Cap. II
Capítulo Dois,
ou O Cubo Mágico.
Coisas Que Ninguém Percebeu, Primeira Parte.
Da quarta ou quinta vez que o barman foi ao banheiro, um pouco depois das dez horas, ninguém ainda tinha percebido que
a) o nome dele era Steve; e
b) ele estava acompanhado. Enquanto James esmurrava loucamente a porta clamando por mais margaritas, Petunia parou de chupar a cara do Steve pela primeira vez em uns 20 minutos, e disse alguma coisa sobre continuarem depois e sobre balcões serem excitantes. O Steve concordou, e é por isso que entre 23h40min e 00h15min ninguém na festa inteira conseguiu beber nada que não fosse direto da garrafa, o que explica todos os problemas pra fazer os limões passarem pelo gargalo e os conseqüentes acidentes envolvendo facas.
Quando Petunia saiu do banheiro antes disso, ela percebeu que seu amável vizinho era o doido desesperado por margaritas. Olhinhos brilhando. O coitado do Steve teria ficado na seca (ou não) se ela não tivesse presenciado (não por coincidência) a seguinte cena entre James Potter e a desconhecida que a chamara de 'Vizinha do Açúcar', no balcão de bebidas (quando ainda havia copos sendo distribuídos). Não ouviu tudo o que disseram, mas se tivesse ouvido, teria ouvido isso:
- Estúpido. Estúpido! - risada bêbada, voz alta.
- Vou chegar lá, vou sim, na primeira oportunidade de nadar o Atlântico eu vou. É o Atlântico mesmo? Ah fodas, vou nele também, vou no mundo todo, você vai ver.
- Tá certo então, Sr. Forest Gump - ela gesticulava - Esse é o seu plano então? Sair dessa vida?
- É - ele respondeu com simplicidade, em voz mais baixa - e um dia voltar. Mas se você fosse -
- Se eu fosse onde? - ela interrompeu e começou a rir sem motivo nenhum.
- Se você fosse também, eu não ia precisar voltar. - HHHM. - Quer vir?
- O que? - perguntou séria.
- Ah, ããh. Esquece.
Ela balançou a cabeça.
- Me pergunta outra vez.
Daí alguém chegou e perguntou alguma coisa a ela, e a conversa ficou por isso mesmo, e foi quando um James superirritado foi pra laje pensar na vida. Então Petunia resolveu que o Steve se daria bem aquela noite, porque insistir no James era inútil; ela precisava de informações. Aquele volúvel, argh. Ela exigia saber de onde tinha surgido a) aquela morena detestável de peitos brilhantes e b) a obsessão dela com açúcar. Avaliou-a quando teve chance. Ééé, concorrência pesada. Conseguiu informação suficiente, depois foi "Oi, Steve", [CENSURADO], "tchau, Steve", e ela achou mais prudente ir embora.
É como ela tinha ouvido uma vez, se você ama alguém, você o deixa livre. Se voltar pra você, é porque é seu. Se não voltar, bom, é aí que você começa a perseguir, sob critérios morais variáveis.
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- Eu sei – ela suspirou.
- Você sabe?! – ele a encarou, atônito, e ela apenas balançou a cabeça afirmativamente – Como você sabe?
- Eu vi.
- Você viu?! – sua voz e expressão passavam uma clara mensagem de “DROGA, FODI TUDO”.
- Aliás, você me deixou pra fazer isso, sabe.
Ok, era o fim. James era tão estúpido, tão estúpido. Pelo menos ele se achava o ser mais estúpido da terra nesse exato momento.
- Me perdoa, Marlene – ele disse abaixando a cabeça.
Não que fosse chorar ou qualquer coisa parecida, era apenas o jeito dele de mostrar à Marlene que estava realmente arrependido. Ela meio que associava estar arrependido a bichisses.
- Mas não vai acontecer de novo, vai? – ela perguntou tentando anima-lo.
Foi quando James teve uma crise de tosse. Era só coincidência, galera.
- Nunca – ele olhou pra ela, procurando ver qualquer piedade naqueles olhos grandes que ele tanto amava.
E então ela sorriu. O que não só fez o coração de James desacelerar, como todo o medo ir embora. Ele estava prestes a sorrir de volta, quando algo quente em sua boca o impediu de fazer qualquer coisa, até mesmo respirar, por uma fração de segundos.
