje! – disse Mikaella decidida – Não importa onde e não importa como.
- Há essa hora ele deve estar no salão principal jantando – sugestionou Michelly.
- Então te vejo mais tarde. Tchau!
Mikaella saiu correndo e sumiu na esquina do corredor.
O salão principal estava cheio de gente, seu coração começou a martelar e seus olhos estavam na mesa da Valen procurando pelo Thomas Guthrie. Quando seus olhinhos finalmente o encontraram viu que ele estava olhando para ela e sorrindo. Ela acenou.
Tom se levantou da mesa dando a ultima mordida na tortinha de abacaxi e foi até Mikaella que não saiu do lugar.
- Oi – disse ele caloroso e ainda sorria.
- Oi – Mikaella forçou um sorriso.
- A Belle falou com você, num falou?
- Falou.
- Quer sair daqui? Ta muito barulho.
- Quero.
Thomas era um pouco mais alto que Mikaella, magro, moreno e seus olhos eram castanhos suaves. Eles foram para biblioteca. Sem motivo algum. Mikaella era uma estrategista, ela escolheu ir para a biblioteca, pegar qualquer livro e na falta de assunto – o que era previsível – era só virara a cara pro livro. Daí ela não se sentiria tão constrangida se houvesse silêncio.
- Você sabe algum livro sobre criaturas mágicas? – perguntou Mikaella fingindo interesse enquanto procurava em qualquer estante.
- Essa estante aí é sobre história da magia – alertou o garoto – Se procurara na estante certa talvez você ache.
Mikaella sorriu sem graça.
- Claro! É porque às vezes eles arrumam na prateleira errada. Já achei o livro Quadribol Century na estante de Poções – inventou ela.
Ele riu.
- Eu já li Criaturas Romenas. É bem interessante.
Mikaella foi para estante certa e achou o livro que o Tom havia citado. Ela voltou à mesa e se sentou ao seu lado. O silêncio pairando entre os dois. Será que o menino antipopular da Valen seria ousado o suficiente para tascar um beijo em Mikaella? Ou será que ele é tímido demais para isso? Qual é. Já está na hora desses meninos amadurecerem e mostrar que a Valen não é para idiotas.
-Er... Mika – começou Tom hesitante.
Mikaella levantou os olhos do livro para olhar para Thomas. Estranho que ela tenha realmente se interessado pelo livro.
- Sim?
- Você vai ao baile de primavera?
- Pretendo... Mas ninguém falou nada ainda.
- Eu sei – disse ele sem graça – É que eles sempre fazem no dia doze. Daí eu queria saber se...
- Eu quero ir com você? – completou Mikaella sorrindo – Claro.
O coitado sorriu aliviado.
- Quer me convidar também para o baile de máscaras, de verão, inverno e o do fim de ano? – perguntou Mikaella e o Tommy quase acreditou quando percebeu a ironia em sua voz.
Ele apenas riu. Fala sério! Ele não esta com essa bola toda, então é melhor ele ir devagar e tomar cuidado com os obstáculos – meninos. Porque Mikaella é linda, inteligente, divertida, dinâmica, criativa, um doce de pessoa... entre outras coisas, isto é, qualquer garoto daria tudo por ela, Mikaella. Já o Thomas. Ele é fofinho...
- É melhor a gente voltar para a sala comunal, já vai dar dez horas – disse Mikaella.
- A claro, eu te levo...
- Ah, não! – Mikaela se sobressaltou de repente, não gostava de ser cercada. Respirou fundo e acalmou a voz – Quer dizer... Melhor não. Não quero que você arranje problema por causa de mim, e, realmente, já ta tarde.
- Eu não vou deixar você perambular por esses corredores sozinha – insistiu o garoto – Prometo que não vou deixar ninguém me ver.
Mikaella suspirou e sorriu. “Faz de conta que é gentileza dele, ele não quer te cercar”, pensou Mikaella para si mesma.
- Tudo bem...
Os dois foram a caminho da sala comunal da Bolts. Um andando do lado do outro e o Tommy não teve coragem de segurar a mão de Mikaella. Alguém teria de dar a iniciativa, num é? Mikaella segurou a mão dele e afagou com a outra mão. À caminho a sala comunal ela sentia a mão do garoto suar frio constantemente.
- Obrigada – sussurrou Mikaella quando já estava em frente a porta da Bolts.
Tom sorriu.
- De nada e até amanhã – disse ele e depois saiu.
- Eu não acredito que ele fez isso – murmurou Mikaella bem baixinho.
Ela riu sem acreditar e depois entrou na sala.
- Pelo jeito foi bom – comentou Michelly que estava sentada no sofá enrolada em uma manta azul.
- O quê?
- Com o Tommy! Você ta até rindo.
- Ah,claro! – Mikaella tentou ser espontânea – Foi legal.
Mikaella subiu direto para o dormitório feminino e Michelly subiu logo em seguida. Todas já estavam em suas camas.
- Ficou acordada até agora me esperando? – sussurrou Mikaella para não acordar ninguém.
- Claro! Porque eu preciso saber de tudo primeiro que todas – disse Michelly sorrindo, animada, sentando-se na beirada da cama de Mikaella – Agora me conta.
