Oculto



Pensei que fosse mais agonizante, sabe? A Morte... Mas o que é isso? Eu vejo algo... Não uma luz, isso seria clichê demais. Algo diferente... Acho que lembranças, mas eu nunca as vi antes... Bem estranho...


 


Eu devia ter uns quatorze anos quando aquelas lembranças ocorreram. No instante em que eu vi, tive uma certeza: nunca fiquei em coma. Nas minhas três semanas apagadas, isso que eu veria agora era o que ocorreu. Eu estava na frente de uma casa... Uma mansão, na verdade, que era bem antiga e sinistra. Escutei uma única nota.


“Um violino...” pensei. O som vinha do terceiro andar, canto direito. Resolvi tentar usar minha telepatia para levitar até lá... Depois de um pouco de esforço, consegui levitar até a janela e vi um garoto tentando tocar violino, triste. Eu bati na janela.


??????: Ei, o que você está fazendo aí, flutuando no meio do ar?


Erriol: Eu? Ora, estou vendo o que está fazendo!


??????: Entre logo! Se virem você do lado de fora da janela, vão me deixar de castigo por várias semanas!


Ele abriu a janela e eu entrei. Sorri e me apresentei para ele:


Erriol: Sou Erriol! Quem é você?


Nergal: Meu nome é Nergal, mas... isso não deve ser importante... Alguém fascinante como você, vindo falar comigo...


Erriol: Não, não, você estava tocando violino. Acho isso muito legal!


Nergal: Ah, bem... Eu estava tentando criar uma música, mas... não estou tendo muito sucesso...


Erriol: É claro que não! Precisamos de um dueto!


Eu disse e fui para o piano no quarto dele. Era um quarto legal, com uma beliche, uma estante cheia de livros, um piano, vários quadros, uma escrivaninha cheia de folhas e com um livro antigo, um banheiro bem limpo e também uma porta trancada.


Erriol: Você vive enclausurado aqui dentro?


Nergal: Bem... é, minha família tem vergonha de mim... É uma longa história...


Erriol: Ora, me conte então!


Nergal: Sou de uma família de bruxos das trevas, Erriol. Mas nasci sem o dom da família. Por isso, Ogden, o patriarca e meu pai decidiu que deveriam me trancar nesse quarto até que eu me tornasse um maior de idade. Depois disso, irão mudar meu sobrenome e me jogar para fora daqui. Pessoalmente, estou ansioso para que isso aconteça...


Erriol: Você tem uma família... mas é uma família doente... Eu não o invejo...


Nergal: E você... o que faz aqui?


Erriol: Bem, eu vinha aqui com meu responsável, Alberto, mas um erro nos aviões me fez parar aqui ao invés do meu destino real. Aí eu saí andando até achar essa casa e ouvir seu violino.


Nergal: Então, quer começar o nosso dueto?


Erriol: Claro, por que não?


Ah, foram tempos divertidos! Juntos, criamos a música que eu toquei com Nergal várias vezes depois. Descobrimos a linguagem oculta da livro antigo de Nergal e o deciframos, ensinamos um ao outro feitiços, encantamentos e até mesmo compartilhamos de nossos poderes especiais!


Nergal: ...um livro de magia arcana e divina... bem aqui. Oh, é o completo oposto do Livro de Ereshkigal, tenho de dizer!


Erriol: Nergal, o que é exatamente o Livro de Ereshkigal?


Nergal: A herança da nossa família. É um Livro que passa pelas mãos de todo patriarca e grava sua história e seu conhecimento em Artes das Trevas. Talvez seja uma leitura interessante, mas eu nunca o terei...


Erriol: Ora, se achar necessário, podemos tomá-lo. Por uma noite. Nunca vão descobrir.


Nergal: Amanhã. Depois do duelo de bengalas.


Erriol: Já estou começando a planejar.


Tudo dava tão certo e sentia que nós poderíamos continuar vivendo daquela forma por muito tempo! Mas, é claro, me enganara. Como um bolo, um simples fator externo fez a massa desandar. Foi no dia em que Odgen nos pegou dentro do quarto de Nergal. Estávamos no meio de um duelo de bengalas quando a porta que sempre ficou trancada foi escancarada:


Odgen: NERGAL! O QUE SIGNIFICA ISSO?