E ali estava Marlene, e ali estava ele, e ali estava acontecendo o que ele quis que acontecesse por tanto tempo.
Mas calma, é sempre bom deixar as pessoas atualizadas. Acho que narrei as coisas um pouco fora do lugar, porque essa não é a primeira boca que beija a boca de James Potter hoje.
– x –
- Oi James – a ruiva chegou super alegre e deu um beijo estalado com cheiro de maçã verde na boca do menino – Já pediu alguma coisa? Eu quero um suco de maçã – ela sorriu.
- Ahm... Lily? – ele perguntou, tentando entender o que tinha acabado de acontecer.
Alguma coisa devo estar deixando escapar, pensou. E claro que estava, dã.
- Eu – ela riu – Que cara é essa, James?
- O que você...? – tão difícil por as palavras em ordem, meu Deus.
- Calma – ruivas são espertas, mas eu diria que Lily é dentre elas, a mais esperta – Você não se lembra de nada, né? – e aquilo não foi sarcasmo.
- Não... Eu acho – ele deu um sorriso torto, esperando que ela lhe contasse tudo que tinha acontecido que ele não conseguia se lembrar.
/Flashback/
- James – Marlene falava em meio aos risos – Para de tirar foto de mim, eu tô uma porcaria!
Ele também ria. Não que algo que eles estivessem falando fosse minimamente engraçado, é só que pra eles, naquele momento, até o mundo girar era bem engraçado.
- Você nunca tá uma porcaria, Lene – ele pseudo-tropeçou, super não-de-propósito, e acabou caindo em cima da amiga – Você é a mulher mais linda do mundo.
Ou talvez a morena mais linda do mundo. Ah, isso com certeza ela era.
E nesse instante de silêncio, quando eles nem eram mais capazes de rir ou de fazer qualquer coisa a não ser manter os olhos fixos uns nos do outro, eles sentiram. Nada de amor ou qualquer baboseira de contos de fadas, mas sentiram o desespero e a necessidade. Não desespero e necessidade por mulher/homem/afins, e sim de ficarem juntos. De finalmente ficarem juntos.
Mas o que eu mais gosto no destino são as ruivas bêbadas que ele faz aparecer, descalças, nesse exato momento.
- Lily? – ele se virou automaticamente pra ruiva. Por quê? Inexplicável. Ele não tinha consciência de nada naquele momento, mas se tivesse ele se perguntaria isso. Perguntaria, porque ele sempre foi apaixonado por Marlene, mas no momento em que pôde finalmente estar com ela, ele, por algum motivo desconhecido, foi atrás da ruiva bêbada descalça que o destino fez aparecer naquele exato momento, e deixou o aparente amor da sua vida pra pegar não só a ruiva desconhecida, como a suposta namorada do seu melhor amigo.
Vê? Os humanos são tão imprevisíveis. Oh céus.
/Flashback/
- Então a gente se pegou... Sabia que eu não me lembrava de alguma coisa importante! – exclamou.
- Não só nos pegamos, meu amor – ela disse já bem próxima dele, de forma que ele conseguisse sentir ainda mais o cheiro de maçã verde – Como vamos continuar com a brincadeira periodicamente.
Legal. James agora tinha um problema e, só pra variar, era uma mulher.
– x –
Agora que as coisas estão mais claras, sinto que sou capaz de contar a vocês o que aconteceu em seguida.
James e Marlene, sorridentes como nunca, foram de mãos dadas e em meio a beijinhos e brincadeiras retardadas, até o apartamento de James, que ficava perto da sorveteria que ela tinha insistido pra James ir pra que eles pudessem se ver.
A situação toda era tão feliz e épica (pra ambos) que teve direito até a um James girando uma Marlene e a beijando em seguida, bem na porta do prédio. Cena que foi vista por alguém que vocês bem conhecem e que sabem que o Steve mais metade da população masculina de Londres (ou um pouco menos, nem tanta moral assim) conhece muito bem também.
- Tão felizes... Argh - a loira fez uma expressão de nojo.