- Nhá, eu já disse. Foi legal.
Michelly ficou com uma expressão séria e desconfiada.
Mikaella bufou ao perceber a expressão da irmã, ela era difícil de se convencer.
- Ele não me beijou se isso que você quer saber! – murmurou Mikaella entre os dentes.
- Não o quê? – falou Michelly perplexa.
- Ele não me beijou.
- Ele não te beijou?
- Não, Michelly! Nossos lábios nem se quer se tocaram tampouco se aproximaram.
- Ele é tímido. Tenha piedade, ele nunca beijou...
Mikaella se jogou na cama ao lado de sua irmã e pensou sobre o assunto. O garoto solitário e que não sabe beijar de repente ta saindo com Mikaella Fox Devonne! É um choque até para a sociedade. E há o contraste de popularidade também entre os dois. Comparando metaforicamente com a lua: Mikaella é a lua – reluzente, vistosa e linda – e todas as estrelas em sua volta são os alunos de Wiztron, o Thomas é apenas mais uma estrela e há uma grande diferença entre uma estrelinha e a lua.
- Talvez ele seja “beijofobrico” – disse Mikaella por fim.
Michelly riu baixinho.
- Boa noite – disse ela se levantando da cama e indo para a sua.
- Boa noite...
As palavras pairaram no ar quando Mikaella se lembrou.
- E o baile de primavera? Já começaram a arrumar?
Michelly deu de ombros como quem não soubesse de nada.
- Você é monitora e não sabe?
Michelly franziu o cenho.
- E por que ta tão preocupada com o baile?
Mikaella bufou.
- Só curiosidade.
Michelly se virou para o outro lado e dormiu. Mikaella não, ela ficou sentada na cama inquieta, com as pernas esticadas, balançando os pés e dentro de alguns intervalos estalava os dedos. Sem sono nenhum.
Um banho! Talvez fosse isso, ela precisava de um banho. Ela ficou meia hora debaixo do chuveiro do banheiro feminino de olhos fechados. Era uma terapia e tanto. Ela se enxugou e vestiu seu conjunto de moletom preferido lilás. Mas em vez de ir para a cama ela desceu para a sala e ficou ali sentada no sofá fitando o fogo azul na lareira, o fogo que nunca se apagava.
Alguém pigarreou atrás dela.
O garoto estava debruçado nas costas do sofá. Mikaella estava tão distraída que não percebeu ele chegar.
- Você é a menina das estrelas? – perguntou o garoto quase como uma afirmação. Aqueles olhos ele não encontraria e mais nenhum lugar.
Mikaella soltou um riso suave.
- É, acho que sim.
- Você também ta sem sono? – perguntou o garoto dando a volta para se sentar no sofá ao lado de Mikaella.
- Pior que não, eu to cansada, mas meus olhos não pregam de jeito nenhum.
- Sei, sei, eu também to assim... Deve ser ansiedade.
- Ansiedade de quê? – indagou Mikaella.
Ele soltou uma risada baixa.
- Adoraria saber.
Mikaella sorriu,encostou a cabeça no sofá e olhou para o teto.
- Eu também – E suspirou.
Pela primeira vez Mikaella não se sentiu constrangida com o silêncio, não precisava ir correndo atrás de um livro. Sei lá, simplesmente não sentia nenhum desagrado em não falar e sim sentir a presença dele ali como se ela precisasse disso.
Mikaella ergueu a cabeça e olhou para o menino que também estava distraído olhando para a lareira. Os olhos verdes vagos, enigmáticos.
- Er... – O menino olhou para Mikaella e esperou ela falar. As palavras quase não saíram de sua boca – Eu acho que vou pra cama agora – disse ela por fim.
- Eu também – murmurou o garoto.
Os dois subiram as escadas, mas antes de Mikaella abrir a porta do dormitório feminino o menino perguntou:
- Qual o seu nome mesmo?
Mikaella se virou sorrindo.
- Mikaella. E o seu?
- Alex.
- Boa noite, Alex – disse Mikaella com um sorriso doce.
- Boa noite, Mikaella – disse Alex com um sorriso encantador.
E cada um foi para o seu lado.
Mikaella foi direto para cama, mas não foi para dormir. Ela pegou seu diário de baixo da cama.
5 de setembro, 00h37min.
Querido diário,
Estou sem sono nenhum...
Hoje eu falei com o Tommy e tive de ler Criaturas Romenas. Já da pra ver que a coisa não foi boa. Ele me trouxe até a porta da sala comunal e nem me beijou, nem beijinho no rosto, nem na mão e nem nada. Minha irmã me convenceu de que ele é tímido, mas acabei de mudar de idéia. Porque eu tenho um manual sobre garotos grudado no lado direito do meu cérebro e se ele fosse ao menos tímido me daria um beijo na mão. O segundo passo seria um beijo no rosto até que finalmente... O BEIJO! Mas agora se ele não me deu nenhum beijo o que vai ser amanhã? Meu Deus! Que traumático.