Nergal: Meu pai.


Ele se ajoelhou. Naquele momento, eu percebi que apesar de todo o tratamento desagradável e o isolamento de Nergal, ele era grato. Pior, ele se sentia como se devesse algo para sua família podre de feiticeiros das trevas.


Odgen: Você não tem jeito mesmo, não é?


Nergal: O que fará, Sr. Ereshkigal? Cruciatus de novo?


Odgen: Como se isso bastasse para um jovem imbecil como você! Não, vou pegar o seu “amiguinho” e mostrar o que acontece quando maçãs podres caem no meu jardim!


Ia dizer “Combinam com a paisagem.”. Mas aquele homem era patriarca de uma família de bruxos das trevas, então eu não deveria discutir com ele. Sua mão tentou me agarrar pela minha camiseta, mas eu a ataquei com a bengala e ela recuou. Ele pegou a varinha e a apontou para mim, mas antes que pudesse dizer um feitiço, todo um plano surgiu na minha mente. Com um golpe rápido e preciso da minha “parceira de dança”, eu o atingi na barriga, o que o distraiu por um instante. No instante seguinte, eu segurava a mão de Nergal enquanto pulava pela janela, seguido por Odgen. Caímos encima de um arbusto e mal tivemos tempo de sair dele antes que Odgen aterrissasse no mesmo local. Não resisti e disse:


Erriol: Devia olhar para seu “jardim” antes de falar de maçãs!


Por que eu fui dizer isso? Mal tive tempo de me esquivar de um feitiço estuporante dele. O pior é que eu ainda era de menor, então não podia atacar de volta! Usei meus dons de telepatia para mover uma pedra em sua direção. Apesar de ser levemente gordo e parecer lento, Odgen se desviou sem nenhum arranhão. Ele riu:


Odgen: O que foi, garotinho? Não consegue usar magia, é? Além de tudo, ainda por cima é um trouxa maltrapilho?


Concentrei todo o sarcasmo dentro de mim e disse, com um falsa voz manhosa:


Erriol: Oh, não! O senhor patriarca vai me atacar com seus comentários imbecis! O que um pobre e indefeso garoto como eu fará agora?


Ele não ria mais. Com uma cara nervosa, apontou com a varinha para os arbustos ao meu lado e bradou:


Odgen: Avada Kedavra!


Pensei por um segundo que ele tinha errado a mira, mas percebi que não era eu quem ele queria acertar. Quase não consegui, mas coloquei uma pedra entre Nergal e o feitiço mortal. Há uma coisa interessante que eu descobri sobre o Avada Kedavra naquele instante. Ele não atravessa coisas. Se algo sem vida é colocado em seu caminho, ele tem de destruir a coisa para passar e acertar seu alvo.


Nergal: Tentando se livrar de mim, “pai”? Acho que não!


Ele usou os ventos para fazer a pedra avançar e chegar mais perto de Odgen. Mas a pedra estava se quebrando com uma velocidade alarmante! Era rápido demais para só colocar outra pedra no caminho.


Odgen: É o fim de Nergal, a desgraça dos-


Ouvimos vários golpes de uma adaga. A frase de Odgen ficou inacabada. Ele tombou pesadamente no chão. Não sabíamos quem era o vulto encapuzado que tinha terminado o serviço e nos salvado. Ainda nos escondíamos, mas estávamos perto o suficiente para escutar o que ele disse ao fechar os olhos do cadáver:


????: A punição para traição é a morte. Pensei que soubesse disso.


Ele então sumiu.


Nergal: Ele deve ter aparatado...


Erriol: Volte para seu quarto, Nergal. Antes que alguém venha. Nos vemos amanhã, na esquina logo ali!


Nergal: Tá. Mas eu preciso...-


Não discuti mais; me esforcei e fiz com que Nergal levitasse para dentro de seu quarto, entrando pela janela. Eu olhei para o cadáver e percebi que no meio do sangue na grama perto do corpo, tinha uma carta. Eu a li, mas só o que estava escrito era:


Organização XXI.


Coloquei-a rapidamente dentro da minha bota, porque sabia que alguém estava perto. Instantes depois, senti uma pancada na cabeça e desmaiei, fraco. Depois daquele instante, eu sabia que as três semanas tinham acabado. A escuridão me envolveu de novo...

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