Oi Petúnia. Acho que seu amor não vai voltar tão cedo pra você, não é? Agora que ele tem a mulher que sempre quis e ainda de brinde a namorada perfeita do melhor amigo, não me parece que ele precisa realmente de açúcar emprestado.
Claro que ninguém faz alguma idéia sobre a parte da namorada do melhor amigo, mas só por ele ter a mulher que sempre quis concluí-se que ele não precisa mais do açúcar da Petúnia, certo? Não... Nem a Petúnia é tão iludida assim.
E isso tudo só pode significar uma coisa: é hora. Hora de começar a perseguir, sob critérios morais variáveis.
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Coisas Que Ninguém Percebeu, Parte Dois.
Se os biólogos resolvessem dissecar pessoas, pregá-las num pedaço de cartolina com alfinetes coloridos e catalogar as diferentes espécies, um dos tipos que eles iriam catalogar seria o das Pessoas Que Sabem Guardar Segredo, o que é uma subespécie totalmente subestimada da raça humana hoje em dia. A Capitu sabia guardar um segredo, sei lá, a União Soviética sabia guardar um segredo, o Clark Kent sabia guardar um segredo. Não se faz mais guardadores de segredo como antigamente. Agora, dentre todas as espécies e subespécies, se quisessem catalogar uma que incluísse as Pessoas Que Querem Guardar Um Segredo (Mesmo Passando Por Um Intenso Conflito Moral Envolvendo Melhores Amigos) E Que Não Sabem Que O Segredo Não É Bem Um Segredo Porque O Cara Que Supostamente Não Devia Saber Do Segredo Já Sabe, o único espetado na cartolina seria James Potter. Tcs tcs, Clark Kent ia chorar de decepção se visse isso, e implorar pra voltar pra Kripton.
Ok, eu não fui muito clara, fui? Digamos assim: James Potter estava em seu quarto, olhando pro teto com uma bolinha de tênis nas mãos e deitado na cama depois de almoçar o yakisoba que estivera apodrecendo na geladeira. Nesse meio tempo ouvira o metrô passar umas três vezes, e jogara a bolinha pro alto umas três mil. Sabia que estava atrasado, que tinha jurado entregar as fotos na redação do jornal depois da aula e que o editor-chefe ia comer o cu dele se não fosse, mas não conseguia se levantar. Ele era seu melhor amigo. O cachorro era seu melhor amigo. Mas ele nem se lembrava! Era inocente. Totalmente inocente. Pelo que sabia a ruiva podia até estar mentindo. Ah, não podia, Marlene confirmara. Aah, a Marlene... VIU, não era o seu amor por Marlene uma prova de sua inocência? É claro que era. Ele não precisava saber. Ignorou a culpa que queimava como uma gastrite mal curada, e foi lavar os pratos.
Enquanto isso, Sirius Black ligava alegremente seu playstation enquanto esperava que Lily chegasse, e enquanto jogava e esperava, voltou à festa e àquela cena inacreditável. Sorriu um sorriso safado enquanto lembrava.
Quando James perguntou "por que você está descalça?" aquela noite, ele poderia ter respondido "minha culpa" e sorrido aquele mesmo sorriso safado. Fora ele quem tirara os sapatos dela, ou pelo menos o esquerdo, porque o direito ela chutara para o alto como se não aguentasse mais esperar. Isso bem uma meia hora, ou dez minutos, antes de ela anunciar que tinha tido uma idéia brilhante, pedir que eles se encontrassem dali a pouco na única suíte, e levar a gravata dele como garantia. Sirius aceitara imediatamente, claro. Uma idéia brilhante vinda da Lily? Não podia esperar nada abaixo de um menàge.
E ainda agora se perguntava qual tinha sido a idéia brilhante que ela tinha tido. Duvidava muito que ela tivesse planejado aquilo tudo; já esperava dentro do banheiro com o resto da terceira garrafa de Jack, quando James e Marlene entraram vindos de outro quarto e pipocando flashes pra todo lado; ouviu uns silêncios suspeitos, e depois viu quando Lily chegou. Ainda não sabia porque James a tinha seguido, como ela tinha feito aquilo. Ele tinha aquela paixonite pela Marlene desde sei lá, a sexta série, parecia um vírus encubado que nunca o deixara em paz. Era real e era fortíssimo, por que raios ele fora? O moreno e a ruiva pareceram por um instante duas crianças reduzidas aos seus instintos mais básicos. Talvez as quantidades quase letais de álcool suprimindo seus sistemas nervosos tivessem alguma coisa a ver com isso, mas Lily, ah, era de fato a mulher mais perfeita que ele já tinha visto, ele riu enquanto lembrava, da mesma forma que riu quando viu a cena. Riu do segredo mal guardado enquanto o Mario montava no Yoshi e o fazia engolir uma daquelas tartarugas cabeçudas, da mesma forma que rira enquanto assistia o segredo nascendo.