E pela primeira vez eu não fui o exemplo da turma na aula de transfiguração. Desta vez foi o Nate. Ah, e eu conheci dois garotos num jogo de pedras cuspideiras: Lucas Remburg e Matthew Dashwood – campeão da Astren e eu consegui vencê-lo, pelo menos fui o exemplo em pedras cuspideiras. O Lucas até me chamou de heroína.
Mas há uma coisa que me assusta
Argh! Porque sempre escrevo besteira?
Tudo bem, isso não me assusta, mas é estranho. Acabei de ver o garoto que conheci na sacada do navio e o nome dele é Alex. Você é meu diário e sabe melhor do que ninguém que eu adoro falar, mas com esse garoto é diferente. Talvez seja porque está de noite e eu estava cansada, mas sentir a presença dele ali... Era como se eu não precisasse mais de nada. Nada além dele, o Alex.
É melhor eu dormir, não to mais escrevendo coisa por coisa.
xo xo, Mika.
Mikaella colocou o diário de volta de baixo da cama e se deitou, tentando esvaziar sua mente – porque essa era a razão de ela ter um diário, o que não cabia mais em sua mente ela despachava para ele. Mikaella foi sendo seduzida pelo sono e dormiu... Finalmente!
Ela queria acreditar que era apenas um sonho, Mikaella tinha quase certeza de que era um sonho. Ela estava numa floresta parecida com aquela; a floresta onde os carvalhos assobiavam sua quase-morte quando pequena. Ela estava assustada, mas não sentia medo. Ela corria, mas não sabia do que – ou quem –, e era um daqueles sonhos que você tem que correr e correr até os pulmões explodirem. Mas houve uma hora que Mikaella desistiu, ela respirava com difcultade porque seus pulmões doíam e cada ofegar era uma contração insuportavelmente dolorosa. Ela recostou-se em uma árvore e viu seu assassino se aproximar.
- Sinceramente – falou o assassino –, eu ainda acho que isso não vale à pena. – Ele se aproximou de Mikaella, sua mão gélida tocou o rosto dela e depois deslizou para sua nuca. Mikaella sentiu um breve arrepio. – Você é tão linda – sussurrou o assassino – Que desperdício. – Depois ele sorriu com uma expressão irônica – Gosta de brincar?
Mikaella virou o rosto com repugnância arrancando as mãos dele de seu cabelo.
Ele se afastou e sorriu.
- Acho que isso é um sim.
Os ouvidos de Mikaella receberam cargas elétricas e um chiado perturbador. Pareciam finíssimas agulhas penetrando em seus tímpanos.
Por instinto ela tapou os ouvidos, parecia que o chiado era só em sua cabeça. Ela estava com a boca ligeiramente aberta, mas não enunciava nenhum som. Ela sentiu sua pernas flácidas e caiu no chão.
Sentiu a pressão de toneladas em sua perna esquerda e um estalo. O grito desesperado de dor arranhou sua garganta e saiu de sua boca, foi mais alto e mais agudo que o chiado perturbador. A silhueta de seu assassino se aproximou mais, bem mais perto, tão perto que poderia beijá-la. Os lábios gélidos do assassino acariciavam seu rosto, descia em seu queixo até o seu pescoço. Sim, parecia mais uma carícia, mas Mikaella estava apavorada.
A silhueta do assassino evaporou junto com um rosnado...
- Aaaaaaaah! – gritou Mikaella se levantando imediatamente da cama. Ofegante e apavorada.
- Mikaella – falou sua irmã, ela já estava vestida com o uniforme – Pensei que não fosse mais acordar.
Mikaella ainda estava meio desorientada. Que horas ela foi dormir mesmo?
- Que horas são? – gemeu ela levantando-se da cama.
- Sete e meia – respondeu Michelly.
Mikaella arregalou os olhos e foi direto para o banheiro. Foi uma noite fria, mas ela estava suada, com certeza pela tensão do pesadelo.
Ela vestiu o uniforme e saiu do dormitório feminino. Descendo as escadas lentamente Mikaella via sua irmã conversando com alguém e pelo brilho dos seus olhos devia ser seu namorado.
Quando Mikaella viu quem era...
- Ah, Milk! – exclamou Michelly vendo a irmã parada no meio da escada – Esse é o meu namorado – Michelly foi o lado do garoto e afagou seu braço, o garoto sorriu para Mikaella. – O Alex – ela pronunciou o nome “Alex” com ênfase entre seu sorriso – E Alex, essa é a minha irmã caçula, Mikaella.
O garoto sorriu casualmente e cumprimentou Mikaella.
- Satisfação em conhecê-la – disse ele.
- Igualmente – disse Mikaella com tom de ironia.
- Eu vou levar o Alex até a torre de astronomia. Sabe, ele é novo e ainda está meio perdidinho – disse Michelly soltando uma leve risada – Vamos amor?
- Vamos – respondeu Alex demorando os olhos em Mikaella.
E os pombinhos saíram da sala comunal de mãos dadas.
Só agora a fofa da Mika percebeu que o Alex era o garoto de Dumstrang. Ele é calouro, é lindo e Mikaella nunca esbarrou com ele antes. Então só podia ser, num é?
Finalmente! Mikaella sabe
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