Afinal, aquela tinha sido apenas a primeira noite.
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- Mesmo assim, eu acho que eu devo algum tipo de explicação – ele implorou, como se o amigo não estivesse lhe dizendo a meia hora que não se importava.
- Já falei que não precisa, Pontas – riu, mais uma vez, da insistência de James – Acontece com todo mundo quando se está bêbado. Lembra daquela vez que eu peguei a Marlene? Então.
- Mas po, não é a mesma coisa!
- James, velho, vê se entende: eu não estou com raiva de você – disse rindo – A própria Lily já falou que foi um erro e logicamente não vai se repetir de novo, assim como eu sei que você não faria de novo, certo?
- Certo – engoliu seco. Já tinha feito de novo. Várias vezes.
- Então, pronto. Ela é minha namorada, cara. E vai continuar sendo. Além do mais – deu um gole na latinha de cerveja que tinha acabado de abrir – Se eu fosse você me preocuparia com a Marlene; essa daí é muito mais complicada do que qualquer outra coisa, você sabe.
- É... Você tá certo, eu vou conversar com ela – e saiu dali correndo.
Saiu correndo porque a) Sirius Black, seu melhor amigo, não o odiava e b) porque Sirius Black, seu melhor amigo, não o odiava ainda.
-x-
A morena fazia alguma matéria muito importante, quando o viu entrar pelas grandes portas de vidro; estava desesperado, o que era óbvio demais. Ela já imaginava em que tipo de problema ele tinha se metido, então, mesmo sem tirar os olhos da máquina enquanto datilografava, sorriu. Sabia que ele iria direto à sua mesa e implorararia com aqueles olhos castanhos por qualquer tipo de conselho que o tirasse daquela fossa, qualquer que fosse a fossa.
- Dorcas – ele disse, respirando ofegante devido aos quarteirões que tinha corrido, do mesmo jeito que ela esperava que ele dissesse – Preciso da sua ajuda.
- Claro que precisa – ainda sorrindo, levantou os olhos pra ele – O que você aprontou dessa vez, James?
- Eu peguei a namorada do meu melhor amigo.
- Nada legal.
- Mas não termina por aí, antes terminasse. Ele sabia, a Marlene sabia e ela sabia. Só eu, como sempre o corno, não sabia.
- Pelo menos você não precisou do conflito moral de contar ou não.
- Precisei. E quando eu fui contar, o cachorro me disse que já sabia e que não se importava, porque foi numa festa, a gente tava bêbado, ela já tinha conversado com ele sobre isso, e porque não aconteceria de novo.
- Me deixa adivinhar... Aconteceu de novo?
- Só umas sete vezes – ele fez aquela cara de “quero morrer, isso é demais pra minha cabeça” – E sabe, eu tô com a Marlene agora. Quero dizer, acho que estou, pelo menos.
- Então, James, por que tá aqui me perguntando o que fazer ainda? Você já sabe o que fazer, oras.
- Sei?
- Sabe – ela revirou os olhos – Ir atrás da namorada do seu melhor amigo e dizer que ele é seu melhor amigo e que você não pode fazer isso com ele, depois focar na Marlene, que você sempre disse que era o amor da sua vida e tudo mais.
- Certo – disse decidido – É isso mesmo que eu vou fazer! – e se virou pra sair.
- Mas já? – riu.
- Bom, a namorada dele tá me esperando e antes tarde do que nunca – deu um sorriso amarelo e saiu correndo prédio afora, deixando a morena baixinha rindo enquanto voltava à sua matéria importante.
-x-
- Alô?
- James? – ouviu a voz de sua vizinha no telefone – Querido, há quanto tempo! Eu estava pensando, sabe, se você não poderia... – foi interrompida por ele.
- Petúnia, oi, legal, agora não posso falar, não mesmo. Desculpa, eu te ligo depois – desligou o telefone na cara da loira, voltando a pensar no seu problema.
Ele já sabia o que fazer. Ótimo, um problema a menos. Agora ele precisava descobrir como fazer. Mas sabia que não podia não fazer; Sirius era seu melhor amigo, e sua amizade estava em jogo, além do seu romance com a mulher da sua vida. Estava decidido: iria terminar com aquela brincadeira, não importando como.
Chegou ao apartamento e apertou o interfone, avisando a ruiva que era ele e que ele estava ali. Enquanto subia o elevador, se perguntou sobre como era possível a vida ser tão cruel, pois logo assim que conseguia Marlene, a coisa mais impossível tinha que acontecer: a namorada do seu melhor amigo querer pegar ele o tempo todo. Era a infeliz, porém verdadeira lógica: quando você não pode, tem milhões, mas quando você pode não tem ninguém.
- Lily – disse assim que ela abriu a porta – Precisamos conver... – tentou dizer, mas dessa vez ele foi interrompido por um beijo desesperado da ruiva.
Como todos nós sabemos, homens são seres fracos. Lê-se: James não parou o beijo e disse “não!”, como uma mulher (provavelmente) faria em seu lugar; continuou a beijar a ruiva, enquanto essa fechava a porta e os punha em direção ao quarto.
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Petunia abriu a porta da casa dos pais beeeem devagar. Graças aos céus, os velhos nunca trocaram a fechadura. Ela não sabia muito bem o porquê, mas seus progenitores a consideravam uma espécie de proscrita . Diziam-lhe bobagens sobre não ter dado certo na vida, promiscuidade e a importância do ensino superior na carreira de uma pessoa sempre que a encontravam, e o nome dela rodava nas reuniões de família acompanhado sempre de adjetivos nada honrosos. Petunia era a ovelha negra e loira daquela família.
Mas o mesmo não se dizia de Lily, nããão. A Lily é perfeita, a Lily é belíssima, a Lily é uma flor de delicadeza, herdou a elegância dos Evans, o brilho acadêmico dos Evans, a Lily é ruiva como a avó, a Lily vai ser a oradora da sala, a Lily tem as melhores notas da sala, mimimi, Lily isso, mimimi, Lily aquilo. Não que não gostasse da irmã; amava-a, de fato. Quem ela odiava era aquela família besta. Aquela puxação de saco em torno da caçula era totalmente irritante, mesmo porque eles não sabiam da missa a metade.
Entrou no hall. Os mesmos sofás de dois lugares e a mesma pequena máquina de café expresso. Acendeu a luz; os respeitáveis Sr. e Sra. Evans não estavam em casa, muito bom, muito bom. Subiu as escadas e encontrou o que queria no armário do escritório: a maleta médica do Dr. Gerard Evans. Abriu-a e pegou o estetoscópio sorrindo um sorriso maníaco. Desde muito criança Petunia aprendera que um esteto é uma ótima pedida quando se quer ouvir atrás das portas.
Pegou a caixa de ferramentas também e desceu as escadas, pensando nos seus planos de perseguição a James, aquele desgraçado. Não o telefonara de novo desde que ele lhe desligara o maldito telefone na cara, há uma semana. Ia agir na surdina agora, adorava isso. James era do tipo que só abre os olhos quando pressionado. Uma hora ele ia ter que pisar fora da linha e quando acontecesse Petunia estaria ali para lembrá-lo de que era e sempre fora amor da vida dele e aquela coisa toda. E aí então...
- Petty? – veio a voz familiar, com cuja dona ela compartilhava 50% dos genes.
- Lily? – a dona da voz chaveava a porta, ou deschaveava, difícil dizer.
- Petty! O que você está fazendo aqui? – ela interrompeu o que fazia para voltar-se para a irmã. – Não te vejo desde a festa no Sirius! – e correu a abraçá-la.
- Eu sei! – ela retribuiu o abraço saltitante. – Vim pegar umas coisas emprestadas, como de costume. E você, mirim?
- Atividades clandestinas como de costume – e Lily deu sua risada musical. – Realmente tenho que ir agora, namorado furioso esperando. Vai lá em casa fim de semana que vem? Por favor! Estou tão feliz de ver você, quero uma festa do pijama, e tem uns três meses que você prometeu que ia assistir Operação Cupido comigo! – era até bonitinha a forma como Lily se reduzia a uma criança de dez anos na companhia da irmã.
- Duas Lindsays Lohans num filme só, uau, é demais pra mim – as duas se riram, se abraçaram, se despediram e Lily se foi. Petunia também estava de saída, mas seu velho hábito de dominar as situações a instigava. Foi até o quarto de hóspedes do andar de baixo, ver se Lily deixara algum rastro de suas atividades clandestinas que macularia sua imagem perfeita diante dos pais.
Chegou lá e estava tudo impecável. Lily não dormia no ponto mesmo, ela devia saber.
E então eis que ela viu. Dobrada, escondida debaixo do travesseiro, e mesmo assim inconfundível. Uma camisa xadrez.
Meu Deus, que linha estreita essa sua James, Petunia riu. Não achava mais que o esteto se faria necessário.
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- Eu morro de medo de filmes de terror, você sabe – a morena falou com uma voz de criança.
- Mas eu te protejo, amor, você sabe – beijou o bico em formato de coração que ela fazia.
Era tão perfeita. Mas era uma perfeição que se demorava a entender por completo. Ela não era igual à ruiva, oh, não! A ruiva era perfeita de um jeito inegável; era olhar e saber que nunca haveria mulher mais bela, mais inteligente, perspicaz; seus olhos verdes esmeralda brilhavam de um jeito jamais visto, e seus longos cabelos ruivos ondulados estavam sempre parecendo daqueles de comerciais de shampoo. E além do mais, com o perdão da palavra, por Deus dos céus, aquela menina era gostosa como o inferno!
Porém, Marlene. Essa não possuía uma beleza nem de longe parecida com a da ruiva. Ela tinha um quê de inocência no olhar que encantava; era como um anjo, pois possuía todo o brilho que um anjo precisaria possuir, e até mesmo nos seus detalhes mais absurdos não era possível atribuir nenhum adjetivo abaixo de Vênus ou afins. Mas vocês devem saber, era assim que James a enxergava. O resto do mundo talvez não visse tanta coisa por detrás daqueles longos cabelos negros, aquela pele nem tão branca e aqueles olhos escuros cor de amêndoa. Talvez o mundo só visse uma menininha com potencial.
Ah, ela era intocável. Evans não era intocável, muito pelo contrário. Mas era uma dádiva.
Ele chacoalhou a cabeça como que tentando afastar as coisas que o perseguiam em sua mente; era tão difícil não comparar as duas. Era tão instintivo que ele acabava fazendo isso o tempo todo.
- James? Tá prestando atenção no que eu tô falando? – riu um pouco. Ele era tão avoado que chegava a ser fofo.
- Na verdade, perdi um pedacinho – deu um sorriso amarelo.
- Eu imaginei. Bom, estava te contando do sonho que eu tive. Era um cubo mágico gigante e em cada quadradinho dele havia uma cena que eu queria ou não queria ver, e todas elas juntas montavam uma história. Eu precisava montar ele pra entender, pelo menos foi o que o cara de barba branca me disse no sonho.
- Parece legal. Ou chato. Eu gosto de cubos mágicos.
- Eu também gosto. Mas não parecia tão divertido. Sei lá, eu lembro dele ter dito alguma coisa sobre “você não vai querer descobrir a resposta final, mas mesmo quando estiver chegando lá e estiver entendendo tudo, não pare”. Foi bem macabro. O que acha que esse sonho significou?
Engoliu a seco: - Não sei, meu amor. Sinceramente, não faço a mínima idéia. – Coincidência, pura coincidência, ele pensou.
Pois havia de ser! O destino (ou Deus, ele pensou) não poderia estar tão focado em tornar a sua pobre vida um inferno só por causa de um pequeno desvio de conduta.
Tolinho...
-x-
- Você é o namorado perfeito! – agarrou o moreno enquanto ria um pouco.
Era um presente lindo, de fato: uma lingerie branca com verde, da cor dos olhos dela. Apesar de bem pretensioso, era um presente lindo. E apesar das diversas maneiras em que Sirius se imaginava tirando aquilo do corpo da namorada, era até um presente fofo. Era, enfim, um presente. Isso bastava. Certo?
- Faço questão de te ver usando – beijou os lábios da ruiva rapidamente.
- Faço questão de experimentar agora! Dê-me um minutinho – foi a vez dela dar um beijo rápido e depois correu para o banheiro para colocar o presente.
Enquanto esperava que ela voltasse usando o presente de um mês de namoro, deu uma olhada pelas coisas – ainda sentado no sofá com os braços abertos. Lily era uma mulher meio metódica, ou pelo menos ele imaginava que fosse. As coisas estavam sempre nos seus devidos lugares, organizadas. Ele imaginava que ela daria uma ótima assassina (principalmente se usasse aquelas roupas coladas e curtas e ainda atirasse bem), pois jamais deixaria uma prova do crime passar. Ou talvez uma bela detetive.
Que imaginação fértil, tsc tsc. E que mente impura.
- Prontinho! – ela disse saindo do banheiro.
“Meu Deus” foi a primeira coisa que veio à men
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te do nosso impuro garotinho.
- Amor – disse puxando ela pra mais perto – Você é a coisa mais linda desse mundo – a beijou.
-x-
- Eu prometo que te ligo mais tarde – deu um beijinho na namorada.
Own.
- É bom mesmo! Eu vou te bater se você não ligar, tá? Vou estar com saudade – sorriu besta e devolveu o beijinho.
Que melosinhos. Até meigos, Petúnia pensou. Oh, é. Lá estava a loira vigiando da janela, só pra variar. Mas dessa vez ela tinha um sorriso de quem mal aguardava pelo que via em seguida.
Esperou James entrar no prédio. Esperou que ele errasse as mesmas cinco chaves até abrir o portão e então esperou que ele checasse os locais onde ficam as cartas e contas até que resolvesse subir. Esperou, por último, que ele subisse da maneira lenta e pensativa dele os seis lances de escada que o fariam chegar ali, onde ela já estava: na porta de sua casa.
Como sempre, soube que ele apareceria sem olhar pra cima, tentando adivinhar qual dentre as quatro chaves restantes era a de seu apartamento, e só quando se decidisse pela errada (pois era o que sempre acontecia) voltaria a olhar pra cima e seus olhos se encontrariam.
Finalmente. Ela abriu mais o sorriso. Estava realmente gostando do que via.
- James, querido... – começou da maneira mais simpática que pôde.
- Petúnia – abriu seu sorriso amarelo – Foi mal, não tô podendo falar agora. Preciso resolver altos problemas.
- Tudo bem. Eu só vim devolver sua blusa – entregou-lhe a blusa xadrez.
James encarou a blusa nas mãos da loira por alguns segundos, tentando imaginar por que ela estaria com aquilo nas mãos, afinal, ele havia esquecido na casa da – EPA.
- Muito prazer, James Potter. Sou sua nova vizinha do andar debaixo, Petúnia Evans - jogou a blusa no ombro do garoto e lhe deu um beijo demorado na bochecha, descendo rapidamente as escadas para voltar ao seu apartamento.
Deixou ali um James estarrecido e, ora essa, que novidade, desesperado.
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Culpa. Muita. Muita, muita culpa.
James estava parado no exato mesmo lugar em que Petunia o deixava, porém pesando 850 quilos a mais. Era o quanto estimava que pesasse a culpa nas suas costas agora. Do tamanho e peso de um Fusca 1950, oprimindo-lhe o peito. Ou talvez mais. Talvez um Fusca pra cada ombro. E tinha também o medo.
Medo, muito. Muito, muito medo.
Petunia era doida de pedra. Sabe-se lá o que ela podia fazer com a informação que tinha. Ele era refém dela, um refém completo. Tinha sonhado miserável com Marlene por todo esse tempo. Tinha perdido mais horas pensando nela do que seria possível contar, por todos esses anos. Estava mais feliz com ela do que poderia expressar, depois de todos esses anos. E agora ele ia perder tudo. Os dois VolksWagen caíram de seus ombros direto para seu estômago. Sentiu-se nauseado só de pensar na possibilidade de ela o deixar. Pensou no que faria depois disso e era tudo uma enorme impossibilidade. Não, isso não podia acontecer.
Mas não era só isso. Era como se, ao confrontá-lo, Petunia tornasse a situação real. Certo, ele tinha contado a Dorcas, mas não era a mesma coisa. Ele, e Lily.Não era como se realmente estivesse acontecendo. Não era, até que Petunia lhe jogasse isso na cara com toda aquela sutileza. E agora ele se perguntava que tipo de louco, insano, hipócrita ele era se conseguia fazer uma coisa daquelas com a mulher que amava tanto. E o seu melhor amigo, ah, James desistiu de pensar nisso ou acabaria pulando da janela e sabia muito bem que a queda não seria suficiente pra que ele se matasse, e não queria mais esse fracasso.
E ah é, EM NOME DE JESUS, como nunca perguntara o sobrenome da vizinha? Que mula. Elas eram parentes. Parentes! Ah, Merlim. Sua desgraça não poderia ser mais completa.
Agora que ele entendera, percebia que as duas tinham mesmo algo de parecido. O mesmo sorriso sarcástico, a mesma vontade de mandar na coisa toda e o mesmo absoluto desinteresse pela vontade do resto do mundo. Isso, e tinha os narizes que eram meio parecidos também. Seriam primas, ou irmãs? Pareciam esses os laços mais prováveis dadas as idades das duas. Merda.
Mas por que Lily contara à prima/irmã uma coisa daquelas? Não, Lily jamais confessaria uma transgressão a ninguém, aquilo não fazia sentido. Então ela não devia saber que Petunia sabia. Talvez não soubesse nem mesmo do interesse passado de James no, ahm, açúcar da vizinha. Mas era uma questão de tempo. Ou não. O importante era encontrar uma saída praquilo tudo, rápido. Agora. Não podia deixar que Marlene o deixasse. Nunca.
Desespero. Esse foi um só. James agarrou o telefone depois do raciocínio mais estúpido da sua vida.
- x –
- Sim, é ela.
- Emmeline, certo? É você mesmo? – James trancou a porta atrás de si.
- Já disse que sim cacete. Você é aquele amigo do Sirius, não é?
- Você lembra?
- É, devo ter te visto por aí – ela deu uma risada seca – Não sei da Lily.
- Não, Emmeline, é com você mesma que eu quero falar, se você puder.
- Contanto que seja breve.
- Vou ser muito breve, e você vai me dizer se pode ou não me ajudar.
Emmeline continuou ouvindo, sentada que estava no sofá de sua casa, deitada entre as pernas de Remus, mas foi se levantando na medida em que ouvia e torcendo o rosto numa demonstração de surpresa divertida pouco comum.
- Olha, Potter, é Potter, não é? – ela riu ainda sem acreditar – Esse é um pedido pouco comum. Por que pediu logo pra mim?
- Eu não sei. Você concorda? Vamos lá, é mais uma festa, e nada mais.
- Deixa eu ver se eu entendi. – Remus pescava a conversa, curioso, e ela ria antevendo o plano realizado. James, do outro lado da linha, tremia de nervosismo. Precisava de um álibi. E aquele era o melhor disponível. Conhecia Marlene. Se ela estivesse metade tão apaixonada por ele quanto dizia, não suportaria a culpa. E estaria presa a ele. Tinha que funcionar, simplesmente tinha.
Ele lhe disse que continuasse monossilabicamente, e ela obedeceu.
- Então você quer ser corno, homem? E quer a minha ajuda?
- É... mais ou menos isso.
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N/Evams: /CORTA/ AEEEE chegamos ao fim de mais um capítulo! obrigada a todas as pessoas shaninhas que leram (Nah, Brendas, Sarah, Mah [?] vocês são um tesão ok) e, cara, o que eu posso dizer? me desculpem por todos os atrasos inacreditáveis (sou incompetente assim mesmo ok perdão), e, ahm, foder com a vida da Mmck é o maior prazer da MINHA vida (hihi), e, ahm, espero que vocês estejam se divertindo (hihi) porque eu não sei se deu pra perceber mas a gente não controla porra nenhuma que essas personagens fazem :D então, é, e agora é a vez de a Mmck foder com a minha vida <3
até a vista! (ou especificamente o cap III)
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